C.E. Prof.ª MARIA LUIZA RODRIGUES DE SOUSA Anexo I, Povoado Cassimiro, Bom Jardim – MA. 2° Ano, 1ª Aula do 4º Período – Não presencial, 2020 O ROMANTISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL Prof. José Arnaldo da Silva Licenciado em Letras
Romantismo em Portugal (1823 – 1865) Este inferno de amar Este inferno de amar - como eu amo! Quem mo pôs aqui nalma ... quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que é a vida - e que a vida destrói - Como é que se veio a atear, Quando - ai quando se há-de ela apagar? Eu não sei, não me lembra: o passado, A outra vida que dantes vivi Era um sonho talvez... - foi um sonho - Em que paz tam serena a dormi! Oh! que doce era aquele sonhar... Quem me veio, ai de mim! despertar? Só me lembra que um dia formoso Eu passei... dava o sol tanta luz! E os meus olhos, que vagos giravam, Em seus olhos ardentes os pus. Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei; Mas nessa hora a viver comecei... Almeida Garrett
Síntese do Romantismo em Portugal Em Portugal, o Romantismo tem início em 1825, com a publicação do poema Camões de Almeida Garrett e permanece no cenário literário até as primeiras atitudes de rebeldia de um grupo de estudantes de Coimbra, 1865, – na famosa Questão Coimbrã que abre caminho para um novo movimento: o Realismo . O Romantismo é a escola literária que sucede o Arcadismo . Ele surge num momento histórico de insatisfação e transformação econômica, política e social, destacando-se a Revolução Francesa, as Guerras Napoleônicas e as Revoluções de 1830 e 1848 . O imperador francês, Napoleão Bonaparte, ameaça invadir Portugal. Com isso, em 1807, D. João VI e sua corte fogem de Portugal para o Brasil. Nesse contexto conturbado, de disputa entre constitucionalistas e absolutistas, os artistas portugueses sentiram a necessidade de recorrer ao nacionalismo para unir e fortalecer a nação . A escola romântica não encerra somente o significado da palavra romântico no sentido restrito ao sentimento do amor e da paixão .
Principais Caraterísticas Libertação Estilística – Dar a liberdade da criação existente nesse novo estilo que dispensa as regras exaltadas pelos clássicos e, inclusive, faz uso de uma linguagem muito próxima à coloquial . Subjetivismo – Valorização de opiniões e expressão de pensamento. Sentimentalismo – Exaltação dos sentimentos, em detrimento do racionalismo. Há uma forte expressão de tristeza, melancolia e saudade. Idealização – Visão ideal das coisas, que não são vistas de forma verdadeira, mas idealizadas, perfeitas. Nacionalismo – Uma forma de recuperar o orgulho português e os seus valores, a pátria é exaltada, destacando-se apenas suas qualidades. Culto ao Fantástico – Forte tendência para a fantasia, para os sonhos, em detrimento à razão. Culto à Natureza – Forte tendência para expressar sentimentos situando-os em ambientes naturais. Saudosismo – Necessidade de refugiar-se no passado, com forte expressão de melancolia e saudade.
A partir de suas principais características e da variedade temática, toda a produção literária desse período, divide-se em três gerações: Primeira, Segunda e Terceira geração Romântica. A seguir serão citadas as gerações românticas com seus principais autores e respetivas obras. GERAÇÕES ROMÂNTICAS PORTUGUESA Aquarela do artista português Alfredo Gameiro (1864-1935) para o romance As pupilas do senhor reitor, de Júlio Diniz, publicado em 1866.
Primeira Geração (1825 – 1840 ) Na primeira Geração encontramos autores ainda presos a certos valores neoclássicos. Mas foram eles os responsáveis pela incorporação do novo estilo. As duas grandes figuras são: Almeida Garrett e Alexandre Herculano . Víbora Como a víbora gerado, No coração se formou Este amor amaldiçoado Que à nascença o espedaçou. Para ele nascer morri; E em meu cadáver nutrido, Foi a vida que eu perdi A vida que tem vivido. Almeida Garrett. In: Folhas Caídas . O soldado I Veia tranquila e pura De meu paterno rio, Dos campos, que ele rega, Mansíssimo armentio . Rocio matutino, Prados tão deleitosos, Vales, que assombravam selvas De sinceirais frondosos, Terra da minha infância, Tecto de meus maiores, Meu breve jardinzinho, Minhas pendidas flores, [...] Alexandre Herculano
Segunda Geração (1840 – 1860) Na segunda Geração temos a intensificação das características românticas, ou seja, essas características são levadas ao exagero. É o chamado ultrarromantismo . Soares de Passos e Camilo Castelo Branco são os poetas mais populares. Partida Ai, adeus! acabaram-se os dias Que ditoso vivi a teu lado; Soa a hora, o momento fadado; É forçoso deixar-te e partir. Quão formosos, quão breves que foram Esses dias d’amor e de ventura! E quão cheios de longa amargura Os da ausência vão ser no porvir! [...] Soares de Passos Amor de perdição (fragmento) Baltasar Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos; mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pés de Teresa. [...] Camilo Castelo Branco
Terceira geração (a partir de 1860) Já na terceira geração , encontramos um prenúncio do Realismo, com os autores se distanciando das características românticas do período inicial. Destacam-se nesse momento João de Deus e Júlio Dinis. Militarão Um valente militar Ficou tão abarrotado Num opíparo jantar A que fora convidado, Que o que fazia era ímpar, E estava dando cuidado. Diz-lhe aflita uma das manas: «Meta dois dedos na boca, Provoque as ânsias, a ver!» -Dois dedos na boca...louca? Se eu os pudesse meter, Metia duas bananas. João de Deus As Pupilas do Senhor Reitor (fragmento) E Margarida?... Essa mais pungentes sentia ainda as saudades. Sempre assim acontece. Em todas as separações, tem mais amargo quinhão de dores o que fica, do que o que vai partir. A este esperam-no novos lugares, novas cenas, novas pessoas; sobretudo espera-o o atrativo do desconhecido, que de antemão lhe absorve quase todos os pensamentos. Vai experimentar outras sensações, e à força de distrair os sentidos, é raro que não acabe por distrair o coração. Mas ao que fica... [...] Júlio Dinis
Romantismo no Brasil (1836 – 1881) A tristeza XIV Triste sou como o salgueiro Solitário junto ao lago, Que depois da tempestade Mostra dos raios o estrago. De dia e noite sozinho Causa horror ao caminhante, Que nem mesmo à sombra sua Quer pousar um só instante. Fatal lei da natureza Secou minha alma e meu rosto; Profundo abismo é meu peito De amargura e de desgosto. À ventura tão sonhada, Com que outrora me iludia, Adeus disse, o derradeiro, Té seu nome me angustia. Do mundo já nada espero, Nem sei por que inda vivo! Só a esperança da morte Me causa algum lenitivo. Gonçalves de Magalhães . In: Suspiros Poéticos e Saudades
Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar – sozinho – à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras; Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho – à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que eu desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias
Síntese do Romantismo no Brasil O Romantismo no Brasil teve início em 1836, com a publicação do livro Suspiros poéticos e saudades , de Gonçalves de Magalhães. Foi resultado de um contexto histórico que levou à Independência do Brasil, em 1822, e despertou nos artistas brasileiros o sentimento de nacionalismo , marcante na primeira geração da poesia romântica . A poesia romântica brasileira é dividida em três gerações : indianista , enaltecedora do heroísmo indígena; ultrarromântica , centrada nas temáticas do amor e morte; e condoreira , de cunho social . Já a prosa é separada em quatro tipos : urbana , cujo enredo se passa no Rio de Janeiro; regionalista , em que o espaço da narrativa é o interior do país; histórica , de ficção atrelada a um fato histórico; e indianista , em que o índio é consagrado herói nacional .
Primeira geração da poesia romântica brasileira (1830 – 1840 ) I-Juca Pirama IV Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.. [...] Gonçalves Dias O índio é o herói da Primeira geração romântica da poesia brasileira. Temas e características Amor idealizado; Mulher idealizada; Figura heroica: do índio brasileiro; Floresta como símbolo nacional; Rigor formal: metrificação e rima; Idealização da natureza; Cor local: características geográficas e culturais. Principais autores Gonçalves de Magalhães (1811-1882); Gonçalves Dias (1823-1864). Principais obras Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães; Últimos cantos (1851) e Os timbiras (1857), de Gonçalves Dias.
Segunda geração da poesia romântica brasileira (1840 – 1850 ) Amor Amemos! Quero de amor Viver no teu coração! Sofrer e amar essa dor Que desmaia de paixão! Na tu’alma , em teus encantos E na tua palidez E nos teus ardentes prantos Suspirar de languidez! Álvares de Azevedo. In: Lira dos Vinte Anos Características Escapismo; Pessimismo; Saudosismo; Egocentrismo. Evasão na morte; Sofrimento amoroso; Exagero sentimental; Idealização da vida, da mulher e do amor; “Mal do século”: tédio e desilusão Temas principais Amor; Morte. Principais autores Álvares de Azevedo (1831-1852); Casimiro de Abreu (1839-1860); Fagundes Varela (1841-1875). Principais obras Lira dos vinte anos (1853), de Álvares de Azevedo; As primaveras (1859), de Casimiro de Abreu; Vozes da América (1864), de Fagundes Varela.
Terceira geração da poesia romântica brasileira (1860 – 1870 ) Navio Negreiro V [...] Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!... São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão. . . [...] Castro Alves Temas e características Crítica social e política; Sem fuga da realidade; Hipérboles: imagens exageradas; Uso intenso de vocativos e exclamações; Busca despertar a emoção e a ação do leitor e da leitora. Principais autores Castro Alves (1847-1871); Sousândrade (1833-1902). Principais obras Espumas flutuantes (1870), Gonzaga ou A revolução de Minas (1867) e Os escravos (1883), de Castro Alves; O guesa errante (iniciado em 1858), de Sousândrade.
A prosa romântica brasileira A prosa romântica brasileira está dividida em quatro partes: urbana , regionalista , histórica e indianista . A seguir, vamos ver as características de cada uma delas. Iracema, de José de Alencar
Prosa urbana Temas e características Melodramática; Amor idealizado; Mulher idealizada; Público-alvo feminino; Espaço da ação: Rio de Janeiro; Divulga os valores morais burgueses; Representação dos costumes da elite burguesa; Herói ou heroína enfrenta obstáculos para encontrar a felicidade. Principais autores Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882); José de Alencar (1829-1877); Manuel Antônio de Almeida (1830-1861). Principais obras A moreninha (1844) e A luneta mágica (1869), de Joaquim Manuel de Macedo; Lucíola (1862) e Senhora (1875), de José de Alencar; Prosa regionalista Temas e características Amor idealizado; Mulher idealizada; Uso de termos regionais; Herói nacional: o homem do interior; Cor local: características culturais e regionais; O herói é um homem rude que enfrenta as dificuldades do espaço em que vive. Principais autores José de Alencar (1829-1877); Visconde de Taunay (1843-1899); Bernardo Guimarães (1825-1884); Maria Firmina dos Reis (1822-1917). Principais obras O gaúcho (1870), O tronco do ipê (1871) e O sertanejo (1875), de José de Alencar; Inocência (1872), de Visconde de Taunay; A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães; Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis.
Prosa histórica Temas e características Amor idealizado; Mulher idealizada; Caráter nacionalista; Tempo da narrativa é sempre o tempo passado; Temática central associada a um ou mais fatos históricos; Personagens históricos convivem com personagens ficcionais; Fatos históricos são essenciais na construção do enredo, não apenas pano de fundo. Principal autor José de Alencar. Principais obras Iracema (1865)|3|, As minas de prata (1866) e A guerra dos mascates (1873), de José de Alencar. Prosa indianista Temas e características Amor idealizado; Mulher idealizada; Figura heroica: índio brasileiro; Floresta como símbolo nacional; Idealização da natureza; Reconstituição do passado histórico brasileiro; Cor local: características geográficas e culturais; Miscigenação como símbolo de harmonia entre colonizado e colonizador. Principal autor José de Alencar. Principais obras O guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874), de José de Alencar.
Iracema Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu?" onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela As vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru te palha matizada, onde traza selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão. [...] José de Alencar