A Missão da Umbanda Ramatís
chacras básicos, obrigando-os a dobrar as costas à semelhança de velhos arqueados, incentivando-
os ao trabalho fraterno.
E assim, de consulente em consulente, de caso em caso, com a paciência e sabedoria que
lhes é peculiar, entre uma baforada e outra de palheiro, ou alguma espanada com o galho de ervas
na aura daqueles filhos, os bondosos espíritos cumpriam sua missão. Eram conselhos, corrigendas,
desmanche de magia negra, de elementares artificiais negativos, limpeza e equilíbrio dos corpos
sutis, retirada de aparelhos parasitas e, às vezes, alguns puxões de orelha necessários, em forma de
alerta. Tudo de acordo com o merecimento do consulente, pois cada um levava consigo a
amostragem de sua "ficha cármica", onde estavam impressos o que a Lei permitia ser mudado,
bem como o que ainda era necessário permanecer com eles.
Vó Benta, espírito portador de grande sabedoria e humildade, apresentando-se naquele
local com o corpo astral de negra velha de pequena estatura, com roupas simples e alvas, cuja saia
comprida e larga era coberta por um avental, com um bolso recheado de ervas e patuás, tinha uma
maneira simplista e diplomática de fazer os filhos entenderem que eles próprios eram seus médicos
curadores:
- Minha mãe, acho que estou sendo vítima de "trabalho feito" por minha ex-mulher.
Sorrindo e com linguagem peculiar, ela segurava com firmeza as mãos do moço, passando-
lhe com isso confiança, e, com a voz recheada de afeto, respondia:
- Negra velha vai explicar para que o filho entenda. Quando sua casa está totalmente
fechada, fica escura, e nada pode entrar; às vezes nem a poeira, não é isso? Quando o filho abre as
janelas e portas, a luz do Sol entra invadindo todos os cantos, mas podem entrar também moscas,
baratas, formigas e até ladrões, não é? Para a sujeira e os bichos, o filho pode usar a vassoura, para
os ladrões, a lei, a segurança, e para a luz do Sol? Ah, esta, filho, fica ali iluminando até que o filho
feche toda a casa outra vez! Assim também é a nossa casa interna; quando nos fechamos para a
vida, para o trabalho, ficamos no escuro e, ao nos abrirmos, deixamos a luz entrar, mas ficamos
sujeitos a todas as outras energias que pululam ao nosso redor. Mas como acontece na casa
material, onde não houver os atrativos da sujeira e do lixo, os insetos não se aproximam. Assim, se
estivermos equilibrados, sem raiva, mágoa, ciúmes, vícios, ou seja, todos esses lixos que os filhos
buscam na matéria, nada nem ninguém consegue afetar nossa energia, nossa vida. Só o Sol
permanece no coração de quem procura manter-se limpo. Negra velha sabe que esse mundão está
de cabeça para baixo. No lado material, os filhos andam desarvorados pela dificuldade de sustento
de suas famílias, quando não em busca de supérfluos. Mas, mesmo assim, é preciso lembrar aos
filhos que, embora estejam na matéria e sujeitos a ela, a vida real está no espírito imortal. É preciso
dar mais atenção, senão prioridade, à essência, em detrimento do restante, para que possa haver o
equilíbrio dos elementos inerentes à vida, em sua totalidade. O mal que é enviado aos filhos só vai
se instalar se encontrar, no endereço vibratório, ambiente adequado; sem contar que o medo é porta
aberta e atrativo para a entrada do desequilíbrio. É sentimento muito usado pelas energias da
esquerda, uma vez que fragiliza o corpo emocional, facilitando sua atuação mórbida. Por outro
lado, negra velha pergunta para o filho: "Se a desordem não houvesse se instalado, por acaso o
filho estaria aqui, sentado no chão, em frente à preta velha, buscando humildemente ajuda
espiritual?". Nem sempre o que nos parece mal é tão prejudicial assim. Pode ser o remédio
adequado para o momento, ou talvez a estremecida necessária no corpo astral dos filhos, para que
a ordem possa se reinstalar. AB trevas, meu filho, estão vinte e quatro horas de plantão. E os
filhos, acaso estão? Não adianta orar e não vigiar, pois o pensamento é energia, e com ele nos
adequamos ao campo energético que quisermos.
Antes da hora grande
[1]
as falanges da egrégora dos pretos velhos se despediram de seus
aparelhos (alguns precisaram largar e desfazer a vestimenta astral usada para que pudessem chegar
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