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O padre passou a ser ainda mais admirado por sua atitude, como a um santo. Ao mesmo
tempo, João Eduardo, atónito, chorava em sua cama, sem entender por que ele, uma pessoa
boa, trabalhadora, que não queria mal a ninguém e que amava Amélia, passava por essas
terríveis situações.
XV
Amélia foi convidada por D. Josefa a ir jantar em sua casa com o padre Amaro e o cónego.
Feliz, depois de uma missa cantada na Sé, em que admirara e adorara o pároco em sua tarefa
realizar a celebração, seguiu para o jantar. Ao final do mesmo, porém, o senhor cónego sentiu-
se mal e impediu que a irmã saísse de casa para acompanhar Amélia até sua residência. O
pároco sugeriu que sua criada, a Dionísia, acompanhasse a menina, que ele mesmo as levaria
até metade do caminho, mas deviam apressar-se, pois parecia que haveria chuva.
No caminho, porém, a previsão do pároco se confirmou e desabou uma chuva torrencial. No
pretexto de “não se molhar demais a menina Amélia”, o padre entrou em sua própria casa.
Sugeriu à moça que subissem, então, até a sala de jantar para que aguardassem o fim do
aguaceiro e, ao conseguir que a menina cedesse, dispensou Dionísia por meia hora, alegando
que receberia brevemente a confissão da jovem. Pela primeira vez, ficaram completamente a
sós, fechados no quarto do pároco.
XVI
Dionísia, com toda sua experiência, alertou Amaro de que seria necessário encontrar um lugar
seguro para que os dois se encontrassem, pois era muito perigoso que vissem a menina saindo
de sua casa e passassem a comentar as razões do fato. Sugeriu, então, a casa do sineiro da
igreja, separada apenas por um pátio da sacristia e com entrada também pela rua de trás da
Sé. O sineiro, o Sr. Esguelhas, era coxo e tinha uma filha paralítica, a Totó, que, segundo
diziam, tinha um gênio muito difícil e torturava o pai com caprichos. Passava o dia na cama. Tio
Esguelhas ouvia a missa do pároco todos os dias, respeitosamente.
Assim que o viu entrar na sacristia, Amaro o abordou com simpatia e, durante toda a missa,
dirigiu seu olhar para o pobre coitado, como que abençoando-o. Terminada a cerimonia, foi
conversar com ele para pedir-lhe um enorme favor: segundo o pároco, a menina
Amélia, depois do desgosto com o infame escrevente, decidira tornar-se freira. A mãe, porém,
não consentia, portanto, Amaro, acreditando tratar-se de uma vocação divina, resolvera testar
essas suas disposições, experimentá-la, testar sua decisão. Para isso, precisava ter com a
menina muitas conferências e queria saber se poderia contar com o empréstimo da casa do
senhor sineiro... O homem interpretou isso como uma honra e imediatamente garantiu que
seu quarto ficaria disponível nos dias que seriam destinados aos encontros e que ele ficaria
fora nesses períodos. O pároco, porém, mostrou-se preocupado com a filha inválida. O sineiro
garantiu que não era necessário se preocupar, a menina não atrapalharia.
O pároco comunicou à Amélia o arranjo e, como desculpa, argumentou com todos que seria de
muita piedade e consideração que a moça fosse à casa de tio Esguelhas para ensinar sua filha
doente a ler e iniciá-la na doutrina religiosa, da qual estava totalmente afastada. Estaria, se
continuasse assim, aberta à aproximação do anjo mau, de Satanás. Todas as amigas de S.