Sete anos de pastor Jacob servia Labão , pai de Raquel, serrana bela ; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prémio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assim negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida, Começa de servir outros sete anos , Dizendo: — Mais servira, se não fora Pera tão longo amor tão curta a vida! Labão tinha duas filhas: Leia (a mais velha) e Raquel. Mas Jacob amava Raquel. De modo que ele dispôs-se a servir Labão durante sete anos por Raquel; mas estes anos passaram como sete dias, por causa do seu amor por ela. No soneto, há referência não apenas à beleza de Raquel (“serrana bela”), realçando-se também o sentimento amoroso de maneira enfática. Por essa razão, ressalta-se a servidão amorosa de Jacob de uma forma mais tipicamente medieval no modo como o soneto se inicia e se fecha, ou seja, com os sete anos da espera, que se renova de forma cíclica: “Sete anos de pastor Jacob servia/ Labão /..../”; “/..../ Começa de servir outros sete anos”, apontando-se, ainda, para uma posterior renovação da espera nos dois últimos versos: “/..../ Dizendo: – Mais servira, se não fora/ Pera tão longo amor tão curta a vida”. A servidão amorosa também é assinalada pela grande recorrência do verbo “servir” no poema (levando-se em conta sua extensão), o qual chega a aparecer duas vezes no mesmo verso “mas não servia ao pai, servia a ela”.