Nas décadas seguintes a ocupação da área se intensificou, com a construção de
conjuntos habitacionais e invasões, formando favelas. A escritora lembra em suas
crônicas que na época da guerra já estava longe do sítio, onde de lá, avistava-se os
pequenos dirigíveis prateados, chamados blimps, que pousavam quase acima da casa.
No sítio, começou a aumentar o cerco urbano, trazendo a insegurança, com roubo de
fruta, cana, galinhas, patos. O pai de Rachel falece, e apesar de dona Clotilde ter
resistido, acabou vendendo o sítio, que já havia pertencido à família do Padre Rodolfo
Ferreira da Cunha, e depois ao industrial José Guedes, do qual seu pai havia comprado.
Em suas memórias, Rachel descreve a beleza do açude que fora aterrado para
construir a Igreja, a abertura de ruas no pomar, derrubando as grandes mangueiras e só
acaba recebendo notícias pelos jornais, pois assim declarava:
“Nuca mais fui lá. Dói demais, vai doer demais, imagino. Eu ainda
escuto no coração as passadas de meu pai no ladrilho do alpendre, o sorriso de
minha mãe abrindo a janela do meu quarto, manhã cedo: “acorda, literata! Olha
que sol lindo” E as mangas bola-de-ouro, que eram os cuidados dela – terão
derrubado a mangueira bola-de-ouro? Não, nunca mais quero ir lá. Ninguém
desenterra um defunto amado para ver como é que estão os ossos.” (CRÔNICA,
PICI)
Na conversa com Dona Sámia e Dona Rosa, moradoras atuais da casa,
lembram que o pai de dona Sámia que trabalhava para a imobiliária Nascimento Jucá,
certa vez ficou muito chateado, chegando a beber por vários dias, devido a crônica
escrita por Rachel em resposta ao questionamento feito por seu Afrânio no lançamento
de um livro na década de 80. O senhor Afrânio Montenegro Jucá, dono da imobiliária
Nascimento Jucá, havia questionando Rachel a visitar a casa, adquirida por ele de um
italiano que, segundo ele, construiria uma fábrica de rádio no local, mas desistiu e
mudou-se para São Paulo. O senhor Afrânio loteou o lugar, mas resolveu preservar a
casa pela beleza e que logo descobriria ter pertencido ao pai da escritora Rachel. O
senhor Alcides, corretor do senhor Afrânio, pediu para morar na casa, e mesmo após seu
falecimento, através de um documento em regime de comodato, permitiu as famílias
permanecerem na casa como inquilinos, mas sem precisar pagar nada até os dias de
hoje. Com a presença das famílias a casa ficou preservada até a redescoberta por
estudioso, educadores, estudantes e todos os tipos de pessoa que se sentiram