Rocha, ruth o menino que quase morreu afogado no lixo
6,490 views
30 slides
Jun 21, 2020
Slide 1 of 30
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
About This Presentation
Livro Infantil
Size: 7.12 MB
Language: pt
Added: Jun 21, 2020
Slides: 30 pages
Slide Content
Ruth Rocha
O MENINO QUE
ques ORREU
AFOGADO
O NO LIXO
Ruth Rocha 4
ORREU
AD
1G.
O MENINO QUE
O
Quer
Essa história que eu vou contar aconteceu na minha rua.
Quer dizer, eu nem sei se aconteceu no duro, que ela pare-
ce umas histórias que a minha máe inventa, que é pra con-
vencer a gente a se comportar bem, a arrumar o quarto direi-
tinho, a náo espalhar lixo por todo o lado.
Mas quem me contou náo foi a máe de ninguém, náo.
Quem me contou foi o Armandinho, que ouviu da pró-
pria Xuxa, que era empregada na casa do Ronaldo.
O Ronaldo era um menino como todo mundo. Nem me-
Thor, nem pior.-
Era louco por videogame, por flocos de milho e por filme
de pancadaria.
Uma vez, os pais do Ronaldinho foram viajar. Uma via-
gem comprida.
Ronaldinho ficou sozinho em casa. Quer dizer, sozinho, nao.
A empregada vinha todas as manhás, fazia uma faxina e ia em-
bora. À vovö vinha à noite e dormia no quarto de Dona Laura.
O freezer ficou cheio de comida, que Ronaldinho esquen-
tava no microondas quando queria.
Deixava os pratos, os talheres e os copos pra Xuxa lavar.
Um dia, logo que os pais do Ronaldinho viajaram, a Xuxa
deu uma bronca:
— Olha aqui, Ronaldinho. Tudo bem que vocé deixe es
pratos, os talheres, os copos e as panelas pra eu lavar. Eu estou
aqui é pra isso mesmo. E minha obrigaçäo, sua máe me paga
muito bem pra isso. Mas vocé deixa tudo sujo pela casa intei-
ra, tem prato embaixo dos sofás, tem copos em cima dos mó-
veis, eu hoje encontrei uma banana podre debaixo da televi-
sáo. Náo custa nada levar as ceisas pra cozinha e jogar os res-
tos fora. Eu vou deixar uma bacia com água e detergente, pron-
tinha na pia, vocé pôe a louga dentro que, quando eu chegar,
eu lavo, eu enxugo, eu guardo. e
O Ronaldinho ainda reclamou um pouco:
— Puxa vida, Xuxa, o que é que tem?
}Tem que enche a casa de baratas, tem que mancha os
móveis, tem que hoje eu quebrei um copo daqueles de cristal
da sua máe que estava no cháo, eú náo vi e chutei na parede.
E tem que a casa fica fedorenta. Seu quarto está um
horror... Eu quero mudar a roupa de cama, vocé náo deixa,
fica dormindo até a hora de ir pro colégio. Outro dia eu fui
limpar suas gavetas e saiu um monte de bichos, que eu nem
sei que bicho que deu, vocé disse que era uma colegáo de ortopi
náo sei o que, que vocé ganhou do Caio, o filho da Dona
Anna Flora/
Ronaldinho dormia a manhá inteira, almogava correndo
e ia pra escola.
Quando chegava da escola, pegava uma porçäo de bestei-
ras na geladeira — queijinhos, iogurte com morango, guaraná,
flocos de milho, biscoito de chocolate, lata de sorvete —, ás
vezes fazia pipoca no microondas, levava tudo pro quarto
e ficava vendo TV, comendo, tocando seus Cds no aparelho
de som.
De vez em quando ele trazia uns amigos e eles ficavam
jogando videogame, comendo tudo que é tranqueira e beben-
do tudo que é refrigerante.
>
Sale >
12
13
Quando ele ouvia a vovó chegando, safa depressa do quar-
to, fechava a porta e vinha fazer festinha pra ela.
— Oi, v6, cé tá boa?
A v6, toda feliz, entregava um monte de coisas que ela
trazia pro Ronaldinho.
— Olha, querido, eu trouxe uma caixa de bombons, trou-
xe um bolo de cenouras coberto de chocolate que eu mesma
fiz. Voce já jantou?
— Tá bem, tá bom! Vou mandar
buscar pizza com refrigerante.
E os dois jantavam pizza. Ou,
se náo, Ronaldinho inventa-
va que queria sanduíche do
Mic Mac, queria comida
japonesa de Sujiro Roberto
ou comida chinesa do Lig
Lig Lé.
14
ee
Daf a vovó ia pro quarto da Dona Laura pra ver TV e
dormia logo, que a vovó era muito dorminhoca.
De manhä ela safa antes da Xuxa chegar, que, assim como
ela dormia cedo, também acordava cedíssimo e já ia correr no
parque.
Ronaldinho acordava, tomava café correndo e levava pro
quarto o resto da pizza do dia anterior, meio copo de
milquecheique que tinha sobrado, outra porgáo de porcarias,
comia tudo aquilo e dormia de novo.
Eo lixot
Ah, o lixo ele ia amontoando. Junto da janela, tinha uma
pilha de lixo que já estava quase da altura da porta. Do lado
da cama tinha outro que já estava chegando no teto.
16
A Xuxa náo estava gostando nada, nada dessa história.
Mas os dias foram passando, até que uma manhá o Ronaldinho
nao levantou para tomar café.
A Xuxa bateu na porta e só ouviu um barulho fraquinho,
que ela nao entendeu.
Entáo ela resolveu abrir a porta, para ver o que estava
acontecendo.
Mas a porta náo abria. Nao estava trancada, mas dava a
impressáo de que alguma coisa estava travando a porta.
Ela foi ficando preocupada.
Tentou ligar para Dona Mirtes, que era a-avó do Ronaldi-
nho, mas disseram que ela tinha saído, que só voltaria tarde.
Quando chegou a hora do almogo e o Ronaldinho nao
apareceu, a Xuxa ficou asustada.
Procurou o telefone do lugar onde os pais do Ronaldinho
estavam e falou com eles. Contou que náo estava conseguin-
do abrir a porta, que o Ronaldinho náo respondia quando ela
chamava, disse que náo sabia o que fazer.
Os pais do Ronaldinho disseram que iam tomar o aviáo e
voltar imediatamente e que ela chamasse os tios do Ronal-
dinho para que vissem o que estava acontecendo.
A Xuxa bem que tentou, mas na casa da Tia Rosa o tele-
fone náo atendia. Tia Mariana estava viajando. Tio Orlando
tinha ido levar os meninos à Disneyworld.
Os outros avós moravam em Patos de Minas.
A Xuxa chamou o zelador do prédio, mas Seu Antunes
ficou com medo de empurrar a porta, que cada vez que ele
tentava se ouvia um barulháo, como faz caminháo que despe-
ja entulho.
O tempo foi pasando, a Xuxa nem foi pra casa, preocu-
pada. 2
Até que Dona Mirtes chegou, ficou muito asustada e re-
solveu chamar os bombeiros.
Ao mesmo tempo em que os bombeiros chegaram, chega-
ram os pais do Ronaldinho, com os olhos arregalados de susto.
Os bombeiros resolveram subir pelo lado de fora e forgar a
janela.
No que o sargento conseguiu abrir uma fresta da janela,
comegou a despencar tudo que é tipo de lixo:
Caixas de flocos de milho, garrafas de refrigerante, cascas
de frutas, copos de papel, papéis de bombom, caixas de pizza,
revistas velhas, canudinhos de refresco, tampas de garrafa, rou-
pa suja, aviäozinho de brinquedo, pontas de lápis, läpis sem
Ponta; pacotes de bala, pratos de papeláo, etc., etc. etc. y
Enquanto isso, o pai do Ronaldinho estava forgando a
porta devagarinho e já tinha conseguido abrir uma fresta por
onde despencavam todas aquelas coisas que despencaram da
janela e mais:
Um par de patins, uma bola de futebol, um aquário de
peixes, uma bicicleta Caloi de dez marchas, um par de pernas
de pau, um guarda-sol de praia, uma prancha de surfe, uns
quinze livros, trés álbuns de figurinhas, uma porçäo de brin-
quedos de Kinder Ovo, um pé de ténis Adidas, uma suéter
suja de Coca-cola, um par de óculos, cinco garrafas de água
Minalba.
E mais quinze bolas estouradas da festa do Caio, um jogo
de damas sem damas, um jogo de xadrez faltando cinco pegas,
um tambor furado, uns cento e cinqüenta carrinhos quebra-
dos, meio pacote de serpentinas do ano passado, cinco cader-
nos do primeiro ano, umas doze caixas de lapis de cor usados e
faltando os lápis vermelhos, azuis, verdes e amarelos.
Zu
he
lados, as pessoas comegavam a ouvir uns gemidos fraquinhos,
e o pai do Ronaldinho foi puxando bolsas sem alga, super-
heróis sem cabega, brinquedos de pilhas, pilhas sem brinque-
| A medida que aquela tranqueira toda cafa por todos os
|
| dos, gibis de todos os formatos e sei lá que mais.
|
Mas cada vez cafam mais coisas, até que Seu Breno conse-
guiu agarrar um pé e comegou a puxar, a puxar e lá veio o
Ronaldinho, pálido, desfalecido, largado.
A mäe dele comegou a chorar:
Nessa hora já estava chegando a ambuláncia que os bom-
beiros chamaram. O Doutor Silvio já estava tratando de sal-
var o Ronaldinho.
Mas as tias e os tios e Dona Mirtes e os vizinhos, todos
culpavam todos pela tragédia:
— A culpa € da mamäe, que devia estar tomando conta
dele!
— A culpa € da Saúde Pública, que näo fiscaliza nada!”
— A culpa é do Fernando Henrique, que náo governa
direito!
— A culpa é do síndico, que náo sabe nada!
— A culpa € do Pitta, que náo apita!
— A culpa € da CPI, que sempre acaba em pizza!
— A culpa € do caminhäo de lixo, que nao recolhe o
lixo!
9
YOused Uch, a,
=
28
Nessa altura, o Doutor Sélvio estava preparando uma in-
jeçäo desse tamanho pra dar no Ronaldinho, e deu um treco
nele que ele sentou com os olhos arregalados.
— A culpa € minha!
E tornou a desmaiar e levaram ele pro hospital e trataram
dele e ele ficou bom.
Depois de bom ele ainda quis voltar atrás, dizer que ele
30
nao teve muita culpa, nao, mas a verdade € que ele arranjou
quatro latas de lixo e botou no quarto dele.
Uma pra papel, uma pra restos de comida, uma pra vidro
e uma pra plásticos.
E todo dia ele recolhe direitinho o lixo e joga no lixo.
Nao parece história que a mae da gente inventa pra gente
ajudar a tal da Ecologia?