[2] FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica,
bíblica e apologética para o contexto atual.São Paulo: Vida Nova, 2007. p 378
8 – A questão da Angelofania
Angelofania é o termo que se refere à aparição de anjos. No AT, temos relatos de que
anjos apareceram a seres humanos (Gn 18.2, 16, 22; 19.1, 5, 10, 12, 15, 16; Jz 13.6). É
curioso notar que em momento nenhum das Escrituras é dito que anjos aparecem na
forma feminina, ainda que haja uma discussão em um texto dos profetas menores. Sobre
as aparições, Bavinck comenta que “elas sempre ocorreram em forma corpórea, assim
como as aparições simbólicas também mostram os anjos em forma visível. Mas isso
tampouco tem qualquer implicação sobre sua corporalidade” (BAVINCK, 465). Os
anjos não são como nós. Sabemos que eles não se casam e não se dão em casamento. O
que pode nos fazer pensar que não possuam órgãos genitais, nem um sexo definido
como nós.
Porém, como resolver a questão da limitação espaço-temporal dos anjos? Eles estão em
todos os lugares ao mesmo tempo já que não tem corpo? Isto é, anjos não podem estar
em dois locais ao mesmo tempo, pois não são onipresentes como Deus, ainda que
possam percorrer grandes distâncias muito rapidamente. Bavinck comenta:
“A prova mais forte em favor da corporalidade dos anjos, como antes afirmado, é
derivada da filosofia. Mas, a esse respeito, uma variedade de más interpretações tem seu
papel. Se a corporalidade só significa que os anjos são limitados no tempo e no espaço,
e não são simples como Deus, em que todos os atributos são idênticos à sua essência,
então certo tipo de corporalidade tem de ser atribuído aos anjos. Mas, geralmente, a
corporalidade, acarreta certa materialidade, mesmo que seja de uma natureza mais
refinada que as dos seres humanos e dos animais. Nesse sentido, não pode e não deve
ser atribuído um corpo aos anjos. Matéria e espírito são mutuamente excludentes (Lc
24.39).
Se eles são espírito, não são matéria. Nós somos seres espirituais, mas temos carne. Eles
não são espirituais no sentido que o homem é, mas são espírito.
A Escritura sempre sustenta a distinção entre céu e terra, anjos e seres humanos,
espiritual e material, coisas viventes e invisíveis (Cl 1.16). Se, então, os anjos devem ser
concebidos como espíritos, eles se relacionam diferentemente – mais livremente –com o
tempo e o espaço que os seres humanos. Por um lado, eles não transcendem todo o
tempo e o espaço como Deus, pois são criaturas e, portanto, finitos e limitados. Eles não
enchem completamente o espaço não são onipresentes nem eternos. Eles também não
oucupam um espaço circunscrito como nosso corpo, pois os anjos são espíritos e,
portanto, não têm dimensões de comprimento e largura e, assim, nem extensão ou
difusão através do espaço. Costumava-se falar, por isso, que eles tinham um espaço
definido, isto é, como seres finitos e limitados, estão sempre em algum lugar. Eles não
podem estar em dois lugares ao mesmo tempo. Sua presença não é extensiva, mas
pontual; e eles não podem ser obstruídos por objetos materiais. Seu deslocamento é
imediato. É claro que essa velocidade de movimento e essa liberdade temporal e
espacial que, no entanto, é atemporal e não-espacial, é inconcebível para nós. No
entanto, a Escritura claramente se refere a isso e, na velocidade do pensamento e da
imaginação, da luz e da eletricidade, temos analogias que não devem ser desprezadas”.