revista FAE BUSINESS, n.3, set. 2002
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Divisão do orçamentoDivisão do orçamentoDivisão do orçamentoDivisão do orçamentoDivisão do orçamento
Ao contrário do sistema funcional, inflexível e difícil
de ser incorporado como ferramenta de apoio à decisão,
sistemas desenvolvidos a partir da conjunção de
complexidade e competências têm permitido aos gestores
decidirem sobre salários a partir da aplicação de
instrumentos de avaliação que “capturam” o nível de
desenvolvimento dos profissionais. Cabe ao gestor, então,
decidir sobre as progressões salariais daqueles sob seu
comando, desde que respeitando os limites estabelecidos
pelo orçamento de que dispõe para esta finalidade. A
definição destes limites, por sua vez, é subsidiada pela
identificação das necessidades de ajuste (resultado do
processo de avaliação) e
análise da disponibilidade
financeira da organização. A
divisão do orçamento entre
as gerências deve considerar,
ainda, não apenas o
tamanho das áreas, mas seu
posicionamento salarial
médio em relação a um alvo
previamente definido, o qual
pode representar a política de posicionamento salarial da
empresa frente ao mercado. A disponibilidade de recursos
ao gestor está condicionada, portanto, a um adequado
gerenciamento do processo de desenvolvimento de seus
quadros. Ou seja, aqueles que gerenciam de forma
adequada suas equipes, estimulando seu constante
desenvolvimento e condicionando a evolução salarial à
ocupação de “espaços” mais complexos, sempre terão
recursos para promover movimentações salariais, ao
contrário daqueles que não o fizerem adequadamente.
Como resultado, sistemas gerados com base nos
conceitos de competências e complexidade possibilitam
aos gestores assumir de forma completa a gestão de seus
quadros e administrar a massa salarial pela qual são
responsáveis. Isto é possível através do alinhamento entre
as progressões salariais e o efetivo desenvolvimento dos
profissionais, considerando-se, para isso, não apenas a
coleção de cursos, diplomas ou a mera aquisição de
conhecimentos, mas, sobretudo, a realização de atribuições
mais complexas, de maior responsabilidade. Desse modo,
trabalhar continuamente o desenvolvimento das pessoas
de forma alinhada aos critérios de evolução na estrutura
salarial possibilita ao gestor potencializar o investimento
destinado à folha de pagamentos, além de ir ao encontro
das expectativas individuais.
Nessa nova configuração, cabe à área de Recursos
Humanos/Gestão de Pessoas monitorar o processo, de
modo a preservar sua consistência e garantir a eqüidade
e equilíbrio na valorização das pessoas. É essa área que
responde, ainda, por instrumentalizar e orientar os gestores
para a tomada de decisão sobre salários e por consolidar
e sistematizar informações que possam servir de subsídio
à decisão gerencial. Finalmente, à Direção cabe a
manutenção da coerência global do sistema e o
estabelecimento dos recursos a serem destinados à folha
de pagamento, considerando para isso a adequação entre
a contribuição dos profissionais e o padrão remuneratório
vigente, bem como a disponibilidade de recursos.
Neste artigo restringiu-se a
análise na dimensão fixa da
remuneração, considerando
especialmente a abordagem
por competências. Percebe-
se, nessa abordagem, a
propriedade de se lidar de
forma abrangente e flexível
com questões críticas para a
gestão de pessoas num
cenário de competitividade. Destacam-se como aspectos
positivos dessa abordagem a relação entre os instrumentos
e sistemas de gestão com a estratégia e valores
organizacionais; o estabelecimento de uma escala de
medida para avaliar o nível de desenvolvimento e
contribuição dos trabalhadores; e o alinhamento, de forma
sinérgica, entre os diversos subsistemas de Recursos
Humanos (recrutamento e seleção, gestão de carreiras,
treinamento e desenvolvimento, remuneração etc.).
Embora ainda haja um certo grau de dúvida no mercado
quanto à eficiência da gestão por competências,
notadamente no tocante à questão remuneratória (dúvida
reforçada pelos casos de insucesso em sua aplicação),
experiências recentes têm demonstrado que, quando bem
trabalhado, o conceito permite um salto qualitativo nos
parâmetros utilizados para a Gestão de Pessoas.
Sistemas gerados com base nos conceitos
de competências e complexidade
possibilitam aos gestores assumir de
forma completa a gestão de seus quadros
e administrar melhor a massa salarial
pela qual são responsáveis
José Antonio Monteiro Hipólito é mestre e doutorando em Administração
de Empresas pela FEA-USP, pesquisador da FEA-USP e sócio da empresa
de consultoria Fischer & Dutra Gestão Organizacional.
E-mail:
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