torna-se uma atividade vital para o ser social. A ação realizada pelo humano garante
também que a história seja lembrada.
Essas três atividades caracterizadas pela autora são relacionadas com a condição mais
abrangente da existência do ser, o nascimento e a morte, ou seja, natalidade e mortalidade.
Em sua obra filosófica, apesar de não se considerar como tal, Arendt, ao falar sobra a
expressão Vita Activa, nos apresenta como Aristóteles, através de seu pensamento,
discrimina as três formas dignas de vida para um homem e que este poderia escolher
livremente – o belo, o necessário e o útil – sendo: a vida dedicada aos prazeres, onde se
ocupam do ócio, ou do belo; a vida política, onde são concedidos os efeitos; e a vida do
filósofo, dedicado a contemplação do eterno, ou seja, a beleza é contemplada em si
mesma. Tais modos acabam por opor-se aos modos de sobrevivência dos escravos (labor),
pois, estes apenas tinham a possibilidade de realizar atividades para suprir sua existência
e submissão à tirania do senhor. Não sendo harmônico com o modo de viver, não apenas
sobreviver, dos homens livres. “Esta condição prévia de liberdade eliminava qualquer
modo de vida dedicado basicamente à sobrevivência do indivíduo”. O modo de vida do
homem livre é dedicado à contemplação do que é belo, algo que é escolhido livremente
podendo não ser necessário, muito menos útil. Destaca-se aqui que o homem político,
assim como o homem escravizado e até mesmo o próprio artesão não são considerados
como homens livres, pois, “produziam o que era necessário e útil, não podiam ser livres
independentes das necessidades e privações humanas”. O homem absolutamente, e de
fato, livre é o homem que contempla o belo. Vida contemplativa. “Nem o labor nem o
trabalho eram tidos como suficientemente dignos para construir um bios, um modo de
vida autônomo e autenticamente humano”.Arendt apresenta a imortalidade como a
continuidade do tempo passado e presente no futuro. “Os homens são os mortais, as
únicas coisas mortais que existem”. A mortalidade do homem reside do fato de que a vida
individual advém da vida biológica. A eternidade segue como algo transcendente e a
imortalidade como continuidade no tempo.
No segundo capítulo de seu livro, Arandt presume que sem a ação do homem no mundo
o mesmo não poderia sobreviver, pois as coisas e os homens constituem o ambiente de
cada uma das atividades humanas e todas essas atividades só são possíveis pelo fato do
homem viver em sociedade. Na esfera pública, ou seja, na polis, era a esfera da liberdade.
Essa situa-se na esfera do social. A força e a violência tornam-se monopólio do governo.
Todos são iguais. A liberdade passa a situar-se única e exclusivamente na esfera política.
Na esfera privada a necessidade era a que dominava perante todas as atividades exercida
na esfera individual. A esfera familiar e política é correspondida de acordo com as
definições de vida pública e privada. “O que diferenciava a esfera familiar é que nela os
homens viviam juntos por serem a isso compelidos por suas necessidades e carências.” A
esfera social é que situa à liberdade. A política se diferenciava da família pelo fato de que
na polis os pares se conheciam. A política não podia ser um meio de proteger a sociedade.
A família era o centro das desigualdades. A igualdade era a essência da liberdade. Na
modernidade, a esfera social e da polis possuem uma diferença ínfima. A política torna-
se apenas uma função da sociedade moderna. A divisão entre público e privado se dá no
momento da passagem da sociedade do sombrio interior do lar para a luz da esfera
pública. Ao falar sobre a intimidade, Arendt explica que o primeiro eloquente a falar do
assunto foi Rousseau, referindo-se à intimidade do coração em contraponto à intimidade
do lar. A definição mais abrangente para explicar que a sociedade funda a organização
pública de seu próprio processo vital pode ser encontrada no fato de que a nova esfera
social transformou todas as comunidades modernas em sociedades de operários
assalariados, focando sua existência apenas no labor.