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Unidade I
Revisão: Lucas Ricardi Aiosa - Diagramação: Léo - 20/08/2012
de reivindicação e de luta capaz de desencadear a consciência política e a reconstrução da ação
pedagógica na escola, mas o que tem sido possível observar é que as greves, mesmo alcançando os
objetivos imediatos, nunca atingem os mediatos, pois a vida nas escolas continua a mesma, e os limites
de atuação são traçados por políticas educacionais inquestionavelmente estruturadas e organizadas
fora das escolas. Os termos
consciência política e consciência crítica, frequentemente apontados pelos
professores relacionados aos trabalhos analisados por Vianna (2001), são heranças relativas a uma
tendência denominada por Foucault (1999) de “marxismo acadêmico” e, ao criar a compreensão de que
o capitalismo nubla a visão dos homens, gera a doutrina presente nos estudos sobre ocupação/profissão
aqui analisados. Esses termos, sem o apoio de uma teoria que explicite as restrições que a prática
institucional impõe às concepções dos professores sobre ensino, tornam-se metáforas. É preciso, alerta
Foucault (2000c, p. 49), “[...] mostrar como um sujeito – entendido como indivíduo dotado, naturalmente
(ou por natureza), de direitos, de capacidades etc. – pode e deve se tornar sujeito, mas entendido dessa
vez como elemento sujeitado numa relação de poder”. Essas metáforas, embora incitem a reflexão sobre
a prática docente e a vida particular, ocultam relações de sujeição efetivas que fabricam sujeitos.
A necessidade de romper esse círculo vicioso, imposto por esse tipo de cooptação, parece indicar uma
característica importante na capacidade de realizar juízos e decisões profissionais, possíveis apenas a
partir do conhecimento das condições políticas que são o solo em que se formam o sujeito, os domínios
de saber e as relações com a verdade. O esperado é que profissionais da educação suscitem questões e
não que ofereçam soluções. Foucault (1999), citando Nietzsche, observa que não há, no conhecimento,
uma adequação ao objeto, uma relação de assimilação. Na raiz do conhecimento, há polêmica, luta,
imposição de relações de poder.
Os leitores deste livro-texto também o interpretarão segundo as lentes de que dispõem, com uma forma
própria de olhar; a proposta é que descubram, segundo suas próprias concepções, valores considerados
tipicamente profissionais, que seriam desejáveis na prática docente. Assim, a profissionalização, pode
ser, nessa perspectiva, uma forma de defender não só o direito dos professores, mas da educação.
Houve sem dúvida, por exemplo, uma ideologia da educação, uma ideologia
do poder monárquico, uma ideologia da democracia parlamentar etc. Mas,
na base, no ponto em que terminam as redes de poder, o que se forma, não
acho que sejam as ideologias. É muito menos e, acho eu, muito mais. São
instrumentos efetivos de formação e de acúmulo de saber, são métodos
de observação, técnicas de registro, procedimentos de investigação e de
pesquisa, são aparelhos de verificação. Isto quer dizer que o poder, quando
se exerce em seus mecanismos finos, não pode fazê-lo sem a formação, a
organização e sem pôr em circulação um saber, ou melhor, aparelhos de
saber que não são acompanhamentos ou edifícios ideológicos (FOUCAULT,
2000c, p. 40).
2.2 Poder e discursos de verdade em nossa sociedade
Conforme observa Foucault (1996), “economia política” de verdade tem cinco características
historicamente importantes em nossas sociedades: