Renascimento Cultural

edgardhistoria 3,123 views 9 slides Aug 09, 2010
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Texto escrito por mim sobre Renascimento Cultural


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Renascimento
Cultural
Renascimento
Cultural
“Que obra de arte é o homem; tão nobre no raciocínio; tão vário na capacidade; em
forma e no movimento, tão preciso e tão admirável. Na ação é como um anjo, no entendimento é
como um Deus, a beleza do mundo; o exemplo dos animais”.
Shakespeare - Hamlet
O
final da Idade Média foi para os habi
tantes do mundo ocidental, uma épo
ca de dúvida, ansiedade e expectativa
de mudanças. Há muito, as rotas de comércio interli-
garam o Oriente com o Ocidente. As cidades ocupa-
vam o espaço dos feudos, dinamizadas pelo capital
burguês que aumentava a cada minuto. A sociedade
moderna nascida do ventre da sociedade medieval,
carecia de renovação cultural que libertasse os artistas
da influência teocêntrica exercida pela Igreja Católica.
As mudanças transformavam o universo feudal dan-
do-lhe um colorido diferente. Chegava o momento de
sacudir o mundo e desenvolver uma arte em sintonia
com os novos tempos. Por tudo isso, a tradição foi
colocada em xeque quando no fim da Idade Média
despontou o Renascimento Cultural.
Obra precoce, e a única assinada, a Pietá , de
Miguel Ângelo mostra um autêntico virtuosismo
técnico e uma confiança juvenil. É uma expressão
piedosa cristã e de crença neoplatônica de que a
beleza física é um reflexo da alma. Quando lhe
perguntaram porque é que Maria era tão jovem disse
que Deus tinha garantido a sua juventude com o
objetivo de “provar ao mundo a virgindade e a pureza
perpétua da Virgem”.
Uma arte
para exaltar
a beleza
humana

O Renascimento Cultural
O Renascimento começou no século XIV e pro-
longou-se até o século XVI. Seu apogeu em termos de
intensidade e produção artística, situou-se entre 1420 e
1560. Inegavelmente a Itália foi o centro gerador da
cultura renascentista. Após o desenvolvimento do
comércio, Veneza, Gênova, Pisa e Florença
monopolizaram as rotas do Mar Mediterrâneo. Com
essa realidade tiveram um desenvolvimento bem mais
acentuado do que o restante do continente europeu. A
partir dessas transformações a nobreza feudal
desempenhou um papel econômico secundário, ceden-
do espaço para a burguesia em ascensão. A predomi-
nância nos negócios destacou os ricos mercadores e
banqueiros, tornando-os a parcela mais ativa da socie-
dade.
A convivência burguesia – nobreza nunca foi
muito tranqüila. Freqüentemente ocorriam choques que
se refletiam na estrutura política das cidades. Via de
regra, a burguesia saía vencedora, derrubando a
nobreza na “queda de braço.” O triunfo burguês
favoreceu um clima mais susceptível para os investi-
mentos na arte, propiciando uma situação de maior
proteção para os artistas. No bojo das transformações
nobreza e a Igreja também se engajaram, conferindo
uma amplitude inédita às transformações culturais.
VALORES EM CONFLITO
O progresso econômico alterou o estilo de vida
das pessoas nas cidades. As relações de dependência
pessoal perderam sua força, dando espaço aos valores
terrenos e a busca de realização individual. A vida ur-
bana permitiu os cidadãos se livrarem da coação do
senhorio feudal e da Igreja Católica. A perspectiva
secular significou a procura de sentimentos próprios.
Os homens da época não se preocuparam em negar a
existência de Deus, porém, emergiram menos
preocupados com a salvação e a vida espiritual.
Voltaram-se para a descoberta do prazer de vi-
ver e os desafios diante do mundo. Esses valores fo-
ram canalizados para a arte e a ciência renovando os
conceitos que eram tidos como inquestionáveis.

“Foi o Renascimento italiano que pro-
jetou a arte de viver nas cidades para o resto
da Europa e para uma posteridade cada vez
mais urbanizada. A cidade italiana era mais
que um mercado ou um centro administrativo;
era um lugar onde um homem podia passar
toda a sua vida, um lugar que provia de
emprego e de diversão não somente a
burguesia com crescentes padrões de conforto
e de cultura, mas a nobreza que em qualquer
parte da Europa preferia gastar seu tempo em
reclusões aristocráticas nos seus feudos cam-
pestres.
O campo para o cidadão italiano era um
lugar para visitar. Muitos comerciantes e lojistas
possuíam vinhas e olivais e abandonavam a cida-
de para viverem perto deles na época da colheita;
entre os ricos e poderosos entrou em moda ter uma
villa campestre. Isso satisfazia o crescente gosto
da aristocracia pelas caçadas e dava uma carac-
terística de ócio luxuoso em uma carreira bem
sucedida de político ou homem de negócios.(...)
Porém, a vida de verdade, a vida que os satisfa-
zia, esta estava nas cidades. Príncipes, banquei-
ros e lojistas voltavam com prazer dos campos que
certamente eram belos, e freqüentemente lucrati-
vos, mas que não podiam deixar encarar como
lugares sem cultura, povoados apenas por bárba-
ros e rústicos.”
1
Itália na época do
Renascimento.
Fonte: História
Moderna e
Contemporânea.
Leonel Itaussu e
Luís Cesar
Costa. Editora
Scipione. pág 41.
O credo
humanista
ordenava a seus
seguidores
transmitir e
acumular
conhecimento

O Renascimento Cultural
A elite urbana impossibilitada de obter o privi-
légio de nascimento, compensava a diferença inves-
tindo nas artes. Em conseqüência, vários artistas pu-
deram desfrutar da proteção e incentivo dos “magna-
tas” da cultura, que se tornaram os mecenas. Para os
novos ricos a arte tinha um sentido pratico, vinculada
à riqueza e o sucesso no mundo dos negócios.
Paradoxalmente a Igreja Católica acossada por
várias heresias e seitas que abalavam os seus alicer-
ces, procurou se aproximar, ao máximo, dos artistas
do Renascimento. Os artistas que atenderam o ape-
lo tiveram acolhida segura. Entretanto, os “re-
beldes” foram perseguidos pela Igreja Católi-
ca que não perdoaria a contestação aos seus
dogmas.
O intenso contato com regiões do
mundo oriental contribuiu imensamente
para a renovação cultural. No Oriente ha-
via uma civilização mais dinâmica onde a
filosofia grega era debatida por inúmeros
intelectuais. Os navios que vinham do
Oriente trazendo perfumes, âmbar, incen-
so e outras mercadorias, traziam também
livros, obras científicas, e às vezes, os pró-
prios sábios que se deslocavam para os
magníficos centros de comércio e cultura
italianos. O ataque de árabes e turcos que
não deixavam Constantinopla em paz, con-
tribuiu para acentuar o êxodo de sábios para o
Ocidente, diante da iminência da cidade
bizantina vir a ser conquistada pelos turcos-
otomanos.
HUMANISMO
A ALMA DO RENASCIMENTO.
Durante a Alta Idade Média, a Igreja Católica
controlava todos os centros de estudo que eram mi-
nistrados por clérigos e padres. As escolas tinham como
finalidade preparar os noviços que investiam na car-
reira religiosa. Nos mosteiros os jovens padres com-
pletavam as carreiras tradicionais de Teologia, Medi-
cina e Direito.
A concepção de mundo imposta pelos valores
religiosos, era estática e dogmática não permitindo mu-
danças que afastassem o homem do plano espiritual. O
padrão moral religioso impunha a submissão, obediên-
cia, paciência, tolerância e aceitação.
No fim da Idade Média, as alterações do
Renascimento Comercial, exigiram da Igreja Católica uma
adequação aos novos tempos. Nesse contexto se inse-
re a Suma Teológica, escrita pelo dominicano Tomás de
Aquino. Sua obra se constitui a primeira tentativa de
conciliar a fé com a razão, quando a própria
Igreja admitiu os postulados da Antigüidade.
“Como a razão não era inimiga da fé, sua
aplicação à revelação não devia ser temida.
À medida que o raciocínio humano se tor-
nava mais eficiente, disse Aquino, também
se tornava mais cristão, e as incompatibili-
dades entre a fé e a razão desapareciam.
Reconhecendo que tanto a fé como
a razão se voltam para a mesma verdade, o
homem prudente aceita a religião como
guia em todas as questões diretamente re-
lacionadas com o conhecimento neces-
sário à salvação. Havia também toda uma
ampla gama de conhecimentos que Deus
não revelou e que não eram necessários à
salvação. Nessa categoria enquadrava-se
grande parte do conhecimento sobre o
mundo natural das coisas e das criaturas,
que os seres humanos tinham perfeita li-
berdade de explorar.”
2
A obra de Tomás de Aquino quebrou a barreira
que divorciava a Igreja dos pensadores da época. Seus
seguidores exaltaram os valores do indivíduo,
enaltecendo a relação do homem com o mundo. O jeito
diferente de pensar e agir envolveu os artistas e pensa-
dores, que se viam sedentos de transformar e mudar os
valores tradicionais. Os humanistas voltavam-se para o
presente, olhavam para o futuro e resgatavam o lado
bom do passado medieval. Movia-os o ideal, que o
homem.era a mais bela criação de Deus. Buscaram en-
tão valorizar o que havia de divino dentro de cada pes-
soa.
O Tempo da História
IDADE MÉDIA
- SUBMISSÃO DO HOMEM
- CONTEMPLAÇÃO
- VALORIZAÇÃO DO
ESPIRITUAL
- METAFÍSICO
TEOCENTRISMO
RENASCIMENTO
CULTURAL
- HUMANISMO E
ANTROPOCENTRISMO
- CIÊNCIA E RAZÃO
- INDIVIDUALISMO
- CONTESTAÇÃO

O Renascimento Cultural ARTE RENASCENTISTA.
A antiga arte medieval apesar do caráter monu-
mental de suas obras, revelava um grande compromis-
so com o espírito religioso predominante no período.
No início prevaleceu o gênero românico caracterizado
por um estilo denso e pesado. Exemplo desse padrão
artístico foram as grandes catedrais, construídas à se-
melhança das fortalezas militares. Na pintura, as figu-
ras humanas eram condicionadas à visão teocêntrica,
desenhadas em posição estática e uniforme, destituídas
de expressividade.
A noção de espaço era restrita à cena predomi-
nante no tema. Na arte medieval os artistas foram ain-
da prejudicados pela carência de recursos técnicos,
obrigando os pintores a colocarem suas obras nas pa-
redes das catedrais e mosteiros. Também nesses locais
poderiam ser admiradas por um número maior de pes-
soas.
Na Baixa Idade Média despontou o gótico ali-
viando o estilo pesado do românico. Nos seus arcos e
ogivas destacava-se uma arquitetura dotada de leveza
e esplendor. Nas catedrais góticas existem espaço, luz
e cor em abundância. Pesa contra o gótico o fato da
arte ainda ser era concebida como instrumento didáti-
co.
Na sociedade medieval onde pou-
cos tiveram acesso ao conhecimento, a arte
funcionava como veículo ideológico ex-
pressando os valores da hierarquia religio-
sa, imutável e inabalável na sua onipotên-
cia. O gótico já pode ser encarado como
transição para o Renascimento, ou até
mesmo, evolução para o estilo de arte,
amadurecido com os mestres renas-
centistas. Na pintura, essa transição foi
muito bem concebida por Giotto, o pintor
que desvendou a nova forma de encarar a
pintura.
Segundo Albert Duhrer, Giotto foi
no século XIII o primeiro mestre do novo
humanismo. “Em Giotto, Cristo é realmen-
te filho do homem. Os acontecimentos da
história sagrada tornam-se acontecimen-
tos terrenos, situam-se bem no mundo hu-
mano e não mais no além. Mesmo o suave halo
dourado que circunda a cabeça dos santos, já não é
um eco dos distintivos de uma hierarquia sobrenatu-
ral presente nas velhas pinturas.
A história de Cristo é contada como alguém
tão tangível e tão próximo ao espectador que este
parece convidado a tomar parte nela. São situações
dramáticas e não imagens imutáveis que são pinta-
das; as figuras relacionadas umas às outras, não mais
se confinam a um espaço bidimensional: saem dele,
buscam o espaço como se quisessem romper com to-
dos os limites e unir-se a todos os que estão vivendo
aqui e agora. Uma nova realidade social e uma nova
consciência não dogmática se fazem sentir nas ima-
gens secularizadas e humanizadas.”
3
No século XIV os artistas passaram a desfrutar
da grande novidade da pintura à óleo. Além do inegá-
vel avanço técnico, permitia a comercialização dos qua-
dros em telas, ao contrário das obras medievais que
eram os estáticos afrescos. Com isso, as obras
ganharam em mobilidade, permitindo-se a compra e
venda de uma tela como qualquer bom negócio. O in-
vestimento na arte multiplicava o lucro dos mecenas,
dentre os quais, se destacava a família de Lourenço de
Médici, famoso banqueiro da cidade de Florença.
O Tempo da História
SÉCULO XII - XIII
RENASCIMENTO
COMERCIAL
E FORMAÇÃO DAS
MONARQUIAS
SÉCULO XIV
INÍCIO DO
RENASCIMENTO
1453
TOMADA DE
CONSTANTINOPLA
SÉCULO XVI
APOGEU E
DECADÊNCIA
DO RENASCIMENTO
1545
CONCÍLIO DE
TRENTO E
CONTRA-REFORMA
Um menino
estudioso lê
Cícero como um
guia para a vida
bem sucedida.
Muitos jovens da
elite tiveram
tutores
humanistas:
outros - inclusive
alguns que eram
pobres mas bem
dotados de
talento -
frequentavam
escolas dirigidas
por humanistas.

O Renascimento Cultural
O palácio em que vivia foi transformado na
Galeria Ufisi, onde se encontram vários quadros e es-
culturas da época de ouro do Renascimento. Um exem-
plo é a Sagração da Primavera de Boticelli, quadro
admirável pela textura, beleza e transparência.
Entretanto o grande gênio do Renascimento
foi o italiano Leonardo Da Vinci. Apesar da pequena
quantidade de quadros pintados, Da Vinci fez o
bastante para eternizar obras-primas, a exemplo da
Gioconda, Última Ceia e A Virgem dos Rochedos. Na
opinião dos críticos de arte, o pintor preferiu técnicas
imprecisas para não ficar preso a estéticas
convencionais. A irreverência do artista se revelou por
inteiro no rosto da enigmática Mona Lisa.
As inúmeras interpretações sobre o sorriso da
Mona Lisa confirmam a natureza polêmica desse ar-
tista. Da Vinci foi um grande exemplo das vantagens
que a ciência trouxe para os pintores do Renascimento.
Os quadros eram precedidos por um estudo minucio-
so de perspectivas matemáticas. Na maioria dos ca-
sos, pintores e escultores faziam o rascunho da obra,
antes que fosse realizada a versão final. A técnica de
contrastar o claro e escuro deu vida às obras permitin-
do aos autores infinitas possibilidades. No quadro A
Virgem do Rochedo, parece que Leonardo da Vinci
concentrou todas as luzes do universo, no rosto
celestial da Virgem Maria.
A expressão perspectiva significa “ver atra-
vés”. Essa expressão inédita de olhar-se para uma
parede pintada e parecer que se vê para além dela,
como se ali tivesse sido aberta uma janela para um
outro espaço, o espaço pictórico, era o principal efei-
to buscado pelos novos artistas. A pintura tradicio-
nal, gótica ou bizantina, praticamente se restringia
ao plano bidimensional das paredes, produzindo no
máximo um efeito decorativo. O novo estilo multipli-
cava o espaço dos interiores e com a preocupação de
dar às pessoas, objetos e paisagens retratados a apa-
rência mais natural possível, parecia multiplicar a
própria vida. Uma arte desse tipo impressionava muito
mais os sentidos que a imaginação, convidava muito
mais ao desfrute visual do que à meditação interior.
Era uma arte que remetia o homem ao próprio
homem e o induzia a uma identificação maior com seu
meio urbano e natural, ao contrário dos estilos medie-
vais que predispunham as pessoas a penetrarem nos
universos imateriais das hostes celestiais. A arte
renascentista, portanto, mantinha uma consonância
muito maior com o modo de vida implantado no Oci-
dente europeu com o incremento das relações mercan-
tis e o desenvolvimento das cidades.
4
Outro expoente do Renascimento foi
Michelângelo. A Criação do Homem, pintada no teto e
laterais da Capela Sistina, no Vaticano, é a maior prova
da criatividade desse artista, que demorou vários anos
para concluir a obra. Como escultor não fez por me-
nos, como se pode observar no magnífico Davi, reali-
zado na adolescência do artista quando lhe solicitaram
uma prova na academia que estudava. A escultura trans-
mite uma sensação de orgulho e heroísmo, combinado
com leveza graça e espiritualidade. Na Pietá,
Michelângelo desenvolveu um sentimento de emoção
ao retratar a imagem da Virgem Maria acolhendo Cris-
to nos braços após o sofrimento do calvário.
O Tempo da História
1346
PESTE
NEGRA
1350
DE
BOCACCIO
DECAMERON
1304
GIOTTO
COMEÇA
OS AFRESCOS
DA CAPELA
DE PÁDUA
1428
AFRESCOS
DE
EM FLORENÇA
MASACCIO
1477
BOTICELLI
A PRIMAVERA
de
1498
da VINCI
ÚLTIMA CEIA
1505
de
MICHELÂNGELO
DAVI
1507
da VINCI
MONA LISA
1572
CAMÕES
OS LUSÍADAS
1603
SHAKESPEARE
HAMLET
Detalhe da Capela Sistina de Miguel Ângelo. Na cena da criação de
Adão pode deduzir-se a confiança da época no ideal masculino.

O Renascimento Cultural
Galeria do
Renascimento
O Renascimento Cultural
O compromisso do Humanismo com o passado clássico e sua rejeição da cultura medieval são claramente revelados nas três obras de arte exibidas nesta página. Todas representam as Três Graças, servas da deusa do Amor. Na versão clássica, acima, à esquerda, as graças são dançarinas robustas, pintadas de modo a idealizar a beleza humana. Entretanto, na Idade Média a forma humana não era admirada em si mesma, e as Graças, à direita, acima, tornaram-se planas e sem corpo. Os humanistas denunciavam tais obras como “Uma caricatura do corpo humano”. Um pintor do século XV, Sandro Boticelli, não era humanista doutrinário, mas sua arte irradiava o espírito do renascimento clássico. Em sua famosa versão das Três Graças, ao lado, ele restituiu os movimentos joviais, e uma vez mais revela sua beleza. Ao tema antigo Boticelli acrescenta a elegância, a graça e a nova sofisticação de sua época. In. John R. Hale. Renascença. Biblioteca de História Universal Life. Editora José Olympio. pág 26.

O Renascimento Cultural
O
s pensadores medievais defenderam a teoria do Universo
estático e imóvel. Para eles, a Terra ficava no centro e os
astros giravam em torno do planeta. Essa concepção teocêntrica foi contestada por Nicolau
Copérnico, em 1453. Na sua obra Sobre as Revoluções das Esferas Celestes, o cientista jogou por terra mil
anos de Geocentrismo, contrapondo o Heliocentrismo - o Sol no centro do nosso sistema e a Terra junto com
os outros planetas e astros girando em torno do astro-rei. Comungando com essa teoria, Galileu aprofundou
os estudos de Copérnico, observando os astros com auxílio das revolucionárias lunetas. Os instrumentos
óticos inventados por Galileu confirmavam a teoria de Copérnico, destruindo cientificamente as ultrapassadas
afirmações da Igreja.
A teoria provocou um estardalhaço nos meios
científicos despertando, ao mesmo tempo a fúria da
Igreja Católica que resolveu condenar o cientista. Após
várias sessões da Inquisição Galileu conseguiu driblar
seus algozes reiterando a fé em Deus diante do tribunal.
Depois de muita pressão diria: “ Eu, Galileu juro que
sempre acreditei, acredito agora e com a ajuda de
Deus acreditarei doravante em tudo o que ensina e
prega a Igreja Católica. Mas porque, depois de ter
recebido uma ordem que me foi legalmente dada para
que abandonasse totalmente a falsa opinião, segundo
a qual, o Sol é o centro do mundo e não se move, e a
Terra não é o centro do mundo e se move, e não
sustentasse, defendesse ou ensinasse a dita falsa
doutrina de nenhum modo (...) escrevi e publiquei um
livro em que a dita doutrina condenada foi versada.
Portanto abjuro, amaldiçôo e abomino os referidos
erros e heresias. ”
5
Em síntese, o Renascimento Cultural foi um
momento singular na história, marcado por três séculos
de grande produção artística, literária e científica. A
atitude dos mecenas investindo e apoiando os artistas
conferiu um papel de destaque para a burguesia. O
interesse dos burgueses era movido pela crença nos
novos padrões e pela certeza de auferir grandes lucros
com a venda das obras artísticas. Vinculou-se também à
perspectiva ideológica de criar um novo padrão de vida e uma forma diferente de pensar e ver o mundo.
No final do século XVI diminuiu sensivelmente a produção cultural engajada com o Renascimento. O
deslocamento do comércio para o Atlântico prejudicou as cidades italianas, afetando os investimentos nas
obras renascentístas. De outro lado, a Igreja Católica deslocou seu foco para a Contra-Reforma que foi
associada ao Barroco que lembrava o Renascimento mas tinha outros objetivos. Mesmo assim o espírito do
Renascimento continuou guiando a humanidade e seus paradigmas conduzem as sociedades na busca de um
mundo melhor.
Renascimento e
Ciência
Leonardo da Vinci foi o curioso mais insistente da história. Perguntava o porquê e como de tudo que via (...) Descobre, anota: quando pode ver, desenha. Copia. Faz a mesma pergunta, uma, duas, várias vezes. A curiosidade de Leonardo unia- se a uma energia mental incansável. Não se contenta com um sim por resposta. Não deixa nada de lado: preocupa- se, expõe, responde a interlocutores imáginários. No quadro ao lado, a
famosa e
enigmática Mona
Lisa.

O Renascimento Cultural
“A história da cultura renascentista ilustra com clareza todo o processo de construção cultural do
homem moderno e da sociedade contemporânea. Nele se manifestam os germes do individualismo e do
racionalismo, conceitos típicos de comportamentos mais imperativos e representativos de nosso tempo.
Consagra a razão que é a instância suprema de toda a cultura moderna, versada no rigor das matemáticas,
que passarão a reger os sistemas de controle do tempo, do espaço, do trabalho e do domínio da natureza.
Será essa mesma razão abstrata que estará presente tanto na elaboração da imagem naturalis-
ta pela qual é representado o real, quanto na formação das línguas modernas e na
própria constituição da chamada identidade nacional. Ela é a nova versão do
poder dominante e será consubstanciada no Estado Moderno, entidade
racionalizadora, controladora e disciplinadora por excelência, que extinguirá a
multiplicidade do real, impondo um padrão único, monolítico e intransigente
para o enquadramento de toda a sociedade e cultura. Isso, contraditoriamente,
fará brotar um anseio de liberdade e autonomia de espírito, certamente o mais
belo legado do Renascimento para a atualidade.”
6
PENSAMENTO RELIGIOSO E POLÍTICO
O
s pensadores renascentistas lutaram por uma religião renovada, não
poupando críticas à Igreja Católica. A idéia de elaborar uma religião
simplificada influenciou o teólogo Erasmo de Roterdã a escrever o fantástico livro - O
Elogio da Loucura. Segundo o autor, os teólogos da Igreja se escudavam numa muralha de
definições teológicas. Dizia Erasmo que: “A verdadeira religião, não dependia do dogma,
do ritual, ou do poder clerical. Ao contrário, ela é revelada de modo simples e claro na
Bíblia e portanto é diretamente acessível a todas as pessoas, desde os sábios e poderosos
até os pobres e humildes.”
7
Quando foi processado pela Igreja, Erasmo retrocedeu
provavelmente com receio das penalidades que lhe seriam impostas. Mas a teoria de
Erasmo não ficaria adormecida. Serviria de inspiração para Martinho Lutero atacar a Igreja
em seus fundamentos básicos.
No plano político a maior obra do Renascimento foi escrita pelo italiano Nicolai
Maquiavel. Sua motivação inicial ao escrever “O Príncipe” foi traçar o caminho mais fácil
para a Itália efetivar a centralização política, a exemplo do que havia acontecido com outras
monarquias européias. Na época de Maquiavel a Itália não conseguia superar a fragmenta-
ção que confrontava as cidades em lutas intestinas. O crescimento
do comércio mergulhou as cidades num insano clima de disputa
que sangrou o território italiano. Na opinião de Maquiavel, a única
forma de reverter a desordem era a imposição da ordem total, sem
contestação.
Na sua concepção, o monarca ideal seria motivado pelas
grandes ações e não deveria hesitar diante das adversidades. Um
príncipe deve agir com rapidez e precisão, não permitindo aos
inimigos a chance de reação. A negligência é a prova da fraqueza,
da incapacidade e despreparo do príncipe diante da tarefa de
governar. Segundo o autor, valia mais a reputação da virtude do
que a própria virtude. É necessário, portanto, que o soberano
dissimule, saiba fingir e engane os súditos.
Maquiavel foi usado como embaixador pela república de Florença numa época em que a ordem política da Europa parecia estar se desmanchando. Na gravura da esquerda, quadro do pensador político

O Renascimento Cultural
Cabe ao povo obedecer aos soberanos. Em caso de transgres-
são das leis, deve o príncipe usar a força para que a ordem na
sociedade seja mantida a qualquer custo.
“É muito louvável por parte dos príncipes de serem
fiéis aos seus compromissos mas, entre os de nosso tempo,
que vimos fazer grandes coisas, são poucos os que sejam
gabados desta fidelidade e que tenham tido escrúpulos
de enganar os que se fiavam na sua lealdade”.
Ora, os animais cujas formas o príncipe deve
saber revestir são as formas da raposa e do leão. A
primeira se defende mal contra o lobo e o outro cai
facilmente nas arapucas que lhe preparam. Da
primeira o príncipe aprenderá a ser sagaz e do
outro a ser forte. Os que desprezam o papel de
raposa entendem pouco da sua profissão. Em
outras palavras um príncipe prudente não
pode nem deve manter a sua palavra senão
quando ele pode fazê-lo sem se prejudicar e
as condições em que ele se comprometeu
ainda subsistem.
Eu não me atreveria a enunciar
semelhante preceito se todos os
homens fossem bons; mas como eles
são todos maus e sempre prontos a
faltar com a sua palavra, o príncipe
não se deve gabar de ser mais fiel à
sua e esta falta de boa fé é sempre
fácil de justificar. Eu poderia citar
dezenas de provas e mostrar
quantos compromissos e tratados
têm sido rompidos, entre os quais
o mais feliz é sempre o que melhor
sabe cobrir-se com pele de
raposa. O caso é de bem desempe-
nhar o seu papel e de saber oportunamente mentir e
dissimular. Os homens são tão simples e tão fracos que quem os quer enganar, facilmente os engana.”
8
Maquiavel foi considerado o primeiro grande pensador político do mundo moderno. A leitura de sua
obra confirma o lema que o tornou imortal - Os fins justificam os meios. Suas idéias serviram de inspiração
para outros escritores da época, tornando-se também o livro de cabeceira dos monarcas do Antigo Regime.
Mas perguntaria o leitor - como pôde ser tão importante um autor que defendeu idéias que inspiraram gover-
nos despóticos e autoritários? Onde estaria o lado renascentista de Maquiavel? A resposta é simples: Ao
defender o poder real vinculando-o à manutenção da ordem, contribuía para debilitar a força da Igreja, que
disputava com os reis o direito de governar os homens na Terra. Ressaltava o espírito renascentista na
exaltação do homem-príncipe, capaz de usar a força e a razão ao mesmo tempo.
1 In. Hale, John R. Hábitos e Moral. A Renascença. Biblioteca Time-Life. José Olympio Editora. P. 52.
2 In. Perry, Marwin. Civilização Ocidental. Uma História Concisa. Martins Fontes Editora. Pág. 231.
3 In. Fischer, Ernst. Apud. Nicolau Sevscenko. O Renascimento. Pág 38.
4 In. Sevcenko, Nicolau. Op. Cit. Pág. 48.
5 In. Blitzer, Charles. O Universo Reconstruído. A Era dos Reis. Coleção Time-Life. Pág. 103.
6 In. Sevcenko. Nicolau. Op. Cit. Pág. 2.
7 In. Perry, Marwin. Op. Cit. Pág. 283.
8 In. Maquiavel. Nicolau. O Príncipe. Edições ao Livro de Ouro. Pág. 38.
O
desenvolvimento
no comércio e o
apoio dos
mecenas,
transformou
Veneza num
dos grandes
centros de
Renascimento
Cultural