SLIDE CLARICE LISPECTOR - A TRAJETÓRIA DE UMA MULHER.pptx

AluzioGomes 11 views 18 slides Sep 15, 2025
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SLIDES QUE FALAM SOBRE A RELEVÃNCIA DE CLARICE PARA LITERATURA


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Clarice Lispector

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia em 10 de dezembro de 1920 como Haia Lispector. Por causa das perseguições antissemitas e da Revolução Bolchevique de 1917, mudou-se para Maceió com a família em 1922. Ao chegar ao Brasil, a autora, que até então se chamava Haia, cujo significado é “vida” em hebraico, passou a chamar-se Clarice. Desde muito nova, a escritora já demonstrava interesse pela leitura. Em sua crônica “O primeiro livro de cada uma de minhas vidas”, ela relembra obras importantes que contribuíram para sua formação como leitora e, posteriormente, como ficcionista. Entre os livros citados, aparecem títulos como Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, O lobo da estepe, de Hermann Hesse, e Felicidade, de Katherine Mansfield. Sobre essa paixão pelos livros, Clarice declarou: “Depois, quando eu aprendi a ler e a escrever, eu devorava os livros! [...] Eu pensava que livro é como árvore, é como bicho: coisa que nasce! Não descobria que era um autor! Lá pelas tantas, eu descobri que era um autor. Aí disse: ‘Eu também quero!’”. O desejo de também contar suas histórias concretizou-se em 1943, com a publicação de Perto do coração selvagem, seu romance de estreia.

Clarice Lispector é reverenciada como um dos principais nomes da chamada Geração de 45 do Modernismo brasileiro, que se caracterizou pela inovação, sobretudo quanto à linguagem, e por introduzir temáticas de estranhamento em relação ao mundo, ao cotidiano ou à própria maneira de expressão. A popularidade da escritora se deve, entre muitos aspectos, à facilidade com que Clarice transpõe o raciocínio das personagens em seus escritos, inserindo-os na narrativa em um estilo de escrita poética que envolve o leitor e o faz refletir junto à obra. Situações cotidianas são preenchidas pelo inusitado e descritas como fantásticas, embora apresentadas com o objetivo quase frequente de estimular a criticidade quanto a questões sociais. Esse diálogo com a complexa – e, por vezes, injusta – realidade humana torna a obra de Clarice Lispector uma leitura bastante atual, mesmo que escrita há décadas.

A literatura de Clarice Lispector tem como característica-chave, do ponto de vista temático, o questionamento da existência. A escritora interessou-se, sobretudo, pelos mistérios de estar no mundo; isto é, pelas relações estabelecidas entre o sujeito e a realidade à sua volta. No entanto, o grau de intimismo – de introversão – alcançado por suas obras é mais denso que o dos escritores que a precederam. Por essa razão, costuma-se apresentar a escritora como uma das principais vozes do chamado “romance introspectivo” brasileiro.

Clarice Lispector: a descoberta de si e do mundo A literatura de Clarice Lispector tem como característica-chave, do ponto de vista temático, O QUESTIONAMENTO DA EXISTÊNCIA. A escritora interessou-se, sobretudo, pelos mistérios de estar no mundo; isto é, pelas relações estabelecidas entre o sujeito e a realidade à sua volta. No entanto, o grau de intimismo – de introversão – alcançado por suas obras é mais denso que o dos escritores que a precederam. Por essa razão, costuma-se apresentar a escritora como uma das principais vozes do chamado “romance introspectivo” brasileiro.

Com frequência, as narrativas de Clarice Lispector ultrapassam os limites que, tradicionalmente, distinguem os gêneros textuais. Outros indícios da hibridização dos gêneros literários em seus textos dizem respeito à transposição, para a prosa, de componentes textuais típicos da poesia: aliterações, símbolos, imagens inusitadas etc.

Há ainda alguns traços da escrita de Clarice Lispector que não devem ser negligenciados durante a interpretação de seus textos, pois, com frequência, constituem a chave de sentido da obra. São eles o “instante-já” , o fluxo de consciência, a epifania, a condição feminina e a ambiguidade entre identidade e alteridade; características que serão explicadas a seguir

Fluxo de consciência Clarice Lispector é a principal responsável pela consolidação do chamado fluxo de consciência entre os prosadores da literatura brasileira. Nessa técnica literária, a narrativa indica não apenas o conteúdo dos pensamentos das personagens, mas também simula o processo por meio do qual ocorre a elaboração das ideias, dos fios de raciocínio do indivíduo; ou seja, além de assinalar o que os personagens pensam, a narrativa pretende reproduzir o modo como os pensamentos são formados. Uma vez que, na mente humana, os pensamentos se sucedem, quase sempre, de maneira caótica, o fluxo de consciência interpola impressões, lembranças e a livre associação de ideias, dando a conhecer a vida interior das personagens representadas.

Observe, por exemplo, a sobreposição de pensamentos e impressões da personagem Dona Anita no conto “Feliz aniversário”. Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração. Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada, cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh, o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos, lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. LISPECTOR, Clarice. Feliz aniversário. In: ______.  Laços de família . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, p. 68-69.

Condição feminina A obra de Clarice Lispector é um importante registro crítico da condição da mulher brasileira do século XX. Portanto, em muitos de seus textos, são debatidos os múltiplos papéis destinados socialmente à mulher em estereótipos como os de mãe zelosa ou esposa dedicada, por exemplo. As personagens femininas clariceanas e seus perfis variados subvertem a ordem determinada. Ingressam, assim, em uma realidade não domesticada, selvagem, na qual podem se experimentar livremente. No conto “A fuga” (1979), por exemplo, narra-se a história de uma mulher que, ao dar uma volta sozinha na praça, decide separar-se do marido. Observe o fragmento do conto a seguir.

Agora que decidira ir embora tudo renascia. Se não estivesse tão confusa, gostaria infinitamente do que pensara ao cabo de duas horas: “Bem, as coisas ainda existem”. Sim, simplesmente extraordinária a descoberta. Há doze anos era casada e três horas de liberdade restituíam-na quase inteira a si mesma: – primeira coisa a fazer era ver se as coisas ainda existiam. Se representasse num palco essa mesma tragédia, se apalparia, beliscaria para saber-se desperta. O que tinha menos vontade de fazer, porém, era de representar. Não havia, porém, somente alegria e alívio dentro dela. Também um pouco de medo e doze anos. [...] Achou tão engraçado esse pensamento que se inclinou sobre o muro e pôs-se a rir. Um homem gordo parou a certa distância, olhando-a. Que é que eu faço? Talvez chegar perto e dizer: “Meu filho, está chovendo.” Não. “Meu filho, eu era uma mulher casada e sou agora uma mulher”. Pôs-se a caminhar e esqueceu o homem gordo. Abre a boca e sente o ar fresco inundá-la. Por que esperou tanto tempo por essa renovação? Só hoje, depois de doze séculos. Saíra do chuveiro frio, vestira uma roupa leve, apanhara um livro. Mas hoje era diferente de todas as tardes dos dias de todos os anos. Fazia calor e ela sufocava. Abriu todas as janelas e as portas. Mas não: o ar ali estava, imóvel, sério, pesado. Nenhuma viração e o céu baixo, as nuvens escuras, densas. LISPECTOR, Clarice. A Fuga. In: ______.  A Bela e a fera . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979 No trecho apresentado, é possível perceber o cuidado de Clarice Lispector em focalizar seus escritos na construção de uma consciência feminina em conflito. Em meio a reflexões sobre sua vida, a posição social da protagonista é confrontada de forma impactante na afirmativa “Eu era uma mulher casada e agora sou uma mulher”. Devido à sua experiência como redatora em seções femininas de jornais cariocas, a escritora já se acostumara a escrever sobre os dilemas cotidianos e a realidade da mulher de sua época . Sua obra transmitia e ampliava essa expertise, construindo protagonistas intensas que traziam ao leitor reflexões sobre a existência e a posição feminina.

A ambiguidade entre identidade e alteridade Nas obras de Clarice Lispector, o leitor é instigado, constantemente, a interpretar a realidade por diversos prismas. Estabelece-se, inicialmente, um olhar de estranhamento para o mundo cotidiano, até mesmo em relação ao que é mais familiar. Em contrapartida, aquilo que, tradicionalmente, é percebido como diferente ou desviante é normalizado, realizando um jogo entre identidade e alteridade, ou seja, entre semelhança e diferença, em seus textos. Nessa perspectiva, os animais têm papel de destaque na obra da escritora – baratas, aranhas, cavalos, galinhas, cachorros e gatos, por exemplo, são recorrentes em seus textos –, pois representam, ao mesmo tempo, seres opostos, mas também próximos ao ser humano, que, apesar de civilizado, carrega impulsos selvagens.

Epifania Nos textos de Clarice Lispector, o clímax narrativo ocorre por meio de um processo de epifania. Trata-se de uma súbita tomada de consciência da personagem em relação a aspectos antes despercebidos sobre a vida ou sobre si mesma. De origem religiosa, a palavra epifania significa “revelação” ou “descoberta”. Nos textos bíblicos, é uma iluminação de consciência em que o indivíduo tange um novo nível de percepção da realidade, em comunhão com Deus. Nas obras da autora, a epifania é alcançada a partir de um estímulo externo, geralmente banal. Em seus contos e romances, o processo ocorre de modo mais ou menos regular; a princípio, descreve-se a vida da personagem em uma suposta condição de harmonia, até que um evento, aparentemente cotidiano, causa-lhe certo incômodo. Em seguida, a personagem experimenta intensa confusão e caos emocionais, os quais culminam em uma mudança da percepção da realidade. Encerrado o clímax, a personagem retorna modificada à sua vida anterior .

No conto “Amor”, por exemplo, a crise de identidade do indivíduo é apresentada sem rodeios. A personagem Ana é uma mulher alheia à realidade de fora da sua zona familiar, confortável e harmoniosa. Todavia, ao vislumbrar um cego que mascava chiclete, sente-se abruptamente consciente da precariedade da vida. É atingida não somente pela percepção de que existem pessoas diferentes das que conhecia, mas também pela constatação de que qualquer forma de vida é perigosamente frágil. Esse vislumbre filosófico é característico da epifania.

Clarice Lispector foi um dos primeiros nomes da ficção brasileira a romper com a narrativa tradicional ligada aos fatos e aos acontecimentos, preferindo debruçar-se sobre uma narrativa interiorizada, na qual, como foi visto, a vivência interna da personagem é o ponto máximo. Além disso, percebe-se que grande parte da produção textual da autora é metalinguística, seja ficcional ou não. Para a escritora, vida e linguagem constituíam uma coisa só. Ao tentar definir a escrita, a literatura e a linguagem, a autora explica que só pode expressar suas ideias e sentimentos por meio da palavra, que, porém, não pode exprimir a totalidade da realidade. Cria-se um sentimento de angústia, uma vez que o “ser” interior é mais vasto do que a linguagem pode exprimir. A escrita seria uma maldição e uma salvação: é maldição, pois se está preso a ela e só se pode expressar por meio da linguagem; e libertação, justamente, porque é o canal de comunicação mais complexo. Para Clarice, escrever é um “parto doloroso” e o texto que nasce é algo reflexivo, que oferece uma experiência estética modificadora.

FELICIDADE CLANDESTINA Lançado inicialmente em 1971, “Felicidade Clandestina” reúne diversos textos de Clarice Lispector que foram escritos em diversas fases da vida da autora. Os textos reunidos nessa obra podem mais fácil serem classificados como “contos”, mas como Clarice não se prendia a convenções de gêneros, todo o conjunto reunido em Felicidade Clandestina migra de gênero em gênero, ora aproximando-se do conto, a aproximando-se da crônica, ou por vezes sendo quase um ensaio. De fato, muitos dos textos reunidos neste livro foram publicados como crônicas no Jornal do Brasil, para onde Clarice escrevia semanalmente. de 1967 a 1972. Ao todo, Felicidade Clandestina reúne 25 textos que tratam de temas diversos, tais como a infância, a adolescência, a família, o amor e questões da alma. Assim como a crônica que dá título ao livro, muitos dos textos apresentam algo de autobiográfico, trazendo recordações da infância da autora em Recife, alguma personagem que marcou seu passado, etc. Através da recordação de fatos do seu passado, Clarice Lispector busca nos contos fazer uma investigação psicológica de autoanálise.
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