que são especificamente chamados de lestai,
bandidos (Mateus 27:38-44; Marcos 15:27). Tal
como acontece com todos os criminosos pendurados
em uma cruz, a Jesus é dada uma placa, ou titulus,
detalhando o crime pelo qual está sendo crucificado.
No titulus de Jesus se lê REI DOS JUDEUS. Seu
crime: lutar pelo poder real – sedição. (...)
(...) Não era Jesus um violento revolucionário
defendendo a rebelião armada, embora seus pontos de
vista sobre o uso da violência sejam muito mais
complexos do que muitas vezes se admite. Mas olhe
atentamente para as palavras e ações de Jesus no
Templo em Jerusalém – o episódio que, sem dúvida,
precipitou sua prisão e execução – e esse fato torna-
se difícil de negar: Jesus foi crucificado por Roma
porque suas aspirações messiânicas ameaçavam a
ocupação da Palestina e sua exasperada devoção
colocava em perigo as autoridades do Templo.
Reza Aslam, Zelota. A vida e a época de Jesus de
Nazaré. Rio de Jeneiro: Zahar, 2013, p.97-103.
Paulo, Tiago e as primeiras comunidades cristãs
Tiago, o líder da Igreja em Jerusalém
(...) Tiago era mais do que apenas o irmão de Jesus.
Ele era, como a evidência histórica atesta, o líder
indiscutível do movimento que Jesus tinha deixado.
Hegésipo, que pertencia à segunda geração dos
seguidores de Jesus, (...) escreve que “o controle da
Igreja passou, juntamente com os apóstolos, ao irmão
do Senhor, Tiago (...)”. Na não canônica epístola de
Pedro, o apóstolo-chefe e líder dos Doze refere-se a
Tiago como “Senhor e Bispo da Santa Igreja”.
Clemente de Roma (30-97 d.C.), que iria suceder a
Pedro na cidade imperial, endereça uma carta a Tiago
como “o Bispo dos Bispos, que governa Jerusalém, a
Santa Assembleia dos Hebreus e todas as
Assembleias de toda parte”. No evangelho [apócrifo]
de Tomé, geralmente datado entre o final do século I
e início do século II d.C., o próprio Jesus nomeia
Tiago seu sucessor. O pai da Igreja primitiva
Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) afirma que
(...) foi Tiago que se tornou “o primeiro, como o
registro nos diz, a ser eleito para o trono episcopal da
Igreja de Jerusalém”. Em sua obra Sobre homens
ilustres, são Jerônimo (c.347-420 d.C.), que traduziu
a Bíblia para o latim (Vulgata), escreve que, depois
que Jesus subiu ao céu, Tiago foi “imediatamente
nomeado bispo de Jerusalém pelos apóstolos”.
Mesmo o Novo Testamento confirma o papel de
Tiago como chefe da comunidade cristã: é Tiago
quem geralmente é mencionado primeiro quando se
listam os “pilares” da Igreja: Tiago, Pedro e João;
Tiago que, pessoalmente, envia seus emissários para
as diferentes comunidades espalhadas na Diáspora
(Gálatas 2:1-4); é Tiago a quem Pedro relata suas
atividades antes de sair de Jerusalém (Atos 12:17); e
é Tiago quem lidera os “anciãos” quando Paulo chega
para fazer súplicas (Atos 21:18). Tiago é a autoridade
que preside o Conselho Apostólico, quem fala por
último durante suas deliberações e aquele cujo
julgamento é definitivo (Atos 15:13). (....)
Por que, então, Tiago foi quase totalmente retirado do
Novo Testamento e seu papel na Igreja primitiva
ofuscado por Pedro e Paulo na imaginação da maioria
dos cristãos modernos? (...)
O Cristianismo imperial, como o próprio Império,
exigia uma estrutura de poder facilmente
determinável, preferivelmente com sede em Roma,
não em Jerusalém, e ligada diretamente a Jesus. O
papel de Pedro como primeiro bispo de Roma e seu
status como apóstolo fizeram dele a figura ideal sobre
quem basear a autoridade da Igreja romana.
[Além disso,] a principal preocupação da epístola de
Tiago é como manter o equilíbrio adequado entre a
devoção à Torá e a fé em Jesus como messias. Ao
longo do texto, Tiago exorta repetidamente os
seguidores de Jesus a permanecerem fiéis à lei. (...)
Isso não quer dizer que Tiago e os apóstolos estavam
desinteressados em alcançar os gentios, ou que
acreditavam que estes não poderiam se juntar ao
movimento. (...) Simplesmente insistia que eles não
se divorciassem inteiramente do judaísmo, que
mantivessem certa fidelidade às crenças e práticas do
próprio homem que eles alegavam estar seguindo
(Atos 15:12-21). Caso contrário, o movimento
arriscava tornar-se uma nova religião totalmente, e
isso é algo que nem Tiago nem seu irmão, Jesus,
teriam imaginado.
Paulo, o herege
[Depois da visão de Jesus no caminho para
Damasco,] (...) Saulo foi batizado no movimento de
Jesus. Mudou seu nome para Paulo e imediatamente
começou a pregar sobre Jesus ressuscitado, não para
seus companheiros judeus, mas para os gentios [isto
é, os não-judeus] que tinham sido, até aquele
momento ignorados pelos principais missionários do
movimento. (...) Embora tenha havido uma grande
discussão entre os apóstolos sobre o quão
estritamente a nova comunidade deveria aderir à lei
de Moisés, com alguns defendendo seu cumprimento
rigoroso e outros tomando uma posição mais
moderada, houve pouca discussão sobre a quem a
comunidade deveria servir: aquele era um movimento
judaico destinado a um público judeu. (...)
As opiniões de Paulo sobre Jesus são tão extremas,
tão além dos limites do pensamento judaico aceitável,
que apenas afirmando que elas vêm diretamente do
próprio Jesus é que ele poderia conseguir pregá-las.
O que Paulo oferece em suas cartas não é (...) apenas
uma forma alternativa de encarar a espiritualidade