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SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA - FAETEC
CONCOMITANTE
LÍNGUA PORTUGUESA
A
DIFÍCIL
BUSCA
DA
LEVEZA
(Daniel Piza)
Paris, 1891. Santos-Dumont, 18 anos, chega à
capital francesa e fica encantado com “a grandeza e o
progresso”. Sobe por elevador ao topo da recém-
construída Torre Eiffel, um prodígio da engenharia, uma
estrutura esguia de metal pesado com 300 metros de
altura. Na rua, carros a motor. No ar, balões também
motorizados. Era como se o mundo imaginado por Ju-
lio Verne que Alberto lia na infância tivesse começado
a se tornar realidade. Levaria seis anos para ele voar
num desses balões. E apenas mais um para ele cons-
truir seu próprio, o Brasil - um balão de hidrogênio em
forma de pêra com o qual ascenderia aos céus em mais
de 200 oportunidades. E que já trazia uma inovação
técnica: o revestimento era feito de seda japonesa, tão
leve que parecia um origami da Belle Époque.
Paris, 1906. Dia 23 de outubro. Santos-Dumont,
33 anos, acorda cedo, caminha até o hangar, abre a
porta - um sistema de corrediça que ele mesmo inven-
tou - e deixa o sol iluminar seu avião, o 14 bis, também
chamado de Ave de Rapina, com o qual pretende dar
uma rasante de ousadia e elegância sobre a cidade-luz.
O 14 bis tem asas arqueadas para cima, como as das
águias, compostas de diedros de seda em traves de
bambu - madeira que tinha a combinação de leveza e
resistência adequadas - e fixadas por cordas de piano,
em vez dos pesados cabos de aço. O franzino aeronauta,
com pouco mais de 1,50 metro, senta ao comando.
Tenta decolar várias vezes. Às 16h45, enfim o avião se
levanta a 3 metros do solo e percorre os 25 metros
exigidos para ganhar o Prêmio Archdeacon. Era a
primeira exibição pública de um vôo de uma máquina
mais pesada que o ar. Glória nas alturas.
Guarujá, 1932. Santos-Dumont, sem voar há 22
anos, se aborrece ao ouvir notícias da reação ao Movi-
mento Constitucionalista de São Paulo, em que aviões
de guerra são usados na “luta entre irmãos”. Está em
depressão, frágil, atormentado, barba por fazer. A
esclerose cada dia o afeta mais. Não usa mais ternos,
já não lança modas. O ar pesa sobre sua cabeça. Antes
famoso por seu estilo dândi de se vestir - com seu chapéu
panamá, usado com as abas para baixo, e suas gravatas
vermelhas, que esvoaçavam enquanto ele pilotava suas
invenções sobre o Rio Sena -, ele se fecha no quarto de
hotel, apanha uma das gravatas e comete suicídio. Deve
ter pensado alguns minutos em sua mãe, que também
se matara quando ele tinha 28 anos.
A vida de Santos-Dumont foi sempre essa busca de
leveza - seda, bambu, música, paz - que nem sempre
superou a realidade. O progresso era sua fantasia. Quan-
do se desfez, sua carreira perdeu o rumo. Mas naqueles
12 anos de contínua invenção, do balão Brasil à aeronave
Nº 20, Demoiselle, a mãe dos ultraleves, ele havia
construído uma obra única. Havia perseguido e realizado
o sonho de permitir que o homem manobrasse caminho
pelo ar, como o “carro aéreo” que batizou liricamente de
Baladeuse. Havia circundado a Torre Eiffel em 19 de
outubro de 1901 com o dirigível Nº 6, em formato de
charuto, que queimou todos os recordes da navegação
aérea. Havia desenhado coreografias também com
monoplanos, biplanos e hidroplanos. Dançar elegantemente
com o vento era a obsessão com que acordava e dormia.
Santos-Dumont encarava tudo como uma aventura
- mas com a séria missão de dar à humanidade uma
liberdade inédita, ansiada pelo menos desde os antigos
gregos. Seu pensamento era, no entanto, mais individu-
al, “esportivo”, do que coletivo ou industrial. Ele queria
que cada pessoa tivesse a possibilidade de usar ou ter
uma aeronave para se deslocar no cotidiano. Não por
acaso a Demoiselle, a “libélula” ou “senhorita”, foi sua
maior criação do ponto de vista da posteridade - o proje-
to mais próximo da perfeição criado por ele. Era com ela
que Alberto, que gostava de assinar Santos=Dumont para
acentuar sua dupla nacionalidade (igualmente brasileiro
e francês), ia de casa até o restaurante - onde jantava
com nobres e artistas - e do restaurante até os Champs-
Elysées, exibindo glamour e otimismo.
(Veja Especial)
01.Para narrar a trajetória de Santos Dumont, o autor
destaca, nos parágrafos iniciais, três aspectos. A
alternativa que sintetiza esses aspectos é:
A) o nascimento – a construção do 14 Bis – a morte
B) o encantamento diante das novas tecnologias
– o vôo do 14 Bis – o suicídio
C) a construção de um balão de hidrogênio – a
primeira ida a Paris – a morte da mãe
D) o vôo sobre Paris – a elaboração do projeto
do 14 Bis – o Movimento Constitucionalista
02.A alternativa que revela um dos sonhos de Santos
Dumont é:
A) a construção de aviões de guerra
B) a construção de transportes de carga
C) a construção de aviões para uso individual
D) a construção de meios aéreos coletivos de
locomoção
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Portotec, porque a Escola técnica é possível!