Prof. Me. Oséias de Queiroz Santos ” Técnicas de Tradução e Interpretação: Textos da ordem do expor e argumentar ”
SEGUNDO MOMENTO No segundo encontro, aprofundaremos o uso das técnicas tradutórias e interpretativas aplicadas a textos da ordem do expor e argumentar. A proposta é desenvolver a competência prática com base na teoria, a fim de proporcionar maior domínio da linguagem em contextos bilíngues, como propõem Hurtado Albir (2001) e Russo et al. (2011), considerando também os aspectos ético-discursivos do trabalho do tradutor e do intérprete.
A INTERPRETAÇÃO ESTÁ PRESENTE NO NOSSO COTIDIANO...
COMPETÊNCIAS EXIGIDAS PARA A INTERPRETAÇÃO (1) COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA (conhecimento dos sistemas gramaticais e lexicais das línguas de trabalho, incluindo repertórios linguísticos para fins específicos); (2) COMPETÊNCIA TEMÁTICA (conhecimentos enciclopédicos e específicos); (3) COMPETÊNCIA DISCURSIVA (capacidade de combinar forma e significado para chegar a textos em diferentes gêneros); e (4) COMPETÊNCIA ESTRATÉGICA (empregada para melhorar a eficácia da comunicação e compensar possíveis deficiências), com destaque para esta última.
7
TÉCNICAS DE INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA E CONSECUTIVA Na interpretação simultânea, o intérprete acompanha o discurso em tempo real, exigindo memória de trabalho apurada e seleção de informações essenciais. Já na consecutiva, há pausas estratégicas que permitem reorganização mais precisa. Gile (2009) destaca o equilíbrio entre escuta, produção e memória como essencial para o sucesso em ambas as modalidades, especialmente em contextos argumentativos ou informativos densos.
DESAFIOS NA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS Textos argumentativos apresentam desafios específicos: linguagem subjetiva, ironia, ambiguidade e emoção. Preservar a intencionalidade do autor sem comprometer a neutralidade do intérprete requer habilidades discursivas e conhecimento do conteúdo. Segundo Amossy (2008), a argumentação se constrói não apenas pelo conteúdo, mas também pela forma de dizer, o que exige atenção especial na tradução para Libras.
LEITURA TRADUTÓRIA E ESCUTA ATENTA A leitura tradutória é uma leitura orientada para a decodificação do texto com vistas à retextualização em outra língua, como ensina Barbosa (2004). No caso da interpretação, a escuta atenta permite captar não apenas o sentido literal, mas também as nuances e a intenção discursiva do falante. É um processo ativo de construção de sentido, mediado pela escuta, análise e reformulação.
INTERVENÇÕES E ÉTICA NA INTERPRETAÇÃO O intérprete não é apenas um canal neutro, mas um mediador linguístico e cultural. Pöchhacker (2004) aponta que, embora a ética profissional oriente para a imparcialidade, certas situações exigem intervenções conscientes, especialmente em contextos educacionais ou de acessibilidade. O importante é garantir que a mensagem seja compreendida de forma equitativa, respeitando a autonomia do sujeito surdo.
NEUTRALIDADE E POSICIONAMENTO DO INTÉRPRETE O discurso argumentativo, por natureza, envolve tomada de posição, mesmo quando disfarçada sob aparência de objetividade. O intérprete, portanto, deve equilibrar fidelidade ao conteúdo com neutralidade atitudinal. Neutralidade não significa ausência de expressividade, mas sim respeito à intenção comunicativa original. Em contextos polêmicos, como debates políticos ou discursos de denúncia, o intérprete pode ser levado a interpretar falas com forte carga emocional. É fundamental que o profissional não se aproprie ideologicamente do texto, ainda que precise expressar ênfases, críticas ou indignações. 🔸 Exemplo: Português: “Esse projeto é um retrocesso disfarçado de progresso.”
EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE E DA IRONIA A ironia, uma figura retórica que depende de intencionalidade invertida, representa um dos maiores desafios na interpretação entre línguas de modalidades diferentes. Na Libras, a expressão facial, o uso do espaço e a entonação corporal são essenciais para transmitir ironias ou sarcasmos. O intérprete precisa captar o subtexto e ativar recursos visuais que evidenciem a dupla camada de sentido. 🔸 Exemplo: Português: “Claro, o governo resolveu tudo com sua incrível competência...” (tom irônico)
INTERPRETAÇÃO DE METÁFORAS, ANALOGIAS E INTERTEXTUALIDADES Os textos argumentativos recorrem com frequência a metáforas, analogias e alusões intertextuais como formas de construir sentido e persuadir. Tais recursos exigem mediação cultural e cognitiva, especialmente em Libras, onde não há tradução literal para expressões metafóricas em português. A metáfora conceitual, como apontam Lakoff e Johnson (2002), é culturalmente enraizada e precisa ser convertida em imagens mentais equivalentes. A analogia precisa ser explicitada ou visualmente construída. A intertextualidade depende do repertório do público e, quando ausente, pode exigir ampliação explicativa. 🔸 Exemplos: Português: “O Brasil é um gigante adormecido.”
ESTRATÉGIAS DE INTERPRETAÇÃO Utilize a INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA, que consiste em um processo de tradução-interpretação de uma língua para outra que acontece simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo Respeite o Tempo de atraso na interpretação; Esteja ciente da área e do tema a ser interpretado previamente;
ESTRATÉGIAS DE INTERPRETAÇÃO Solicite previamente um resumo/conteúdo do que irá ser abordado na conferência; Utilização da Equivalência: substituição de um determinado segmento de texto da LF por outro da LA, que não pode ser traduzido literalmente mais que funciona de maneira equivalente; Compensação: deslocamento de um recurso estilístico quando não é possível sua reprodução no mesmo ponto do TA, cabendo ao tradutor a decisão de utilizar outro efeito equivalente ou não.
ESTRATÉGIAS DE INTERPRETAÇÃO Esteja ciente das escolhas linguísticas presentes numa situação interpretativa; Tome decisões intencionais e não automáticas na realização da interpretação;
O INTÉPRETE DE APOIO Suporte técnico; Feedback e correção; Complementação de habilidades técnicas.
ESTRATÉGIAS DE INTERPRETAÇÃO Esteja ciente das escolhas linguísticas presentes numa situação interpretativa; Tome decisões intencionais e não automáticas na realização da interpretação; Realize escolhas mais eficazes, criando, assim, uma mensagem equivalente, mas não necessariamente idêntica.
O QUE VOCÊ FARIA? Você é convidado para interpretar em uma conferência 1 hora antes do seu início. Você aceitaria?
O QUE VOCÊ FARIA? Durante uma entrevista de emprego, o entrevistador faz uma pergunta complexa e o candidato surdo parece não compreender totalmente. O que você faria?
O QUE VOCÊ FARIA? Em uma conferência o palestrante profere o seguinte nome: Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon - Pedro II do Brasil Qual estratégia você utilizaria para interpretar?
O QUE VOCÊ FARIA? Você é convidado para interpretar uma conferência. Ao chegar no evento, lhe informam que é o único intérprete. Você interpretaria? Caso sim, depois de um determinado período interpretando, você se sente extremamente cansado. O que você faria?
O QUE VOCÊ FARIA? Se você não sabe o que fazer em determinado contexto de interpretação, seria apropriado pedir conselho a um colega intérprete para resolver a situação?
O QUE VOCÊ FARIA? 0 que o intérprete deve fazer diante de uma expressão idiomática ou uma metáfora?
O QUE VOCÊ FARIA? Você é convidado para interpretar uma conferência sobre linguística, e é avisado com antecedência sobre o tema e a área a ser abordada. Porém, quando chega no dia, minutos antes de iniciar a palestra, é informado que esta será proferida em língua francesa. Supondo que você não domine a língua francesa, o que você faria neste caso?
VAMOS PRATICAR!
29
"A língua é a chave para o coração de um povo. Se perdemos a chave, perdemos o povo. Se guardamos a chave em lugar seguro, como um tesouro, abriremos as portas para riquezas incalculáveis, riquezas que jamais poderiam ser imaginadas do outro lado da porta." Eva Engholm, 1965