Síntese de triacilgliceróis, fosfolipídeos e glicolipídeos; Rui Fontes
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aceitador de acilo do acil-CoA para originar 1-alquil-2-acil-glicerol-3-P que é desfosforilado por
acção catalítica de uma fosfátase. A adição de grupo fosfato-base no carbono 3 do resíduo glicerol
implica a prévia formação de bases activadas: CDP-etanolamina ou CDP-colina. Num último passo
uma oxídase (semelhante ao descrito no caso da dessaturação dos acis-CoA; 1-alquil-2-acilglicerol-
3-fosfo-base + NADPH + O
2 → plasmalógeno + 2 H2O + NADP
+
) introduz uma dupla ligação no
resíduo do álcool gordo ligado no carbono 1. A equação soma que descreve a síntese de um
plasmalogeno a partir de dihidroxiacetona-P, acil-CoA, álcool gordo e etanolamina activada é a
equação 5.
dihidroxiacetona-P + 2 acil-CoA + álcool gordo + CDP-etanolamina + 2 NADPH + O
2 →
plasmalógeno + 2 CoA + ácido gordo + 2 NADP
+
+ CMP + Pi + H2O (5)
9. Os glicerofosfolipídeos podem sofrer a acção de hidrólases denominadas fosfolípases; de acordo
com o local de actuação denominam-se A1, A2, C e D. As fosfolípases A1 e A2 actuam,
respectivamente, nas ligações éster dos carbonos 1 e 2 do glicerol dos glicerofosfolipídeos; o
glicerofosfolipídeo com menos um ácido gordo que resulta destes processos é denominado de
lisofosfolipídeo (fosfolípase A1 ou A2: fosfatidil-base + H
2O → lisofosfolipídeo + ácido gordo).
Uma fosfolípase que actua sobre o lisofosfolipídeo catalisando a hidrólise do ácido gordo restante
designa-se de fosfolípase B. A fosfolípase C actua na ligação fosfoéster que liga o glicerol ao fosfato
(fosfatidil-base + H
2O → diacilglicerol + fosfo-base) enquanto a fosfolípase D “separa” o
fosfatidato da base (fosfatidil-base + H
2O → fosfatidato + base). Para além de poder resultar da
acção das fosfolípases A1 e A2, a formação de lisofosfolipídeos também pode ocorrer por
transferência do ácido gordo da posição 2 de um glicerofosfolipídeo para o colesterol (fosfatidil-
base + colesterol ↔ lisofosfolipídeo + éster de colesterol).
10. Na síntese da esfingomielina e de outros esfingolipídeos forma-se primeiro a ceramida (o esfingol
ligado ao ácido gordo por uma ligação amida). Na origem do resíduo esfingosina estão o palmitil-
CoA e a serina e o processo de síntese envolve a transferência do resíduo palmitil para a serina com
descarboxilação concomitante, a redução de um grupo cetónico (dependente do NADPH) e uma
dessaturação em que ocorre a formação de uma dupla ligação entre os carbonos 4 e 5 do esfingol
[1]. A ligação do ácido gordo envolve, como sempre, uma transférase de acilo. A equação soma que
descreve a síntese da ceramida a partir de palmitil-CoA, um acil-CoA e serina é a equação 6.
Palmitil-CoA + serina + acil-CoA + 2 NADPH + O
2 →
ceramida + CO
2 + 2 CoA + 2 NADP
+
+ H2O (6)
No caso da síntese da esfingomielina, a ceramida é aceitador do resíduo colina-fosfato sendo que o
substrato dador é a fosfatidil-colina (ceramida + fosfatidil-colina → 1,2-diacilglicerol +
esfingomielina).
11. Na síntese dos glicolipídeos o percursor é também a ceramida que funciona como aceitador de
resíduos glicídicos em reacções catalisadas por transférases; o substrato dador é, em geral, um UDP-
glicídeo. Quando a cadeia glicídica cresce ocorrem também reacções catalisadas por transférases em
que o substrato dador pode ser um UDP-glicídeo ou o derivado citidino-monofosfato (CMP) de um
ácido siálico (caso dos gangliosídeos). Na formação dos sulfolipídeos intervém sulfotransférases
em que o dador de sulfato é o PAPS (3’-fosfo-adenosil-5’-fosfosulfato).
1. Michel, C., van Echten-Deckert, G., Rother, J., Sandhoff, K., Wang, E. & Merrill, A. H., Jr. (1997) Characterization of ceramide
synthesis. A dihydroceramide desaturase introduces the 4,5-trans-double bond of sphingosine at the level of dihydroceramide, J Biol
Chem. 272, 22432-7.