terminar sua história na polícia!
-Eu conto, senhor, eu conto... tive um amigo que cumpriu pena e ele me disse, certa vez, que os ladrões precisam logo se desfazer
do roubo, para evitar o flagrante da polícia... quando eu e Catarina bolamos o plano, Sr. Holmes, fui à casa dele. Sabia que ele me ajudaria
a me desfazer da pedra. Mas naquela hora de agonia, em que via um policial em cada esquina, temi que nunca conseguisse levar a joia
apenas escondida num bolso... estava encostado ao muro do galinheiro, rodeado de gansos, e me veio a ideia...
Minha irmã me prometeu um ganso de presente de Natal. Entrei no galinheiro e peguei uma das aves, uma grande, com listas no
rabo. Forcei o bicho a abrir o bico e enfiei a pedra no papo do ganso. Ele bateu asas e lutou um bocado, senhor, fazendo uma tremenda
algazarra... foi quando minha irmã ouviu o barulho e correu até o quintal. O susto de vê-Ia foi tal, que acabei soltando a ave.
-O que está fazendo com esse ganso,Jim?-ela perguntou.
Respondi que tinha vindo buscar a ave que ela me prometera de presente de Natal.
-Ah!, mas já separamos esse cinzento para você -ela respondeu.
-Obrigado, Maggie -eu falei -, mas prefiro aquele que eu estava segurando.
-Que besteira, Jim! -disse Maggie -O cinzento pesa três quilos a mais.
-Quero o branco com listas na cauda -falei.
Claro que Maggie ficou irritada com minha insistência, mas matou o ganso escolhido e eu o levei, tranquilamente, para a casa do
meu comparsa. Contei o que tinha feito e ele deu muita risada. Tratamos de abrir o papo do ganso e oh, desgraça! Não havia sinal da pedra.
Na confusão e no meu terror, havia escolhido a ave errada, senhores!
Voltei à casa de minha irmã, mas o destino conspirava contra mim. Maggie já havia entregado as aves, para o vendedor do
mercado, aquele famigerado Sr. Breckinridge, que se recusou absurdamente a me dizer para quem havia vendido os gansos.
Maggie pensa que estou ficando louco e começo a acreditar nisso também, senhores! Sou agora um ladrão marcado, sem jamais ter
tocado na riqueza pela qual perdi o caráter... Deus me ajude!
Ryder começou a chorar loucamente, as mãos tapando o rosto.
Um longo silêncio. O único ruído era o bater dos dedos de Sherlock Holmes sobre a mesa. Repentinamente, meu amigo se levantou
e abriu a porta: -Saia!-disse.
-Oh, senhor, Deus o abençoe!
-Não diga mais nada, saia!
Nem era necessário dizer coisa alguma. Ryder correu alucinado para fora e só ouvimos o bater ruidoso da porta da rua.
Eu olhava espantado para meu amigo. Afinal, Holmes esclareceu, pegando devagar o cachimbo:
-Não sou empregado da polícia, Watson, para consertar seus erros. Horner não estará em perigo, porque devolverei o diamante e
mandarei um bilhete explicando que ele de nada participou. Não há provas contra o encanador -Holmes suspirou. -Talvez esteja sendo
cúmplice, deixando Ryder fugir, mas estou salvando sua alma.
Continuei calado. Holmes prosseguiu:
-Ele não cometerá mais nenhum furto. Está apavorado.Se eu o mandar para a cadeia, é capaz de o infeliz ter um curso completo de,
ladroagem. E depois, Watson... -meu amigo sorriu. -Esta não é a época de fraternidade e perdão?
Tratei de dar os merecidos parabéns a Holmes, pelo caso tão brilhantemente resolvido.