Tematicamente, pode-se localizar a ambientação da narrativa nos primeiros 19 romances.
A descoberta do ouro, o início de uma nova configuração social com a chegada dos
mineradores e toda a estrutura formada para atendê-los, os costumes, os “causos”, como
o da donzela morta por uma punhalada desferida pelo próprio pai (Romance IV), ou os
cantos dos escravos nas catas (VII), o folclore, a história do contratador João Fernandes
e de sua amante Chica da Silva, e o alerta sobre a traição do Conde de Valadares (XIII a
XIX). A ênfase recai na cobiça do ouro, que torna as pessoas inescrupulosas.
Vila Rica é o “país das Arcádias”, numa alusão direta ao neoclassicismo brasileiro, com
seus principais poetas e suas pastoras: Glauceste Satúrnio e Nise, Dirceu e Marília. No
belo Romance XXI, as primeiras ideias de liberdade começam a circular.
A partir do Romance XXIV, a insatisfação, a revolta contra a corte portuguesa é
explicitada com a confecção de uma bandeira (“Libertas quae sera tamen”). Do XXVII
ao XLVII, há a atuação do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que
procurava atrair mais gente para a conspiração, em longas cavalgadas pela estrada que
levava ao Rio. Contudo, os planos são abortados antes de ser efetivamente colocados em
prática por causa dos delatores, principalmente Joaquim Silvério dos Reis (XXVIII).
Segue-se uma devassa completa, prisões, confisco de bens, falsos testemunhos, a morte
de Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio, sob condições misteriosas (XLIX), a
execução de Tiradentes, antecipada na fala do carcereiro (LII) e explicitada nos romances
LVI a LXIII.
Após um período como magistrado, Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu, é também preso,
julgado e condenado ao exílio em Moçambique (LIV e LV). Lá, longe de sua ex-noiva e
agora inconsolada Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília (LXXIII), casa-se com
Juliana de Mascarenhas (LXXI).
Os romances finais falam do poeta Alvarenga Peixoto, sua esposa, Bárbara Eliodora, e
sua filha, Maria Ifigênia (LXXV a LXXX); o retrato de Marília idosa; lamentos pela
calamidade mineira; e a loucura e morte de D. Maria I (LXXXII e LXXXIII). A obra é
concluída com a “Fala aos Inconfidentes Mortos”.
Um dos romances mais significativos, o XXIV, relaciona o ato da confecção da bandeira
dos inconfidentes com todo o movimento que eles preparavam em Ouro Preto.
Contexto histórico
“Romanceiro da Inconfidência” caracteriza-se como uma obra lírica, de reflexão, mas
com um contexto épico, narrativo, firmemente calcado na história. Em 1789, inspirados
pelas ideias iluministas europeias e pela independência dos Estados Unidos, alguns
homens tentam organizar um movimento para libertar a colônia brasileira de sua
metrópole portuguesa.
Uma pesada carga tributária sobre o ouro extraído das Minas Gerais deixava os que
viviam dessa renda cada vez mais descontentes. Assim, donos de minas, profissionais
liberais – entre os quais alguns poetas árcades – e outros começaram a conspirar contra
Portugal. Contudo, o movimento é delatado e os envolvidos, presos. Alguns são
condenados ao exílio, e o único a ser executado, na forca, é Tiradentes, em 21 de abril de
1792.
Gênese em Ouro Preto