Missão do Espiritismo Hercílio Maes Ramatís
PERGUNTA: Por que os católicos, e até protestantes, simpatizam-se mais
facilmente com a Umbanda do que pelas sessões de cardecismo?
RAMATÍS: Os católicos, protestantes e outros religiosos ainda vinculados à
adoração de imagens, a compromissos rituais, cânticos, incenso, ladainhas, promessas,
velas, santos e outros aparatos do culto exterior, encontram na Umbanda um clima algo
familiar, que os acostumam no intercâmbio com os espíritos desencarnados, não sendo
difícil, mais tarde, a sua adesão fácil aos postulados do Espiritismo codificado por Allan
Kardec. Malgrado os exotismos e anacronismos que os espíritas censuram nas práticas de
Umbanda, os "neófitos" e "filhos de terreiro" aprendem, com os pretos-velhos e caboclos, a
realidade da doutrina da Reencarnação e da Lei do Carma, que não aprendiam antes nas
igrejas e templos religiosos.
Embora possam se amedrontar com as práticas estranhas nos terreiros de Umbanda,
os neófitos, provindos do catolicismo e de outras religiões, terminam por acalmar os seus
receios diante das imagens conhecidas de Santo Antônio, São Jorge, São Jerônimo, São
Sebastião, Nossa Senhora da Conceição, São João Batista, Cosme e Damião, assim como
do próprio Mestre Jesus, consagrado como Oxalá, o orixá maior. Os cavalos e cambonos
vestidos de branco, alguns envergando sobrepelizes bordadas e engomadinhas, lembram os
sacristãos auxiliando no oficio religioso; as velas, o turíbulo ou recipiente de defumadores,
as flores, os cânticos dolentes e pitorescos, os pontos vigorosos e as invocações de
falanges, associam a lembrança da igreja nos dias festivos. Há cerimônias do humilde bater
de cabeça nos altares; os "saravás", as passagens de linhas, a consagração a Zambi, ou
Deus, a repartição do mel ou do marafo, que lembram os momentos de elevação do cálice
nas missas ou a hora sagrada da comunhão. Nos dias de Yemanjá, a "Rainha do Mar", os
babalaôs, e as ialorixás, promovem a grande procissão à beira-mar, entre cantos e louvores
festivos, na pitoresca oferta de presentes de flores, sabonetes, toalhas e pentes de brancura
imaculada, simbolizando a pureza de Maria, a mãe de Jesus! É um culto ingênuo, mas puro
e sincero, que ainda faz parte da alma brasileira; e não pode ser eliminado ou destruído de
modo "ex-abrupto", que deixaria um vazio que poderia ser preenchido por outras práticas
censuráveis e perigosas.
Ademais, os pretos-velhos, conselheiros paternais, tolerantes e generosos,
substituem, a contento, os sacerdotes ou pastores, cuidando seriamente dos problemas e
rogativas dos filhos. Embora não sejam diplomados pelas academias cientificas do mundo,
eles são os alunos devotados à escola do Cristo (7)! Jamais negam a sua ajuda amorosa,
aconselhando sem censuras e amando sem interesse. Há grande diferença entre o preto-
velho, que orienta e conforta pessoalmente os crentes desgovernados na vida profana, em
comparação ao sacerdote ou pastor, que sobe ao púlpito para excomungar severamente os
pecados dos homens!
(7) Vide o capitulo "Em Aditamento", da obra "Lázaro Redivivo", ditada por Irmão X a Chico
Xavier, donde extraímos o seguinte trecho da página 158: "Avise-os para não se aproximarem dos
nossos benfeitores humildes como catedráticos orgulhosos e envaidecidos, e, sim, como irmãos
verdadeiramente interessados no bem. E, sobretudo, diga-lhes que também estamos empenhados
na mesma luta pela iluminação espiritual: mas que ao ensinarmos a Pai Mateus e Mãe Ambrósia
as lições acerca das leis de Kepler, dos movimentos de Brown e das ondas de Marconi,
aprendemos com eles, por nossa vez, as lições de humildade, devotamento e renúncia, nas quais
já se diplomaram desde muito, negando a si mesmos, tomando a sua cruz e seguindo a Nosso
Senhor Jesus-Cristo."
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