Não adiantou nada o que a sra. Ferrars encontrou para dizer a fim de fazê-lo romper esse noivado,
apoiada, como é de supor, pelos meus argumentos e pelas súplicas de Fanny. Dever e afeto foram
desprezados. Nunca imaginei que Edward fosse tão teimoso, tão sem sentimentos. A mãe
explicou-lhe suas generosas intenções, se ele se casasse com lady Morton; disse-lhe que, quando
casados, se Instalarão na propriedade de Norfolk que, livre de impostos territoriais, rende bem
umas mil libras por ano; quando o caso tornou-se desesperado, ofereceu-lhe uma pensão de mil e
dusentas libras. Em oposição a tanta generosidade, caso ele persistir naquele relacionamento
inferior, a penúria irá esperar pelo casal. Suas próprias duas mil libras é tudo que ele terá; a mãe
nunca mais quererá vê-lo e, além de não lhe oferecer a menor assistência, caso ele venha a dedicar-
se a qualquer profissão, a sra. Ferrars fará o que puder para impedir que ele progrida no trabalho.
Ao ouvir tais ameaças, no auge da indignação, Marianne uniu as mãos e exclamou:
- Meu Deus amado! Isso é possível?
- Você bem pode imaginar, Marianne - replicou o irmão -, quanta obstinação é necessária
para resistir a tais argumentos. É muito natural essa sua incredulidade.
Marianne ia retorquir, porém lembrou-se do que havia prometido e ficou calada.
- Portanto, todo esse esforço - continuou ele - foi em vão. Edward falou muito pouco.
Todavia, quando o fez, foi com a maior determinação. Nada iria obrigá-lo a romper aquele
compromisso. Manteria sua palavra, custasse o que custasse.
- Então - interveio a sra. Jennings, em um impulso de sinceridade e incapaz de continuar
calada -, ele agiu como um homem honesto! Peço-lhe que me perdoe, sr. Dashwood, mas se o sr.
Edward houvesse agido de outra maneira, eu o consideraria um canalha. Tenho algum interesse
no caso, assim como o senhor, porque Lucy Steele é minha prima e acredito que não existe moça
melhor do que ela neste mundo, nem moça que mereça mais do que ela um bom marido.
John Dashwood ficou atônito, porém sua natureza era calma, não era dado a provocações
abertas e jamais tinha intenção de ofender alguém, principalmente se fosse uma pessoa de boa
fortuna. Assim, sem nenhum ressentimento, ele respondeu:
- Eu não pretendia falar com desrespeito sobre uma parente da senhora, madame, A srta.
Lucy Steele é, atrevo-me a dizer, uma jovem dama cheia de méritos, mas no presente caso, a
senhora compreende, é impossível o casamento deles. E ter assumido um compromisso secreto
com um jovem cavalheiro, que se achava sob os cuidados de seu tio, com o filho de uma; senhora
que é dona de fortuna considerável, como a sra. Ferrars, talvez seja uma atitude um pouquinho
extraordinária. Em resumo, não estou querendo emitir julgamentos a respeito das atitudes de
nenhuma pessoa da sua estima, sra. Jennings. Todos nós desejamos que ela seja muito feliz e a
conduta da sra. Ferrars diante desse impasse, em tais circunstâncias, foi a que toda boa e
conscienciosa mãe deve adotar. Ela foi digna e liberal. Edward traçou seu próprio destino e temo
que não seja o melhor.
Marianne suspirou, procurando acalmar a apreensão, e o coração de Elinor apertou-se por
Edward, que enfrentara as ameaças da mãe por uma mulher que não podia recompensá-lo.
- Bem, senhor - assentiu a sra. Jennings -, e como tudo terminou?
- Sinto ter de dizer, madame, que terminou numa infeliz separação: Edward desapareceu