SANTAELLA, L. Os três paradigmas da imagem fotográfica, 2005 2.pdf

MicheleWadja1 247 views 16 slides Aug 17, 2023
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Paradigmas da imagem fotográfica


Slide Content

I
11.
osTRÊSPARADIGMAS DAIMAGEM
Estetrabalhopropõeaexistênciadetrêsparadigmasnoprocessoevo1utivo
deproduçãodaimagem:oparadigmapré-fotográfico,ofotográficoeopós­
fotográfico(verSantaella1994b).Oprimeiroparadigma.nomeiatodasas
imagensquesãoproduzidasartesanalmente,querdizer,imagensfeitasàmão,
dependendo,portanto,fundamentalmentedahabilidademanualdeumindivíduo
paraplasmarovisível,aimaginaçãovisualemesmooinvisívelnumaformabi
outridimensional.Entramnesseparadigmadesdeasimagensnaspedras,o
desenho,pinturaegravuraatéaescultura.Osegundoserefereatodasasimagens
quesãoproduzidasporconexãodinâmicaecaptaçãofísicadefragmentosdo
mundo:visível,istoé,imagensquedependemdeumamáquinaderegistro,
implicandonecessariamenteapresençadeobjetosreaispreexistentes.Desdea
fotografiaque,deacordocomAndréBazin(apudDubois1994:60),nasua
"gêneseautomática",provocouuma"reviravoltaradicalnapsicologiada
imagem",esseparadigmaseestendedocinema,TVevídeoatéaholografia.O
terceiroparadigmadizrespeitoàsimagenssintéticasouinfográficas,
inteiramentecalculadasporcomputação.Estasnãosãomais,comoasimagens
óticas,otraçodeumraioluminosoemitidoporumobjetopreexistente-de
ummodelo-captadoefixadoporumdispositivofoto-sensívelquímico
(fotografia,cinema)oueletrônico(vídeo),massãoatransformaçãodeuma
matrizdenúmerosempontoselementares(ospixels)visualizadossobreuma
teladevídeoouumaimpressora(Couchot1988:117).
Apalavra"paradigma"tomou-secélebredesdeapublicação,em1962,de
Aestruturadasrevoluçõescientíficas,deThomasS.Kuhn.Nessaobra,emais
especialmenteemtextosposteriores(1970,1974,1977,1984,1987,1993),
nosquaisoautorfoilevadoadarexplicaçõessobreumasériedeambigüidades
nousodapalavra,paradigmasedefineemdoissentidos,ummaisvasto,outro
maisespecífico.Omaisvasto,queéoconceitodematrizdisciplinar,significa
oconjuntodecompromissosrelativosageneralizaçõessimbólicas,crenças,
valoresesoluçõesmodelaresquesãocompartilhadosporumacomunidade
científicadada.Emseusentidomaisespecífico,apalavraserefereapenasaos
compromissosrelativosàssoluçõesmodelares,aosexemplarescomosoluções
I
I

concretasdeproblemas.Assimdefinido,otermonãoparecenosautorizara
caract'rizarstrêsmodosdiferenciaisdeproduçãodaimagemsobsuarubrica.
Enlrclnto,dadaaenormerepercussãoqueotermoproduziuemmeios
ientíficoseextracientíficos,seusdoissentidosextrapolarammuitoamoldura
kuhniana,sendoapalavratambémempregadademaneiramaisimprecisae
metafóricaparacaracterizarquaisquerrealizaçõescientíficasounão-científicas
reconhecidasque,definindoosproblemasemétodosqueumadadacomunidade
consideralegítimos,fornecemsubsídiosparaapráticacientífica,artística,
acadêmicaouinstitucionaldessacomunidade.Semnegaraimportânciado
sentidomaisrestrito"paracaracterizarasciênciasconsensualmenteconsi­
deradascomotais,oempregomaismetafóricodapalavratambéméoperacional
quandoestãoemjogoáreasdeproduçãodeconhecimento,disciplinas,práticas
outécnicasquesãotidascomonãopropriamentecientíficas"(Santaella:em
progresso).
Éobviamentenessesentidoqueseenquadra,nopresentetexto,a
referênciaaosparadigmasdaimagem,comoquesequersignificarquesua
produçãosedáatravésdetrêsvetoresdiferenciaiseirredutíveis.
Écertoquelimitarouniversodaimagem,desdesuasorigensatéosnossos
diasaapenastrêsparadigmas,sópodeserfrutodeumcortereducionistaincapaz
dedarcontadetodasasdiferençasespecíficasqueseparam,porexemplo,
dentrodoprimeiroparadigma,odesenhodapinturaedaesculturaouque
separam,nosegundoparadigma,tambémcomoexemplo,afotografiadocinema
edovídeo.Talreducionismo,entretanto,seráaquipraticadodeliberadamente,
vistoque,fielaoespíritodotermoparadigma,estetrabalhotemporobjetivo
demarcarostraçosmaisabsolutamentegeraiscaracterizadoresdoprocesso
evolutivonosmodoscomoaimageméproduzida,querdizer,caracterizadores
dastransformações,oumelhor,rupturasfundamentaisqueforamseoperando,
atravésdosséculos,nosrecursos,técnicasoutiposdeinstrumentaçãoparaa
produçãodeimagens.Pareceevidentequetaisrupturasproduzemconseqüências
dasmaisvariadasordens,desdeperceptivas,psicológicas,psíquicas,cognitivas,
sociais,epistemológicas,poistodamudançanomododeproduzirimagens
provocainevitavelmentemudançasnomodocomopercebemosomundoe,
maisainda,naimagemquetemosdomundo.Noentanto,todasessas
conseqüênciasadvêmdeumabasematerialderecursos,técnicaseinstrumentos,
semaqualnãopoderiamexistirquaisqueroutrasmudançasdeordemmais
mentalemesmosocial.Nãosequercomissoadvogarummaterialismonue
cru,vistoqueasprópriasmudançasmateriaisouinstrumentaissãoprovocadas
pornecessidadesquenemsempresãomateriais,especialmentequandosetrata
deumprocessodeproduçãodelinguagem,sejaestaverbal,visualousonora.
Nestecaso,háumaespéciedeforçainterioraosignoparaproduzir
determinaçõesnoseuprocessoevolutivo,emumaespéciedetentativa
ininterruptaeinatingíveldetodaequalquerlinguagemparasuperarseuslimites.
158
,•..•..
- \
Sartreumavezdeclarouque"todatécnicasempreimplicaurnametafísica".
ParafraseandoSartre,J.Curtis(1978:11)afirmouque"todaimagemsempre
implicaumafísica".Defato,sedesdeoseuestatutoartesanalasleisfísicasda
óticajáiamsetornandocadavezmaisimportantesparaaconsecuçãoda
imagem,nocasodoparadigmafotográfico,semafísicataisimagensseriam
impossíveis.Ora,umdostraçosderupturadoterceiroparadigma,odaimagem
infográfica,emrelaçãoaosegundoestájustamentenoplanosecundárioaque
afísicaficoureduzida,dadaadominânciaqueamatemáticapassoua
desempenharsobreafísicanaproduçãodasimagenssintéticas.Trata-seaí,
antesdetudo,deumamatrizalgorítmica,imagemqueéproduzidaapartirde
trêssuportesfundamentais:umalinguageminformática,umcomputadoreuma
teladevídeo.Emboraamanifestaçãosensíveldaimagemnateladocomputador
sejaumaquestãodeeletricidade,suageraçãodependebasicamentede
algoritmosmatemáticos.
1.Asdivisõeseseuscritérios
Nocontextodabibliografiaconsultadasobreimagem,opresentecapítulo
estáquaseexatamentenamesmalinhagem,aproximando-sedosmesmos
propósitosdasidéiasdesenvolvidasporEdmondCouchotemumasériede
artigos(1987,1988,1989),muitoespecialmentenoensaiodenominado"Da
representação
àsimulação:evoluçãodastécnicasedasartesdafiguração"
(1993).DeacordocomCouchot,noentanto,oprocessoevolutivodessas
técnicasdivide-seemapenasdoisgrandesmomentos:(1)odarepresentação,
vindodapinturarenascentistaatéovídeo;(2)odasimulação,instauradopelas
imagenssintéticas.SemdeixardeconcordarcommuitasdastesesdeCouchot
ganhaemabrangência,alémderevelarmaiorpoderanalítico,adivisãod~
imagememtrêsgrandesparadigmas.AdivisãopropostaporCouchotparece
sofrerdeumalimitaçãobásicaqueserevela,antesdetudo,naconcepçãode
representaçãoporeleesposada.
Defato,apintura,afotografia,ocinema,ovídeosãoevidentemente
processosderepresentação,masporqualouquaisrazõesosprocessosde
simulaçãonãosãotambémformasderepresentação?Suanoçãode
representação-aliás,umanoçãocomumenteaceitaporquasetodososteóricos
daimagem-pressupõeapreexistênciadeumobjetorepresentadoquesejada
ordemdarealidadevisível.·Noentanto,dentrodateoriadossignosdePeirce,
queé,sobretudo,umadasmaisexaustivasteoriasdarepresentaç~io,tallimitação
nãofazsentido,poisoobjetodeumarepresentaçãopodeserqualquercoisa
existente,perceptível,apenasimaginável,oumesmonãosuscetíveldeser
imaginada(CP2.232).Issoquerdizerqueoobjeto,ouobjetos,deuma
159

representaçãoousigno-poisnamaiorpartedasvezessetratadeumobjeto
complexo-podeserqualquercoisaexistenteconhecida,ouqueseacred;ta
terexistido,ouqueseesperaexistir,ouumacoleçãodetaIsCOIsas,outambem
umaqualidadeconhecida,ourelação,oufato,ouaindaalgodeumanatureza
geral,desejado,requerido,ouinvariavelmenteencontráveldentrodeumacerta
circunstânciageral. ._
Comosepodever,nãohánadanadefiniçãopeircIanadarepresentaçao,que
restrinjaseuobjetodentrodoslimitesdeumreferenteexterno~erceptlv:l,
cmoquerCouchot.Aocontrário,paraPeirce,essaéamaissimplónadefImçao
deobjeto,aquelaqueoconfundecomuma"coisa",poisoobjetoéqualquer
l,;oisaqueumsignopodedenotar,aqueosignopodesera~hcado,des~euma
idéiaabstratadaciência,umasituaçãovividaouIdeahza?a,umtlpode
comportamento,enfim,qualquercoisadequalquerespéci~-,Eporisso5uea
divisãodasimagensbaseadanaoposiçãoentrerepresentaçaoeslmulaçao~az
limsentidomuitoparcial,umavezque,nocasodasimulação,aimagemtambem
éumarepresentação,oumelhor,éfrutodeumasériedereprese~tações,'As
equaçõesalgébricasaseremprocessadaspeloscomputadores.equesaoFassIveIs
leseremtraduzidasnospontosdeluzdatelasãomatnzesnumencasou
representaçõesdeummodelo.Aimagemsensívelqueaparecenatela,pors~a
vezfuncionacomoumoutrotipoderepresentação,maISllldIclal,darelaçao
pon'toapontodovalornuméricocomopixel.!orfim,aimage~natela,é
(lindaumoutrotipoderepresentação,maISIcomca,querdizer,eumadas
aparênciassensíveispossíveisdomodeloqueagerou.Demodoalgum,~orser
'imulativo,taltipodeimagemdeixadeserrepresentatlvo,apenasocaraterde
suarepresentaçãotorna-semuitomaiscomplexoemisturado...
SeanoçãoqueCouchottemdesimulaçãojáparecelimItada,ade
representaçãotambémsóécapazderecobrirasimagensestntamen:e
referenciaisoufigurativas,oquenoslevaaumbecosemsaída,pOIStaldIvIsao
doprocessoevolutivodastécnicaseartesdafiguraçãodeixad:foratodas_as
imagensnão-representativas,desdeasformasabstratasgeometncasounao,
formasdecorativas,formaspuras,gestospurosetc.que,deac?rdocomsua
classificação,nãosãonemrepresentativasnemsimulativas.Ecertoquea
inteI)çãodeCouchotnãoparecetersidoadeabraçar,nasuadivisão,todosos
tiposdeimagem,mastão-sódemarcaraoposiçãoradIcal~ueasImagens
sintéticasestabeleceramemrelaçãoàsformasderepresentaçaoherdadasdo
Renascimentoesecularmentehegemônicasatéoadventodacomputação
gráfica.Alémdisso,enquantosistemasderepresentação,defato,nãoseoperam
mudançasradicaisdapinturarenascentistaparaafotoecmematografia.
Dequalquermaneira,adivisãoestudadaporCouchotébinária,demodo
queaclassificaçãodostrêsparadigmas,aquiproposta,estariaaparentemente
maispróximadaclassificaçãoefetuadaporumoutroautor,PaulVmho,que,
160
Ihh
.~
.3
.,
,j
.~
T
~oseulivroLa'~1achinedevision(1988)apresentaumalogístícadaimagem,
aluzdaqualsaoestabelecIdostrêsregimesdasmáquinasdevisãoque
correspondemà:(1)eradalógicaformaldaimagemqueéadapintura,gravura,
arqUIteturaequetermmanoséculoXVIII;(2)eradalógicadialética,queéa
dafotografia,dacinematografia,ou,sepreferirmos,adofotograma,no~éculo
XIX;(3)eradalógicaparadoxal,queéaquelainiciadacomainvençãoda
vIdeografIa,daholografiaedainfografia(vertambémVirilio1993)..
,Embor~tenhasetoma~omuitoconh~cido,sendocitadocomfreqüênciti,
atepelopropnoautor,ostresregImesdaVIsão,tambémchamadosdelogfsticas
daImagem,nuncaforammuitolongamenteexplicitadosporVirilio.Por
exemplo,quesentidossãodadosaostrêstiposdelógica:"formal","dialética"
e"paradoxal"?Quaisforamosprincípiosquenortearamessadivisão?São
perguntascujasrespostas,poucosistematizadaspeloautor,sópodernser
lI1f~ndas.Assim,alogísticaformaléaqueladossistemasderepresentação
artlstIcos,darepresentaçãopicturaltradicional;adialética,inauguradapela
fotografta,nascedoJogoentrearteseciências,quando"arepresentaçãocede
lugar,poucoapouco,aumaautênticaapresentaçãopública";aparadoxalmarca
"aconclusãodamodernidade"pelo"encerramentodeumalóericade
representaçãopública"(Virilio1994:51-52,90-91).
b
Confessandoquesóestimacomdificuldadesasvirtualidadesdalógica
paradoxaldovldeograma,dohologramaedaimagerienumérica,Virilio(ibid.:
91-92)explIcaqueoparadoxológicoéo
da~mageme_mtemporealquedominaacoisarepresentada,estetempoqucapartil-de
en:aoselmpoeaoespaçoreal.Estavirtualidadequedominaaatualidade,subvertendoa
pro?nanoçãoderealidade_Daíestacrisedasrepresentaçõespúblicastradicionais
(graflcas,fotográficas,cinematográficas...)embenefíciodeumaapresentação,deuma
presençaparadoxal,telepresençaadistnnciadoobjetooudoserquesupresuaprópria
existência,aquieagora.
Enquanto,nalógicadialéticadaimagem,tratava-sesomente"dapresença
dotempodIferencIado,apresençadopassadoqueimpressionavaduravelmente
asplacas,aspelículasouosfilmes",nalógicaparadoxal,"éarealidadedapre­
senç~emtemp~realdoobjetoqueédefinitivamenteresolvida"(ibid.:91-92).
.NaorestadUVIdaquantoaopodersugestivodessadivisãoapresentadapor
Vmho.Entretanto,tambémnãohádúvidadequeéumadivisãobaseadaem
critériosquesemisturam.Alógicadarepresentaçãoéextraídadeumprincípio
Imanente,dosSistemasformaiSemquearepresentaçãoseconfierura.Jáalóerica
dlal~tica,deumlad~o,parecepartirdeumprincípiotambémim:nente(os
jobgoS
dlaletIcos_entreClenClaearte),para,então,sevoltarparaosaspectosde
d,Istnbulçaoerecepçãosocialdaimagem,suaapresentaçãopública.Quantoà
10gIcaparadoxal,seuprincípiopareceserextraídodoparadoxoentreespaço

realdoobjetoetemporealdaimagem.Paradiscutiresseparadox.o,Viriho
lançamãodefatorestaiscomopresençaparadoxal,simulaçãoetelepresença
nadistânciadoobjeto.Ora,mesmoqueambasaspresençassejamparadoxais,
otipodepresençadeumaimagemtelevisivaoumesmoholográficanãopode·
seridentificadocomotipodepresençadeumaimagemsintética.Enquanto,
noprimeirocaso,existe,defato,umarelaçãoentreumobjetonoespaçoreale
otemporealdetransmissãooudepercepçãodaimagemdesseobjeto,omesmo
nãosepodedizerdaimagemsintética,completamenteindependentedequalquer
objetoexistenteemqualquerespaçoreal.
Éporissoqueanoçãodesimulação
caberiaestritamenteàimagemsintética,sópodendoseraplicadaàimagem
videográficaouholográficadeumamaneiramuitometafórica.
Assimsendo,sãosónuméricasascoincidênciasentrealogísticadeVirilio
eostrêsparadigmasdaimagemqueserãoaquidiscutidos,vistoqueháuma
distinçãoevidente,quandoeleseparaafotografiaecinema,deumlado,unindo
avideografiaeaholografiacomainfografia,deoutro.ParaCouchot,assim­
comoparaestapropostadostrêsparadigmas,asimagensinfográficasou
sintéticasinauguramumanovaeranaproduçãodeimagenscomcaracterísticas
radicalmentediversasdasimagensdeprojeçãoótica,dependentesdaincidência
daluzsobreasuperfíciedascoisas,quevãodafotografiaatéovídeo.
Nadiscussãoacima,nãoestáevidentementeimplicadanenhuma
reivindicaçãodequequalquerumadasclassificaçõessejamaiscertadoqueas
outras,poisasdiferençasentreastrêsdivisõesnãosãoprovenientes
simplesmentedacorreçãodeumacontraaincorreçãodeoutras,mas,antesde
tudo,sãoresultantesdecritériosdistintosquecadaumadelastomoucomo
pontodepartidaedeorientação.
Comojádeveterficadorelativamenteclaro,ocritérioemquesebaseiaa
divisãoaquienuncidadadostrêsparadigmaséumcritério,porassimdizer,
materialista,ouseja,trata-se,antesdetudo,dedeterminaromodocomoas
imagenssãomaterialmenteproduzidas,comquemateriais,instrumentos,
técnicas,meiosemídias.
Énosseusmodosdeproduçãoqueestãotambém
pressupostosospapéisdesempenhadospelosagentesdaprodução,trazendo,
ademais,conseqüênciasparaosmodoscomoasimagenssãoarmazenadase
transmitidas.Umavezquenenhumprocessodesignopodedispensara
existênciademeiosdeprodução,armazenamentoetransmissão,poissãoesses
meiosquetornampossívelaexistênciamesmadossignos,oexamedesses
meiospareceserumpontodepartidaimprescindívelparaacompreensãodas
implicaçõesmaispropriamentesemióticasdasimagens,querdizer,das
característicasqueelastêmemsimesmas,nasuanaturezainterna,dostipos
derelaçõesqueelasestabelecemcomomundo,ouobjetosnelasrepresentados,
edostiposderecepçãoqueestãoaptasaproduzir.
Assimsendo,foiaobservaçãodastransformaçõesoperadasnosmodosde
162
produçãodaimagemquenosconduziuaostrêsparadigmasqueaquiserão
discutidos:(1)paradigmapré-fotográfico,ouproduçãoartesanal,quedá
expressão
àvisãopormeiodehabilidadesdamãoedocorpo;(2)paradigma
fotográfico,queinaugurouaautomatizaçãonaproduçãodeimagenspormeio
demáquinas,oumelhor,deprótesesóticas;(3)paradigmapôs-fotográficoou
gerativo,noqualasimagenssãoderivadasdeumamatriznuméricaeproduzidas
portécnicascomputacionais.Emsíntese,noprimeiroparadigma,encontram­
seprocessosartesanaisdecriaçãodaimagem;nosegundo,processos
automáticosdecaptaçãodaimageme,noterceiro,processosmatemáticosde
geraçãodaimagem.
Paraaprofundaradiscussãodessestrêsdiferentestiposdeproduçãoede
suasconseqüentescaracterísticassemióticas,buscandocomissovalidara
hipótesedadivisãoaíproposta,oprocedimentoescolhidoroianalisar
comparativamenteomododeproduçãodecadaumdostrêsparadigmaspar2,
aseguir,examinar,demaneirabreveeesquemática,asvariaç:õesqueelesvão
apresentandosobopontodevistadecadaumdosseguintestópicos:(l)os
meiosdearmazenamentodaimagem,(2)opapeldoagenteprodutor,(3)a
naturezadasimagensemsimesmas,(4)asimagenseomundo,(5)osmeiosde
transmissão,(6)opapeldoreceptor.Comisso,torna-sepossívelexaminaras
mudançasquevãoseprocessandoemcadaumdessesníveisparadarcorpoe
JuStIfIcarumarupturaparadigmática.
2.Asimagenseseusmeiosdeprodução
2.1.O paradigmapré-fotográfico
Acaracterísticabásicadomododeproduçãoartesanalestánarealidade
matéricadasimagens,querdizer,naproeminênciacomqueafisicalidadedos
suportes,substânciaseinstrumentosutilizadosimpõesuapresença.Issoéuma
constantedesdeasimagensnasgrutas,passandopelodesenho,pintura,gravurn
eatémesmoaescultura,pois,sobesteaspecto,poucoimportaasimagens
serembIoutridimensionais,emboramerecesseumadiscussãoüparteanatureza
imagéticaounãodaesculturaedaarquitetura,inclusive.Noentanto,essa
discussãotambémseráaquideixadadeJado.Nãopodemsernegadasas
dIstll1çÕesevidentesnosmodospelosquaisapinturaeodesenho,emaisainda
agravura,sãoproduzidôs.Agravura,aliás,nasuacapacidadereproclutora,
emborademodoaindaartesanal,jácomeçaraaanteciparocarüterfundamental
doparadigmafotográfico.Nãoobstanteasdiferenças,aquestãofundamental,
queéaproduçãomanual,acentuadamentematérica,mantém-seemtoclasessas
imagens.Emfunçãodisso,apinturaseráaquitratadacomoexemplardo
163
O".<,,:~~";;

paradigmapré-fotográfico,emuitasdasafirmaçõesqueserãofeitasacerca
delaserãotambémválidaspara·odesenhoeagravura.
Aproduçãoartesanaldaimagemdepende,assim,deumsuporte,quase
sempreumasuperfíciequepossaservirdereceptáculoàssubstânclas,namalOr
partedasvezestintas,queumagenteprodutor,nestecasooartlsta,uühzapara
neladeixaramarcadeseugestoatravésdeuminstrumentoapto.Ora,opnnClpal
instrumentoquepossuímos
éonossoprópriocorpo,quecriaprolongamentos
namedidadasnecessidadesquelhesãoimpostas.Nocasodapmtura,opnnclpal
instrumentoéopincel,que,comoprolongamentodosdedosedosmovimentos
damão,permitedesenvolveramaestrianasuautilização(Sogab~
;990:28­
30).Navisibilidadedapincelada,éogestoqueagerouqueÍlcavlSlvelcomo
marcadeseuagente. .,..
A'
Oqueresultadissonãoésóumaimagem,masumobjetoumco,auten;lco
e,porissomesmo,solene,carregadodeumacertasacralidade,frutodopnvlleglO
daimpressãoprimeira,originária,daqueleinstantesantoeraronoqualopi~tor
pousouseuolharsobreomundo,dandoformaaesseolhar~umgestomepehvel.
Éporissoqueaproduçãoartesanaltemumacaractenstlcaemmentemente
monádica.
Écertoque"atelaaserpintadasópodereceberprogresslvamentea
imagemquevemlentamentenelaseconstruir~toq~eportoqueellll~apor
linha,comparadas,movimentosderecuoeaproxlmaçao,nocon~rolecentlmetro
porcentímetrodasuperfície,comesboços,rascunhos,c?rreçoes,retomadas,
retoques,emsumacomapossibilidadedeopmtormodlÍlcaracadamstant:o
processodeinscriçãodaimagem"(Dubois1994).Nãoobstanteasmterrupçoes
ealentidãoaqueopwcessodeexecuçãodaimagemartesanalpodeestar
sujeito,issonãoafazperdersuacaracterísticamonádicabásica.Nessaimagem
instauradora,fundem-se,numgestoindissociável,osujeitoqueacna,oobjeto
criadoeafontedacriação.
2.2.Oparadigmafotográfico
Agrandemodificaçãoquesedánapassagemdoparadigmapré-fotográfico
aofotográficoestánoadventodeumprocessodeproduçãoeminentemente
diádicoqueafotografiainaugurou.Aliás,portodososdiferentesângulosque
sepossaobservá-Io,essesegundoparadigmamostra-sesempredual,comose
verámaisadiante.
Emboratenhamaravilhadonossosantepassados,afotografianãonasceu
deumainvençãosúbita,poisela
éafilhamaislegítimadacamaraobscura,
tãopopularnoQuattrocento,cujoaperfeiçoamentopermitiuestendera
automatizaçãoatéaprópriainscriçãodaimagem,afastandodopmtoratarefa
denelacolocarsuamão.Oquefaltavaàcamaraobscuraeramumsuporte
164
1r.h
sensívelàluzparaacapturaautomáticadaimagem,deumlado,eonegativo
paraaautomatizaçãodareproduçãodessaimagemoriginal,deoutro.Ambos
chegaramcomafotografia.
Fundamentalmente,amorfogênesedoparadigmafotográficorepousasobre
técnicasóticasdeformaçãodaimagemapartirdeumaemanaçãoluminosa,
queocinemaeovídeonãovierammodificar,massólevaràsuamáxima
eficácia.Nesseparadigma,aimageméoresultadodoregistrosobreumsuporte
químicooueletromagnético(cristaisdepratadafotoouamodulaçãoeletrônica
dovídeo)doimpactodosraiosluminososemitidospeloobjetoaopassarpela
objehva.Enquantoosuportenoparadigmapré-fotográficoéumamatériaainda
vaziaepassiva,umatela,porexemplo,àesperadamãodoartistaparalhedar
vida,noparadigmafotográficoosuporteéumfenômenoquímicooueletro­
magnéticopreparadoparaoimpacto,prontoparareagiraomenorestímuloda
luz.Masocaráterreativo,deconfronto,presentenesseparadigmanãopáraaí.
Fotografia,cinemaevídeosãosemprefrutosdeuma"colisãoótica",para
usarmosaexpressãocunhadaporCouchot(1987:88).Atrásdovisordeuma
câmeraestáumsujeito,aquelequemanejaessapróteseótica,queamaneja
maiscomosolhosdoquecomasmãos.Essaprótese,porsimesma,criaum
certotipodeenfrentamentoentreoolhodosujeito,queseprolonganoolhoda
câmera,eorealasercapturado.Oqueosujeitobusca,antesdetudo,édominar
oobjeto,oreal,sobavisãofocalizadadeseuolhar,umrealquelhefazresistência
eobstáculo.
Oatodatomada,porseulado,
éoinstantedecisivoeculminantedeum
disparo,relâmpagoinstantâneo.Dadoessegolpe,tudoestáfeito,fixadopara
sempre.Enquantoaimagemartesanalé,porsuapróprianatureza,incompleta,
intrinsecamenteinacabada,oatofotográficonãoésenãofrutodecortes.O
enquadramentorecortaorealsobumcertopontodevista,oobhlradorguilhotina
aduração,ofluxo,acontinuidadedotempo.Onegativodatomada,matriz
reprodutoradeinfinitascópias,inscreveeconservaotraçodoacontecimento
singular,nointeriordoqualumsujeitoeumobjeto,pormeiodeumfeixede
luzcapturadoatravésdeumpequenoorifício,defrontam-separasesepararem
noinstantemesmodessacaptura.
Onegativo,captaçãodaluz,é,paradoxalmente,purasombra,rastroescuro
àesperadaluzquesóserárestituídanarevelação.Aimagemrevelada,porseu
turno,ésempreumduplo,emanaçãodiretaefísicadoobjeto,seutraço,
fragmentoevestígiodore~l,suamarcaeprova,masoqueelarevela,sobretudo,
éadiferença,ohiato,aseparaçãoirredutívelentreoreal,reservatórioinfinito
einesgotáveldetodasascoisas,eoseuduplo,pedaçoeternizadodeum
acontecimentoque,aoserfixado,indiciarásuaprópriamorte.Noinstante
mesmoemqueéfeitaatomada,oobjetodesapareceparasempre.
'''--.
.1

2.3.Oparadigmapós-fotográfico
Seoparadigmafotográficoé,sobtodososângulos,diádi~o~
dominantementeindicial,nopós-fotográficooprocessodeproduçaoe
eminentementetriádico,pressupondotrêsfasesinterligadas,masperfeitamente
delimitadas.Nãotemsidopoucaaênfasequeosteóricosdaimagemtêm
colocadosobreamutaçãoradicalnosmodosdeproduçãodaimagemquea
infografiaprovocou.Defato,eladeslocoudesuahegemonia.aprimadode
s'culosdaimagemótica,primaziaquejácomeçaraasemsmuardesdeo
Renascimento,comacamaraobscuraeaperspectivamonocular,parase
exacerbarcomasinvençõesdasprótesesóticasnoséculo
XIXeXx..
Osuportedasimagenssintéticasnãoémaismatéricocomonaprodução
artesanal,nemfísico-químicoemaquínicocomonamorfogêneseótica,mas
resultadocasamentoentreumcomputadoreumateladevídeo,mediadosambos
porumasériedeoperaçõesabstratas,modelos,programas,cálculos.O
omputador,porsuavez,emboratambémsejaumamáquma;trata-se,deuma
máquinadetipomuitoespecial,poisnãooperasobreumareal~dadeÍlsI:a,tal
comoasmáquinasóticas,massobreumsubstratoslmbóhco:amformaçao.Na
novaordemvisual,nanovaeconomiasimbólicainstauradapelainfografia,o
aGentedaproduçãonãoémaisumartista,quedeixanasuperfíciedeumsuporteb .. .' .
amarcadesuasubjetividadeedesuahabIhdade,nemeumSUjeItoqueage
sobreoreal,equepodeatétransmutá-Ioatravésdeumamáquina,massetrata
aGora,antesdetudo,deumprogramadorcujainteligênciavisualserealizana
j;teraçãoecomplementaridadecomospoderesdainteligênciaartificiaL
Antesdeserumaimagemvisualizável,aimageminfográficaéumareahdade
numéricaquesópodeaparecersobformavisualnateladevídeoporqueestaé
compostadepequenosfragmentosdiscretosoupontoselementareschamados
pixels,cadaumdelescorrespondendoavaloresnuméricosquepermitemao
computadordaraelesumaposiçãoprecisanoespaçobIdImenslOnaldatelano
interiordeumsistemadecoordenadasgeralmentecartesianas.Aessas
coordenadassejuntamcoordenadascromáticas.Osvaloresnuméricosfazem
decadafragmentoumelementointeiramentedescontínuoequantificado,
distintodosoutroselementos,sobreoqualseexerceumcontroletotal.Partindo
deumamatrizdenúmeroscontidadentrodamemóriadeumcomputador,aimagem
podeserintegralmentesintetizada,programandoocomputadorefazendo-ocalcular
amatrizdevaloresquedefinecadapixel.Opixelélocalizável,controlávele
modificávelporestarligadoàmatrizdevaloresnuméricos.Essamatrizétotalmente
penetráveledisponível,podendoserretrabalhada,doquedecorrequeaimagem
numéricaéumaimagememperpétuametamorfose,oscilandoentreaimagem
queseatualizanovídeoeaimagemvirtualouconjuntoinfinitodeimagens
potenciaiscalculáveispelocomputador(Couchot1987:89-90). .
;
.1
Emboraasimagensqueatelapermitevisualizarsejamaltamenteicônicase
sensíveis,circunvoluçõesdeformas,fosforescênciaseluminescências,tudo
quesepassaportrásdatelaéradicalmenteabstrato.Masparamelhorentender
essaabstraçãotorna-senecessáriocolocaremevidênciaastrêsfasesenvo:vidas
noprocessodeproduçãodainfografia.Numavisãoglobal,oprocessose
desenvolvedaseguintemaneira:emprimeirolugar,oprogramadorconstrói
ummodelodeumobjetonumamatrizdenúmeros,algoritmosouinstruções
deumprogramaparaoscálculosaseremefetuadospelocomputador;em
segundolugar,amatriznuméricadevesertransformadadeacordocomoutros
modelosdevisualizaçãooualgoritmosdesimulaçãodaimagem(Machado
1993b:60);então,ocomputadortraduziráessamatrizempontoselementares
oupixelsparatornaroobjetovisívelnumateladevídeo.
Osalgoritmos,ourepresentaçõessimbólicaseabstratasdaquiloquea
imagemvaimostrar,sãoumasériedeinstruçõesquedescrevemasoperações
queocomputadordeveexecutarparaproduzirumaimagemnovídeo.Essa
imagem,semprealtamenteicônica,nãotemnenhumaanalogiacomasrepre­
sentaçõessimbólicas.Enquantoestasestãonumespaçoabstrato,aquelasestão
numespaçofísicosubmetidoàsleisdalógica,datelaedaluz,masumaluzque
nãojogamaisnenhumpapelmorfogenéticonarealizaçãodaimagem,servindo
apenasparatransmiti-Ia.Comoseunemessesdoismundos?Atravésdaconexão
indicialentreonúmeronoalgoritmoeopixelnatela.Adistribuiçãodospapéis
semióticosdesempenhadospelastrêsmodalidadessígnicas-símbolo,índice
eícone-pareceseapresentaremequilíbrioperfeitonainfografia.
Oquepreexisteaopixel?Umprograma,linguagemenúmeros.Oqueestá
implícitonoprograma?Ummodelo.Opontodepartidadaimagemsintéticajáé
umaabstração,nãoexistindoapresençadorealempíricoemnenhummomento
doprocesso.Daíelaserumaimagemquebuscasimularorealemtodasua
complexidade,segundoleisracionaisqueodescrevemouexplicam,quebusca
recriarumarealidadevirtualautônoma,emtodasuaprofundidadeestn.liurale
funcional(Couchot1993:43).
Àinfografianãointeressamaisaaparência,nemo
rastrodosobjetosdomundo,massimseuscomportamentos,seusfuncionamentos,
comogarantiadeefrcáciadasintervenções,dasaçõesdoserhumanosobreomundo.
Asduaspalavrasdeordemdasimagenssintéticassãoassimaspalavras
modeloesimulação;ArlindoMachado(1993a:117)nosdizque
Amodernaciênciadacomputaçãodenominamodeloumsistemalllatelll<1tico
queprocuracolocaremoperaçãopropriedadesdeumsistemarepresentado.Omodelo
é,portanto,umaabstraçãoformal-e,comotal,passíveldesermanipulado,
transformadoerecompostoemcombinaçõesinfinitas-,quevisafuncionarcomoa
réplicacomputacionaldaestl'lltura,docomportament'oouelaspropriedadesdeum
fenômenorealouimaginário.Asimulação,porsuavez,consistebasicamenteIluma
"experimentaçãosimbólica"domodelo.

Se,numsentidomaisvasto,omodelosedefmecomoummododerepresen­
taçãoformalizado,suscetíveldedarexplicaçõesparaumfenômenoquesedestina
aservalidadoouÍnvalidadopelaexperimentação,segundoCouchot(1987:94­
95),osmodelosnuméricosfuncionamdemaneiraumpoucodiferente.
A
contFibuiçãoinestimáveldocomputadorestáemseupoderdecolocarosmodelos
àprova,semnecessitarsubmetê-Iasaexperiênciasreais.Modelossemprehouve.
Oquemudacomocomputadoréapossibilidadedefazerexperiênciasquenãose
realizamnoespaçoetemporeaissobreobjetosreais,maspormeiodecálculos,de
procedimentosformalizadoseexecutadosdeumamaneiraindefinidamente
reiteráve1.
Éjustamentenisso,istoé,navirtualidadeesimulação,queresidemos
atributosfundamentaisdasimagenssintéticas.
PRÉ
expressãodavisão
viamão
processosartesanais
decriaçãodaimagem
suportematérico
instrumentos
extensõesdamão
processomonádico
fusão:sujeito,
objetoefonte
imagemincompleta,
inacabada
Tabela1
MEIOSDEPRODUÇÃO
FOTOGRÁFICA
autonomiadavisão
viaprótesesóticas
processosautomáticos
decaptaçãodaimagem
suportequímico
óueletromagético
técnicasóticas
deformaçãodaimagem
processodiádico
colisãoótica
imagemcorte,
fixadaparasempre
168
1'1/\
PÓS
derivaçãodavisão
viamatriznumérica
processosmatemáticos
degeraçãodaimagem
computadorevídeo
modelos,programas
númerosepixels
processostriádico
modeloseinstruções
modelosdevisualização
pixelsnatela
virtualidadee
simulação
3.Asconseqüênciasdosmeiosdeproduçãodaimagem
3.1.Conseqüênciasnosmeiosdearmazenamento
Sendoproduzidasnumsuportematerialúnicoeirrepetívei,omeiode
armazenamentonasimagensartesanaiscoincideexatamentecomessesuporte.
Porsuanaturezamatérica,essetipodesuporteestásujeitoàserosõesdotempo.
Osobjetosúnicosemqueasimagensartesanaisseconstituemapresentam,
assim,umacontradiçãofundamentalentreaaspiração
àdurabilidadee
permanênciaqueestáimplícitanogestocriadordequeessasimagensse
originameafragilidadedomeiodearmazenamento,altamenteperecível.
Noparadigmafotográfico,háumadivisãobemmarcadaentreonegativodo
filmeouasfitasmagnéticasdovídeo,deumlado,easimagensreveladasoure·
exibidas,deoutro.Omeiodearmazenamentodessasimagensnãoestánarevelação
nopapelounaexibição,masnonegativoenasfitas.Oqueissotornaevidenteé
que,napassagemdoparadigmapré-fotográficoparaofotográfico,omeiode
armazenamentocomeçouaganharresistênciaedurabilidade.Emboratambém
estejamsujeitosàdeterioração,osnegativospodemsercopiados,oquetomao
suportedoparadigmafotográficomaisimperecíveldoqueosmármoreseosmetais.
Omeiodearmazenamentoúnicoviu-seassimsubstituídopormeios
ele
armazenamentoquesesituamnouniversodoreprodutíve1.Aimagempasso"l,
portanto,aganharemeternidadeoqueperdeuemunicidade,poisumnegativo
É
passíveldeserrevelado,serreproduzidoaqualquermomento.
Nocasodasimagenspós-fotográficas,omeiodearmazenamentoéa
memóriadocomputador.Nesseparadigma,asimagensnatelanãosãosenãouma
projeçãobidimensionalatualizada,entreoutrosaspectospossíveis,quaseinfinitos,
deumacenavirtualquesóexistenasmemóriasdoscomputadores.Ouniverso
lógico-matemáticoqueestádentrodessasmemóriasécompletamenteabstrato,
masocomputadortemopoderdetornarvisível,dereiniciaremqualquerponto,
reatualizaremqualquermomentoapassagemdasentidadesabstratasdamemória
paraasimagensvisualizáveisnatela.Douniversoreprodutíveldoparadigma
fotográfico,entramos,nainfografia,dentrodouniversododisponível(Plaza1994),
umuniversoquesofremuitopoucoasrestriçõesdotempoedoespaço.

Tabela2
Enquantoocriadordasimagensartesanaisdevetercomohabilidadefunda­
mentalaimaginaçãoparaafiguraçãoeoagentenoparadigmafotográfico
necessitadecapacidadeperceptivaeprontidãoparareagir,oprodutordasimagens
sintéticasdevedesenvolveracapacidadedecálculoparaamodelização,ahabi­
lidadedeintervirsobreosdadosafimdemelhorcontrolá-Iosemanipulá-los.
Enquantoasimagensartesanaisresultamdeumgestoidílico,frutodeuma
simpatiaoudeseuoposto,aagressividade,emrelaçãoaomundo,asimagens
fotográficasdecorremdeumaespéciederapto,captura,roubodoreal,portrás
doqualseinsinuaumatonãodestituídodeumacertaperversidade.Asimagens
desíntese,porseulado,resultamdanecessidadedeagirsobreoreal,necessidade
estaatingidapelamediaçãodeinteraçõeslógicaseabstratascomocomputador.
Oqueseplasmanapinturaéoolhardeumsujeito.Oqueafotoregistra,
porseulado,éacomplementaridadeouconflitoentreoolhodacâmeraeo
pontodevistadeumsujeito.Oquesetemnasimagenssintéticas,poroutro
lado,éumolhardetodosedeninguém,poisasimulaçãonuméricaexclui
qualquercentroorganizador,qualquerlugarprivilegiadodoolhar,qualquer
hierarquiaespacialetemporal.Seopintoréumaespéciededemiurgo,sujeito
criadorecentralizado,ofotógrafoéumvoyeur,sujeitopulsional,caçadore
se1etor,deslocadoemovente.Jáoprogramadorinfográficoé,namedidaem
queacomputaçãoexisteexatamenteparaproduzirmudançasnasimagens,um
manipu1<i.dor,sujeitoantecipadoreubíquo.Opintordácorpoaopensamento
figurado,ofotógrafo,aopensamentoperformático,decisário,enquantoo
programadorrepresentaopensamentológicoeexperimental.
3.2.Conseqüênciasnopapeldoagenteprodutor
PRÉ
suporteúnico
perecível
MEIOSDEARMAZENAMENTO
FOTOGRÁFICA
negativoefitasmagnéticas
reprodutível
PÓS
memórianocomputador
disponível
Tabela3
PAPELDOAGENTE
PRÉ
FOTOGRÁFICAPÓS
imaginaçãopara
percepçãoe
cálculoe
afiguração
prontidãomodelização
gestoidílico
raptoagirsobreoreal
capturadoreal
olhardosujeito
olhodacâmeraeponto
olhardetodos
devistadosujeito
edeninguém
sujeitocriador
sujeitopulsionalsujeitomanipulador
demiurgo
moventeubíquo
3.3.Conseqüênciasparaanatur'ézadaimagem
_Tendoporpropósitofigurarovisíveleoinvisível,asimagensartesanais
saobasIca~enteumafiguraçãoporimitação,figuraçãodaimaginaçãodavisão.
Imagem-mImese,retendo,nasuperfíciedeumespelho,ogestoquevisafundir
oSUjeIto
:0mundo.Essetipodeimagemé,portanto,basicamenteacópiade
~maaparencIaImagmarIzada,funcionandocomomeiodeligaçãodanatureza
aImagmaçãodeumsujeito.
Te~doporpropósitocapturar,registrarovisível,asimagensnoparadigma
fotografrco,menosdoquerepresentações,sãoreproduçõesporcaptaçãoe
reflexo.Imagens-documento,elassãotraços,vestígiosdaluz,restoquesobrou
docorteexecutadonocampodanatureza.Resultandodocono-elamentodeum
. b
aconteCImentoenquadradoesendoumfragmentodoreal,essaimagemfunciona
comoregistrodoconfrontoentreumsujeitoeomundo.
,TendoP?rpro€ósitovisualizaroqueémodelizável,asimagensdoparadigma
pos-fotografIcosaoSImulaçõespormodelizaçãoatravésdasvariaçõesdeparâ­
metrosdeumobjetoouSItuaçãodada.Oqueessasimaaenscolocamemcena
éopro:edimentodavi~ão.Trata-sedeumaimagem~matriz,resultanteda
atnb~Içaodas?ropnedadesecapacidadesdeummodeloecujosubstrato
sImbohcolhedaopoderdefunCIOnarcomoimagem-experimento,antecipando­
seaomundoparamelhorcontrolá-Ia.
I'7il

Tabela4
NATUREZADAIMAGEM
PRÉ
FOTOGRÁFICAPÓSfigurarovisível
registrarvisualizar
eoinvisível
ovisívelomodelizável
figuração
capturarsimularporvaria-.
porimitação
porconexãoçõesdeparâmetro
imagemespelho
imagemdocumentoimagemmatriz
cópiadeuma
registrodo
substrato
aparência
confrontoentresimbólicoe
imaginarizada
sujeitoemundoexperimento
3.4.Conseqüênciasparaarelaçãodaimagemcomomundo
Imagem-espelho,aparência,semblanteemiragem,aimagempré-fotográfica
funcionacomoumametáfora,janelaparaomundo.Nela,orealéimaginado
porumsujeitoatravésdeumsistemadecodificaçãoilusionista.Seuidealde
simetriadeixaevidenteomodeloimagináriodoqualparte.Pormaisfigurativa
quepossaser,elaésempreumaimagemevocativa,quealudeaummundoque
nãoexisteporqueaindatrazdentrodesiresíduosdodivino;porissomesmo,
emborasejaeminentementemonádica,oefeitofinaldessetipodeimagemé,
aofimeaocabo,simbólico.Imagemfantasmática,elavisaaoocultamentoda
separaçãointransponívelentreimagememundo.
Duplo,registro,reflexoeemanaçãodomundofísico,oparadigma
fotográficofuncionacomoumametonímia,numaevidenterelaçãopor
contigüidade,biunívoca,entreorealesuaimagem.Seuidealdeconexãoindica
omodelofísico,aligaçãofísicaqueagerou.Éumaimagemdocumento,fruto
daaderênciaseguidadoafastamentodeumagenteemlutaanteavisibilidade
doreal.Nela,umfragmentodorealécapturadopelamáquinaatravésdeum
sujeito.Sombra,resto,corte,nessetipodeimagemoíndicereinasoberano.
Virtualidade,simulação,funcionalidadeeeficácia,oparadigmapós­
fotográficofuncionasobosignodasmetamorfoses,portadeentradaparaum'
mundovirtual.Seuidealdeautonomiaindicaomodelosimbólicodoqualpartiu,
Éumaimagemfuncional,experimental,eficaz,ascética,dentrodaqualcircula
apenasumrealrefinado,purificado,filtradopelocálculo,inteligívelatravés
demediaçõesabstratasEmboracirculeinteiramentedentrodasabstrações
172
simbólicas,aimagemsintética,visualizávelnastelasdevídeo,produzum
efeitoicônicotãoproeminentequantoéproeminenteaiconicidadenamúsica.
Tabela5
IMAGEMEMUNDO
PRÉ
FOTOGRÁFICAPÓSaparênciae
duploesimulação
miragem
emanação
metáfora
metonímiametamorfose
janelapara
biunívocavirtual
omundo
idealdesimetria
idealdeconexãoidealdeautonomia
modeloimagi-
modelomodelo
nárioeicônico
físicosimbólico
evocativa
sombraascética
símbolo
índiceícone
3.5.Conseqüênciasnosmeiosdetransmissão
Assimcomoaunicidadedosuportenasimagensartesanaisdeterminaqueesse
mesmosuportesejaomeiodearmazenamento,nãopoderiaserdiferentecomseu
meiodetransmissão.Sendoumobjetoúnico,queprecisaserconservadopara
escapardaperecibilidadequeaespreita,essaimagemprecisaserguardadaem
templos,museus,galerias.Oacessoaelasexigeotransportedoreceptorparao
localemqueelassãomantidaseconservadas.
Éoespaçodareclusão.
Reprodutíveisapartirdosnegativospassíveisdeseremreveladosaqualquer
momento,asimagensdoparadigmafotográficosãoimagenstípicasdaerada
comunicaçãodemassa.Éassimqueomeiodetransmissãomaislegítimopara
asfotografiasnãoéoporJa-retratos,masosjornais,revistas,outdoors,etc.
Tantoissoéverdadequenãodemoroumuitoparaocinemarealizaropotencial
massivolatentenasfotografias,queoprocessodedifusãodatelevisãolevaria
àsúltimasconseqüências.Éoespaçodacomunicação.
Disponíveiseacessíveisnosterminaisdecomputadores,asimagenspós-fo­
tográficasseinseremdentrodeumanovaera,adatransmissãoindividualeaomesmo

Tabela6
tempoplanetáriadainformação.Indefinidamenteconserváveis,asimagensinfo­
gráficassãoquasecompletamenteindegradáveis,eternasecadavezmaisfacil­
mentecolocadasàdisposiçãodousuárioemsituaçõescorriqueirasecotidianas,
emql;lalquertempoelugar.Seumododedistribuição,naquiloquetemdemaisespecí­
fico-ainteratividade-,deslocaessaimagemdaesferadacomunicaçãoparaa
esferadacomutação(Couchot1988:130).Aoseafastardalógicadasmídiasde
massa,essaimagemfazsentidoporcontato,porcontaminação,emlugardeprojeção.
PRÉ
único
templos,museus,
galerias
transportedo
receptor
MEIOSDETRANSMISSÃO
FOTOGRÁFICA
reprodutível
jornais,revistas,
oLlldoors,telas
eradacomunicação
demassa
PÓS
disponível
redes:indivi­
duaiseplanetárias
erada
comutação
estabelecemcomoreceptorumarelaçãoquaseorgânica,numainterfac:e
corpóreaementalimediata,suaveecomplementar,atéopontodeoreceptor
nãosabermaisseéelequeolhaparaaimagemouaimagemparaele.
Tabela7
PAPELDERECEPTOR
PRÉ
FOTOGRÁFICAPÓS
contemplação
observaçãointeraçf:o
nostalgia
reconhecimentoimersão
aura
identificação
navegação
Finalmente,pode-seafirmarqueoparadigmapré-fotográficoéouniverso
doperene,daduração,repousoeespessuradotempo.Ofotográficoéouniverso
doinstantâneo,lapsoeinterrupçãonofluxodotempo.Opós-fotográficoéo
universoevanescente,emdevir,universodotempopuro,manipulável,
reversível,reiniciávelemqualquertempo.
3.6.Conseqüênciasnopapeldoreceptor
Enquantoaimagemartesanaléfeitaparaacontemplação,afotográficase
prestaàobservaçãoeapós-fotográficaàinteração.
Havendonelasemprealgodesagrado,umanostalgiadodivino,aimagem
pré-fotográficaconvidaoreceptoraumimpossívelcontatoimediatosem
mediações,aomesmotempoqueproduzumafastamentoqueéprópriodos
objetosúnicos,envolvidosnocírculomágicodaauradaautenticidade,como
jáfoiteorizadoporWalterBenjamin(1975).
Imagemsobretudoprofana,fragmentoarrancadodocorpodanatureza,a
imagemfotográficaoferece-seàobservação,produzindocomoprimeiroefeito
noreceptoraaquiescênciadoreconhecimento.Memóriaeidentificaçãosãoos
binômiostípicosnoatoderecepçãodasimagensnoparadigmafotográfico.
Anecessidadedecontrolaraimagempós-fotográficanamedidamesmaem
queelaécriadaobrigouosespecialistaseminformáti'caaconceberummodo
deprogramaçãoquetornatãorápidaquantopossívelarespostadoreceptora
instruçõesecomandos.Ocaráterdominantedessasimagensestá,portanto,na
suainteratividadequesuprimequalquerdistância,produzindoummergulho,
imersão,navegaçãodousuárionointeriordascircunvoluçõesdaimagem.
Imediatamentetransformáveisaoapertardeteclasemouses,essasimagens
4.Asgradaçõesdasmudanças
Caracterizadosostrêsparadigmas,restadiscutiroimportantefatodequea
passagemhistóricadeumparadigmaaoutronuncasedádemodoabrupto,
poisnemtodososelementosdetodososseisníveis,atrásanalisados,modificam­
seaomesmotempo,masvãosetransformandogradativamente,atéquesedá
umarupturaousaltoparaumoutroparadigma.·
4.1.Dopré-fotográficoaofotográfico
Assim,porexemplo,apintura,desdeoQuattrocento,atravésdofenômeno
dacameraobscuraedastécnicasdaperspectivaartijicialis,jápossuíatodas
ascaracterísticasóticasdafotografia.Masamudançadoparadigmapré··
fotográficoparaofotográficoteriadeesperarporumnovomeiodeprodução,
querdizer,alémdapartepuramentemecânicarepresentadapelamáquina
fotográfica,eranecessárioencontrar"ummeioquepudessefixaroreflexo
luminosoprojetadonaparedeinternadacamemobscura",oquesedeuatravés
da"descobertadasensibilidadeàluzdealgunscompostosdeprata".Doponto

devistaáptico,portanto,jáestavaresolvidonoRenascimentooproblemada
fotografia;"oqueadescobertadaspropriedadesfotoquímicasdossaisdeprata
significoufoisimplesmenteasubstituiçãodamediaçãohumana(opinceldo
artistaquefixaaimagemdacâmeraescura)pelamediaçãoquímicado
daguerreótipoedapelículagelatinosa"(Machado1984:30-32).
Poroutrolado,acapacidadereprodutoradafotografiatambémjáhavia
sidoantecipadapelagravura.SegundoVirilio(1994:73),"comoamaiorparte
dasinvençõestécnicas,adafotografiaéaexecuçãodeumhíbrido".Emprimeiro
lugar,porqueéherdeiradaartenautilizaçãodacâmaraescura,nosentidodos
valoresedonegativovindodagravura.Alémdisso,alitografiaimpôsaNiepce
aidéiadeumapermeabilidadeseletivadosuportedaimagemexpostaaum
fluido.Inclui-seaítambémonívelindustrial,comopotencialdereprodução
mecânicadalitogravura.Porfim,
Onívelcientíficotambémestavapresentena
fotografia,jáqueNiepceutilizouoinstrumentodeGalileu-lentesdelunetas
astronômicasoudemicroscópios.
Passandoparadentrodoparadigmafotográfico,porsuavez,éevidenteque
osmeiosdeproduçãoeletrônicosnaTVevídeosediferenciamdemodoradi­
caldosmeiosdeproduçãoimagéticos,decarátermecânico,taiscomoafoto­
grafiaecinema,estesexemplareslegítimosdoparadigmafotográfico.Entre­
tanto,emboraproduzidasatravésdetecnologiaeletrônicaeemborapassíveis
detransmissãoemtemporeal,asimagensvideográficasnãosesoltaramdofoto­
gráficoporquesãoaindaimagensporprojeção,implicandosemprea
preexistênciadeumobjetorealcujorastroficacapturadonaimagem.
Análisemaisoumenossimilarvaletambémparaaholografia,comares­
salvadeque,nesta,oprocessodeproduçãoébastantesincrético,envolvendo
etapasdeproduçãoliteralmenteartesanais,oquefazdaholografiaumaespé­
ciedesínteseentreosparadigmaspré-fotográficoefotográfico.Paradoxal­
mente,noentanto,emboratenhaascaracterísticasdaimagem-reflexo,achapa
holográficaavançaemrelaçãoàfotografianamedidaemque,porserummé­
todofotográficosemlentesdefoco,achapaaparececomoumaprofusãode
padrõesaparentementesemsentido,masqualquerpartedohologramarecons­
truiráaimageminteira,poisachapanãoregistrasimplesmenteocódigode
umaimagem.Alterando-seoângulopeloqualaluzdoobjetoatingeachapae
alterando-seafreqüênciadoraiolaser,umcentímetrocúbicodachapapode
armazenardezbilhõesdecódigosemsuatexturafinamenteestratificada.
É
porissoque,quandoaluzdeumlaserdamesmafreqüênciaeânguloreilumina
achapa,aimagemoriginalérecriada,comoumamemóriarevividapelarepro­
duçãodoseucontextoAmesmaequaçãomatemáticaoufunçãodereflexão
converteaimagememcódigoeocódigoemimagem.
Emfunçãodoscaracteresacima,numarroubodeotimismo,Hampden­
Turner(1981:94)afirmouqueoarmazenamentoholográficoéomaissofistica-
1'71":
do,omaiseconômicoe,sobopontodevistaevolutivo,"omaisaptoasobreviver"
entretodososmétodosconhecidospelohomem.Nemporisso,entretanto,
€.
possívelafirmarqueaholografiatenhasedescoladodoparadigmafotográficc.
paraopós-fotográfico.Mesmosetratandodeumaimagemaltamentecodificada,
parasaltardeparadigma,teriasidonecessárioqueaholografiativessese
desprendidodaservidãoaoobjetopreexistente,oqueelanãofezinteiramente.
Numasofisticadadiscussãolevadaacaboparaevitaraidéiaequivocadade
queaholografiaéumaespéciedefotografia,E.Kac(1995:67-85)afirmaque,
"emoposiçãoàfotografia,ohologramanãoéumafotoeholografianãoé
primariamenteumatécnicadesetirarfotos".Parailustrarseuargumento,o
autorforneceoexemplodascomprasquefazemosemsupermercados,quando
aleituraóticadospreçosdosprodutoséfeitaatravésdeumhologramaou
.conjuntodehologramas.Longedeseremimagens,continuaKac,esses
hologramasapenasdesempenhamafunçãodelentes,istoé,elesrerratamaluz
deummodoparticular.Nessamedida,"elesnãosãoextensõesdasfotografias,
masumnovomododeregistrar,armazenarerecuperarainformaçãoótica,
querdizer,informaçãocanegadaporondasdeluz"(ibid.:69).
Emboraoargumentoestejacorreto,vistoquehologramas,defato,nãopodem
serconsideradoscomomerasextensõesdasfotografias,issoaindanãosignifica
queelestenhamsaltadoparaoparadigmapós-fotográfico,umavezque
holografiasaindadependemdaluzedaslentes,dependemdarefraçãodaluz,
enfim,sãoaindainformaçõesóticas,exatamenteaquiloqueainfografia,no
seumododeprodução,nãoémais.Kac(ibid.:69),entretanto,avançanosseus
argumentos,dizendoqueomodocomoumhologramaarmazenaoticamente
umaimagem"podesercomparado,atéumcertoponto,comomodocomoo
discodeumcomputadorarmazenadigitalmenteumaimagem".Assim:
AimagemdigitaltemdesertransformadaemlseOsparasergravadanodiscoe
paraserlidapelosoftwarenodiscorígido.Aimagemholográficatemdesercodificada
empadrõesdeinterferênciaparasergravadaemumfilmeouchapa.Essepadrãorefrata
umraiolaserouluzbrancademodoqueopadrãomicroscópicopossasertraduzidoem
umaimagemvisual.
oqueaexplicaçãoacimanosmostraéque,defato,noseumaciode
armazenamento,aholografiajáapresentacaracterísticasdoparadigmapós-foto­
gráfico,masdeixadeapresentá-Iasnoseumododeproduçãoaindapresoàótica.
Dessemodo,umdosaspectosmaisimportantesaserlevadoemconsideração
naspassagensdeumparadigmaaoutroé,defato,aevidênciadequeessas
passagensnãosedãonuncaabruptamente,danoiteparaodia.Aocontrário,há
fatoresdemudançaquechegamverdadeiramenteacaracterizarfasesmaisou
menoslongasdetransiçãoentreumparadigmaeoutro.
Éocasojácomentado
daperspectivaartificialisemesmodetodasasformasdegravuraqueforam
.•....

efetuandomuitogradativamenteatransiçãodoparadigmapré-fotográficoao
fotográfico.
Jáaholoo-rafia,napassagemdofotográficoaopós,vemseconstituircomo
verdadeira~ontedetransformação,aumpontotalquesetornadifícil
caracterizá-Iainteiramentedentrodoparadigmafotográfico,assimcomonão
sepodeafirmarqueohologramajáselocalizadentrodopós-fotogr~fico.Mais
prudenteseria,pois,consideraraholografianumazonamterstlClalentreo
fotográficoeopós-fotográfico.
4.2.Dofotográficoaopós-fotográfico
Maisclaramente,opercursodaartemoderna,queseestendeu,pelomenos,
deCézanneaMondrian,noseuobjetivoprogressivamenteperseguidoderuptura
dadependênciadaimagemaosobjetosdomundo,fezatransiçãodoparadigma
fotográficoaopós-fotográfico.Senãovejamos.
Conformejáébastanteconhecido(verespecialmenteaexcelentesíntese
deW.Hess1955:120-128),aartemodernateveseusprecursoresnospintores
que,porvoltade1885,criaramumanovaordemdevisualidadepictór~caa
partirdoimpressionismofrancês.Paraeste,dareahdadeexternasoera
leo-itimamentepictóricaaimpressãocoloristaconstantementemutávelOsneo­
i~pressionistas,especialmenteSeurat,transformaramadecomposiçãodascores
impressionistasnumsistemateórico,enquantovanGogh,deshgandoascores
domaterialismodascoisasdomundo,elevou-as"aumapotênciaelementarde
expressão".Gauguin,porsuavez,simplificouascoresdecompostasdeforma
impressionistaemgrandesdecoraçõesdeplanos.
Em1903,osfauves(selvagens)agrupavam-seemtornodeMatisse,
"intensificandoaindependênciadoquadrodadescriçãoobjetiva,afavordas
coresqueirradiamdeformapuramentedecorativa".Em1905,foifundadoem
Dresdenomovimentodosexpressionistasalemãesqueproclamaramo"olhar
interno",deacordocomoqual"overdadeiroconteúdodorealseencontra
menosnaaparênciadomundoexternodoquenarepresentaçãofortemente
sentidaqueaqueladespertanoartista".Apartirde1907,seguindoocaminhojá
abertoporCézanne,ocubismocriouumanovaconstruçãoobjetivadarealidade
"naanálisedoobjetosegundoassuasformasfundamentaisesterométricas".
Desde1910,ofuturismocomeçouaempregar
"árepresentaçãosimultânea
cubistaparafazerrealçarodinamismomodernoeparaarepresentaçãodeuma
revoluçãoabsoluta".Aindaem1910,Kandinskypintousuaprimeira
improvisaçãocompletamentedespojadadequalquerreferenci~lidadeext~rna.
Dabuscadeumanovaobjetividade,surgIramtantoasexpenencIassenSIvelS
deKleequantoorealismomágicodeDeChirico(ibid.:121-123).
17R
Desde1916,iniciou-seomovimentosunealista,que,considerandoiJ.usórias
asestrut~rasdeordemobjetivas,isolavaefragmentavaosobjetosdomundo,
gerandoJustaposlçõesoníricasemquepedaçosdarealidadeseencontravame
seseparavamemconfiguraçõesinsólitas.OgrupoDadajáanunciaraa
"decomposiçãodalógica"paraalibertaçãodoinconsciente.Nos"Autômatos"
departesdemáquinasdeDuchamp,nas'montagensdematerialderesíduosde
Schwittersenasfotografiasegravurasfeitaspelosistemadecolao-emdeErnst
t:>' ,
emtodoselesestavaaprocura,medianteamistura"dascoisasreaiseexatas"
maisheterogê~eas,da"maravilhadarealidade",nocasoacombinaçãodoreal
comomconSClentenuma"superobjetividade"(ibid.:124).
Paralelamente,apinturaabstratafoipassandoporumgrandedesenvolvi­
mentoentreasduasguerrasmundiais,sistematizando-sena"pinturaabsoluta"
cominfluênciadosuprematismorussodeMalevich,noconstrutivismodeTatlin
eLissitzkyenomovimentoholandêschamadoDeStijl,comMondriane
Doesburg.Esteúltimomovimentoelevouaautonomiadoquadroacimada
abstraçãopormeio"daeliminaçãodoexpressivoeemocionalembenefíciodo
geométrico-construtivo",influenciandograndementeaBauhausnaarquitetu­
raconstrutlvlsta(lbId.:124).Defato,osprincipaisartistasdoabstracionismo
emtodasassuasvariações,exercerampoderosainfluêncianãoapenassobr~
out;os.artlstas,massobretodoocarátervisualdomundocontemporâneo,in­
fluenCIaqueseestendeuportodaparte-daarquiteturaedoplanejamentode
CIdadesaodesenhodealiigosdomésticos(verSzamosi1988:222).
Nos.anos40surgiuemNovaYorkumramoposteriorda"abstração
expresslva"quehaviaseoriginadoemKandinsky,KleeeMiró.Trata-sedo
.expressionismoabstrato,quesoubelevaraimpulsivaespontaneidadeda
abstraçãoexpressivaaolimitedesuaradicalidade,alcançandosuaconclusão
lógica..Omaisconhecidodentreosexpressionistasabstratos,Pollock,criava
suaspmturasdemaneiraintuitivaeimprovisada,denamandotintaemuma
telacolocadanochão.Emborapareçamcaóticas,essastelasconse<Juem
.. . b
comUnIcarumaeXCitaçãoeumapulsaçãointerior.
Depoisdisso,nasdécadasde50,60eespecialmente70,comaexplosãoda
culturademassas,demodocadavezmaiscrescente,osprocessosartísticos,a
partIrdapop-art,porexemplo,começaramaapresentarprocessosdemisturas
demeioseefeitos,especialmentedospictóricosefoto<Jráficos.Fazendouso
•A • '"• • • "" b
IrOnICO,cotlCOemusltadamentecriativodosíconesdaculturademassaderam
inícioaoprocessohojeconhecidocomohibridizaçãodasalies,quesea~entuoll
nasdécadasde70comasinstalaçõeseambientes.Deacordocomosteóricos
dapós-modernidade(verespecialmenteHuyssens1984),nadécadade60,a
artemoderna,jácrepuscular,cediaterrenoparaoutrostiposdecriação,dentro
denovosprincípiosquevieramaserchamadosdepós-modernos.Defato,a
pós-modernidadecoincidiucomoadventodastecnologiaseletrônicase,entre

outrascoisas,comaemergênciadoterceiroparadigmanaproduçãodeimagens
queaquiestam~schamandodepós-fotográfico.Masqualfoiopapelexercido
pelaartemodernanapassagemgradativadoparadigmafotográficoaopós­
fotográfico?
Do'séculoXVaoséculoXIX,pinturas,gravuraseesculturas,deummodo
geral,"representavamomundo,realouimaginário,comoconsistindoemfiguras
distintas,bemdefinidasereconhecíveisemumespaçotridimensional
ampliado".Entretanto,jánoiníciodoséculoXX,nomesmomomentoemque
afísicamodernaestavaabalandoosalicercesdomodelonewtoniano,asartes
tambémjáhaviamabandonadoasestruturasdeespaçoetempo,demovimento
eordemdosmodelosvisuaislegadospelatradição.Foi,defato,"aestrutura
sensorialbásica,arepresentaçãodomundodeformareconhecível,que,no
princípiodoséculo,mudoudemodotãoabruptoecompletonapinturacomo
ocorreunafísica"(Szamosi1988:211-214).
Talrupturafoifrutodaquiloqueveioaserchamadode"opçãoanalíticana
artemoderna"(Menna1977),desdequeCézannecomeçouaprocuraras
estruturasespaciaisessenciaisqueestavamsubjacentesàsimpressõesvisuais
sempremutáveis.Partindodadiversidadeexistenteentreabidimensionalidade
dasuperfíciepictóricaeatridimensionalidadedoreal,semrenunciarà
representação,Cézannebuscouaautonomiaestruturaldalinguagempictórica.
Assim,oquadropassouaapresentarumacoerênciainterna,independenteda
reproduçãodascoisas.Estascomeçaramaserrepresentadascomcoresefiguras
queadquiriramumaverdadepuramentepictórica(ibid.:24-25).
SeCézannedescompôsacomposição,Seuratdescompôsavisão.Este,com
odivisionismo,levouoprocedimentoanalíticoaconseqüênciasradicais,decom­
pondootomemsuasunidadesatômicaseorganizandoessasunidadesapartir
dasrelaçõesedependênciasinternasfundadasemregrasconstantes.Através
domesmoprocedimento,tambémdecompôsacontinuidadedoespaçoem
unidadeselementares(linhasverticais,horizontais,diagonais),organizando
essasunidadesbásicasemumconjuntosolidário,emumaestrutura,naqual
contanãoacorrespondênciaentreexterioreinterior,entreoquadroeasapa­
rênciasfenomenológicas,massensivelmente,ecommaiscoerência,arelação
internadessasunidades.Comisso,sãodefinidas"asinvariantesdebaseda
linguagempictóricaedasregrasquepresidemàorganizaçãodosdadosele­
mentares,sobrefundamentosessencialmentesintáticos".Apósterobtidouma
codificaçãorigorosadacor,Seurattambémdescobriu"umsistemaigualmente
lógicocientíficoepictórico"relativoàorganizaçãodaslinhas(ibid.:14-17).
Ocaminhoestavaassimabertoparaoaparecimentodocubismo,aprimeira
rupturatotalcomastradiçõesdaRenascençanapinturaocidental.Criando
umanovaordemdavisualidade,ocubismofoi,defato,"aprimeiraescola
artísticaaestabeleceraindependênciadapinturaemrelaçãoaoqueera
lon
imediatamentevisível"(Szamosi1988:215).Interessadosemanalisaros
componentespermanentesdomundovisível,oscubistasrejeitaramasilusões
tridimensionaisdapinturatradicional,concentrando-senassuperfícies
bidimensionais.Elesdecompunham,assim,"asaparênciasdosobjetosem
superfíciesvisuaisreorganizando-asdeváriasmaneiras,dividiamasimpressões
visuaisedepoisasreagrupavamemnovasformas"(ibid.:215).Nessaintenção
sistemáticadeinventarumsistemadepinturasobrebasesanalíticas,oscubistas
partiramdeCézanneedeSeurat,masavançaramsuasinvestigaçõessobrea
desestruturaçãodocódigofigurativistaatéolimitededebilitaropoder
denotativodossignospictóricos,reduzindo-osatraçoselementaresque
obliteramareferencialidadedasfiguras. -
Amadureceu, comisso,tantonoanalitismocubistaquantona
decomposiçãodinâmicafuturista,"aconsciênciadeumapinturacomo
disciplinaautônoma,baseadanumalinguagemespecíficaquelevaconsigo
asregrasdoseuprópriofuncionamento"(Menna1977:30).Mesmonas
técnicasdecolagem,quandoarelaçãoentreoobjetoesuarepresentação
seguiuumcaminhoaparentementediverso,aoabsorverfragmentosda
realidadeparainseri-Iosnocontextodapintura,afinalidadedo
procedimentonãoeradeordemilusionista,masdenaturezamais
propriamentemental:osfragmentosdarealidadeatuamaí"como
deslocadoresdaatenção,comoestímulosparacolocaremaçãoos
procedimentosmentaisqueservemparaoreconhecimentoeadefinição
dosobjetos"(ibid.:34).Deumacertaforma,atémesmoosurrealismo,
emboraaindatenhafeitousodefiguras,tambémdesconstruiuavisualidade
baseadaemexperiênciassensoriais,aoproporajustaposiçãoilógicaele
figurasrealistas.IssoficamuitoevidenteemMagritte,cujapinturatende
acolocaroconceitodeilusionismoemdiscussão,poisoquenelacontaé
oprocessointelectualdesencadeadonoobservador,pondoemcrisesuas
confortáveisexpectativasvisuaiseteóricas.
Entretanto,omovimentoartísticoquemaisfundamenterejeitounossa
confiançanaexperiênciasensorialdireta-eque,aesserespeito,conforme
nosdizSzamosi(1988:219),foianálogoàmatemáticapuranoreinodasciências
-foiaarteabstrata,quandooartistadesprezoutotalmenteomundovisível
preexistentecriandoformasvisuaisabsolutamentenovas,quenãoexistiam
previamenteenãoapresêntam,portanto,nenhumareferência,nemtransmitem
nenhumainformaçãosobrealgumacoisaforadouniversodaobra.
Emboratenhaadquiridodiferentesaspectosformais,aarteabstrataemgeral,
quefoi,talvez,aartemaiscaracterísticadoséculoXX,adquiriuamesma
independênciaradicaldomundoexteriorqueopensamentomatemáticohavia
conseguidomuitoantes(ibid.:220).Abriu-se,dessemodo,ocaminhop<lra
umaarteconceitualnolugardeumaartevisual,recuperando,sobcertos

aspectos,aligaçãocomaartedosprimitivosecomaarteoriental,àsquaisse
atribuiodomdehavercompreendidooprincípiodepintarascoisascomosão
pensadas,enãocomosevêem(Gombrich1960,apudMenna1977:93).
Emsíntese,atendênciaanalíticadaartemodernarumoàaboliçãodo
figurativoeàrupturacomadenotaçãoreferencialistafoiumprocessogradativo
mascrescente,dequenãoseisolounemmesmoohiper-realismo.Embora
tenhaaparentementeseafastadodacodificaçãorigorosadeumsistemadearte,
aoavançarsuainvestigaçãosobreofigurativo,situando-senoplanodaimitação,
ohiper-realismonãotinhacomoreferênciaomodelodistanteeenvelhecidodo
realismotradicional,maspropunhaumareflexãosobreasrelaçõestidascomo
naturaisentreosignoeoobjeto.Daívemoefeitodedistanciamento,.ocaráter
fantasmagóricoeosentidodeirrealidadesuscitadoporessaspinturas.Segundo
Menna(1977:46),ohip'er-realismonãovisavaàrepresentação,masauma
espéciededenominaçãodascoisas,àredaçãodeuminventárioouthesaurus
quetransfere(porcaminhosdistintosdoconceitual)aconsistênciaeopeso
dosobjetosàavidezdosnomesedasdefinições.
ÉcomDeStijl,entretanto,queaopçãoanalíticaassumiusuasproporções
maisradicais,quandoaobradearteseestruturaapartirdareduçãodainfinita
variedadedouniversovisívelaumnúmerofinitodeelementosinvariantes.Os
artistasempregavamossignosinvariantescomocaracteresprimitivos,
transferindoparaocampodaarteautopiadeumalínguauniversaleobjetiva
comoumcálculomatemático,rigorosamentededutivo.Dessarelaçãomais
estreitaentrearteematemática,arteelógica,abriu-seumaimportantefaceta
natendênciaanalíticadaartemoderna,aquelaquesedesenvolveu,depoisda
SegundaGuerra,apartirdapropostadeMaxBillparaodesenvolvimentode
umaartefundadaempremissasmatemáticas,mascomasseguintesressalvas:
oenfoquematemáticonaartecontemporâneanãosãoasmatemáticasemsimesmas,
edificilmentefazusodoqueconhecemospormatemáticasexatas.
Ésobretudooemprego
dosprocessosdepensamentológiconaexpressãoplásticadosritmosedasexpressões.
(apudMenna1977:59)
FoiemLeWittqueumatalpropostaadquiriufeiçõesrigorosas,quandoa
sintaxelógicadaartelevouaolimiteoprocessodeformalizaçãodalinguagem
artísticainiciadoporSeurateCézanne.TambémcomMoholy-Nagyoprocesso
dedesestruturaçãodocódigopictórico,iniciadoemBraqueePicassoelevado
aextremosporMalevich,KandinskyeMondrian,avançouaindamaisalguns
passosatravésdaenérgicareduçãodequaisquerconteúdosexpressivose
simbólicosemproldeumaoperaçãoexclusivamentesintática(ibid.:60-62).
Ora,aspremissasmatemáticaseabuscadeformalização,cadavezmais
rigorosas,queconduziramostrabalhosdessesartistas,longedeteremsido
lfJI"'i
frutodearbitráriasfantasiasdacriação,aocontrário,funcionamhojecomo
verdadeirasantevisõesdomodocomoalinguagemvisualpassouaserproduzida
nosprocessosdesíntesedocomputador,atéopontodesepoderafirmarque
aquelesartistasestiverampreparandooterrenoeasensibilidadedosreceptores
paraoadventodainfografia,dasimagensdesíntese.
Defato,portrásdasimagenssensíveisquesãoexibidasnastelasdos
monitores,ligandoocomputadoraessastelas,estãoemaçãooperações
abstratas,modelos,programasecálculosmatemáticos.Talcomosonharam
muitosartistas,filhosdeSeuratedeCézanne,noespaçobidimensionaldatela
estáemfuncionamentoumsistemadecoordenadascartesianas,emqueas
imagensvãoseformandoapartirdeumarigorosasintaxelógicadeorganização
paradigmática,linhasverticais,esintagmática,linhashorizontais.Nessamedida,
poucoimportaanaturezadaimagemsensívelqueaparecenateladomonitor.
Poucoimportaqueelasejafigurativa,realista,sun'ealistaouabstrata.Oque
presideàformaçãodessasimagensésempreumaabstraçiio,aabstraçãode
cálculosmatemáticos,enãoorealempírico.
Atualmentepodemosverque,quandoosartistasdaartemodernaobstinada
eprogressivamentebuscaramaindependênciadaimagemdosobjetosdo
mundo,elesestavamradiografandoofuturo.Suascriaçõesjátraziamosgermes
dasprogramaçõesquehojetornamainfografiapossível.Ou,comoquerVirilio
(1994:53):
Malevich,Braque,Duchamp,Magritte[...),atravésdeummovimentocompensador
enamedidaemqueomonopóliodaimagemlhesescapava,osquecontinuavama
ostentarseuscorpos,pintoresouescultores,desenvolviamumvastotmbalhoteórico
quefinalmenteostransformaránosúltimosfilósofosautênticos,avisãonaturalmente
relativistadouniversopermitindo-lhesprecederosfísicosemnovasapreensõesdas
formas,daluzedotempo.
5.Asmisturasentreosparadigmas
Outroaspectoimportanteaserlevadoemconta,napropostadostrês
paradigmasdaimagem,éodasmisturasentreosparadigmas.Ilustraçãodessas
misturaspodeserencontradanosfenômenosartísticosquereceberamonome
dehibridizaçãodasarte.secontemporaneamentecomparecemdemodomais
cabalnasinstalações,ondeobjetos,imagensartesanalmenteproduzidas,
esculturas,fotos,filmes,vÍdeos,imagenssintéticassãomisturadosnuma
arquitetura,comdimensões,porvezes,atémesmourbanísticas,responsável
pelacriaçãodepaisagenssÍgnicasqueinstauramumanovaordemperceptivae
vivencialemambientesimaginativosecríticoscapazesderegenerara
sensibilidadedoreceptorparaomundoemquevive.
".

Amisturaentreparadigmasnãoserestringe,entretanto,aouniversodas
artes.Emboraaconteçanesseuniversodemodoprivilegiado,faztambémparte
naturaldomodocomoasimagensseacasalameseinterpenetramnocotidiano
atéopontodesepoderafirmarqueamisturaentreparadigmasconstitui-seno
estatutomesmodaimagemcontemporânea.Se
éverdadequehojeamisturase
tornouumaconstante,étambémverdadequeessesprocessosjácomeçarama
aparecer,demodomuitoacentuado,desdeainvençãodafotografia,oquesó
vemdemonstrarque,quandosedáoaparecimentodeumnovoparadigma,via
deregra,essenovoparadigmatrazparadentrodesioparadigmaanterior,
transformando-oesendotransformadoporele.Foiassimqueafotografia
importouprocedimentospictóricos,aomesmotempoqueapinturamuitasvezes
adquiriutraçosestilísticosquevinhamdafotografia.Assimtambéma
computaçãográficaherdoucaracteresplásticosdapinturaeevidentementeda
fotografia,aomesmotempoqueveioproduzirumaverdadeirarevoluçãono
mundodafotografia,atravésdasmanipulaçõesquepossibilita,conformeserá
vistomaisadiante.
Jáéfatobastanteconhecidoque,logoapósainvençãodafotografia,os
pintoresdeixaramseusateliêsparaflagraravidacotidianadomesmomodo
queosfotógrafos."lngres,Millet,Courbet,Delacroixseserviramdafotoo-rafia
b
comopontodereferênciaedecomparação.Osimpressionistas,Monet,Cézanne,
Renoir,Sisley,sefizeramconhecerexpondonoateliêdofotógrafoNadarese
inspiraramnostrabalhoscientíficosdeseuamigoEugeneChevreul"(Virilio
1994:52).Considerandoomodelo,amulher,"comoumanimal"(de
laboratório?),Degas,porseulado,comparouobscuramenteavisãodoartistaà
daobjetiva:"Atéomomento,onusemprefoirepresentadoemposesque
pressupõemumpúblico."Opintor,entretanto,pretendia,simplesmente,
surpreenderseusmodeloseapresentarumdocumentotãocongeladoquanto
uminstantâneo,umdocumentárioantesqueumapinturaemsentidoestrito
(ibid.:52).
Éporissoque,emDegas,"acomposiçãoseassemelhaaum
enquadramento,umacolocaçãonoslimitesdovisar,ondeostemasaparecem
descentrados,seccionados,vistosdebaixoparacimaemumaluzartificial,
freqüentementebrutal,comparávelàdosrefletoresutilizadosentãopelos
profissionaisdafotografia"(ibid.:33).
Oshíbridosdafotografiaedaarte,quetiveraminíciocomosimpressionistas,
narealidadeperduramatéhoje.Aeles,Dubois(1994:291-307)dedicaum
capítulointeirodoseuOatofotográfico.Sobadenominaçãode"Aarteé
(tornou-se)fotográfica?Pequenopercursodasrelaçõesentreaarte
contemporâneaeafotografianosécUlo
XX",Oautordiscorresobre(l)Duchamp
oualógicadoato,(2)Osuprematismoeoespaçogeradopelafotografiaaérea,
(3)Dadaísmoesurrealismo:afotomontagem[...](4)Aarteamericana:afoto
noexpressionismoabstrato,naPopArteohiper-realismo,(5)AEuropaea
IR4
França:YvesKlein,os"NovosRealistas"eos"artistasdocotidianoirrisório"
(6)Afotografiaeasartesconceituaisedeeventosdosanos60e70,(7)A.foto~
instalaçãoeaesculturafotográfica.Comosepodever,opanoramadaquestão
éamplo,diversificadoesugestivo.
Revoluçãosimilar,outalvezatémesmomaisprofunda,àquelaquea
fotografiaproduziusobreoparadigmapré-fotográfico,oparadigmapós­
fotográficoviriaprovocarsobreafotografia.Sobreisso,ArlindoMachado
(l993b:14-15)nosofereceumaexcelenteapresentação:
oadventorecentedafotografiaeletrônica(afotografiaque éregistradadiretamente
emsuportemagnéticoouáptico),bemcomodosinúmerosrecursosinformatizadosde
conservaçãoearmazenamentodefotos,ouainda,dosdispositivosdeprocessamento
digitaldafotografia,oumesmodosrecursosdemodelaçãodiretadaimagemno
computador,semauxíliodecâmera,tudoissotemcausadoomaiorimpacto~obrco
conceitotradicionaldefotografiaeprometedaquiparaafrenteintroduzirmudancas
substanciaistantonapráticaquantonoconsumodeimagensfotográficascmtodas'as
esferasdeutilização.
DeacordocomC.FadonVicente(1993:48-49),afotografiaeletrônica
trouxeconsigoumaverdadeirareinvençãodafotografiapropiciadapela
"interpenetraçãocomoutrosmeiostécnicos,taiscomoaeletrografia,
telecomunicações,computação,cinema/vídeoetc.",emcujavertenteoautor
situaasorigensdafotografiadebaseeletrônica.Entreosproblemascruciais
levantadospelafotografiaeletrônica,FadonVicentemencionaaausênciae
desmaterializaçãodamatrizfotográficaeaintensificaçãodanaturezaperversa
dafotografia,vistoquea"possibilidadedesuamanipulaçãodeixadeser
periféricaepassaaserumassuntocentral".
Arigor,oquevemacontecendocomafotografiaatualmentepodeservir
comoexemplobastantesugestivodamisturaentreparadigrnasquedominaa
cenacontemporânea.Hápelomenostrêsrumosevidentesnafotografiahoje:
(a)afotografiadocumental,jornalística,aindamarcadapelaintençãodo
flagranterealista;(b)amanipulaçãofotográficaatravésdocomputador;(c)a
evoluçãodafotografiaatravésdesuasligaçõescomasonografiaeinfografia
nastécnicasdesondagemdoinvisível,taiscomoaparecem,deumlado,nas
imagensparadiagnósticomédico,quejáhaviamcomeçadocomoraioX,
expandindo-senaecografia,sonografia,tomografiacomputadorizadac
ressonânciamagnética,e,Mdeoutrolado,nosprocessosdecaptaçãodaimagem
napesquisaespacial,sensoriamenteremotoetc.(verSogabe1996).Estáclaro
quenãosepodechamaressasimagensdefotográficas,vistoquesem2
sintetizaçãoeletrônicamuitosdessesprocessosnãoexistiriam.Entretanto,todos
elessãonitidamenteformashíbridasdoparadigmafotográficoepós-fotográfico.
Porfim,cumprenotarqueainfluênciadoparadigmapós-fotográficosobre
lÇ/Ç
.•....

ofotográfi'li,.!.IlIlllutl.:raJ.Oinversotambéméverdadeiro,vistoqueos
critériosdelua!idadequenorteiamosideaisdaimageminfográficaaindaestão
embebidosnaestéticafotográfica,assimcomoestabebeunasfontesdaimagem
pictórica.Enfim,osignificadodapalavra"síntese",nasimagensdesíntese,
podecertamenteapresentarduasacepções:deumlado,aidéiademodelagem
esíntesenumérica,deoutro,aidéiadesíntesedostrêsparadigmas.Defato,o
quecaracterizaoparadigmapós-fotográficoésuacapacidadeparaabsorvere
transformarosparadigmasanteriores.Nãoháhojeimagemquefiqueàmargem
dasmalhasnuméricas.
12.
oIMAGINÁRIO,OREALEO
SIMBÓLICO DAIMAGElV[
Umainterpretaçãopsicanalíticados"trêsparadigmasdaimagem"éoque
estecapitulopretendeelaborar.Comojáfoivistonocapítuloanterior,oparadigma
pré-fotográficoenglobatodosostiposdeimagensartesanais,desenho,pintura,
gravuraetc.;ofotográficoserefereàsimagensquepressupõemumaconexão
dinâmicaentreimagemeobjeto,imagensque,dealgumaforma,trazemotraço,
rastrodoobjetoqueelasindicam;porfim,oterceiroparadigma,opós-fotográfi­
co,designaasimagenssintéticasouinfográficas,imagensquesãointeiramente
calculadasporcomputação.
Atravésdeumestudocomparativoforamcaracterizados,demodoparaleloe
contrastivo,paracadaparadigma,osquatroníveisdequedependetodoequalquer
processodesignosoudelinguagem,istoé:(1)oníveldosseusmeiosdeprodução;
(2)oníveldosseusmeiosdeconservaçãoouarmazenamento;(3)odosmeios
deexposição,transmissãooudifusão;e(4)odosseusmeiosemodosderecep­
ção,quaissejam,nocasodaimagem:percepção,contemplação,observação,
fruiçãoouinteração.Comparando-seocomportamentodecadaumdessesní­
veisemcadaumdostrêsparadigmas,opré-fotográfico,ofotográficoeo
PÓ3­
fotográfico,foipossívelexaminarasmudançasquevãoseprocessandoemcada
umdessesníveisparadarcorpoejustificarumarupturaparadigmática.
Ora,antesmesmodeumaprofundamentomaiornaanálisedascaracterísticas
decadaumdessesparadigmasjásaltamaosolhossuasanalogiasoucOlTespon­
dências,porHoaponto,comostrêsregistrospsicanalíticosdadimensãopsíquica
humana:oimaginário,orealeosimbólico.Essestrêsregistros,tambémchama­
dosdecategoriasconceituais,constituem-senaestruturafundamentalquearti­
culaareleituradaobradeFreudrealizadaporJacquesLacan.Defato,sistema­
tizandoasdeséobertasfreudianas,Lacanfezdessestrêsconceitosoarcabouço
estruturaldofuncionamentopsíquico.
Comoquecorroborandoauniversalidadedessestrêsregistros,assimilaridades
queelesapresentamcomostrêsparadigmasdaimagemsãotãoevidentesque
umatalcorrespondênciapareceseimporporsimesma.Assimsendo,oparadigma
daimagempré-fotográficaestáparaoimaginário,assimcomoofotográficoestá
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