TEOLOGIA PASTORAL

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About This Presentation

Ministério Pastoral


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DEU S ^
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S*DAS ASS
:

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Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,
para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça - 2tm 3:1

jGENiljRQ ‘E QÜCA f c í ^ »GO
K r a a s s e m b l e i asTde i p e u s^
CETADEB - Centro Educacional Teológico
das Assembléias de Deus do Brasi!
Av. Cel. Otávio Tosta, 51 - l e Andar
Cx. Postal 250
85980-000 - Guaíra - PR
Fone/Fax: (44) 3642-5311 / Celular: (44) 9131-6417
E-Mail: contato@ cetadeb.com.br
Site: www.cetadeb.com.br
Aluno (a):

Teologia Pastoral I
TEOLOGIA PASTORAL I
TEOLOGIA PRÁTICA PARA O
EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO
Pr João Antônio de Souza Filho
Copyright © 2010 by João Antônio de Souza Filho
Capa e Designer: Márcio Rochinski
Diagramação: Hércules Carvalho Denobi
Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os
direitos reservados a Denobi e Acioli Empreendimentos
Educacionais.
O conteúdo dessa obra é de inteira responsabilidade do autor.
Todas as citações foram extraídas da versão Almeida Revista e
Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação
entre parêntesis ao lado do texto indicando outra fonte.
IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Lex Ltda
1§ Edição-Abr/2010
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CETADEB Teologia Pastoral I
DIRETORIAS E CONSELHOS
Diretor
Pr Hércules Carvalho Denobi
Vice-Diretora
Eliane Pagani Acioli Denobi
Conselho Consultivo
Pr Daniel Sales Acioli - Apucarana-PR
Pr Perci Fontoura - Umuarama-PR
Pr José Polini - Ponta Grossa-PR
Pr Valter Ignácio - Guaíra-PR
Coordenação Pedagógica
Dagma Matildes de Souza dos Santos - Guaíra-PR
Coordenação Teológica
Pr Genildo Simplício - São Paulo-SP
Dc Márcio de Souza Jardim - Guaíra-PR
Assessoria Jurídica
Dr Mauro José Araújo dos Santos - Apucarana-PR
Dr Carlos Eduardo Neres Lourenço - Curitiba-PR
Dr Altenar Aparecido Alves - Umuarama-PR
Dr Wilson Roberto Penharbel - Apucarana-PR
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CETADEB Teologia Pastoral I
Autores dos Materiais Didáticos
Pr José Polini
Pr Ciro Sanches Zibordi
Pr Genildo Simplício
Pr Paulo Juarez Ignácio
Pr Jamiel de Oliveira Lopes
Pr Marcos Antonio Fornasieri
Pr Sérgio Aparecido Guimarães
Pr José Lima de Jesus
Pr José Mathias Acácio
Pr Reinaldo Pinheiro
Pr Edson Alves Agostinho
Rubeneide 0. Lima Fernandes
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CETADEB Teologia Pastoral I
NOSSO CREDO
ÊO Em um só Deus, eternam ente subsistente em três
pessoas: O Pai, Filho e o Espírito Santo. (Dt 6.4; Mt
28.19; Mc 12.29).
E 3 Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra
infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão
(2Tm 3.14-17).
03 Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e
expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os
mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm
8.34 e At 1.9).
EB Na pecam inosidade do homem que o destituiu da
glória de Deus, e que somente o arrependim ento e a
fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que
pode restaurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19).
B à Na necessidade absoluta do novo nascim ento pela fé
em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da
Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino
dos Céus (Jo 3.3-8).
CO No perdão dos pecados, na salvação presente e
perfeita e na eterna justificação da alma recebidos
gratuitam ente de Deus pela fé no sacrifício efetuado
por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13;
3.24-26 e Hb 7.25; 5.9).
d No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo
inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor
Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12).
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CETADEB Teologia Pastoral I
tQ Na necessidade e na possibilidade que temos de viver
vida santa mediante a obra expiatória e redentora de
Jesus no Calvário, através do poder regenerador,
inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos
capacita a viver como fiéis testem unhas do poder de
Cristo (Hb 9.14 e IP e 1.15).
ÊQ No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado
por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a
evidência inicial de falar em outras línguas, conforme
a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).
£Q Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo
Espírito Santo à igreja para sua edificação, conforme a
sua soberana vontade (IC o 12.1-12).
CQ Na Segunda Vinda prem ilenial de Cristo, em duas fases
distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar
a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação;
segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada,
para reinar sobre o mundo durante mil anos (lT s 4.16.
17; IC o 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14).
EQl Que todos os cristãos com parecerão ante o Tribunal
de Cristo, para receber recompensa dos seus feitos em
favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10).
EQ No juízo vindouro que recom pensará os fiéis e
condenará os infiéis (Ap 20.11-15).
E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de
tristeza e tormento para os infiéis (Mt 25.46).
Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil - CGADB

CETADEB Teologia Pastoral I
ABREVIAÇÕES
a.C. - antes de Cristo.
ARA - Almeida Revista e Atualizada
ARC-Alm eida Revista e Corrida
AT - Antigo Testamento
B V - Bíblia Viva
BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje
c. - Cerca de, aproximadamente,
cap. - capítulo; caps. - capítulos,
cf. - confere, compare.
d.C. - depois de Cristo.
e.g. - por exemplo.
Fig. - Figurado.
fig. - figurado; figuradamente,
gr. - grego
hb. - hebraico
i.e. - isto é.
IBB-Im prensa Bíblica Brasileira
Km - Símbolo de quilometro
lit. - literal, literalmente.
LXX - Septuaginta (versão grega do AT)
m - Símbolo de metro.
MSS - manuscritos
NT - Novo Testamento
NVI - Nova Versão Internacional
p.-página.
ref. - referência; refs. - referências
ss. - e os seguintes (isto é, os versículos consecutivos de um capítulo até o
seu final. Por exemplo: IPe 2.1ss, significa IPe 2.1-25).
séc. - século (s).
v. - versículo;
vv. - versículos.
ver - veja
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CETADEB Teologia Pastoral I
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CETADEB Teologia Pastoral I
SUMÁRIO
LIÇÃO | - O Min is t r o e o s e u c h a m a m e n t o.......................................... 11
ATIVIDADES - LIÇÃO 1.............................................................................39
LIÇÃO II - 0 CHAMAMENTO e a p r e p a r a ç ã o p a r a o Min is t é r io
........41
ATIVIDADES-U Ç Ã O || ......................................................................... 68
LIÇÃO III - o MINISTRO: SEU SUSTENTO E VIDA DE ESTUDOS
...................69
ATIVIDADES- LIÇÃO ||| ........................................................................97
LIÇÃO I V - 0 MINISTRO E SUA VIDA DE ORAÇÃO
A ESPOSA DO MINISTRO
...................................................................... 99
ATIVIDADES - LIÇÃO IV ..................................................................... 130
UÇÃO V - 0 MINISTRO E SUA FAMÍLIA....................................................... 131
ATIVIDADES - LIÇÃO V .......................................................................164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 165
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CETADEB Teologia Pastoral I

CETADEB Teologia Pastoral I
Lição I
c s * c ° >
CTCfD SD □=□=□ B UD1G C°>

CETADEB Teologia Pastoral I
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CETADEB Teologia Pastoral I
Introdução
T
eologia pastoral é o estudo das ciências que
dizem respeito à vida do pastor, contendo os
ensinamentos bíblicos e a verdade prática de
seu dia-a-dia ministerial. Trata-se, na realidade
da contextualização dos princípios bíblicos
ministeriais às necessidades que se
apresentam todos os dias na vida do ministro
no século XXI.
O aluno aprenderá as verdades bíblicas deixadas por Jesus e
seus apóstolos, tanto as explícitas, isto é, diretamente ensinadas
por eles, quanto as implícitas, situações não existentes no tempo da
igreja primitiva, e que precisam ser solucionadas nos dias atuais.
Defrontar-se-á diante das questões éticas que os apóstolos não
enfrentaram em seus dias, e que são enfrentadas quase todos os
dias no exercício do ministério.
O livro-texto está dividido em lições, com temas e sub-
temas. De início serão tratados assuntos relacionados ao
chamamento para o ministério, respondendo perguntas sobre como
ocorre o chamamento, as implicações do chamamento na vida do
obreiro e em relação à obra de Deus, a preparação para o ministério
e seu sustento.
Na continuidade, o aluno aprenderá sobre a importância do
estudo para o obreiro, sua vida de oração, o papel da esposa do
obreiro em seu ministério, além de uma temática dedicada
unicamente à família do obreiro, tratando do relacionamento
conjugal e da criação dos filhos.
No livro Teologia Pastoral II trataremos da vida sexual do
obreiro, tarefas do dia-a-dia do ministro, da importância do
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CETADEB Teologia Pastoral I
gabinete do ministro, como local de aconselhamento e estudo do
ministro e seu comportamento no púlpito, além de tratar do
equilíbrio tão necessário entre carisma e caráter.
Por fim, o aluno estudará a vida de Jesus como exemplo de
Pastor, como modelo ministerial; logo estudará a vida de Paulo, o
apóstolo, o homem que mais ensinamentos deixou escrito depois
de Cristo, e estudará sobre a vida de Barnabé, exemplo de
dedicação apostólica. O módulo será concluído com a temática
sobre o ministro e seus relacionamentos e a questão da fama, do
orgulho e da honra no ministério.
São temas de muita importância para o obreiro, e, por certo
o aluno saberá tirar de cada tema abordado, lições preciosas para o
seu dia a dia ministerial.
No fim do livro o aluno verá as referências bibliográficas
importantes para futuras consultas.
Este manual de Teologia Pastoral, por certo, terá grande
utilidade para o obreiro não somente enquanto estuda o tema; por
certo, o ministro haverá de recorrer muitas vezes ao livro ao longo
de sua carreira ministerial.
Bom estudo.
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CETADEB Teologia Pastoral I
O MINISTRO E SEU CHAMAMENTO
I - Introdução
No princípio deste estudo, o tema a ser tratado é uma
abordagem bíblica sobre o ministro e seu chamamento. Será
apresentada a base bíblico-teológica, buscando definir o que é
ministério e como ocorre o chamamento, em que o aluno se
defrontará com uma análise da chamada para o ministério à luz das
Escrituras.
Posteriormente, o estudante verá a chamada e suas
implicações na vida do obreiro a partir da experiência de homens no
Antigo e no Novo Testamento. Na sequencia, será abordado o tema
do chamamento e a obra de Deus.
Em seguida, será desenvolvido o tema de como uma pessoa
pode se preparar para o ministério. Por fim, o aluno estudará sobre
o sustento do obreiro, e de como ele pode viver na obra de Deus, se
necessário até trabalhando com as próprias mãos.
Depois do estudo deste livro, o aluno conseguirá definir a
questão do chamamento, entendendo as implicações e
responsabilidades que tem diante de Deus, da igreja e do mundo.
É aconselhável que o aluno examine os textos bíblicos
sugeridos, pois essa fundamentação bíblica é muito importante para
quem quer desenvolver uma vida ministerial satisfatória.
II - Definindo O Que É Ministério
Nesta primeira lição, o aluno aprenderá a definir o que é
ministro e o que é ministério e, logo em seguida, verá como ocorre
o chamamento. Essas definições ajudarão, o estudante à luz das
escrituras, a entender melhor o chamamento.
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CETADEB Teologia Pastoral I
1. Definindo A Palavra Ministro
A palavra ministro que aparece na maioria das traduções
bíblicas em português já não tem mais o mesmo sentido
apresentado nas primeiras traduções da Bíblia porque as palavras,
no decorrer dos anos, vão perdendo seu sentido original, sendo
substituídas por outras.
Ministro, nos dias atuais, passou a ter uma conotação de
"pessoa que possui um alto cargo", de alguém com alta função,
especialmente na esfera governamental. Isso não tem sido
diferente na igreja, já que ministro parece ser uma pessoa que se
sobrepõe às demais pelo cargo que exerce, geralmente o de pastor.
Mas este não é o verdadeiro sentido de ministro no Novo
Testamento.
Assim, o aluno estudará o tema analisando três palavras
gregas do Novo Testamento, diferentes entre si, mas que foram
traduzidas, na maioria das versões bíblicas como ministro.
1.1. M in istro Com o T ra d u ç ã o D o V erbo S e rv ir ^
Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é
a tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa
servir. Pode-se observar que a palavra diakonos foi traduzida como
ministro nos seguintes textos e para as seguintes situações:
Referindo-se a autoridades governamentais, como em
\ Romanos 13.4 que diz: "Visto que a autoridade é ministro de Deus
para teu bem". Nesse versículo, entende-se ministro como alguém
que tem autoridade a "serviço" de Deus, isto é, um governo, policial
ou juiz que serve a Deus punindo os maus.
Referindo-se a "servo" ou "serviço" a Deus, no texto de 2
Coríntios 3.6 em que Paulo afirma que os obreiros foram habilitados
para serem "ministros de uma nova aliança", isto é, servos de uma
nova aliança.
Em 2 Coríntios 6.4 também: "Pelo contrário, em tudo
recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita
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CETADEB Teologia Pastoral I
paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias...", ou seja, o
obreiro tem de ter em mente que ele é um servo a serviço de Deus
em todos os momentos: na paciência, nas aflições, nas angústias.
Pode-se examinar ainda diversos outros textos do Novo
Testamento em que essa palavra é a mesma para diácono nas
seguintes passagens: (2 Co 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Cl 1.7,23,
25; 4.7; 1 Tm 4.6).
A partir dessa leitura fica fácil para o estudante observar
que os tradutores usaram no passado a palavra ministro para
exprimir o sentido de servo ou servir, mas que o sentido de ministro
perdeu sua simplicidade no idioma português de hoje.
O comentarista James Strong (Strongs Exaustive
Concordance of the Bible) define essa palavra nos textos
apresentados, falando de "um servidor", alguém que exerce um
serviço obedecendo a uma autoridade superior.
Portanto, basicamente, ministro é alguém que serve, e não
quem é servido. Assim, cada obreiro é também um ministro, ou
chamado para ser servo do rei Jesus.
A segunda palavra grega, huperetes, é também traduzida
como ministro, e aparece, em 1 Coríntios 4.1, com o significado de
subordinação e trabalho. Nesse versículo: "Assim, pois, importa que
os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros
dos mistérios de Deus", percebe-se que a palavra ministro foi usada
para indicar uma ação subordinada sob a direção de Deus.
Esse sentido é muito mais forte do que o anterior, pois
carrega em si o conceito de alguém que trabalha sob obrigação ou
que só faz o que lhe é ordenado. Significa que no serviço cristão,
não se exerce o ministério por conta e vontade própria, mas sob
autoridade de alguém, ou melhor, o ministro do Senhor Jesus estará
sempre às ordens de seu Supremo Chefe, Jesus que o chamou para
o serviço.
Outros textos bíblicos apresentam huperetes, com o mesmo
sentido, ou seja, alguém que está subordinado a outra pessoa e que
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CETADEB Teologia Pastoral I
cumpre ordens e trabalha somente sob ordens. Nesse tipo de
chamamento a pessoa está engajada de forma compulsória.
Esta é a razão de Paulo exclamar: "Ai de mim, se não pregar
o Evangelho" (1 Co 9.16). Para Paulo não havia escape, ele teria que
obedecer sem resistência, sob pena de ser castigado.
Era mais que uma ordem. Era um dever. Fugir do
chamamento, no caso de Paulo, seria impossível, porque Deus lhe
pronunciou uma sentença: "Dura coisa é recalcitrares contra os
aguilhões" (At 26.14).
Paulo levava a sério seu chamamento, não como algo
opcional, e sim compulsório, pois implicava ser castigado por aquele
que o chamou, caso desobedecesse as suas ordens. É possível que
alguém esteja no ministério por opção, por amar a Jesus, amar a
Igreja e por querer cumprir seu propósito. Não era o caso de Paulo.
Ele foi convocado para ser um auxiliar, por isso usa o termo
huperetes para dar ênfase ao seu chamamento.
Em João 18.3, 12, 18, esta mesma palavra aparece com o
sentido de servos ou ajudantes que trabalham sob as ordens de um
governador. Jesus afirmou: "O meu reino não é deste mundo. Se o
meu reino fosse desse mundo, os meus ministros se empenhariam
por mim...". Isto significa que, se Jesus fosse um governador, os que
trabalhassem sob sua autoridade sairiam em sua defesa.
1.2. Min is t r o Co m o Lit u r g o
A terceira palavra grega traduzida como ministro é "liturgo"
(leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que dispõe de recursos
próprios a serviço do reino ou da sociedade. Essa palavra, na época
de Paulo, era utilizada para designar uma classe social grega que
exercia cargos públicos ou ajudava a sociedade com seus próprios
recursos.
Essa atitude espontânea passou a designar, na Bíblia,
pessoas que serviam a Deus de maneira espontânea. Pode-se
confirmar esta verdade examinando-se dois textos bíblicos.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Em Atos 13.2, os mestres e profetas não estavam jejuando
ou orando por obrigação, mas como um serviço espontâneo a Jesus,
por isso o texto é tão claro: "E, servindo eles ao Senhor e jejuando,
disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a
obra a que os tenho chamado".
Em Romanos 15.27, Paulo usa a mesma palavra, para se
referir à espontaneidade das contribuições financeiras que os
gentios davam aos judeus: "Isto lhes pareceu bem, como devedores
que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes
dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os
temporais" ou como diz a versão atualizada, "servi-los com bens
materiais".
A partir das três definições apresentadas, pode-se concluir
que todas apontam para o mesmo sentido: serviço ou dedicação,
apesar da procedência e das características específicas.
É importante ressaltar que em nenhuma delas há a
conotação de superioridade tão comum nos dias atuais. Portanto,
quando se almeja o ministério, não se pode esquecer o
compromisso que espera o obreiro de ter uma vida de abnegação e
de serviço, nunca de privilégios.
2. Chamada E Vocação J
O chamamento e a vocação não podem ser analisados à luz
do Antigo Testamento, pois naquele tempo havia uma separação
entre "clero" e "leigo ou laicato", já que a tribo de Levi era uma
espécie de "clero" que servia o povo nas questões rituais, e
intermediava entre Deus e o povo de Israel.
No entanto, com a nova ordem ou nova aliança, todas as
pessoas passaram a pertencer a uma mesma ordem ou ofício,
passaram a ser sacerdotes do Deus Altíssimo, pois Cristo, ao assumir
a função de sumo sacerdote, abriu essa possibilidade de cada crente
ser também um sacerdote.
Assim, a separação que existia entre o povo e os líderes do
Antigo Testamento deixou de existir, fazendo com que a igreja
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CETADEB Teologia Pastoral I
passasse a ser um "reino de sacerdotes" em que todos os membros
tivessem acesso direto a Deus e pudessem interceder em favor dos
demais, ou seja, cada novo membro do corpo de Cristo passou a ter
acesso a Deus da mesma maneira que seu líder, pastor ou
presbítero.
Neste sentido, todos na nova aliança são ministros a serviço
de Deus. Isso mostra que não há necessidade de títulos para
trabalhar para Deus.
Esta mudança de conceito sacerdotal foi percebida
claramente por Pedro, quando afirmou: "Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9). Nesse versículo,
percebe-se que Pedro se refere a todo o povo como reino
sacerdotal, isto é, todos são sacerdotes de Deus.
Assim como Pedro, a igreja primitiva, através de seus
primeiros apóstolos, também percebeu que todos os membros do
corpo de Cristo deviam trabalhar sem se preocupar com títulos, pois
sabiam que a tarefa de evangelizar, orar, expulsar demônios e curar
os enfermos não era somente para pastores e líderes, mas de todos
(Mc 16.14-16).
Outro fator que comprova essa ausência de distinção entre
povo e líderes no Novo Testamento está no fato das pessoas serem
tratadas diretamente pelo nome: Mateus, Paulo, Dorcas, Filipe, etc.
Essa informalidade no modo de tratamento não impediu o
respeito do povo a esses líderes, responsáveis por conduzi-los nos
caminhos de Deus.
Apesar de toda essa mudança conceituai ocorrida no Novo
Testamento, algumas igrejas ainda mantêm dentro de seu sistema
de governo a idéia de que o "clero" é exercido por alguém
vocacionado e deve ser pago, e que os "leigos" devem servir.
Esse é um erro que tem de ser corrigido, pois na igreja
primitiva nunca houve a idéia de que os pastores deveriam ser
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CETADEB Teologia Pastoral I
pagos para fazerem a obra, ao contrário, todos entendiam que
deveriam trabalhar, servir ou ministrar, zelar pela vida dos novos
convertidos, orar, curar e expulsar demônios.
Assim é necessário entender que todos, em escala menor
ou maior, conforme os dons que de Deus recebem ou conforme a
capacitação concedida pelo Espírito Santo de Deus, são chamados
para servir. Isto significa que todos podem cooperar e trabalhar
para Deus, mesmo aqueles que têm poucos dons disponíveis.
Os textos de 1 Coríntios 12.28 e Efésios 4.11 mostram que,
apesar de todos servirem e ministrarem a Deus e ao próximo -
indistintamente de sexo - Deus, em sua soberania decidiu dispor de
alguns para chamamentos especiais.
Coríntios revela que "a uns estabeleceu Deus na igreja...".
Efésios: "ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres".
Esses versículos mostram que Deus se reserva o direito de
conceder dons ministeriais a algumas pessoas para que essas
executem determinadas tarefas. Entre esses chamamentos
especiais encontramos o de Paulo. Paulo seguia para a cidade de
Damasco a fim de prender e maltratar os discípulos de Jesus,
quando encontrou Jesus. Ao encontrá-lo, teve como única opção a
aceitação ao chamamento.
Como ele, muitos também têm como única opção a
aceitação. Esse chamamento de Paulo era tão especial, que ele o
descreve da seguinte maneira:
"E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me falava
em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa
é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu perguntei: Quem és
tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues. Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto
te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das
coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei
ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio,
para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da
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CETADEB Teologia Pastoral I
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé
em mim..." (At 26.14-19).
0 chamamento de Paulo tinha uma missão especial,
definida nas palavras de Jesus em Atos 26.14-19: "... te apareci, para
te constituir ministro e testemunha", afirmou Jesus a Paulo,
especificando que seu ministério seria entre os gentios "para os
quais eu te envio".
Em Atos 22.14-15, Paulo ouviu de um homem comum,
Ananias, um servo de Deus, a seguinte palavra: "O Deus de nossos
pais, de antemão, te escolheu para conheceres a sua vontade...
porque terás de ser sua testemunha diante de todos os homens, das
coisas que tens visto e ouvido...".
Assim, diante de tal chamamento, para Paulo a única opção
era obedecer, exercendo o ministério sob constrangimento, isto é,
"fisgado" por Jesus.
Por isso, suas palavras aos crentes de Corinto: “Se anuncio o
evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço
de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a
responsabilidade de despenseiro que me está confiada" (1 Co 9.16-
17).
Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para
servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a alguns
o Senhor dá um chamamento especial, como deu aos setenta, aos
doze e a Paulo, em que "prende" e "agarra" para si como se fazia
antigamente a um escravo, deixando a pessoa sem opções.
Era servir, ou servir. Por isso, Paulo constantemente
afirmava: "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo,
separado para o evangelho de Deus..." (Rm 1.1). É importante
ressaltar que a palavra servo (doutos) tinha o sentido de escravo.
Era assim que Paulo se considerava: um escravo de Jesus,
assunto que repetia constantemente (Tt 1.1). Como Paulo, muitos
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CETADEB Teologia Pastoral I
foram chamados e vocacionados por Jesus, muitos cumpriram sua
missão, muitos desistiram no meio do caminho ou se desviaram do
chamamento especial.
3. Como Ocorre O Chamamento
Não existe consenso entre os teólogos para definir se o
chamamento começa primeiramente no coração de Deus e depois
no homem, ou primeiramente no coração do homem e depois no de
Deus.
O que se percebe à luz da escritura é que as duas verdades
interagem, isto é, o chamado pode começar em Deus e também no
homem. Um dos indicativos é bem evidente na declaração de Jesus
aos discípulos: "Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande obreiros
para a sua seara" (Mt 9.38), o que indica que diante da necessidade
de novos obreiros, ora-se a Deus e ele faz a sua parte chamando as
pessoas.
Quando alguém roga a Deus que envie obreiros, parte do
pressuposto de que ele irá chamá-los. Mas o ministério pode
começar também no coração do homem quando este se dispõe a
servir a Jesus enfrentando todas e quaisquer circunstâncias.
Deus sempre olha para o coração e para as motivações do
indivíduo. Assim, o chamamento para o ministério vem sempre
através da parceria Deus e homem.
3 .1 .0 Ch a m a m e n t o Vem Pe l a Co n s a g r a ç ã o
O chamamento, via de regra, ocorre como fruto da
consagração e do compromisso com Deus. Este é um tema que será
abordado com mais detalhes no capítulo seguinte.
A afirmação de Jesus de que o pai procura adoradores que o
adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23), é um exemplo do que
ser propõe afirmar.
Ele vê o obreiro se consagrando e se dedicando e o convoca
para a sua obra. Não é pecado afirmar que Deus tem um olfato
23

CETADEB Teologia Pastoral I
apurado e localiza rapidamente os que o servem e o adoram de
todo coração.
Deus costuma sair ao encontro de tais pessoas. E começa, a
partir daí, o verdadeiro ministério ou serviço do homem para Deus.
Quando Deus encontra o que procura, coloca do seu desejo
e de sua vontade no coração do homem, e este começa a anelar
mais e mais de Deus e a fazer a sua vontade.
3 .2 .0 Ch a m a m e n t o Po d e Su r g ir At r a v é s Do In c e n t iv o De Ir m ã o s
Em Po s iç ã o Ma io r De Au t o r id a d e
O chamamento pode ocorrer através de obreiros que
supervisionam a obra de alguém que está envolvido no trabalho de
Deus. Vários são os exemplos deste tipo de chamamento no Novo
testamento.
O primeiro deles é Barnabé. Este, até o momento de seu
chamamento especial, era um seguidor dos ensinamentos de Cristo,
apenas mais um ajudante na igreja de Jerusalém que tinha colocado
todos os seus bens à disposição da igreja (At 4.36-37).
Mas os apóstolos de Jerusalém viram em Barnabé um
verdadeiro servo de Deus. Assim o enviaram a Antioquia para cuidar
da emergente igreja, onde muitos gregos haviam se convertido à Fé.
Isto comprova que Deus não apenas chama diretamente
uma pessoa, mas confirma o chamamento através de terceiros. Ele
utiliza líderes para encontrar novos ministros para sua obra.
O segundo exemplo é o de Saulo de Tarso. Barnabé
procedeu da mesma maneira em relação a Saulo. Assim como os
apóstolos viram em Barnabé um obreiro chamado, Barnabé viu em
Saulo um homem de grande potencial na obra de Deus. Durante o
estudo, o estudante verá a vida de Paulo e de como Deus o chamou
para o ministério.
No entanto, vale lembrar que Saulo, depois de convertido,
tentou uma aproximação com os apóstolos em Jerusalém, mas não
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CETADEB Teologia Pastoral I
foi bem aceito. Desanimado, regressou à sua cidade, Tarso, e lá
ficou trabalhando até que Barnabé o encontrou e o levou para
trabalhar ao seu lado na cidade de Antioquia.
Um terceiro exemplo é o de João Marcos. Acostumado às
lidas da igreja e ativo na igreja de Jerusalém, foi levado, na primeira
oportunidade, por seu primo Barnabé para uma viagem missionária
(At 13.5).
Sua missão era servir e auxiliar os primeiros apóstolos.
Quando uma pessoa se sente vocacionada para o ministério, o
melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes. Como
homens de Deus, saberão identificar na pessoa a chamada para o
ministério.
Um quarto caso é o de Timóteo. Paulo viu no jovem um
obreiro promissor e o levou consigo nas viagens missionárias. Todos
esses exemplos de chamamentos serão revistos ao longo deste
livro, dos quais o aluno extrairá lições preciosas para seu serviço a
Deus.
Como se vê, Deus também utiliza seus obreiros para que
observem aqueles que têm o coração no Senhor e em sua obra.
Assim, uma pessoa pode estar sendo observada por Deus através de
um líder, pois Deus, especialista em vocação, vê apenas o coração
dos seus servos, não a aparência. Isto pode ser comprovado com a
orientação dada a Samuel (16.7): "Não atentes para a sua
aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei, porque o Senhor
não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor,
o coração".
Do mesmo modo que Samuel, aquele que é líder não deve
se deter nas aparências, mas no coração dos servos de Deus. Por
outro lado, uma pessoa que se sente vocacionada para o ministério,
o melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes, que
como homens de Deus saberão identificar na pessoa a chamada
para o ministério.
Depois de expor o sentido do ministério e de como alguns
homens foram chamados, o aluno verá na sequencia, a questão da
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CETADEB Teologia Pastoral I
chamada em si, e de como poderá identificar a chamada de Deus
em sua vida.
Questões para reflexão: Meu chamamento tem sido apenas
emocional, ou tenho certeza de que preciso cumprir com o
propósito de Deus na terra?
Centralidade da reflexão: Deus vê o coração. Deus vê
também o que fazemos. E quando o que fazemos procede de uma
atitude correta, de todo coração, com verdadeiro desprendimento,
ele nos recompensa, dando-nos a certeza de nosso chamamento.
II - A Ch a m a d a
No capítulo anterior o estudante viu, de maneira sucinta,
que a chamada para o serviço ou ministério começa em Deus e
encontra sua contrapartida no coração do homem; e que ocorre
quando Deus e homem se encontram, começando a partir daí uma
parceria para levar adiante seu propósito na terra.
Essa parceria pode ter início de diversas maneiras, por isso
cada pessoa deve aprender a identificar o seu chamamento e não
comparar o chamamento de uma pessoa com a outra.
Cada chamamento tem uma particularidade ou propósito, o
que pode ser visto nos chamamentos de Abraão, Moisés, Josué,
Davi, e também de alguns dos profetas e dos servos de Deus do
Novo Testamento. Neste capítulo, o objetivo é mostrar que, em
algum momento, a pessoa saberá identificar seu chamado para
alguma missão especial.
Um dos grandes conflitos que as pessoas enfrentam é o de
saber o momento de tomar uma decisão e agir, pois toda pessoa
que sente o fogo de Deus ardendo em seu coração tem a tendência
de agir imediatamente, o que leva alguns a romper os laços
familiares, ignorando o cuidado da casa, da esposa e dos filhos,
(assuntos que será abordado com clareza quando tratarmos do
obreiro e sua família), largam seus empregos, e decidem que,
daquele momento em diante querem entrar para o ministério. Nem
sempre esta é a melhor solução.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Daí a recomendação de Jesus: "Ninguém que, tendo posto a
mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus" (Lc 9.62).
1. Pr in c íp io s Qu e No r t e ia m O Ch a m a m e n t o Dos Ho m e n s
De De u s
0 chamamento deve ser norteado por princípios
encontrados na escrituras sagradas. Estudando a vida e o
chamamento de pessoas no Antigo e no Novo Testamento, pode-se
extrair lições que ajudam o obreiro a entender o que está
acontecendo com ele.
Para tanto será necessário estudar o chamado e a
obediência de Abraão, Moisés, Josué, Davi e Paulo - apenas estes -
e ver que o chamamento destes servos de Deus está alinhado ou de
acordo com o propósito eterno de Deus.
1.1 - Ch a m a d o E Ob e d iê n c ia
Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os
demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao
chamado de Deus.
Vários deles vacilaram diante da grandeza do chamamento,
mas foram convencidos por Deus de que deveriam obedecer. Entre
estes é possível citar Moisés e o profeta Jeremias.
Ainda que ninguém mais tenha recebido um chamamento
como o de Abraão, de Moisés, ou de Davi, para citar apenas estes,
pode-se aprender com a história deles algumas lições que ajudam a
entender o chamamento.
Ab r a ã o
Abraão recebeu uma missão: peregrinar na terra que seria
de seus descendentes. Não teria residência fixa, mas viveria em
tendas em Canaã.
Todo chamamento tem uma missão. Este princípio é
percebido tanto nos personagens do Antigo quanto do Novo
Testamento.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Ao estudar cada um destes casos, percebe-se que os
homens chamados por Deus receberam uma missão a cumprir.
A missão de Abraão era de peregrinar na terra que lhe foi
prometida. Ao chegar a Canaã Deus lhe disse: "Levanta-te, percorre
essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei"
(Gn 13.17).
Abraão obedeceu. "Pela fé, Abraão, quando chamado,
obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança;
e partiu sem saber aonde ia" (Hb 11.8).
A obediência de Abraão é citada em Romanos 4.16-25 e
Hebreus 11.8-19 como modelo de fé a todo cristão.
Mo is é s
Com a morte de Abraão, Deus levou Jacó a morar no Egito
onde seu filho José fora empossado como governador, e a
descendência dele permaneceu no Egito durante quatrocentos e
trinta anos, cumprindo a palavra dada a Abraão em Gênesis 15.12-
16.
Moisés, no deserto onde se refugiara durante quarenta
anos, fugindo da ira de Faraó, recebeu de Deus a incumbência de
tirar o povo de Israel do Egito.
Ele viu o fogo no arbusto que não se consumia, e ao se
aproximar, ouviu a voz de Deus lhe dizendo: "Vem, agora, e eu te
enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel do
Egito" (Ex 3.10). “A este Moisés, a quem negaram reconhecer,
dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus
como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu
na sarça. Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito,
assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos"
(At 7.35-36).
Moisés obedeceu. Depois de quarenta anos no deserto,
decidiu retornar ao Egito. "Tomou, pois, Moisés a sua mulher e os
seus filhos; fê-los montar num jumento e voltou para a terra do
Egito. Moisés levava na mão o bordão de Deus" (Ex 4.20).
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CETADEB Teologia Pastoral I
A belíssima história de Moisés retratada em romances e
filmes revela um homem de coração obediente que entendeu sua
missão na terra.
O escritor aos Hebreus diz de Moisés: “E Moisés era fiel, em
toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que
haviam de ser anunciadas" (Hb 3.5).
Jo s u é
Josué recebeu também uma missão: Fazer o povo entrar na
terra de Canaã. Com a morte de Moisés, Deus o chamou e o
incumbiu especificamente desta tarefa. "Ordenou o Senhor a Josué,
filho de Num, e disse: Sê forte e corajoso, porque tu introduzirás os
filhos de Israel na terra que, sob juramento, lhes prometi; e eu serei
contigo" (Dt 31.23 e Js 1.1-9).
Josué obedeceu. Logo que Deus lhe falou (Js 1.1-9), Josué
arregimentou o exército e preparou o povo para entrar na terra
prometida. A história de como o povo conquistou Canaã pode ser
estudada no livro de Josué. É a história da obediência.
Da v i
Davi foi chamado para ser rei e pastor de Israel. Esta era sua
missão. Apesar de jovem e inexperiente, Deus ordenou a Samuel, o
profeta que ungisse a Davi, rei de Israel. "Enche um chifre de azeite
e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos,
me provi de um rei" (1 Sm 16.1). "Também escolheu a Davi, seu
servo, e o tomou dos redis das ovelhas; tirou-o do cuidado das
ovelhas e suas crias, para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel,
sua herança. E ele os apascentou consoante a integridade do seu
coração e os dirigiu com mãos precavidas" (SI 78.70-72).
Não há registro algum nas escrituras de que Deus tenha
falado particularmente a Davi sobre seu chamamento. Deus o
chamou através do profeta Samuel para substituir a Saul. A respeito
de Davi, disse Deus: "Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo
óleo o ungi" (SI 89.20).
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CETADEB Teologia Pastoral I
Pa u lo
Diferentemente dos demais, Paulo recebeu de Deus a
missão de ser o pregador aos gentios, isto é, de levar as boas novas
da salvação em Cristo a todos os povos não judeus que habitavam
no mundo conhecido da época.
O relato de seu chamamento está em Atos 9.1-30. Que seu
chamamento era para os gentios, ele deixou bem claro ao se
encontrar com os demais apóstolos em Jerusalém: ele e Barnabé
pregariam aos povos não judeus, e os demais apóstolos pregariam
aos judeus. "Afim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para
a circuncisão" (Gl 2.9).
Ele tinha uma missão e nela permaneceu firme até o fim.
Deus lhe disse: "Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque
por isso te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto
das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei
ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio,
para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé
em mim" (At 26.16-18).
Paulo obedeceu. Falando para o governador Agripa disse:
"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas
anunciei primeiramente aos de Damasco em Jerusalém, por toda a
região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se
convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento"
(At 26.19-20).
No fim da vida podia afirmar: "Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé" (2 Tm 4.7). O exemplo de Paulo
será visto ao longo deste curso.
A pessoa chamada recebe de Deus uma comissionamento e
tem de obedecer. Missão e obediência são dois pontos que devem
ser considerados neste estudo. Afinal, cada um de nós é chamado
para a missão de pregar o evangelho e é preciso obedecer.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2. Conhecendo O Propósito Eterno De Deus
Para que o aluno entenda o chamamento ministerial no
Novo Testamento é necessário que se proceda aqui a um
retrospecto do propósito de Deus em chamar Abraão, formando
uma nação e um povo que levasse o seu nome.
Quando Deus disse: "de ti farei uma grande nação", o
objetivo de Deus era a formação de um povo que realizasse na terra
o propósito divino.
A igreja, nos dias de hoje é a continuação daquele projeto
divino que começou na chamada Abraão e na formação do povo de
Israel.
2.1 - A Essência Do P ro p ó sito Etern o : Um P o vo P a ra Deus - J
Quando Deus formou o homem, colocando no Éden a
primeira família, seu objetivo era formar um povo que estivesse em
íntima comunhão com ele. Por isso, todas as tardes visitava o Éden
e dialogava com o homem que ele criara (Gn 3.8).
A queda do homem interrompeu por algum tempo a
execução do projeto divino. Mais tarde Deus chamou a Noé e sua
família para recomeçar na terra o seu projeto, mas novamente o
pecado e a transgressão interromperam o propósito de Deus na
terra.
A partir de Gênesis 12, o propósito de ter uma família ou
povo na terra é novamente iniciado com Abraão. Como se vê, o
chamamento de Deus para Abraão era claro e específico. Ele
habitaria na terra de Canaã e iniciaria o projeto de Deus na terra.
Quatrocentos e trinta anos depois de Abraão, Deus chamou
a Moisés no monte Sinai e novamente deixou claro o seu propósito
em tirar o povo do Egito: "Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso
Deus" (Ex 6.7). A idéia de um povo separado para Deus, portanto,
começa em Gênesis e termina no Apocalipse.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2.2 - Um a Na ç ã o De Sa c e r d o t e s E Ad o r a d o r e s
Quando o povo estava a caminho de Canaã, Moisés recebeu
ordem de Deus de construir o tabernáculo. Todos os elementos e
rituais do tabernáculo apontavam para a mesma finalidade: Deus
queria habitar entre o povo. "E habitarei no meio dos filhos de Israel
e serei o seu Deus" (Ex 29.45).
Quando Deus apareceu no monte Sinai, ele queria se
manifestar a todo o povo. Na realidade, o povo viu a glória de Deus,
mas ficou com medo. "E Moisés levou o povo fora do arraial ao
encontro de Deus" (Ex 19.17).
Os líderes chamaram a Moisés e lhe disseram: “Eis aqui o
Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua glória e a sua grandeza... hoje
vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo. Chega-
te, e ouve tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e tu nos dirás
tudo o que te disser o Senhor” (Dt 5.24,27).
O objetivo de Deus era o de habitar entre o povo,
manifestar-se, falar com as pessoas, mas o povo com medo recusou
ouvir a Deus, rogando a Moisés que servisse de intermediador entre
o povo e Deus.
Aqui também transparece a idéia de clero e laicato, tema
que foi visto anteriormente, em que uma pessoa tem acesso a Deus
e as demais ouvem. Não era este o propósito de Deus.
Ele queria uma nação de adoradores, um povo de serviço
que o representasse na terra. “Agora, pois, se diligentemente
ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a
minha propriedade peculiar dentre todos os povos. Vós me sereis
reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19.5-6).
O conceito de povo de Deus e de reino sacerdotal está em
todo o Antigo e Novo Testamento. Deus quer ter um povo no meio
do qual possa habitar.
O propósito inicial de Deus está em Êxodo 19.6: “Vós me
sereis reino de sacerdotes e nação santa". A intenção de Deus não
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CETADEB Teologia Pastoral I
era a de haver uma tribo especial, mas que todos fizessem parte do
sacerdócio.
A idéia de "povo de Deus" é vista em toda a Bíblia. "Somos o
seu povo e rebanho do seu pastoreio" (SI 100.3). Sugere-se ao
estudante que, com uma chave bíblica investigue todas as
passagens em que aparece a expressão povo, nação e Israel de
Deus.
2.3 - A Ig r e ja É O Povo De De u s
A igreja é a continuação do propósito de Deus desde a
criação do homem, pois Deus jamais recuou do seu propósito. Com
o surgimento da igreja, a mesma mensagem do passado é
proclamada pelos apóstolos do Novo Testamento. Pedro, um dos
apóstolos, repete para os primeiros cristãos o mesmo discurso de
Deus proferido ao povo de Israel quando este vagava pelo deserto
dois mil anos antes. (Veja Êxodo 19.5-6).
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de
Deus" (1 Pe 2.9-10).
Assim, a idéia ou propósito inicial de Deus é de que todos o
sirvam em sua presença; que todos sejam adoradores e que sejam
habitação de Deus na terra.
A idéia inicial de Gênesis 12 em Abraão, com Moisés, Davi e
todo o Israel é levada adiante na igreja, e culminará com o reino de
Deus na terra no final dos tempos. Por isso, em Apocalipse está
escrito: "Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o
tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles
serão povo de Deus, e Deus mesmo estará com eles... contemplarão
a sua face, e na sua fronte está o nome dele" (Ap 21.3 e 22.4).
Portanto, é possível afirmar que hoje todos são chamados
para servir a Deus, e o chamamento individual não pode fugir dessa
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CETADEB Teologia Pastoral I
linha mestra, isto é, que Deus tem um propósito com o homem na
terra. Assim, existe um chamamento geral para todos. Tema que
será desenvolvido a seguir.
3. O Chamamento De Deus E O Cumprimento De Seu
Propósito Para Todos
Pode-se observar acima, que Deus chama pessoas dando-
lhes um chamamento específico com a finalidade de cumprir o seu
propósito na terra. Antes de se abordar a questão do chamamento
individual, que é o objetivo desta lição, seria bom o aluno analisar o
que a escritura tem a dizer sobre o chamamento para todos.
3 .1 .0 Ch a m a m e n t o Ge r a l E O Es p e c íf ic o
Alguns acham que Deus não chama mais as pessoas para o
ministério, de maneira audível, em sonhos, em visões ou através de
uma profecia: basta a pessoa obedecer à vontade moral de Deus e
este irá abençoar e apoiar quaisquer que sejam as decisões que a
pessoa tomar, isto é: quando alguém tem comunhão com Deus e
um coração puro, a decisão que tomar tem a aprovação de Deus.
Respeitando-se esta posição teológica, não se deve negligenciar que
Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente e que pode utilizar
quaisquer métodos para falar ao coração de uma pessoa chamando-
a para o ministério.
No entanto, é preciso deixar bem claro que as escrituras
enfatizam o envolvimento de todos os santos no ministério, ou na
obra de Deus.
Para isto ele delegou poderes concedendo “uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo" (Ef 4.11-12 - grifo do autor).
Quer dizer: os ministérios foram dados à igreja para
aperfeiçoar o desempenho dos santos na obra de Deus. Ora, o texto
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CETADEB Teologia Pastoral i
acima deixa bem claro que todos podem ser aperfeiçoados para
trabalhar na obra de Deus.
Neste texto é possível observar o chamamento específico -
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres - e o
chamamento geral (os santos) para a obra de Deus.
Os ministérios de Efésios 4.11 são para o aperfeiçoamento
de todos os santos. A palavra grega para "aperfeiçoamento" é
katartismos que tem o sentido de "consertar", "remendar" ou
"aperfeiçoar". A melhor tradução seria "colocar em ordem os santos
para o desempenho do seu serviço".
Assim, num só texto é possível ver os ministérios específicos
de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, e o
ministério geral de todos os santos.
3.2. To d o s So m o s Min is t r o s De Je s u s
De maneira geral, todo cristão comprometido é um ministro
de Jesus, porque serve a Deus, indistintamente de títulos e de
reconhecimento dos homens. Para tanto, o crente o serve com os
dons naturais e com os dons sobrenaturais.
Os dons naturais estão listados em Romanos 12: "Tendo,
porém, diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada: se
profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério (serviço)
dediquemo-nos ao ministério (serviço); ou o que ensina esmere-se
no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui
com liberalidade; o que preside (lidera), com diligência; quem exerce
misericórdia, com alegria" (Rm 12.6-8 - acréscimos do autor).
Os dons sobrenaturais distribuídos pelo Espírito Santo aos
membros da igreja estão em 1 Coríntios 12.4-11. Palavra de
sabedoria, palavra de conhecimento, discernimento de espíritos,
dons de curar, operações de milagres, fé, profecia, línguas e
interpretação de línguas.
Cada pessoa pode "ministrar" ou servir a Deus a partir desta
capacitação espiritual. No entanto, é preciso acentuar que Deus
ainda chama algumas pessoas para ministérios específicos.
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CETADEB Teologia Pastoral I
4. Chamamentos Específicos
No ponto anterior o estudante entendeu que todos os
crentes são chamados para o serviço de Deus, e, portanto,
habilitados pelo Espírito Santo. Todos servem a Cristo no corpo, que
é a igreja, e entendeu também que, para alguns Deus tem um
chamamento especial, ou ofícios indicados por Jesus. Enquanto os
dons são para todos, o chamamento é para alguns.
Paulo refere-se a esse chamamento usando a expressão "a
uns Deus estabeleceu", indicando que entre muitos, alguns têm uma
vocação especial.
Logo que termina sua abordagem sobre os dons
sobrenaturais, concedidos a todos, Paulo afirma que "a uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo
lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de
milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas" (1 Co 12.28).
Nesse versículo, Paulo está afirmando que os dons estão
disponíveis a todos, mas que Deus estabelece alguns na igreja com
ministérios específicos.
Deus chama os que estão ocupados, exercendo seus dons
na igreja, e é aqui que cada pessoa precisa discernir quando Deus a
está chamando e incluindo-a no seleto grupo menor de que Paulo
fala. "A uns Deus...". Apesar de se trabalhar na obra como todos os
crentes, contribuindo com talentos, deve-se ficar atento para o
momento em que Deus chama especificamente uma pessoa para
alguma tarefa na igreja.
Às vezes é preciso deixar o emprego, dedicando-se
totalmente ao serviço (ministério) para o qual foi convocado, afinal
Deus continua falando a homens e mulheres, separando-os para o
ministério.
É preciso enfatizar novamente que o chamamento é
individual e a experiência de cada pessoa diferente da outra.
36

CETADEB Teologia Pastoral I
Tratando deste tema, o pastor Erwin Lutzer, da igreja Memorial
Moody em Chicago arriscou uma definição de chamado: "O
chamado de Deus é uma convicção interior, dada pelo Espírito Santo
e pelo corpo de Cristo" (Erwin Lutzer em De Pastor Para Pastor,
Editora Vida, p. 14).
Lutzer apresenta três parâmetros ou linhas seguras que
podem orientar e servir de baliza às decisões que um obreiro tomar:
Convicção interior; a ação do Espírito Santo; e a opinião dos
membros do corpo de Cristo. Estas três coisas serão analisadas a
seguir.
A convicção interior é importante, porque nenhum
obstáculo é grande o suficiente para impedir que uma pessoa
vocacionada se dedique integralmente ao serviço de Deus. Esta
convicção não pode ser fruto apenas das emoções, porque as
emoções vêm e vão.
Mas, quando a convicção vem por parte do Espírito de Deus,
as decisões são firmes e corretas. Uma pessoa convicta de seu
chamamento enfrenta os demônios e o inferno.
É aqui que a pessoa precisa contar com o terceiro elemento:
a opinião da igreja, pois a igreja é composta da totalidade dos
crentes que formam o corpo de Cristo, e esta percebe quando uma
pessoa tem o chamamento ou não para o ministério. Estes três
fatores citados por Lutzer - convicção interior, a voz do Espírito
Santo e a confirmação pelo corpo de Cristo - juntas são ótimas
balizas para que um obreiro tenha certeza do chamamento.
Muitos irmãos atendem ao pedido de consagração ao
ministério feito por pastores que apelam para as emoções dos seus
ouvintes, esquecendo-se que, sempre que só a emoção é ativada,
no decorrer dos anos alguns desistem.
Pelo fato de algumas pessoas serem movidas pela emoção,
certos líderes - entre eles Lutero e Spurgeon - não incentivavam
ninguém a entrar para o ministério da palavra. É possível tratar
deste tema evitando os extremos.
37

CETADEB Teologia Pastoral I
Charles H. Spurgeon precisava selecionar os candidatos que
vinham estudar em sua escola, e desabafou: "É sempre uma tarefa
difícil para mim, desanimar um jovem que solicita matrícula nesta
escola. Meu coração sempre se inclina para o lado mais bondoso,
mas o dever para com as igrejas me impele a julgar com severa
discriminação. Se me convenço de que o Senhor não o chamou, me
sinto obrigado a dizer-lhe isso" (SPURGEON, Charles H. In A
Transparência no Ministério (Edson Queirós), Editora Vida p. 31).
Certamente esses homens de Deus, na época em que
viveram tinham lá suas razões, e deve-se respeitar o que esses
servos de Deus pensavam quanto ao chamamento de obreiros, no
entanto, alguns são inclinados a pensar como Paulo que incentivava
os discípulos para o ministério. Ele escreve a Timóteo: "Fiel é esta
palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja" (1
Tm 3.1).
Alguns eruditos afirmam que naquela época já havia
pessoas interessadas no ministério como um emprego, contudo,
exercer o ministério nos primeiros séculos da era cristã era colocar a
vida em risco. Ninguém aspiraria o ministério por interesses
financeiros.
É possível que Paulo esteja afirmando que é importante
examinar a motivação do coração, porque ali pode estar um desejo
colocado por Deus.
Quando se estuda as cartas de Paulo a seu discípulo
Timóteo, pode-se ver no colaborador um moço tímido e calado, a
ponto de Paulo animá-lo com tantas palavras. “Não te faças
negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido
mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério" (1 Tm
4.14).
No decorrer do curso, este texto será examinado com maior
profundidade. Na próxima lição o aluno estudará sobre o
chamamento e a obra de Deus, e o assunto ficará ainda mais claro
diante de seus olhos.
38

CETADEB Teologia Pastoral I
Questão para reflexão: Estou me precipitando ao tomar a
decisão de abandonar tudo a favor do ministério, ou pesei os prós e
contras, ponderando atentamente sobre cada aspecto de minha
vida? Entendo, perfeitamente que o chamamento de Deus para
minha vida não pode fugir ao seu propósito eterno?
Centralidade da reflexão: Lucas 14.25-33. Jesus nos ensinou
que temos de calcular o custo de um empreendimento.
Atividades - Lição I
> Marque "C" para Certo e "E" para Errado
1) □ Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é a
tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa
servir.
2) 0 Basicamente, ministro é alguém que é servido, e não quem
serve.
3) O A palavra grega traduzida como ministro é "liturgo"
(leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que não dispõe de
recursos próprios a serviço do reino ou da sociedade.
4) IE J Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para
servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a
alguns o Senhor dá um chamamento especial.
5) 0 3 Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os
demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao
chamado de Deus.
□6) LU Deus chama os que estão ocupados.
39

CETADEB Teologia Pastoral I
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CETADEB Teologia Pastoral I
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CETADEB Teologia Pastoral I
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CETADEB Teologia Pastoral I
O Chamamento E A Hora De Deus
N
esta lição estudaremos sobre o
chamamento pessoal e específico,
buscando entender o momento certo de
tomar decisões, já que qualquer decisão
ministerial traz a reboque conflitos
pessoais, que se não forem bem
administrados, deixarão marcas para toda a vida.
O momento de agir, de tomar uma decisão, de abandonar o
emprego ou de deixar de seguir uma carreira profissional, como
pôde ser visto no capítulo anterior requer convicção, direção do
Espírito Santo e apoio da igreja.
Resumindo, é preciso tomar uma decisão, e a igreja, ou os
irmãos em Cristo da congregação podem ajudar o obreiro nesta
tarefa. Sem a ajuda dos irmãos pode-se até duvidar do
chamamento. Quanto tempo uma pessoa deve esperar para
avançar. O que fazer?
O aluno poderá tirar lições preciosas de homens de Deus,
observando a maneira como reagiram diante de um chamamento
divino. Também verá os critérios utilizados pelos apóstolos para o
ministério na Casa de Deus. Este tema, portanto é imprescindível a
todo o que quer servir ao Senhor.
1. Ob s e r v a n d o O Co m p o r t a m e n t o De Al g u n s Ho m e n s
De De u s
Dentre os muitos casos da Bíblia, o aluno verá o
chamamento de Davi, no Antigo Testamento, e o de Paulo, no Novo
Testamento, de cujas vidas tirará preciosas lições. Na vida destes
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CETADEB Teologia Pastoral I
dois homens de Deus percebe-se a existência de um período de
transição e de espera entre o chamamento e o cumprimento da
chamada, e o que o aluno aprender à luz da vida deles servirá de
ajuda, evitando que cometa enganos, seja apressando-se a cumprir
logo a missão ou demorando a cumpri-la.
Na lição anterior, estudou-se o chamamento específico de
Davi para ser rei e pastor de Israel. Agora, quer se destacar que
entre o chamamento, quando foi ungido por Samuel até o dia em
que foi colocado como rei de Israel, tomando posse definitiva como
rei, passaram-se vinte e um anos. Conforme a cronologia bíblica, ele
foi ungido rei em 974 a.C., e tomou posse do reino em 953 a.C.
1.1. A Pa c iê n c ia E Re s p o n s a b il id a d e De Da v i
Depois de ungido rei de Israel, Davi voltou para o campo
cuidar das ovelhas de seu pai e esperou em Deus que se encarregou
de colocá-lo no palácio de Saul. Qualquer pessoa, no lugar de Davi
quereria se proclamar rei de Israel no dia seguinte, mas não foi o
que fez Davi. É isso que se vê nos registros de 1 Samuel 16 e 17.
Tempos depois, quando Saul começou a ter ataques
malignos, foi recomendado por seus servos a ouvir um pouco de
música, e ele imediatamente ordena: "Buscai-me, pois, um homem
que saiba tocar bem e trazei-mo". "Casualmente" um dos moços
que servia a Saul no palácio conhecia Davi e o recomendou ao rei.
Assim, Deus tira Davi do campo e o coloca no palácio.
Davi sempre esperou o movimento de Deus. Pelo que se
depreende das escrituras, ele cumpria sua tarefa na casa de Saul e
regressava para o campo de Belém. "Davi, porém, ia a Saul e voltava
para apascentar as ovelhas de seu pai, em Belém" (1 Sm 17.15). Ao
estourar a guerra entre os filisteus e o povo de Israel, Davi foi
enviado por Jessé ao fronte da guerra para levar alimentos aos seus
irmãos e saber notícias deles.
Nesse momento, Deus deu o próximo passo e tornou Davi
famoso em toda a nação ao permitir que Davi enfrentasse e
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CETADEB Teologia Pastoral I
vencesse Golias, que durante quarenta dias ameaçava o exército de
Israel (vv. 16 e 23).
Essa passagem bíblica permite perceber que quando Deus
chama, também toma as providências e toma a iniciativa. O mais
difícil para qualquer pessoa é aprender a esperar o próximo
movimento de Deus. Ninguém deve se apressar e sair à busca de
cargos e posições.
Dois episódios na vida do jovem Davi mostram seu alto grau
de responsabilidade. Antes de tomar a estrada para levar pães e
queijos a seus irmãos que estavam no fronte da batalha com os
filisteus, ele deixou as ovelhas aos cuidados de um ajudante. E
quando chegou onde seus irmãos estavam, deixou o material que
levava com o guarda da bagagem.
Estes dois versículos evidenciam a importância do obreiro
ser responsável naquilo que lhe é confiado. "Davi, pois, no dia
seguinte, se levantou de madrugada, deixou as ovelhas com um
guarda, carregou-se e partiu...” (1 Sm 17.20) e "deixando o que
trouxera aos cuidados do guarda da bagagem, correu à batalha: e,
chegando, perguntou a seus irmãos se estavam bem" (1 Sm 17.22).
Em nenhum momento Davi descuidou-se de suas
responsabilidades. Seguindo o exemplo de Davi, o obreiro deve
permanecer fiél sendo responsável com o que lhe é confiado.
Se nas atividades do dia-a-dia da obra do Senhor, na igreja,
no emprego e com a família ele não mostrar responsabilidade, não
estará apto para o ministério ou serviço cristão. Deus o observa
para certificar-se de que é responsável, pois apenas estes são aptos
ao chamamento divino.
Na parábola dos talentos, Jesus conta que um dos homens
recebeu cinco talentos, outro, dois e o terceiro apenas um talento,
"segundo a sua própria capacidade” (Mt 25.15). Neste texto Jesus
dá a chave para o sucesso ministerial: capacitação e
responsabilidade. Quando alguém demonstra responsabilidade
habilita-se a receber responsabilidades ainda maiores.
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CETADEB Teologia Pastoral I
1.2. Pa u l o: Ex e m p l o De Es p e r a
Depois de seu encontro com Deus na estrada de Damasco,
Paulo precisou aprender a esperar que Deus guiasse seus passos, e
esperou o momento de agir. Ele mesmo dá a entender que logo
depois de sua conversão não subiu imediatamente para os
apóstolos em Jerusalém; tomou a direção contrária, indo para as
regiões da Arábia retornando depois para Damasco (Gl 1.15-17).
Apesar da convicção de que fora chamado por Deus para ser
pregador aos gentios, Paulo não se apressou a fazer parte do círculo
de apóstolos de Jerusalém, antes se retirou para o deserto e
somente três anos depois subiu para Jerusalém (Gl 1.18-24 e At
9.26-30), até porque os apóstolos que estavam em Jerusalém
desconfiavam de sua conversão, e evitavam encontrar-se com ele.
Na primeira viagem a Jerusalém depois de convertido,
somente Barnabé o acolheu como discípulo de Cristo. Este o
apresentou aos demais apóstolos, mas devido a ameaças de
perseguição contra a igreja os apóstolos recomendaram a Paulo que
fugisse de Jerusalém, o que ele fez voltando para sua cidade natal,
e, ao que parece, continuou com fabricação de tendas para poder
se sustentar.
O próximo movimento de Deus na vida de Paulo ocorreu
novamente através de Barnabé. Este "Filho da Exortação" foi
enviado pelos apóstolos para cuidar de uma emergente igreja
gentílica em Antioquia, e sentiu que Paulo poderia ser de grande
ajuda, por isso, “partiu Barnabé para Tarso à procura de Saulo; e
tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia" (At 11.25-26).
Na cidade de Antioquia, Paulo ficou esperando o próximo
movimento de Deus. Depois de servir humildemente ao Senhor, ao
lado de Barnabé durante um ano inteiro, o Espírito Santo o chamou
para pregar aos gentios.
O encontro de Paulo com Deus e seu chamamento não
encontram paralelo no Novo Testamento, isto é, não há registro de
algo semelhante, no entanto, apesar da grande experiência de
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CETADEB Teologia Pastoral I
conversão e chamamento - tudo num só pacote - não se apressou.
Além dos três anos na Arábia, Paulo residiu algum tempo em
Damasco e dali partiu para sua cidade natal, Tarso. Quando Barnabé
saiu à procura dele encontrou-o em Tarso, certamente não só
trabalhando, mas também estudando as escrituras, o que era
comum fazerem os rabinos daquela época.
Estes dois exemplos bíblicos são evidências de que entre o
chamamento e o desenvolvimento da missão, muitas vezes, é
necessário esperar em Deus, enquanto se cumpre com as
responsabilidades sociais, trabalhando, cuidando da família, etc.
Esta é a melhor espera.
Além dos exemplos de Davi e Paulo aqui citados, o
estudante, a seguir, verá alguns exemplos do Novo Testamento,
tentando identificar neles alguns critérios que os líderes apostólicos
usaram para identificar os irmãos que tinham a chamada de Deus
para o ministério.
Os apóstolos se depararam com a necessidade de
estabelecer critérios para identificar e constituir no serviço de Deus
ou ministério as pessoas que tinham um chamamento divino.
2. Critérios Usados Pelos Apóstolos
Estudando o Novo Testamento, percebe-se que os obreiros
e os envolvidos no serviço do Mestre eram pessoas da comunidade
local, isto é, exerciam algum tipo de atividade na cidade onde
moravam, e passavam a exercer seu ministério tendo como base,
primeiramente, a igreja da cidade.
Com exceção dos doze apóstolos, de Paulo e de Apoio,
todos os demais obreiros referidos no Novo Testamento eram
pessoas conhecidas na própria cidade onde a igreja se estabelecia.
Ao que parece, os pais apostólicos perceberam a necessidade de
estabelecer alguns critérios na escolha dos obreiros, como veremos
a seguir.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2 .1 . Ra íz e s Co m u n it á r ia s
O estabelecimento de critérios surgiu bem no começo da
igreja quando os apóstolos tiveram que decidir quem ocuparia o
lugar de Judas, o traidor, completando o número de doze apóstolos.
E estabeleceram um critério: Deveria ser alguém que
conhecesse a Jesus desde o dia quando este foi batizado, e que
tivesse acompanhado a vida de Jesus até o dia em que subiu ao céu.
"É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o
tempo que o Senhor Jesus andou entre nós começando no batismo
de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um
destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição" (At 1.21).
Dois nomes foram sugeridos: José e Matias. Estes dois
preenchiam os requisitos apostólicos porque acompanharam o
ministério de Jesus desde o batismo de João, e por conhecerem a
Jesus tanto tempo, preenchiam o primeiro critério, habilitando-se a
serem incluídos no rol dos doze apóstolos.
Anos mais tarde, os apóstolos usaram critérios semelhantes
para indicar quem deveria acompanhar a Paulo e a Barnabé, logo
após o Concílio da igreja em Jerusalém, para evangelizar os gentios,
e escolheram Judas e Silas para acompanharem a Paulo e a Barnabé
na missão de orientar os novos cristãos quanto às decisões tomadas
no Concílio (At 15.26-27). Novamente estabeleceram um critério:
"Homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo" (At 15.26). Estes dois, "que eram também profetas,
consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram" (At
15.26,32).
Fica evidente, portanto, que José (Judas) e Silas foram
contemporâneos de Jesus, e preenchiam os requisitos: deveriam
conhecer Jesus desde que começou seu ministério ao ser batizado
por João.
Isto é o que se convém chamar de "raízes comunitárias",
isto é, pessoas que eram conhecidas de todos os habitantes de um
determinado lugar.
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CETADEB Teologia Pastoral I
2.2. Qu a l id a d e s Es p ir it u a is E Ca r á t e r
Quando a igreja precisou escolher seus auxiliares, os
apóstolos estabeleceram os parâmetros de conduta: Deveriam ser
"homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria" (At
6.2-3).
É importante ressaltar que das qualidades acima, a
reputação é a única que não se adquire numa semana, adquire-se
durante os anos de vivência numa localidade. Os frutos de uma
pessoa não aparecem logo que ela se converte. Uma série de
fatores pode ajudar a entender se uma pessoa frutificou ou não.
Quando se é jovem, querendo entrar no ministério, mas não
se tem raiz comunitária, o melhor que a pessoa pode fazer é
permanecer numa igreja local, numa cidade e ali criar raízes. Deve
ser discipulada a Cristo, trabalhar para ganhar o sustento, criar
reputação, e só então, estará qualificada para o ministério.
Barnabé foi escolhido para cuidar da recém formada igreja
de Antioquia porque apresentava a qualidade espiritual necessária:
"porque era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé" (At 11.22-
24).
Não apenas isto: ele tinha bom testemunho na cidade de
Jerusalém. "José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de
Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre,
como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou
aos pés dos apóstolos" (At 5.36-37).
Barnabé tinha raízes em Jerusalém, era conhecido por seu
caráter, por ser um homem bom e cheio do Espírito Santo. Tinha
raiz comunitária.
2.3. Bo m Te s t e m u n h o
A palavra pedigree serviria para identificar a qualidade dos
obreiros, não fosse ela uma palavra usada para identificar a
qualidade ou raça de animais. Mas aqui, é usada, sem querer ferir a

CETADEB Teologia Pastoral I
dignidade de ninguém, para mostrar que os obreiros escolhidos no
Novo Testamento eram homens e mulheres de qualidade de vida
inquestionável.
Traduzindo para os dias de hoje, tinham CPF, ID e não
constavam na lista dos devedores da cidade, ou seja, tinham
pedigree. Este pedigree pode ser visto em duas pessoas que
acompanharam os apóstolos em suas viagens: Timóteo e João
Marcos.
Paulo viu no jovem Timóteo um potencial para a obra de
Deus. "Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia
crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos
em Listra e Icônio" (At 16.1-2 - grifo do autor).
Timóteo tinha bom testemunho das pessoas da cidade, isto
é, raízes na cidade onde crescera, e os irmãos de Listra e de Icônio o
recomendaram a Paulo. Esse "bom testemunho" é o pedigree do
obreiro.
João Marcos era um jovem que se envolveu desde cedo na
obra de Deus. Na casa dele em Jerusalém, a igreja se reuniu durante
a ferrenha perseguição que resultou na morte de Tiago (At 12.12).
Quando o Espírito Santo enviou a Barnabé e a Saulo para os
gentios, João Marcos viajou com eles pregando o evangelho (At
13.5). A escritura não nos diz por que Marcos abandonou a Paulo e
Barnabé, voltando para Jerusalém (At 13.13), atitude gerou uma
séria desavença entre Paulo e Barnabé que se dali em diante se
separam também (At 15.36-40). Mas João Marcos, apesar de tudo,
não desistiu, e é visto ajudando a Paulo quando este está no fim da
vida (Cl 4.10 e 2 Tm 4.11).
Pelo que se pode observar, João Marcos possui uma
identificação com a igreja e os apóstolos, porque desde menino
acompanhou as atividades de Jesus, residindo em Jerusalém, onde a
igreja se reunia na casa dele.
Através da atividade na igreja local os jovens obreiros
podem criar raízes e serem observados no serviço ao Senhor. Os
apóstolos levavam a sério esse detalhe.
50

Teologia Pastoral I
Os obreiros por eles escolhidos eram homens conhecidos
também em suas cidades. Um líder local conhece os costumes e o
jeito de ser do povo. Ele consegue evangelizar e treinar discípulos
porque tem relacionamentos na cidade.
Conhece o barbeiro, o funcionário dos Correios, o dono da
loja, o gerente do Banco, o dono da sapataria, o garçom, o dono do
restaurante, o diretor da escola de seus filhos, o delegado, o
prefeito, etc. Ele é gente do povo, da cidade, e através dos seus
relacionamentos que pode levar muitos a buscarem a Deus.
3. Vida De Trabalho
Outro aspecto que deve ser seriamente considerado no
chamamento, é que Deus não vocaciona preguiçosos. Ele chama os
mais ocupados. Através de uma vida de serviço, o obreiro dá
testemunho de que é trabalhador e passa a ser observado pelo
pastor e pela igreja.
É na vida congregacional que se aprende a servir a Deus e
aos irmãos. Todos os que foram chamados por Deus para alguma
missão no Antigo ou Novo Testamento estavam ocupados em
alguma atividade profissional. Deve-se ter em mente Moisés que
pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro quando Deus o atraiu na
sarça ardente (Ex 3.1).
Outro exemplo é de Gideão que estava malhando o trigo -
que certamente acabara de ceifar - quando o anjo do Senhor o
encontrou e o chamou (Jz 6.11). Davi cuidava das ovelhas de seu
pai, quando foi chamado para ser ungido rei de Israel (1 Sm 16.11).
Eliseu arava o campo à frente de doze juntas de bois,
quando Elias o encontrou jogando sobre ele seu manto (1 Rs 19.19).
Amós trabalhava como boieiro e colhedor de sicômoros, quando foi
chamado (Am 7.14). Pedro, Tiago e João, pescadores, lançavam as
redes, quando o Senhor Jesus os chamou (Lc 5.1-10).
Mateus recebia os impostos, quando foi chamado a seguir a
Jesus (Lc 5.27-28). Paulo, a serviço dos sacerdotes, perseguia e
prendia os discípulos de Jesus, e fabricava de tendas (At 8.3; 18.3).
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CETADEB Teologia Pastoral I
Tudo isso pode ser resumido numa frase: Deus não chama os
preguiçosos.
4. Vida De Submissão
Ainda outro aspecto é o da submissão à autoridade. O texto
bíblico "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores;
porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que
aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os
que resistem trarão sobre si mesmos condenação" (Rm 13.1-2), é
peça-chave para entendermos que a questão da submissão à
autoridade abrange todas as áreas da vida de uma pessoa, não
apenas a vida espiritual.
Quando alguém não aprendeu a submeter-se aos pais, ao
professor e ao patrão, terá sérias dificuldades em submeter-se
também ao seu pastor e ao Espírito Santo. Deus não espera de seus
servos apenas obediência irrestrita, mas também o
desenvolvimento de um espírito de submissão.
Quando isto não acontece, a pessoa terá muita dificuldade
em relacionar-se com os demais colegas de ministério. As heresias
que surgiram no seio da igreja desde os primeiros séculos, têm aí
suas raízes; vieram por pessoas que não souberam ouvir os mais
velhos nem se submeteram às autoridades da igreja.
É importante que os obreiros que viajam e têm um
ministério itinerante, também estejam debaixo da autoridade de
um obreiro mais antigo e experimentado na obra de Deus. O
ministério itinerante é quando o obreiro não se fixa no trabalho de
uma igreja local, mas viaja constantemente de um lugar a outro
pregando a palavra de Deus.
É preciso, portanto, deixar uma palavra àqueles que
decidem por este tipo de ministério que só é duradouro e eficaz se
o ministro estiver submisso à autoridade de um ministério, de outro
pastor ou da igreja onde é membro, do contrário poderá ser
questionado.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Há muitos pregadores sem referencial congregacional, que a
ninguém prestam contas, seja ao pastor da localidade, ao ministério
da igreja, ou à sua ordem de ministros, buscando uma oportunidade
de pregar nas igrejas sem a devida autoridade de alguém que lhe
seja superior.
Todo pregador ou ministro que opta por um ministério
itinerante tem que necessariamente ter o respaldo de um
supervisor e de uma igreja na cidade de origem. Certos obreiros
itinerantes pressionam igrejas e pastores para que os recebam em
suas igrejas, no entanto, como já foi mencionado, o verdadeiro
homem de Deus não precisa fazer pressão à cata de espaço para
pregar a palavra de Deus, porque o verdadeiro servo está sempre
com a agenda lotada.
Estes devem examinar a fundamentação de seu ministério à
luz do ensino do Novo Testamento, especialmente nas cartas de
Paulo, criando raízes na cidade antes de se aventurarem na obra.
Ainda que o chamado do obreiro seja para o ministério
itinerante, necessário se faz que crie raízes na igreja local,
submetendo-se a um ministério, presbitério ou concílio que apóie e
ore a seu favor. Trata-se de cobertura espiritual. Nenhum homem
de Deus vive só. A solidão é a ruptura pela qual o Diabo seduz o
melhor homem de Deus. Prestar contas a alguém é fundamental
para o sucesso ministerial.
5. Conselhos Práticos Aos Obreiros.
Finalizando este tema, duas orientações são importantes
aos novos obreiros do Senhor.
Não se deve buscar resultados imediatos. Os frutos de um
ministério só serão vistos anos depois, e não de imediato como
tantos anelam ver. Certas semeaduras produzem com rapidez,
como o feijão, o arroz e o trigo - rapidamente colhidos e
consumidos, e precisam ser plantados ano após ano; mas,
determinadas árvores demoram anos para que seus frutos
apareçam, e depois frutificam regularmente a cada estação do ano.
53

CETADEB Teologia Pastoral I
A videira produz uva todos os anos, seus ramos velhos e
retorcidos - alguns com quase um século de vida brotam
sistematicamente, de quando em quando, e a safra de seus vinhos
são sempre as melhores. É possível ver velhas oliveiras dando
frutos, e videiras ainda frutificando. Assim deve ser o ministério.
Produzem-se frutos ao longo de toda a vida.
Deve-se colocar no coração o desejo de desenvolver um
ministério que influencie positivamente a geração em que se vive,
sem se deixar impregnar pela nódoa da mentira, da falsidade, do
egoísmo, da inveja, do adultério, da prostituição e do amor próprio.
Do contrário, o ministério será como o fruto azedo de uma
árvore que não pode ser apreciado, mas lançado fora. É necessário
marcar a geração da qual se faz parte, isto é, marcar a vida daqueles
que andam e vivem lado a lado, tornando-se conhecido como planta
frutífera que produz fruto apreciado por todos.
Logo, não se deve ter pressa. O mesmo Deus que chama,
dará a recompensa.
Não se deve fazer do ministério um emprego. O ministério
exige do obreiro renúncia a toda ganância material. Equivoca-se o
obreiro que pensa em enriquecer pela via ministerial,
demonstrando que não entendeu o chamamento divino nem a
dimensão do propósito de Deus. Os dons que Deus concede ao
obreiro não têm como objetivo o benefício próprio, mas a
edificação dos outros.
A vida ministerial é de despojamento contínuo; é uma vida
de entrega diária, de morte, de negação do eu, das riquezas e da
fama. Trilhar pelo caminho ministerial pensando em
enriquecimento é um grande equívoco.
Aliás, viver a vida cristã, independentemente de ser um
ministro do evangelho ou não, pensando em enriquecimento, é um
desvio do propósito de Cristo e de seu evangelho; é andar na
contramão de Deus, pois todo crente deveria obedecer ao
evangelho de Cristo, fugindo da ganância, do desejo de se
enriquecer, e viver a vida cristã dentro dos moldes do evangelho.
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CETADEB Teologia Pastoral I
A teologia da prosperidade não encontra respaldo nos
ensinamentos de Cristo. Há uma prosperidade que vem pelo
evangelho, e por ela o cristão é contemplado enquanto vive.
O ministério não terá base, se o obreiro não estiver
alicerçado na vida da igreja local, se não estiver submisso a pastores
ou aos órgãos da igreja, se não estiver fundamentado nas escrituras
e no ensino apostólico. Esses parâmetros, certamente servirão de
orientação à vida ministerial.
Questão para reflexão: A quem presto contas de minhas
atividades? Estou submisso a alguém, ou sou totalmente
independente?
Centralidade da reflexão: A submissão e a prestação de
contas são fundamentais para o crescimento do obreiro. Leve-se em
conta que toda independência e rebelião têm sua origem em
Satanás, e que a obediência tem sua origem em Jesus Cristo.
A Preparação Para O Ministério
N
esta lição o estudante terá
esclarecimentos de como uma pessoa
pode se preparar para o ministério,
desempenhando a tarefa que lhe foi por
Deus designada agindo com sabedoria,
prudência e plena de capacitação.
A preparação para o ministério pode ser bastante
diversificada. No passado, quando não havia treinamento teológico
em escolas bíblicas, cursos por correspondências, seminários e
afins, algumas igrejas reuniam pessoas de diversas cidades e
realizavam seminários intensivos para capacitá-las como obreiros
para o ministério.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Hoje as facilidades do mundo das comunicações agilizaram
o processo desse aprendizado bíblico através de livros
especializados no tema, de programas de rádio, de televisão e da
Internet.
Não importa o meio utilizado, o mais importante é ter em
mente que, por ser o ministério uma honra e privilégio outorgados
por Deus o obreiro precisa fazer sua parte preparando-se
academicamente para o exercício do ministério.
1. A Preparação
Preparar-se não é desperdiçar tempo nem dinheiro. João
kolenda, costumava ilustrar o tempo gasto por um aluno em seus
estudos, a alguém que afia o machado antes de entrar na floresta
para cortar árvores. Enquanto os outros lenhadores cortam poucas
árvores, o que afia seu machado ainda os alcança, tempos depois e
os supera no trabalho. O tempo que se gasta na preparação não
tempo jogado fora. Joga-se fora o tempo de outras maneiras, mas
nunca se dedicando ao estudo e a oração.
O obreiro deve se preparar para servir a Deus oferecendo-
lhe o melhor de seu tempo e de sua vida, porque quer trabalhar
para Deus. Ele se prepara sem se preocupar com os títulos e cargos
na igreja. Ele tem em mente Deus e sua obra.
Os títulos nem sempre mostram o peso e a envergadura do
ministério - por isso não se deve cobiçá-los nem nutrir por eles
grande apreço. Quando se é jovem anela-se os títulos porque eles
dão uma falsa noção e posição de governo e autoridade, mas ao
longo dos anos descobre-se que o que concede autoridade e poder
ao obreiro é a comunhão diária com Deus e os frutos do ministério.
Isto pode ser confirmado pela experiência de Paulo.
Paulo, logo que começou seu ministério, ao que parece,
queria ser reconhecido como os demais apóstolos que andaram
com Jesus, por isso defendia e se empenhava em ter seu
chamamento reconhecido, uma vez que muitos irmãos não o
reconheciam como apóstolo.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Ele se defendia argumentando: “Porque suponho em nada
ter sido inferior a esses tais apóstolos" e "eu sou apóstolo dos
gentios" (2 Co 11.5; Rm 11.13). Depois, no decorrer dos anos, Paulo
não mais se interessou pelo que os homens pensavam dele, mas
com a opinião de Deus a seu respeito.
Ser um apóstolo não era mais motivo de orgulho, e sim de
desprezo. "Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os
apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte;
porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a
homens" (ICo 4.9).
Que contraste com os que se dizem apóstolos nos dias
atuais. Mais tarde, Paulo afirma ser "o menor dos apóstolos" (1 Co
15.9). Imagine o homem que recebeu de Jesus, nos céus, a
revelação do "mistério oculto", não queria se sobressair sobre os
demais.
E finalmente, não reivindica direito algum, apenas
reconhece sua real condição: "Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (lTm 1.15).
Tratando do ministério e da grandeza do chamamento, o
comentarista Mathew Henry, (Mathew Henry's Commentary,
Zondervan Publishing House, p 1821), dissertando sobre o texto de
1 Coríntios 14.1-6, escreveu:
"É nossa opinião de ministros, que deveríamos evitar os
extremos. Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são
ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas
servos de Cristo e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão,
pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e
designando tarefas aos demais. Veja, é um grande abuso querer ser
senhor dos servos, quando se é também servo, e exigir que se
obedeça à sua autoridade. Pois os apóstolos não passavam de
servos de Cristo, empregados dele, por ele enviados para serem
despenseiros dos mistérios de Deus; mistérios que estavam
guardados por gerações. Não arrogavam ter autoridade querendo
dominar sobre os demais, apenas proclamavam a mensagem de
Cristo."
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CETADEB Teologia Pastoral I
Tendo em vista os comentários de Henry, pode-se afirmar
que o ministério é um chamamento especial com o fim de se levar
adiante o propósito de Deus na terra. O obreiro é chamado para
representar a misericórdia, o amor, a graça e a justiça divina, isto é,
representar a Deus na terra, como embaixadores dele. "De sorte
que somos embaixadores em nome de Cristo" (2 Co 5.20).
O embaixador, sempre que fala, pronuncia-se em nome de
seu presidente ou do rei. O obreiro representa a Jesus na terra.
Deus valoriza o homem, por seu coração quebrantado, humildade e
obediência, e não pelo título. "O obedecer é melhor do que
sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros" (1 Sm
15.22).
O que torna nobre o ministério não são as posições nem os
cargos que se galgam no meio denominacional - conseguido às
vezes por meios discutíveis - mas a verticalidade da comunhão com
Deus e a execução dos propósitos divinos na terra.
Portanto, uma pessoa não deve se preparar para o
ministério visando a um título ou a um cargo; mas deve preparar-se
para Deus.
Neste sentido, sempre é bom manter viva a chama do
chamamento e ter em mente as palavras de Paulo: "Toda a
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra" (2 Tm 3.16-17).
2. Mantendo O Vigor Profético Do Chamamento
Para que o chamamento ministerial não arrefeça e diminua
diante das dificuldades, o obreiro deve manter o foco da visão e os
olhos fitos em Deus, sem jamais esquecer seu chamamento. Paulo
afirmou: "Sou grato para com aquele me fortaleceu, Cristo Jesus,
nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o
ministério" (1 Tm 1.12). Paulo se fortalecia em Cristo Jesus.
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CETADEB Teologia Pastoral I
É até possível que as atividades da igreja sufoquem o vigor
da chamada, especialmente quando o serviço se torna uma rotina,
ou quando se tenta "abraçar" tudo o que vêm à mão. Paulo teve
que lembrar a Timóteo do chamamento que tivera: "Este é o dever
de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que
antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom
combate" (1 Tm 1.18).
Timóteo precisava refletir sobre a ocasião em que recebeu
imposição de mãos com profecias; e, certamente, através das
profecias Deus lhe falou.
As profecias podem fazer parte do chamamento de uma
pessoa. Uma palavra profética proferida por alguém que nunca viu
aquela pessoa antes, alguém que esteve na cidade ou na igreja de
passagem, ou proferida pelos líderes locais, serve de confirmação
ao que Deus de antemão vinha falando ao coração.
Refletir sobre as profecias revigoram o chamamento. O
obreiro haverá de se lembrar de alguma profecia, visão ou sonho
que confirmou seu chamamento para o ministério.
"Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu
progresso a todos seja manifesto" (1 Tm 4.15), disse Paulo a
Timóteo. O sentido de "diligente", conforme o dicionário é de
alguém zeloso, cuidadoso; vigilante e atento.
Quando se medita no que Deus falou ao coração, o espírito
se revigora e o chamamento volta a ficar aquecido. E, ao que tudo
indica, o próprio Paulo impôs as mãos sobre Timóteo e sobre ele
profetizou, pois adverte novamente: "Por esta razão, pois, te
admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição
das minhas mãos" (2 Tm 1.6).
A seguir, o estudante terá algumas orientações que o
ajudarão a manter acessa a chama do chamamento.
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CETADEB Teologia Pastoral I
3. Cuidando Da s Disciplinas Do Espírito
A maior parte dos teólogos acredita que o ser humano é
tripartite, isto, cada um de nós tem corpo, alma e espírito; e o
"homem interior" de que a Bíblia fala situa-se na área do espírito.
O corpo é a parte exterior; a alma, a vontade, emoção e
intelecto. Portanto, cultivar o espírito significa ir além da esfera da
alma. Como cultivar o homem interior? Paulo afirmou: "O mesmo
Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo
sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.23).
É no espírito do homem, em seu ser homem interior, que é
cultivada a comunhão com Deus. Neste versículo, Paulo usa três
palavras gregas distintas: pneuma, que é sopro ou vento e refere-se
ao espírito; psique, aqui traduzida como alma (mente); e soma que
é a palavra grega para corpo.
Um dos elementos do homem interior é a consciência.
Quando o espírito é purificado ou limpo, a pessoa tem uma "boa
consciência". O escritor da carta aos Hebreus exorta os crentes a
terem uma consciência purificada. "Aproximemo-nos, com sincero
coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má
consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10.22 - grifo do
autor).
Outros textos que tratam sobre o tema estão em Hebreus
13.18, ensinando a ter boa consciência. 1 Pedro 2.19 exorta o crente
a ter boa consciência para com Deus, e 1 Pedro 3.16 fala em viver
sem problemas de consciência diante da sociedade.
Aqueles que ensinam a palavra de Deus e lidam com
pessoas devem demonstrar o conhecimento de Deus na terra,
encarando as questões da vida interior como tema de
transcendental importância, porque o cultivo da vida interior é que
determinará o sucesso do ministério na terra.
Evelyn Underhill no início do século vinte disse: “É requisito
básico que um ministro de Deus mantenha sua vida interior em
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CETADEB Teologia Pastoral I
perfeito estado de saúde. Sua comunhão diária com Deus deve ser
sólida e verdadeira. Creio que o ministro deve ter em mente, de
forma clara, plena de riqueza e profundidade a majestade e
esplendor de Deus; depois contrastar seu interior, sua alma, com
esse magnífico esplendor. Logo, possuir clareza quanto ao tipo de
vida interior que seu chamamento requer." (UNDERHILL, Evelyn,
Concerning the Inner Life of the House of the Soul (Tratado da Vida
Interior e da Casa da Alma), London: Methuen & Co. Ltd. 1926).
Por certo, a autora, referia-se à experiência de Isaías que viu
contrastada na glória de Deus o negrume de seu pecado e de sua
vida interior.
3.1. Cu l t iv e O Te m o r A Deu s
0 temor a Deus mantém o obreiro afastado do pecado,
mantém o espírito limpo e permite ao homem viver uma vida de
intimidade com o Senhor. "A intimidade do Senhor é para os que o
temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança" (SI 25.14).
Este texto de Salmos mostra que a intimidade com Deus
vem pelo temor. "É para os que o temem". Quando o obreiro perde
o temor de Deus - e passa a tratar o ministério de maneira vulgar,
técnica, profissional e empregatícia - perde também o referencial
de seu chamamento que é a comunhão com Deus.
O caminho para a intimidade com Deus passa pelo temor a
Deus, pois é a única coisa que o mantém afastado do pecado. Por
que as pessoas vivem em pecado? Porque perdem o temor a Deus.
Paulo aborda extensamente este tema. "Para que, segundo
a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com
poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Ef 3.16),
indicando que o fortalecimento e aperfeiçoamento do homem
interior é realizado única e exclusivamente pelo Espírito Santo.
Pedro orienta as irmãs a não cuidarem apenas do seu exterior, mas
a adornarem o seu interior (1 Pe 3.4).
As disciplinas espirituais mantêm o espírito, a alma e o
corpo purificados. "Tendo, pois, ó amados, tais promessas,
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CETADEB Teologia Pastoral I
purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito,
aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Co 7.1).
Recomenda-se que este tema seja estudado com maior
profundidade, pois dele depende a vida ministerial.
Algumas frases curtas, de homens de Deus no passado
ilustram a importância de se cultivar o temor a Deus. O temor a
Deus livra o homem de ser violento. Essa foi a dedução de Abraão
(Gn 20.11). O temor do Senhor é o começo de toda sabedoria (Pv
1.7). O temor leva sempre à sabedoria, isto é, ao próprio Deus (Pv
2.1-22). Quando o homem teme a Deus desvia-se do mal (Pv 3.7).
A escritura registra que Jó se desviava do mal, e foi essa
atitude que o manteve fiel a Deus (Jó 1.1). O temor a Deus mantém
o crente na rota certa.
O caminho para a intimidade com Deus passa por uma vida
de retidão e de justiça. Deus dá muito valor à vida interior do
homem. As palavras "intimidade" e "conhecer" na Bíblia são as
mesmas usadas quando a escritura trata do relacionamento sexual
entre homem e mulher. Homem e Deus relacionam-se intimamente
tal qual homem e mulher dentro da intimidade do casamento.
4. Cultive A Mente
É bom recordar que cada crente foi lavado, purificado pelo
sangue de Jesus e aperfeiçoado no homem interior, no entanto, se
não cuidar da mente, e a cultivar com coisas boas, ela se
contaminará e prejudicará o chamamento.
A psique ou mente, é a parte manifesta da alma, que é
composta de intelecto, vontade e emoções que precisam ficar sob o
controle do Espírito Santo. Com o intelecto o ser humano pensa,
analisa, reflete e assimila coisas boas ou ruins. Com a vontade, tem
o poder da decisão, de querer ou não. E com as emoções, ele ri,
chora, pula, alegra-se, se entristece, fica tomado de raiva, dá vazão
à ira, etc. Este é um tema que o estudante verá ao longo do curso.
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CETADEB Teologia Pastoral I
O intelecto, como um jardim, tem de ser cultivado. É preciso
alimentá-lo com boas leituras sejam de livros evangélicos ou
culturais.
Existe muita literatura de editoras não evangélicas que
tratam de temas cristãos. Romancistas como Sholen Asch, judeu-
polonês, que escreveu Moisés, Maria, o Apóstolo, o Profeta e o
Nazareno apresentam dados históricos e culturais que muito
edificam. Taylor Caldwell, romancista inglesa, que escreveu o
clássico Médico de Almas, que trata da vida de Lucas; e o Apóstolo,
falando de Paulo; e John Milton, escritor de O Paraíso Perdido, são
obras que ajudam a cultivar o intelecto, especialmente
recomendadas para o obreiro cristão.
E existem muitos outros autores. Todo obreiro do Senhor
deve manter a mente ocupada com boas leituras.
Paulo sabia que não podia depender de sua retórica e de
seu conhecimento para pregar a palavra de Deus, e sempre realizou
milagres e curas, e converteu tanta gente, unicamente pela
capacitação do Espírito Santo, mas Paulo conhecia muito bem a
literatura de sua época, falava hebraico, latim e grego
fluentemente, e testemunhou que fora educado aos pés de
Gamalliel, um dos maiores sábios da época.
Além de seu conhecimento bíblico, Paulo conhecia as leis
romanas e gregas que emergem aqui e ali nas páginas do livro de
Atos dos Apóstolos.
Conhecia a tradição hebraica, pois menciona Janes e
Jambres (2 Tm 3.8), e não conseguia ficar longe de seus livros e dos
pergaminhos (2 Tm 4.13). Ele cita o poeta Epimênides que viveu
quinhentos anos antes de Cristo (Tt 1.12), e podia discorrer sobre
qualquer tema de sua época.
Paulo escreve sobre o tema: “Transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). E mente aqui
neste texto não é psique, mas intelecto, do grego nous. Paulo está
afirmando que o intelecto também precisa ser renovado ou
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CETADEB Teologia Pastoral I
atualizado. Quantos obreiros ficam "ultrapassados" com o tempo,
exatamente por não renovarem suas mentes.
É evidente que quem faz a obra é Deus, mas o
conhecimento é o acessório necessário para a realização desta.
Serve-se a Deus com aquilo que é de Deus. Nada, a não ser o que é
dado por Deus pode ser usado no serviço do Senhor.
4 .1. Cu id a n d o Do s Pe n s a m e n t o s Ou Im a g in a ç õ e s
Através dos pensamentos entram coisas boas e ruins na
mente humana. Quando se dá vazão à imaginação pode-se cair num
mundo irreal e ser por ele tragado. Talvez por isto, Paulo pede que o
crente leve "cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e
estando prontos para punir toda desobediência" (2 Co 10.5).
Os pensamentos do obreiro devem ficar atrelados a Cristo,
em obediência a Deus. E que coisas devem ocupar seus
pensamentos? As demandas do apóstolo nesta área são muito
fortes.
Só devem ocupar os pensamentos o que for verdadeiro,
nobre, correto, puro, amável, de boa fama, e se nessas coisas
houver algo de excelente e de louvor (Veja o texto de Filipenses
4.8). É um desafio, para o obreiro ter a mente em Cristo (1 Co 2.16).
Levar todo pensamento à obediência de Cristo significa
subjugar a imaginação para que tudo que é mau, pernicioso, lascivo,
egoísta, imoral, errado e demoníaco fique rigidamente sob controle.
Vive-se hoje num mundo em que não adianta controlar as
pessoas com proibições, mas orientá-las a viver de maneira sadia,
por isso, uma das maneiras de conservar vivo o chamamento é a
santidade, mantendo a mente limpa, alimentando-a somente com
coisas que a edificam.
4.2. Cu id a n d o Da s Em o ç õ e s
Com as emoções choramos, rimos, pulamos, gritamos,
gememos, etc. Jesus também, só que ele controlava bem suas
emoções. Chorou, emocionou-se e irou-se quando foi preciso. Este
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CETADEB Teologia Pastoral I
controle emocional é recomendado por Tiago: "Seja pronto para
ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg 1.19).
Obreiros há que não cultivam a paciência, a sobriedade e o
equilíbrio, por isso perdem o controle por qualquer coisa. Como
obreiros, as emoções devem ficar sob o controle da "mente de
Cristo". Paulo fala a Timóteo que Deus "não nos deu espírito de
covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio" (1 Tm 1.7 - NVI) ou
moderação.
E, moderação ou equilíbrio vem da mesma palavra grega
para disciplina e autocontrole. Este tema será tratado com maior
profundidade quando for abordada a questão do equilíbrio entre
caráter e dons.
4 .3 . Cu id a n d o Do Co r p o
O corpo é a morada do Espírito. Existe a tendência de se
viver os extremos, menosprezando o corpo, por considerá-lo
pecaminoso, ou valorizando-o mais que a alma e o espírito.
Todo obreiro deve buscar o equilíbrio no trato com o corpo,
zelando por ele como o faz com a alma e o espírito, afinal, o corpo
faz parte de um todo conforme está explicdo neste capítulo.
Quando Paulo fala, “esmurro o meu corpo e o reduzo à
escravidão" (1 Co 9.27), não se refere ao corpo em si, como se
estivesse mutilando-se fisicamente, mas ao todo. Ele entendia que
todo o seu ser precisava ficar sob severa disciplina. Existem ocasiões
em que o corpo precisa ser dominado para alcançar a recompensa.
Nos versículos anteriores a este texto, Paulo fala do "atleta
que em tudo se domina" (1 Co 9.25) para alcançar o alvo. E quando
anela abandonar o corpo por uma habitação celestial (2 Co 5.1- 4) é
porque se sentia desgastado pelas constantes viagens e cuidados
com a igreja.
Paulo vivia numa sociedade em que este assunto era
discutido amplamente pelos gregos. Quando chegou a Atenas os
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CETADEB Teologia Pastoral I
"filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele" (At 17.18). Os
seguidores de Epicuro (341-270 a.C.) defendiam o prazer como um
ideal de vida, e eram conhecidos pela frase: "comamos e bebamos
que amanhã morreremos", não acreditando no juízo final (1 Co
15.32). Os seguidores de Zeno (contemporâneo de Epicuro)
apelavam mais à razão e eram comedidos, sendo conhecidos como
estóicos.
Parece que Paulo não se posicionou ao lado de Epicuro ou
de Zeno, mas desenvolveu a idéia de que se deve "possuir" o corpo
em santificação: "Que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo
em santificação e honra" (1 Ts 4.4) e isto ele falou no contexto de se
abster da prostituição e da lascívia, "porquanto Deus não nos
chamou para a impureza, e sim para a santificação" (v.7).
Quando se desonra o corpo com práticas promíscuas, a
alma e o espírito também são afetados. As conseqüências de uma
vida de impureza afetam o relacionamento com Deus e com o
próximo.
Paulo dá a entender que o contato sexual não se restringe a
um mero contato físico, afirmando que quando se tem relação
sexual com uma meretriz, o ato atinge também o espírito. "Ou não
sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com
ela? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria
membros de meretriz? Mas aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele. Fugi da impureza" (1 Co 6.15-17).
Paulo não via problemas quanto aos alimentos, pois os
considerava dádivas divinas (1 Co 6.12-13), afirmando que "tudo o
que Deus criou é bom, e, recebido com ações, de graças, nada é
recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é
santificado" (1 Tm 4.4-5), mas entendia que a prática sexual ilícita
prejudica o espírito e corpo.
4 .4 . Ex e r c íc io s Físic o s
Os cuidados com o corpo não devem restringir-se aos
pecados sexuais, mas também a alimentação e o exercício físico. A
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Teologia Pastoral I
sociedade de hoje não dá tempo para que se exercite o físico. No
passado, os obreiros andavam a pé ou a cavalo e se exercitavam
enquanto pregavam a palavra de Deus.
Hoje, dependem do automóvel para ir à esquina, e
compram tudo o que querem num mesmo lugar, sem precisar
caminhar. Este sedentarismo diminui a longevidade dos obreiros
das grandes cidades. O mau colesterol se acumula nas artérias e
causa infarto.
Quando se exercita o corpo, o organismo queima as
gorduras e produz o bom colesterol, o que reduz as chances de
enfermidades cardíacas, quem sabe, por não cuidarem do seu corpo
tantos servos de Deus não completam a carreira morrendo antes do
tempo.
Ao lado do cuidado com o físico, o obreiro deve zelar para
que o corpo descanse o suficiente. Deus descansou, diz a Bíblia,
deixando exemplo de que o descanso é importante para o corpo.
Ele estabeleceu que um dia da semana deve ser para descanso do
corpo. O obreiro que não tira um dia de folga sequer, afastando-se
de seus compromissos diários, poderá adquirir um estresse que o
afastará muito tempo da obra.
Poder-se-ia estudar por muito tempo a questão do cuidado
com o corpo e com a saúde física, no entanto basta esta rápida
abordagem para mostrar a importância de se cuidar não só da alma,
mas do corpo também.
É bom lembrar o quanto Paulo se preocupava com seu
discípulo Timóteo. Ao que parece, Timóteo sofria muito, e Paulo o
recomenda: "Usa um pouco de vinho, por causa de teu estômago e
das tuas freqüentes enfermidades" (1 Tm 5.23). O vinho era de uso
medicinal.
Ele também aborda a questão do exercício físico, porque em
seus dias os gregos davam excessivo valor ao corpo. Por isso avisa:
"Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para
tudo é proveitosa" (1 Tm 4.8). Em comparação com os exercícios
espirituais, o exercício físico tem pouco valor, mas é de grande
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CETADEB Teologia Pastoral I
ajuda. O pouco que é proveitoso ajuda a pessoa a manter uma boa
forma física. Um homem que não cuida de sua saúde tende a
engordar, perde a mobilidade e se cansa com muita facilidade.
Todos estes cuidados contribuem como forma de
preparação para uma vida ministerial plena, capacitando o ministro
para o serviço do Senhor.
Questões para reflexão: Estou me preparando
adequadamente para cumprir a tarefa que Deus me designou?
Estou cuidando cultivando meu intelecto, meu espírito e meu corpo
para ser um ministro de Jesus Cristo?
Centralidade da reflexão: Deus não nos chama quando
estamos plenamente preparados. Ele espera de nós que nos
preparemos todos os dias para o exercício ministerial. Só os
capacitados e plenamente comprometidos com Deus serão
vencedores.
Atividades - Lição II
> Marque "C" para Certo e “E" para Errado
II O Depois de ungido rei de Israel, Davi voltou para o campo
cuidar das ovelhas de seu pai.
□ Quando a igreja precisou escolher seus auxiliares, os
apóstolos estabeleceram os parâmetros de conduta.
□ Outro aspecto que deve ser seriamente considerado no
chamamento, é que Deus não vocaciona preguiçosos.
( O Um outro aspecto que deve ser considerado no
chamamento, é o da submissão à autoridade.
5) (ÜÜ O obreiro deve fazer do ministério um emprego.
6 ) ® Para que o chamamento ministerial não arrefeça e diminua
diante das dificuldades, o obreiro deve manter o foco da visão e
os olhos fitos em Deus.
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CETADEB Teologia Pastoral I
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Lição III g raf

CETADEB Teologia Pastoral I
70

CETADEB Teologia Pastoral
O Ministro e seu Sustento
D
entre todos os tem as que envolvem o
estudo de teologia pastoral, o que trata do
sustento do obreiro é tam bém de
fundam ental importância, porque é no
campo das finanças que o obreiro é mais
confrontado moral e eticamente.
M oralm ente, porque precisa m ostrar
honestidade no trato com o dinheiro que não é dele, mas de Deus, e
eticam ente, porque está em suas mãos, muitas vezes, a decisão de
gastar e investir os recursos que os fieis entregam para a obra de
Deus.
O dinheiro fez que muitos santos de Deus pecassem, e as
escrituras têm vários exem plos, entre eles o de Balaão que se
corrom peu financeiram ente diante de Balaque e de Geazi que
cobiçou o dinheiro e as riquezas de Naamã, o com andante sírio.
A questão do sustento do obreiro foi abordada pelo Senhor
Jesus Cristo e por dois de seus apóstolos, Pedro e Paulo. A linha
mestra deste estudo será a seguinte: O mesm o Deus que cham a a
pessoa para o m inistério o sustenta.
Quando se chama alguém para fazer um trabalho em casa, a
pessoa que o contrata, o paga. O mesmo princípio se aplica ao
ministério. Deus chama, Deus paga.
A form a como Deus paga seus obreiros, é bastante variada,
e é o que o aluno verá neste estudo, pois Deus não se limita a um
método apenas. Ele age de muitas maneiras.
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CETADEB Teologia Pastoral I
1. Exam inando O Conceito De Se Viver De Tempo
Integral E Da Vida Pela Fé.
Ao longo dos anos os obreiros assimilaram a idéia de que
viver tempo integral no ministério significa deixar de trabalhar
numa profissão e passar a ganhar salário da igreja ou de uma
agência missionária.
Tal idéia tem levado pessoas a abandonarem seus
empregos, afirmando que precisam "viver pela fé". Por isso é
necessário esclarecer e conceituar biblicamente o que significa
"viver pela fé" e o que é viver de "tempo integral".
1.1. To d o s Vivem Pela "Pela Fé" E De "Tem po Integral”
Tanto o que trabalha num emprego secular ou tem sua
empresa comercial como o que depende da igreja para seu sustento
depende da fé, pois a escritura afirma que sem fé é impossível
agradar a Deus.
A pessoa que trabalha num emprego qualquer, quer seja
como empresário quer seja como empregado também vive pela fé,
porque se a sua empresa ou a de seu patrão não vai bem, não
receberá seu salário no fim do mês.
A fé em Deus, um ingrediente necessário ao dia-a-dia do
cristão está em tudo o que ele faz, tanto no campo secular quanto
no religioso, até porque, na vida do cristão, a vida secular e a
religiosa estão intimamente ligadas.
Na realidade, não existe diferença entre vida secular e vida
espiritual. Obviamente que quando se tem um emprego que
absorve totalmente o tempo impedindo o ministro de fazer a obra
de Deus, tal atividade deve ser repensada. As atividades, isto é, os
empregos, (chamado de trabalho secular) facilitam ao obreiro
engajar-se na obra de Deus sem precisar depender dela para seu
sustento. Todavia, é possível que seja sustentado pela obra, assunto
que será visto ao longo deste estudo.
72

CETADEB Teologia Pastoral I
Tanto o que trabalha para seu próprio sustento, quanto o
que recebe salário da igreja, vive de "tempo integral", pois o
verdadeiro discípulo de Jesus vive cem por cento para Deus. E isto
requer fé. O conceito de que é preciso largar o emprego para se
dedicar em "tempo integral" ao ministério precisa ser revisto. Um
verdadeiro discípulo de Jesus ou um ministro vive de maneira
integral para Cristo, usando do seu emprego ou de sua empresa
para poder viver. E, quando começa a receber seu sustento da
igreja, deve encarar o fato como responsabilidade ainda maior.
O chinês Watchman Nee, em seu livro A Vida Normal da
Igreja Cristã, está certo quando afirma:
"Se um homem confia em Deus, que vá e trabalhe
para ele. Se não, que fique em casa, pois lhe falta a primeira
qualificação para o trabalho. Há uma idéia predominante de
que, se um obreiro tem uma renda estabelecida, ele pode
ficar mais à vontade para o trabalho e, conseqüentemente
fazê-lo melhor, mas, para falar com franqueza, na obra
espiritual há necessidade de uma renda incerta, pois essa
necessita de íntima comunhão com Deus... Deus deseja que
seus obreiros recorram somente a ele em busca de recursos
financeiros, e assim não deixem de andar em estreita
comunhão com ele e aprendam a confiar nele
continuamente..." (NEE, Watchman - A Vida Normal da Igreja
Cristã, Editora Cristã Unida, p. 118).
Deve-se refletir quanto a esta radical declaração, pois o
autor ainda pergunta: "De quem somos nós trabalhadores? Se
trabalhamos para homens, então eles devem nos sustentar; se,
porém trabalhamos para Deus, então a ninguém mais devemos nos
dirigir, senão a ele, embora ele possa satisfazer nossas necessidades
por meio de nossos irmãos." (Ibid p 121).
Assim, se um obreiro decidir trabalhar no ministério
largando seu trabalho ou empresa, deve confiar que Aquele que o
chamou para a Obra haverá de suprir cada uma das suas
necessidades. Paulo deixou exemplo nesta área afirmando: "O meu
73

CETADEB Teologia Pastoral I
Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus,
cada uma das vossas necessidades" (Fp 4.19).
2. O Ensinamento De Jesus E Dos Apóstolos
A Bíblia revela alguns ensinamentos de Jesus a seus
apóstolos, e de seus apóstolos ao povo a respeito do sustento do
obreiro. Jesus apresentou aos apóstolos um modelo de vida
simples: "Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre
nos vossos cintos, nem de alforje para o caminho, nem de duas
túnicas, nem de sandálias, nem de bordão: porque digno é o
trabalhador do seu alimento" (Mt 10.9-10).
No evangelho de Lucas ele faz nova proposta: "Quando vos
mandei sem bolsa; sem alforje e sem sandálias, faltou-vos
porventura alguma cousa? Nada, disseram eles. Então lhes disse:
Agora, porém, quem tem bolsa tome-a, como também o alforje..."
(Lc 22.35-36).
A partir deste texto pode-se concluir que Jesus não
dogmatizou quanto ao sustento e deixou bem claro que, com sua
ausência, eles encontrariam muitas dificuldades, e precisariam levar
dinheiro com eles.
Quando estavam com Jesus, nada lhes faltou porque
dependiam da liderança do Mestre e das provisões que ele fazia
para o sustento do grupo, mas depois que Jesus deixasse a terra,
precisavam da bolsa e do alforje, isto é, teriam que providenciar o
sustento.
Jesus também os ensinou a não confiarem nem
dependerem dos seus próprios recursos para fazerem a obra de
Deus. Alguns irmãos dizem: "Se eu tivesse dinheiro, investiria tudo
na obra de Deus”. Eis aí o engodo de Satanás. Se alguém tem
dinheiro, raramente investe no reino, pois o princípio de Deus é que
a obra seja feita em total dependência dele e não dos recursos
humanos. Os que menos têm são os que mais fazem. Jesus disse:
“Vocês merecem o sustento. Eu os pagarei".
74

CETADEB Teologia Pastoral I
2 .1 .0 Su s t e n t o De Je s u s Po r Am ig o s Co l a b o r a d o r e s
Durante os três anos e meio do ministério de Jesus, uma
equipe de mulheres o acompanhava, servindo-o com seus bens. Ele
ia de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e
anunciando o reino de Deus, juntamente com os Doze. Diz o texto:
"E também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos
malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual
saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de
Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência
com os seus bens" (Lc 8.2-3).
Essas mulheres, algumas com bastantes recursos financeiros
ajudavam no ministério de Jesus. Isto significa, que elas nada
deixavam faltar para o Mestre, providenciando tudo de que Jesus
precisava. Acima de tudo, porém Jesus orientou os discípulos a
viverem com simplicidade. Quantos obreiros cometem o engano de
fazerem do ministério fonte de lucro.
2 .2. Pa u l o E A Do u t r in a Do Su s t e n t o Fin a n c e ir o
Uma coisa que deixa alguns comentaristas bíblicos
perplexos é que Paulo ensinava sobre o valor de se receber
donativos, de se trabalhar e ser sustentado pela obra, enquanto ele
mesmo trabalhava para seu sustento.
Para entender essa questão, é necessário observar que os
judeus, naquela época, regidos pelo Talmude Babilónico, eram
orientados a terem uma profissão para que pudessem exercer uma
atividade digna entre os habitantes do lugar onde fossem residir
durante a Dispersão. "Ninguém, nem mesmo os rabinos ou os juizes,
tem o direito de viver sem trabalhar. Viver de caridade é apenas o
recurso extremo. Trabalhar com as próprias mãos é o primeiro dever
de um judeu, seja qual for o tempo que ele passa estudando,
orando, julgando, ensinando" (ATTAU, Jacques, Os Judeus, o
Dinheiro e o Mundo, Futura, pp 138-139).
75

CETADEB Teologia Pastoral I
De maneira geral os judeus espalhados pelo mundo seguiam
as orientações do Tamulde Babilónico o que lhes permitia viver em
qualquer lugar da terra. Por exemplo, Priscila e Áquila, o casal
expulso com os demais judeus de Roma, encontrou-se com Paulo
em Corinto e pela familiaridade profissional Paulo uniu-se ao casal
para fazer tendas (At 18.1-3). Fazendo tendas durante a semana
Paulo supria suas necessidades e dos seus colaboradores. “De
ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis
que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos
que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que,
trabalhando assim..." (At 20.33-35).
Embora Paulo trabalhasse para se sustentar, a Bíblia revela
que houve um período, em que ele “se entregou totalmente à
palavra" (At 18.5), o que significa que naquele período ele não
precisou trabalhar a fim de prover seu sustento. Tudo isso leva a
concluir que é importante que se tenha uma profissão, e, no
entanto, é possível ao obreiro viver da obra.
A recomendação do Talmude Babilónico quanto à
importância de se ter uma profissão mantém-se atual, pois são
várias as vantagens para o obreiro que possui qualidades
profissionais. São elas:
Mobilidade. Quando se tem uma profissão, é possível realizar a
obra de Deus em qualquer lugar, ou seja, mudar para uma
cidade onde não há igrejas e ali estabelecer a obra de Deus.
Liberdade. O Talmude babilónico recomendava que os rabinos, ou
qualquer judeu tivessem autonomia, e exercessem uma
profissão para que não fossem empregados de alguém,
impedindo, assim, o retorno à condição de escravo. Tais
recomendações levaram os judeus da época de Paulo, e
depois ao longo dos séculos, a exercerem uma profissão
autônoma.
Esse exemplo permite concluir que o obreiro que tem
uma profissão não perde sua liberdade e pode administrar
seus negócios sem prejuízo da obra de Deus.
76

CETADEB Teologia Pastoral I
Sustentabilidade. Enquanto a obra não cresce, e não existe recurso
financeiro, o obreiro pode ser auto-sustentável. Foi assim que
começaram as Assembléias de Deus no Brasil. Quando os
primeiros dois missionários chegaram ao Brasil, um
trabalhava e o outro saía para pregar o evangelho, até que
eles conseguissem ajuda das igrejas da Suécia para seu
próprio sustento no país. Trabalhavam, na maior parte do dia
para seu sustento, e se dedicavam depois à obra.
Estes três fatores ajudaram Paulo em seu ministério. Onde
quer que fosse, durante a semana, se necessário, ocupava-se de
fazer tendas. Depois, cuidava da obra do Senhor. Muitos jovens
obreiros passam extrema necessidade quando iniciam uma igreja
porque não têm uma profissão autônoma que lhes ajude no seu
sustento.
2.3. A Au t o r id a d e De Pa u l o Na Qu e s t ã o Do Su s t e n t o E Do
Tr a b a l h o.
O fato de Paulo, como apóstolo, trabalhar para se manter
deu-lhe autoridade para estabelecer a questão do trabalho como
um dos ensinos fundamentais da doutrina apostólica. Algumas
igrejas ou ministérios estabelecem regras de que nenhum irmão
deveria receber ajuda de tempo "integral" da igreja, sem antes
experimentar a importância do trabalho em sua vida.
De maneira geral, os que nunca trabalharam, quer em
empresas quer nas lidas diárias do campo ou da cidade, não sabem
valorizar a importância do trabalho, nem dão valor ao custo do
dinheiro.
2 .3 .1 .0 Tr a b a l h o Dis c ip l in a O Co r p o E A Men t e
Com ele o homem aprende a ter responsabilidade e a
cumpri-la, a ter mais agilidade e atenção a tudo que faz. Quando um
moço é acostumado a levantar-se cedo para o trabalho, a dormir na
hora certa, ao entrar para o ministério não será relapso com seu
tempo e com os horários a cumprir.
77

CETADEB Teologia Pastoral I
Aprenderá a dormir apenas o tempo necessário e a
levantar-se cedo para aproveitar bem o seu dia. Tais atitudes são
fundamentais para fazer jus à grandeza do chamamento de Deus.
Afinal, trabalhar para Deus requer esforço e dedicação como
qualquer profissão.
2 .3.2. O Ex e r c íc io De Um a At iv id a d e En s in a O Ob r e ir o A Viv e r
So b Au t o r id a d e
Um obreiro que nunca se submeteu a um chefe terá sérias
dificuldades em submeter-se a outro líder. Um bom ou mau patrão,
ou um sócio pode ser um caminho excelente para ensinar o serviço
e a obediência, ajudando a forjar no homem um espírito submisso
de serviço e de amor.
Também através desse exercício é possível aprender a
valorizar a Providência divina, pois quando alguém recebe um
salário, precisa controlar suas despesas para viver dentro dos limites
financeiros desse salário. Tal aprendizagem permite que o obreiro
saiba valorizar o dinheiro de Deus; a entender que as ofertas e
dízimos dos irmãos são depositados no altar de Deus como fruto de
obediência desses, e que o dinheiro que o sustentará é dinheiro
consagrado.
Se obreiro aprende a viver com o pouco que ganha, também
aprenderá a respeitar o dinheiro recebido pelos irmãos e a gastar
com temor os recursos do Senhor, a conter os seus gastos em
tempos de abundância, a colocar sua "oferta" sobre o altar e a
depender do Senhor em tempos de escassez.
2 .4. Pa u l o E O Su s t e n t o Do Ob r e ir o
Já foi mencionado que Paulo não usufruía o direito de
ganhar da igreja, mas defendia que os obreiros vivessem da obra.
Este comportamento do apóstolo continua gerando controvérsias
entre os teólogos, porque ao que parece Paulo tinha conflitos nesta
área com a igreja de Corinto. Era uma igreja que ele começou, e
78

CETADEB Teologia Pastoral I
agora, quando se encontrava preso (possivelmente em Roma), não
recebia ajuda financeira dessa igreja.
Ele pergunta: "Será que cometi algum pecado ao humilhar-
me a fim de elevá-los, pregando-lhes gratuitamente o evangelho de
Deus? Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de
servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma
necessidade, não fui um peso para ninguém; pois os irmãos quando
vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz
tudo para não lhes ser pesado, e continuarei a agir assim" (2 Co
11.7-9 - NVI).
Parece que Paulo decidiu dar um exemplo de abnegação e
trabalho para os crentes de Corinto, e só aceitava contribuições
depois que saía da localidade indo para outra cidade. E esta era uma
igreja que poderia ajudar no sustento dele, mas não contribuía.
Por isso, Paulo exclama: "Até agora estamos passando
fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados
brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente
com nossas próprias mãos" (1 Co 4.11-12 NVI). Paulo trabalhava
com suas mãos, tirava o sustento de seu próprio trabalho, para
poder ensinar a palavra àqueles irmãos. Outros obreiros,
entretanto, eram ajudados por aquela igreja que se recusava a
ajudar a Paulo, o fundador da obra.
A igreja de Corinto era constantemente advertida por Paulo
sobre a questão das contribuições; para tanto, Paulo dedica um
capítulo inteiro para falar da importância do obreiro ser sustentado
pela obra e de como a igreja pode participar de seu sustento.
Na carta a Timóteo, ele trata com clareza sobre o sustento
do ministro: "Devem ser considerados de dobrados honorários os
presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se
afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não
amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é
digno do seu salário" (1 Tm 5.17-18).
A expressão "presidem bem" vem da mesma palavra grega
que Paulo usa em 1 Timóteo 3.4 quando fala do obreiro que
79

CETADEB Teologia Pastoral I
“governa bem a sua casa". É justo, portanto, que o obreiro seja
pago.
2.5. As Fig u r a s Que Pa u l o Us o u Ao Fa l a r So b r e O Su s t e n t o Do
Ob r e ir o
Paulo usou de figuras comuns à época para defender o
sustento dos obreiros. Em 1 Coríntios 9, ele cita cinco exemplos: o
soldado, o agricultor, o pecuarista, o boi e o sacerdote.
[El O soldado. "Quem jamais vai à guerra à sua própria custa?" (1
Co 9.7). As guerras sempre foram financiadas pelo Estado, que
paga os seus soldados para lutar. Na época, os "liturgos"
financiavam com seus próprios recursos os teatros, escolas e as
guerras. O mesmo acontece com o obreiro do Senhor. Ele é
contratado para lutar as guerras do Senhor.
S O agricultor. "Quem planta a vinha e não come do seu fruto?" (1
Co 9.7). O lavrador tem direito a se alimentar do que planta e
cultiva. Seu argumento é: "Se nós vos semeamos as cousas
espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?" (v.
11). Paulo entendia que a semeadura espiritual produz bens
materiais. Outros usufruíam da lavoura, e ele não (v. 12). Assim
que, aos crentes da Galácia, recomenda: "Mas aquele que está
sendo instruído na palavra faça participante de todas as cousas
boas aquele que o instrui" (Gl 6.6). Para Paulo o semeador tinha
direito sobre o fruto da colheita. Seu ensino a Timóteo
evidencia sua preocupação com o sustento do obreiro.
[3 O pecuarista: "Ou quem apascenta um rebanho e não se
alimenta do leite do rebanho?" (1 Co 9.7). A pessoa que lida
todos os dias com seus animais, vacas, cabritas, ovelhas, têm
direito ao leite e a carne que elas produzem. Cada um desses
exemplos mexia com a vida dos crentes de Corinto, pois entre
eles havia agricultores, soldados, e criadores de animais.
CEO O boi de canga: "Porque na lei de Moisés está escrito: Não
atarás a boca ao boi quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que
Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz?
80

CETADEB Teologia Pastoral I
Certo que é por nós que está escrito, pois o que lavra, cumpre
fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança
de receber a parte que lhe é devida" (vv. 9-10). Paulo chega a
comparar o obreiro do Senhor a um boi que trabalha, seja
lavrando ou rodando o moinho. Esse boi, diz Paulo, precisa ser
alimentado, do contrário não conseguirá trabalhar. Mas, Deus
não está preocupado com bois, e sim com homens.
S Os sacerdotes: "Não sabeis vós que os que prestam serviços
sagrados, do próprio templo se alimentam; e quem serve o altar,
do altar tira o seu sustento?" (v. 13). Paulo ilustra a necessidade
do sustento do obreiro com a figura do sacerdote que comia
dos sacrifícios trazidos ao altar, uma referência aos costumes do
Antigo Testamento.
E, concluindo, afirma: "Assim ordenou também o Senhor aos
que pregam o evangelho, que vivam do evangelho" (v. 14). Ele
afirma que o sustento do obreiro é uma ordenança divina. Paulo, no
entanto, não se serviu de nenhuma dessas possibilidades, e
paradoxalmente jamais se posicionou contrário aos que viviam do
evangelho.
Paulo não recebia sustento da igreja de Corinto, mas o
recebia de outras igrejas, conforme ele mesmo declara em
Filipenses 4.18: "Recebi tudo, e tenho abundância; estou suprido,
desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa
parte, como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a
Deus".
Quantos poderiam dizer: estou suprido e de nada tenho
falta? Assim, o obreiro tem direito a trabalhar com suas mãos para
seu próprio sustento, mas também lhe é permitido receber da igreja
pelo trabalho que faz.
Trabalhar com as próprias mãos pode ser bom, mas não é
método do próprio Deus para seus obreiros: "Assim ordenou
também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do
evangelho".

CETADEB Teologia Pastoral I
Existem implicações no crescimento da obra quando o
obreiro precisa dedicar seu tempo todo em busca de sustento, e
isso deve ser levado em consideração se a igreja local tem visão de
crescimento e de expansão do Reino.
2.6. Pa u l o E A Dim e n sã o Da Fé
Se alguém tem certeza de que Deus o chamou, pode ter
certeza de que ele o sustentará. Paulo afirmou: "Tudo posso
naquele que me fortalece" (Fp 4.13). "E o meu Deus, segundo a sua
riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades" (Fp 4.19). Este último versículo não pode ser
desprezado de seu contexto, pois nele Paulo explica que por haver
semeado, por haver ofertado, a pessoa será grandemente
abençoada.
Um poema de Cheney, citado por E. Cowman em Streams in
the Desert (Mananciais no Deserto) edição em inglês pela
Zondervan Publishing House, é simples e profundo, e exemplifica
bem o cuidado de Deus com seus filhos.
"O pardal falou para a andorinha:
- Gostaria mesmo de saber por que os humanos vivem
ansiosos, correndo e se preocupando com quê?
A andorinha responde ao pardal:
- Amigo, acho que entendi, eles não têm um pai celeste
como o que cuida de mim e de ti".
(CHENEY, Elizabeth, citado por E. Cowman, Stremans in the Desert, (Mananciais no
Deserto) edição em inglês pela Zondervan Publishing House, p 294).
2.7. Pa u l o E A Lei Da Se m e a d u r a
O sustento do obreiro começa pela "lei da semeadura", isto
é, ele precisa aprender primeiro a contribuir. A pessoa que deseja
ser abençoada com ofertas e ser alvo da generosidade do povo de
Deus deve aprender a ofertar.
Esta é uma lei que deve fazer parte da vida de todo cristão,
especialmente do ministro. Se ele contribui, recebe. A promessa de
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CETADEB Teologia Pastoral I
bênção ao que contribui, não é apenas para os membros da igreja,
mas para os pastores e todos os obreiros.
A promessa de Jesus é: "Dai, e dar-se-vos-á; boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão..."
(Lc 6.38). Muitos pastores só querem receber, mas precisam
aprender a contribuir.
Paulo comenta sobre a contribuição como uma semeadura:
"Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia
com fartura, com abundância também ceifará" (2 Co 9.6). A
colheita será feita na proporção da quantidade de semente lançada
na terra. Se o agricultor enterrar na cova três grãos de milho, terá
três pés de milho. E na hora da colheita, cada pé dará pelo menos
duas espigas cheias.
Serão seis espigas com cerca de 300 grãos cada. Semeou
três grãos, colheu 1.800. A agricultura moderna já desenvolveu uma
espiga de milho com quatrocentos grãos, o que evidencia o quanto
vale uma boa semeadura. Essa é a matemática de Deus. A
matemática dos homens soma 2+2, a de Deus é diferente, porque
enquanto para o homem dois mais dois são quatro, Deus de dois
faz mil.
Ao que contribui, Deus promete aumentar a sementeira:
"Ora, aquele que dá semente ao que semeia, e pão para alimento,
também suprirá e aumentará a vossa sementeira, e multiplicará os
frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos em tudo para toda a
generosidade..." (2 Co 9.10-11).
A sementeira tem dois aspectos: o primeiro é o grão que o
agricultor guarda para plantar na safra seguinte. Este fica guardado
num depósito e dele não se tira para o sustento da casa. A semente
precisa ser guardada para que o campo seja plantado de novo. O
segundo aspecto é a sementeira em si mesma, o lugar em que se
prepara a terra para fazer a semeadura. Depois de crescidas, as
plantas são enterradas noutro local.
Age-se dessa forma com legumes, e os orientais costumam
plantar o arroz e o trigo dessa forma. Eles têm uma sementeira e
83

CETADEB Teologia Pastoral I
dali arrancam as plantas que serão assentadas no campo. Do
mesmo modo, o obreiro que precisa de recursos obedece a lei
divina da semeadura, e colherá resultados.
Paulo ensina que Deus sabe quando uma pessoa contribui
com tristeza ou com alegria. "Porque Deus ama a quem dá com
alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça; a fim de que,
tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda
boa obra. Como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua
justiça permanece para sempre" (2 Co 9.7-9).
A promessa é ampla: Aquele que contribui, Deus prospera.
Além do mais, fica registrado nos anais do céu a contribuição, pois
"sua justiça permanece para sempre".
Portanto, o obreiro que quer ser sustentado por Deus deve,
primeiramente, aprender a contribuir, e Deus cuidará para que não
precise usar da semente guardada para a próxima safra.
Além disso, aumentará os frutos do seu campo. Deus
sempre olhará para a liberalidade do coração. Se o obreiro é do tipo
"mão fechada", Deus fechará igualmente sua mão para ele.
Numa linguagem mais simples do texto de Paulo: "A
contribuição que vocês fazem, não apenas supre a necessidade das
pessoas, mas tem um resultado maior: elas passam a glorificar a
Deus e encher o seu trono com ações de graças. As pessoas
glorificam a Deus, e o agradecem pela obediência de vocês, e pela
liberalidade de suas contribuições, pois vocês contribuem com
todos! Esses irmãos oram constantemente a Deus a favor de vocês,
com grande amor, por causa da graça de Deus que há em vocês" (2
Co 9.12-14).
Concluindo, a questão não é trabalhar para o sustento ou
depender da igreja, mas se o obreiro aprendeu a depender de Deus
e a contribuir. Este é o canal da bênção divina financeira sobre ele.
Pergunta para reflexão: Confio que Deus, realmente, fará a
provisão necessária para o meu sustento, ou interiormente estou
confiando na provisão de homens, de ofertas prometidas? Estou
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CETADEB Teologia Pastoral I
capacitado para "colocar mãos à obra", se necessário, para prover
meu sustento e da minha família com dignidade?
Centralidade da reflexão: Cada obreiro deve ser firme em
seus objetivos. Se crermos que realmente fomos contratados por
Deus, então ele fará a provisão necessária.
O MINISTRO E SUA VIDA DE ESTUDO
U
ma das maiores dificuldades do obreiro é a
de manter uma agenda bem coordenada
com as disciplinas da oração e do estudo. Ao
longo do ministério, convive-se com pessoas
que agem nos extremos: os que gostam de
orar muito e costumam negligenciar o
estudo; e os que estudam muito, mas costumam negligenciar a
oração.
Raramente existe um equilíbrio entre essas duas atitudes
tão importantes para a vida cristã, especialmente para a do
ministro. Dois pastores se encontraram numa livraria evangélica.
Um deles, pentecostal e o outro de uma igreja tradicional histórica.
Depois de se cumprimentarem e de se identificarem
ministerialmente, o pastor da igreja histórica disse: - Estou cheio do
estudo e da leitura de livros.
Hoje quero mesmo é orar e buscar o poder de Deus. O
pentecostal, reagiu e disse: - estou cansado de orar e buscar o
poder de Deus; quero estudar e ler bons livros. Eles viviam nos
extremos.
Orar e estudar fazem são o equilíbrio na vida do obreiro. É
necessário o reconhecimento da importância dessas atitudes, uma
85

CETADEB Teologia Pastoral I
vez que são fonte, espécie de usina de poder para um ministério
bem sucedido.
Se elas não estiverem presentes na vida do ministro, seu
ministério acabará sendo feito na força do homem - e tudo o que é
feito na força do homem fracassará, pois o obreiro depende
unicamente da força de Deus.
1. Buscando Um Lugar Apropriado
É notório que a maior dificuldade dos obreiros começa com
a falta de espaço em casa ou no templo. Em qualquer desses
lugares, geralmente, não há a privacidade necessária. Em casa,
porque a esposa e os filhos costumam compartilhar do mesmo
espaço, e na igreja, pela quantidade de pessoas que costumam
requisitar o pastor.
Alguns obreiros, na tentativa de ficar a sós, optam por um
cantinho de estudo no quarto do casal, o que também não é
adequado, porque priva a esposa de se recolher mais cedo ou de
levantar mais tarde, e também porque, às vezes precisa levar algum
irmão para lhe ensinar alguma coisa, e não é bom levar estranhos
ao lugar em que costuma ter privacidade com a esposa e filhos.
Outros não dispõem de um lugarzinho junto ao templo,
porque a igreja precisa de todos os espaços para sua atividade.
Qualquer que seja o local, deve-se pensar na privacidade para o
estudo e oração.
A necessidade do estudo e da oração é tão importante que
João Wesley, fundador do metodismo na Inglaterra, exigia que seus
obreiros dedicassem, pelo menos, cinco horas de estudo e oração
por dia.
Um dos seguidores de Wesley, Francis Asbury, pioneiro
metodista nos Estados Unidos, aconselhava seus obreiros a dedicar
uma hora de oração a partir das cinco horas da manhã, e depois das
cinco às seis da tarde. Os obreiros tinham de dedicar das seis da
manhã até o meio-dia para o estudo, com um intervalo de uma hora
86

CETADEB Teologia Pastoral I
para o café, alimentando "a mente e a alma com a Bíblia e com bons
livros" (LUDWIG, 1984, p 160).
Atualmente, as atividades das igrejas, sejam em cidades
grandes ou pequenas, exigem muitas horas de trabalho para o
ministro. Muitas vezes o obreiro começa a trabalhar em suas
atividades às sete da manhã e só termina pouco antes da meia-
noite.
A necessidade de dedicar tantas horas ao trabalho na igreja
é grande empecilho para uma maior dedicação à oração e ao
estudo.
2. Ferramentas Úteis De Estudo
Se por um lado, a falta de um local apropriado dificulta ao
obreiro maior dedicação ao estudo, por outro, o desenvolvimento
da sociedade, nos últimos tempos, permitiu mais facilidade para
ampliar as fontes de pesquisa.
Hoje é possível ter acesso à informação não só através de
livros e materiais impressos, como também através de material
disponível multimídia. Com isso, pode-se tirar mais proveito do
estudo num tempo menor.
O estudante da Bíblia necessita de algumas ferramentas para
conhecer o tema ou os livros que se propõe estudar. A Bíblia foi
escrita num período de 1.600 anos por mais de 40 autores com as
mais variadas profissões.
São pescadores, mestres, médicos, reis, um boiadeiro,
sacerdotes, etc. São informações disponíveis no curso de Introdução
Bíblica. Por isso, dispondo ou não de um programa de computador
que o auxilie no estudo, algumas ferramentas são importantes a
todo ministro do evangelho. São elas:
Versões bíblicas. O obreiro deve dispor de algumas versões da
Bíblia, entre elas, as versões Revista e Corrigida e Revista e
Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, uma cópia da NVI
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CETADEB Teologia Pastoral I
(Nova Versão Internacional), que tem uma linguagem
atualizada, especialmente quanto a pesos e medidas, e com
notas explicativas. Se ele puder adquirir a Bíblia de Jerusalém e
uma Bíblia de estudos, melhor ainda.
Chave bíblica. É bom adquirir uma chave bíblica que combine
com a versão que está utilizando, e com a qual costuma usar
para pregações.
Enciclopédia bíblica. A mais popular e usada é a "Pequena
Enciclopédia Bíblica" de O.S. Boyer; trata-se de um mini-
compêndio de grande utilidade.
2.1. Co n h e c e n d o A Bíb lia Em Or d e m Cr o n o l ó g ic a
Os livros não estão na ordem cronológica como aparecem nas
Bíblias. Por exemplo, o livro de Jó, apesar de localizar-se antes dos
Salmos é um relato de alguém que viveu, possivelmente, à época de
Abraão. Já os Salmos, colocados no meio do livro, abrangem um
período que vai de Moisés a Esdras.
Por isso o estudante deve ter uma perspectiva da ordem dos
livros da Bíblia e de seus autores. Hoje existe no mercado a Bíblia
em Ordem Cronológica, editada pela Editora Vida que dá a
cronologia dos acontecimentos.
O estudante deve, também, aprender a fazer as seguintes
divisões dos livros da Bíblia para melhor orientar seu estudo.
S O Pentateuco (do grego penta ou cinco). São os cinco livros
escritos por Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio. Este último, praticamente uma repetição de
temas apresentados nos três anteriores. Existem comentários
publicados em português feitos por rabinos e exegetas judeus
destes cinco livros.
S Livros históricos. O estudante deve conhecer os livros históricos
e sua seqüência, começando com Josué no Antigo Testamento,
até os Atos dos Apóstolos no Novo Testamento. Os livros
históricos não estão em ordem cronológica, o que requer
atenção e pesquisa por parte do ministro.
88

CETADEB Teologia Pastoral I
•S Livros poéticos. Os livros poéticos são Jó, Salmos, Provérbios,
Cantares e Eclesiastes. Cada um destes livros tem sua
peculiaridade.
Livros proféticos. Os livros proféticos vão de Isaías a Malaquias.
Aqui o estudante conhecerá os profetas maiores que são Isaías,
Jeremias, Ezequiel e Daniel e na continuação destes, os profetas
menores .
•S Os evangelhos e as epístolas. Ao longo do curso bíblico o aluno
conhecerá com profundidade os quatro evangelhos, e estudará
as cartas apostólicas, conhecidas como epístolas.
S Livros e profetas da Dispersão ou cativeiro. É necessário que o
estudante tenha uma visão dos livros que tratam da Diáspora
(Cativeiro e Dispersão do povo de Israel). São eles, Jeremias,
depois Ezequiel, Daniel, Ester, Neemias, Esdras, Ageu, Zacarias e
Malaquias, pela ordem. Quando se estuda simultaneamente
estes livros, pode-se ter uma visão ampla daquele período da
história do povo de Israel. Para se conhecer o período inter-
bíblico, isto é, o que aconteceu entre Malaquias e o livro de
Mateus, o estudante pode ler e analisar os livros não inspirados,
isto é, livros que não foram incluídos no cânone bíblico e que
fazem parte de certas Bíblias, entre eles os livros de Macabeus.
3. Exercitando-Se Na Palavra De Deus
O escritor de Hebreus - até hoje os escolásticos não
chegaram a um consenso de quem o teria escrito, se Paulo, Barnabé
ou Apoio - comenta que devemos exercitar as faculdades para
discernirmos o bem e o mal.
"A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de
explicar, porquanto vos tendes tomado tardios em ouvir. Pois, com efeito,
quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes,
novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os
princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tomastes como
necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se
alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.
Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática,
89

CETADEB Teologia Pastoral I
têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas
também o mal" (Hb 5.11-14).
Pelo tempo de vida cristã, argumenta o autor, uma pessoa
que exercita suas faculdades mentais, já pode se alimentar de
alimento sólido tornando-se mestre. Somente as crianças
alimentam-se de leite; os adultos podem se alimentar de coisas
mais fortes. E o autor está se referindo ao alimento sólido da
palavra de Deus.
Para tanto, ele tem de se exercitar, isto é, treinar-se no
estudo. A mente quando é treinada fica capacitada a receber
informações com mais rapidez e a entender os assuntos de maneira
mais ampla.
A seguir, o estudante encontrará algumas formas práticas
para que se exercite no estudo da Bíblia.
> Estudando com objetividade. Requer-se de todo estudante da
palavra que estude com objetivo. Muitos estudantes ficam
folheando os livros da Bíblia, lendo aqui e acolá sem um objetivo
específico que possam levá-los a resultados práticos. A objetividade
traz rapidez ao entendimento. Por exemplo, o estudante pode
decidir estudar um tema ou um livro, assunto que será abordado
mais adiante.
> Comparando texto com texto. A Bíblia, palavra de Deus, não
deve ser lida com desprezo ou descuido. Precisa em cada letra ou
acento que apresenta exige do aprendiz um cuidado especial. Seu
vocabulário requer muita atenção para o sentido das palavras em
cada versículo, pois há diferença de sentido entre: "pecado" e
"pecados"; "Fé" e fé"; "Amor" e "amor", "justiça"e "justiçai", etc.
Também não se deve estudá-la movido por simples curiosidade,
pois, se o fizer perderá seu valor espiritual. Exemplo disto é que
algumas pessoas estudam as profecias, mais por curiosidade do que
com o propósito de se prepararem para o retorno do Senhor. Na
realidade, quando se estuda as profecias deve-se ter como alvo
conhecer os tempos e as épocas e preparando-se para o retorno do
Senhor.
90

CETADEB Teologia Pastoral I
> Examinando o texto bíblico. A pessoa que deseja conhecer a
Bíblia precisa acostumar-se a examinar as escrituras, recitar a
palavra de Deus, comparar textos bíblicos e meditar. Tais
recomendações podem ser observadas na própria Bíblia. Em João
5.39, o estudante se depara com orientação de Jesus: "Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas
que testificam de mim". Em Atos 17.11, há outra referência que
reafirma a importância do estudo das escrituras. Esse capítulo traz
o relato sobre os irmãos da cidade de Beréia: "eram mais nobres
que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez,
examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram,
de fato, assim". Os irmãos de Beréia dispunham em sua época
apenas do texto bíblico do Antigo Testamento, mas era ali que
examinavam tudo o que lhes era ensinado.
Os comentários bíblicos, notas de rodapé e chaves bíblicas
remetem o estudante a qualquer passagem que trate do mesmo
tema.
São de grande ajuda para saber o período histórico da época
em que o texto foi escrito, quem escreveu e sob quais
circunstâncias. A maioria das Bíblias de estudo contém estas
informações. É bom examiná-las e conferir com outros comentários
bíblicos.
Por exemplo: A razão de Paulo escrever a carta aos
Tessalonicenses foi porque havia a idéia corrente entre os irmãos de
que somente os que estivessem vivos poderiam se encontrar com
Jesus quando de seu retorno.
Aprender a estudar por comparação proporciona muitas
descobertas. Por exemplo. O Salmo 36.9 diz: "na tua luz, vemos a
luz", e Pedro explica: "Temos, assim, tanto mais confirmada a
palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da
alva nasça em vosso coração" (2 Pe 1.19). "Um pouco aqui, um
pouco ali" (Is 28.13), diz Isaias.
91

CETADEB Teologia Pastoral I
Nenhuma passagem da Escritura deve ser interpretada
isoladamente do resto da Bíblia. Por exemplo, para entender Daniel
9 é necessário estudar juntamente com Apocalipse 13.
> Repetindo ou recitando a palavra de Deus. Quando o estudante
é disciplinado na leitura bíblica e na repetição dos textos bíblicos,
poderá memorizá-los facilmente, fazendo com que a palavra de
Deus habite em seu coração, como recomenda Paulo: "Habite,
ricamente, em vós a palavra de Cristo" (Cl 3.16). Outra maneira de
memorizar um texto bíblico é afixando-o no espelho do banheiro;
nas portas de armários; na geladeira, etc., onde se costuma fixar os
olhos. Alguém faz uma pergunta, e prontamente se encontra a
resposta na Bíblia, porque o ministro a conhece. São maneiras de se
exercitar a memória.
Os discípulos deviam saber de memória muitas das frases de
Jesus, pois Paulo refere-se a uma delas em Atos 20.35: "... e
recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado
é dar que receber". Jesus costumava citar as Escrituras e os
apóstolos aprenderam com ele. O livro de Atos dos Apóstolos está
recheado com citações do Antigo Testamento. Numa certa igreja
aqui do Brasil os irmãos dividiram os livros do Novo Testamento
entre si e o memorizaram todo.
Era assim que Deus orientou os filhos de Israel a
memorizarem as Escrituras. "Estas palavras (...) estarão no teu
coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em
tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal
entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas
portas" (Dt 6.6-9).
> M editando. A meditação ou reflexão leva o estudante a uma
análise mais profunda do texto, porque ele se pergunta e ele
mesmo responde. Deus ordenou a Josué que meditasse e falasse as
palavras da lei: "Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita
nele dia e noite" (Js 2.8). O salmista tem por bem-aventurado
aquele cujo prazer está na lei do Senhor, "e na sua lei medita de dia
92

CETADEB Teologia Pastoral I
e de noite" (SI 1.2). Meditar tem o sentido de "ruminar", como
fazem os animais ruminantes, como a vaca. Vale aqui um alerta:
toda meditação e reflexão deve ser feita sob a luz do Espírito Santo,
e só os que têm o Espírito de Deus conseguem caminhar por essa
maravilhosa trilha (Rm 8.5-9). A meditação nunca deve se deter na
introspecção, olhando para dentro de si, acusando-se, mas sempre
olhando para Deus, de onde vem a luz que ilumina o interior e dá
sentido à sua palavra.
O Salmo 119 está repleto de versículos mostrando a
importância da meditação. Ao tomar sua chave bíblica examinando
todos os textos que falam de meditar e meditação, o estudante
ficará surpreso com a profundidade deles nas Escrituras.
Espera-se de todo ministro que dedique, pelo menos uma
hora por dia para o estudo da palavra de Deus. Quando não se tem
uma hora cheia, pode-se reservar meia hora de manhã e meia hora
à noite.
Se um obreiro não consegue dispor de uma hora por dia
para o estudo da palavra de Deus, já entra para o ministério
desqualificado. Afinal, o estudo da Bíblia sagrada e o conhecimento
dos temas bíblicos é que o qualifica a ensinar a palavra de Deus.
4. Aproveitando Bem O Período De Uma Hora Diária De
Estudo
Para que o tempo de uma hora diária seja proveitoso é
necessário disciplina e perseverança, estabelecendo prioridades, do
contrário o tempo de estudo ficará dispersivo. Não se deve imitar o
crente tipo "gênio" que hoje lê todo o Novo Testamento e depois
passa uma semana sem ao menos ver a Bíblia. Para que este tempo
não se torne cansativo, pode-se dividi-lo uma hora, ou 60 minutos
em vários períodos. Aqui vão algumas sugestões:
Assuntos pesados que requerem mais tempo. Reserve-se os
primeiros vinte minutos para estudar assuntos pesados e temas
93

CETADEB Teologia Pastoral I
difíceis, como a vida de José como tipo de Cristo; a vida de Abraão;
o livro de Daniel, Esdras, Levítico etc. O estudante poderá demorar
seis meses na vida de José, por isso não deve desanimar e nem se
apressar. Ele pode demorar um ano estudando a vida de Davi, mas
depois nunca mais precisará voltar a estudá-la. Saberá tudo sobre
ele. Quando o relógio marcar vinte minutos, deve interromper o
estudo, passando para o estudo seguinte.
Estudo de tópicos. Os próximos vinte minutos podem ser
reservados para o estudo de tópicos ou temas leves da Bíblia.
Existem mais de trezentos tópicos nas Escrituras. Temas como
perdão, salvação, herança, fé, reino, reino vindouro, etc. Somente a
palavra sangue aparece mais de 400 vezes e cada passagem deve
ser lida quando se estuda o assunto.
Temas leves. Dedique-se dez minutos para fazer pesquisas
bíblicas, e responder questões como: Por que a serpente levantada
nos dias de Moisés era de bronze e não de ouro? Pode-se utilizar
deste tempo para procurar cada passagem mencionando o Espírito
Santo na carta aos Efésios. Ele aparece ali 10 vezes. Este tempo
serve também para o estudo de geografia bíblica, conhecendo-se os
minerais como ouro, prata, bronze, ferro, pedras preciosas; plantas,
montes, rios, etc.
Paráfrase de um livro bíblico. Pode-se reservar os dez
minutos finais para fazer uma paráfrase de um livro da Bíblia. O
estudante pode escrever a seu modo uma epístola ou um texto de
difícil entendimento, como 2 Coríntios ou o livro de Hebreus
colocando-o numa linguagem atual, no seu próprio estilo, conforme
ele entende o texto. Paráfrase é quando se escreve um texto
"paralelo".
Anotações: O obreiro pode-se acostumar a carregar consigo
um pequeno caderno ou folha para anotar pensamentos e idéias
que surgem enquanto medita na Palavra de Deus. E sempre que
estudar a ou estiver lendo a Bíblia precisará de um caderno para
anotações, ou um marcador de livros em branco. No marcador de
livros, escreverá textos paralelos ou pensamentos breves. Nesses
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CETADEB Teologia Pastoral I
dias de grande modernidade as agendas eletrônicas são de grande
utilidade, pois até a Bíblia é levada dentro de uma pequena agenda
eletrônica que cabe na palma da mão.
5. O Que Estudar
1) O estudante deve fazer um estudo sistemático de todos os
personagens principais da Bíblia. Uma vez que a vida de Abraão
ou de Jeremias foi passada a pente fino, o estudante nunca
precisará voltar ao tema, a não ser para rever o que aprendeu no
passado.
2) Estudando tudo o que diz respeito às mulheres da Bíblia.
3) Estudando pessoas do Antigo Testamento que podem ser tipos
de Cristo, como a vida de José; e temas como a redenção, igreja
e a pessoa do Espírito Santo.
4) Identificando todas as profecias do Antigo Testamento que se
cumpriram em Jesus e na igreja.
5) Estudando as dispensações e o que acontece e aconteceu em
cada período dispensacional.
6) Tópicos. Existem dezenas de tópicos, como fé, amor, salvação,
cura, perdão, vida eterna, coragem, etc. que podem ser
estudados ao longo da vida de estudo.
7) Cronologias. O estudante deve saber o que aconteceu em cada
período da história bíblica, pela ordem.
8) Números. Deve estudar sobre a importância que os números
representam nas Escrituras. O sete é o número ou a marca de
Deus em toda Bíblia.
9) Parábolas. As parábolas são importantes, pois são janelas que se
abrem para entendermos o sentido do que o autor está falando.
10) Milagres. O estudante pode estudar cada milagre da Bíblia, pela
ordem de acontecimento e notará que a Bíblia está repleta de
milagres. Ela é uma exposição da ação de Deus na história
humana.

CETADEB Teologia Pastoral I
11) Deve estudar os ensinos de Jesus enquanto esteve na terra. Se
possível, deve memorizar todo o sermão da montanha, nos
capítulos 5-7 de Mateus.
12) Pode fazer uma comparação do conteúdo existente nos quatro
evangelhos, comparando-os e vendo as diferenças de números,
dados e opiniões.
13) Estudando os mais importantes capítulos da Bíblia. Existem
capítulos da Bíblia dos quais podemos tirar grandes sermões e
ensinamentos. Mateus 13, os Salmos 23, 73, 90 e 91; salmo 103
e Isaías 6, apenas para citar como exemplos. O famoso pregador
britânico G. Campbell Morgan apresenta uma lista de 48
capítulos importantes que devem ser usados como temas de
pregações (MORGAN, G. Campbell, Great Chapters of the Bible, Marshall
Morgan, Londres).
14) Metais e minerais. O estudante pode conhecer detalhadamente
os minerais mencionados na Bíblia, como o ferro, cobre, prata,
outro, entre alguns.
15) Geografia. Deve dedicar algum tempo para conhecer a geografia
do mundo bíblico. Algumas Bíblias têm mapas coloridos e dados
importantes, para que não cometa o deslize de afirmar que o
peixe vomitou a Jonas nas praias de Nínive. Algo impossível.
16) Orações. Existem grandes orações na Bíblia que devem ser
analisadas. A oração de Salomão em 1 Reis 8; a de Neemias no
capítulo 9; a de Daniel também no capítulo 9; a de Josafá em 2
Crônicas 20; a oração de Jesus em João 17. Existem tantas outras
orações importantes.
17) Dificuldades Bíblicas - paradoxos bíblicos e sua inerrância. O
estudo das dificuldades bíblicas e de temas aparentemente
contraditórios. Por exemplo, Paulo fala que não devemos nos
irar, mas depois afirma: "Irai-vos e não pequeis". O que ele quer
dizer?
18) Cristo. A vida de Jesus Cristo requer atenção especial porque é
modelo de fé a todos os obreiros. E o estudo da vida de Jesus
exige tempo, pesquisa e dedicação.
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CETADEB Teologia Pastoral I
19) Doutrina. Este é um tema que faze parte da matéria de teologia
sistemática. Doutrina é a essência do ensinamento de Deus.
"Goteje a minha doutrina como a chuva", diz o Senhor (Dt 32.2).
No Novo Testamento, doutrina é didaskalós, ou ensinamento,
que consiste em mandamentos para o crente observar, como
amar a esposa, submeter-se ao marido, cuidar dos filhos, amar o
próximo, não mentir, roubar ou defraudar o próximo, etc.
Vale ressaltar aqui as palavras de Paulo a Timóteo: "Procura
apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (1 Tm
2.15).
Questão para reflexão: Até que ponto o estudo exaustivo
das Escrituras pode afetar minha vida limitando minha vida pessoal
apenas ao conhecimento teórico e não a pratica? O que fazer para
tornar o ensinamento bíblico agradável e prático?
Centralidade da reflexão: É preciso conhecer
profundamente as Escrituras para respondermos com sabedoria
nossas próprias indagações e as indagações dos irmãos. O obreiro
do Senhor deve tentar responder cada indagação, com sinceridade;
confessando também que certos temas são de conhecimento
transcendental e conhecidos apenas pela fé.
Atividades- Lição III
> Marque "C" para Certo e "E" para Errado
í) O O dinheiro fez que muitos santos de Deus pecassem, e as
escrituras têm vários exemplos .
2) O Tanto o que trabalha num emprego secular ou tem sua
empresa comercial como o que depende da igreja para seu
sustento depende da fé.
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CETADEB Teologia Pastoral I
3) u J Jesus apresentou aos apóstolos um modelo de vida luxuosa
(Mt 10.9-10).
4) 0 Embora Paulo trabalhasse para se sustentar, a Bíblia revela
que houve um período, em que ele "se entregou totalmente à
palavra" (At 18.5), o que significa que naquele período ele não
precisou trabalhar a fim de prover seu sustento.
5) O De maneira geral, os que nunca trabalharam, quer em
empresas quer nas lidas diárias do campo ou da cidade, não
sabem valorizar a importância do trabalho, nem dão valor ao
custo do dinheiro.
6) □ Francis Asbury, aconselhava seus obreiros a dedicar uma
hora de oração a partir das cinco horas da manhã, e depois das
cinco às seis da tarde. Os obreiros tinham de dedicar das seis da
manhã até o meio-dia para o estudo.
98

CETADEB Teologia Pastoral I
Lição IV
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CETADEB Teologia Pastoral I

CETADEB Teologia Pastoral I
O Ministro E Sua Vida De Oração
N
a lição anterior o estudante aprendeu sobre
importância de se reservar um local para o
estudo e oração. O mesmo local onde se
gasta tempo para o estudo da palavra de
Deus é útil também para a privacidade da
oração. Nesta lição o estudante verá a
importância da oração na vida diária do obreiro.
A oração é um dos temas mais empolgantes da Bíblia e uma
disciplina fundamental para o sucesso ministerial do obreiro.
Porém, apesar dessa importância, é a área mais negligenciada na
vida pastoral.
O obreiro gosta de estudar e de pregar, mas nem sempre
gosta de orar. Neste estudo o aluno estudará sobre algumas
orações importantes do Antigo Testamento e aprenderá o tema à
luz do ensinamento de Jesus e dos apóstolos.
Apesar de não haver nas escrituras admoestações ou
ensinamentos sobre a importância da oração, nem exortações ou
incentivos para que o povo tivesse uma vida de oração no Antigo
Testamento, em suas páginas estão as mais lindas e efetivas orações
de todos os tempos.
Às vezes depara-se com pequenas orações em forma de
suspiro, que foram respondidas por Deus, como a de Neemias, que
exclamou: ‘‘Lembra-te de mim para meu bem, ó meu Deus, e de
tudo quanto fiz a este povo" (Ne 5.19).
Outras são orações grandes, como a oração de Moisés, que
arriscou a própria vida intercedendo diante de Deus a favor do povo
101

CETADEB Teologia Pastoral I
de Israel (Ex 32.11-13, 30-34; Nm 14.13-19); a oração de Davi, em
ações de graças (1 Cr 17.16-27) e sua oração de confissão de
pecados (SI 51); a oração de Salomão na inauguração do templo (1
Rs 8.22-53); a oração de intercessão de Daniel (Dn 9) e a de
Neemias, (Ne 9), registradas palavra por palavra.
1. El e m e n t o s Im p o r t a n t e s Na s Gr a n d e s Or a ç õ e s DoA .T .
Ao estudar as orações feitas pelos servos de Deus no
período do Antigo Testamento, depara-se com alguns elementos
chaves que servem de aprendizado e ensinam como se pode orar.
Tome-se por base para o estudo cinco grandes orações do A.T. que
são as orações de Salomão (1 Rs 8), Josafá (2 Cr 20), Daniel (Dn 9)
Esdras (Ed 9) e Neemias (Ne 9). Em todas pode-se encontrar
elementos didáticos para nortear a vida de oração do obreiro.
1.1. A d o r a ç ã o
Na maioria das orações, pode-se observar que esses
homens de Deus, quando oravam, adoravam a Deus, reconhecendo
a soberania e o governo do Eterno sobre todas as coisas.
Observe algumas expressões de adoração:
"Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus como tu, em cima nos céus
nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a
teus servos que de todo o coração andam diante de ti" (1 Rs 8.23).
"Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura, não és tu Deus nos
céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos dos povos? Na tua mão,
está a força e o poder, e não há quem te possa resistir" (2 Cr 20. 6).
"Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em
eternidade. Então, se disse: Bendito seja o nome da tua glória, que
ultrapassa todo bendizer e louvor. Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu
dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e
tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos
céus te adora" (Ne 9.5- 6).
Na adoração o crente adquire um senso da soberania, como
aconteceu com o rei da Babilônia que exclamou: “Quão grande são
102

CETADEB Teologia Pastoral I
os seus sinais, e quão poderosas, as suas maravilhas! O seu reino é
reino sempiterno, e o seu domínio, de geração em geração (...) e eu
bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre,
cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração"
(Dn 4.3, 34 e ss).
Na adoração adquire-se também um senso de que Deus não
muda, isto é, que é imutável. Pode-se comprovar essa característica
de Deus nas palavras ditas a Moisés no Sinai: "Eu sou o que sou” (Ex
3.13-14).
Em Malaquias 3.6 Deus diz dele mesmo: "Porque eu, o
Senhor, não mudo". Em Hebreus 1.11-12 o apóstolo afirma: "Eles
perecerão; tu porém permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual
vestido; também qual manto os enrolarás; como vestidos serão
igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais
terão fim".
Em Jó 42.2, “Bem sei que tudo podes e nenhum dos teus
planos pode ser frustrado". Os Salmos 90.2; 106.48; 10.16 falam
desta imutabilidade divina: "De eternidade a eternidade tu és Deus".
1.2. Ap e l a n d o Em Or a ç ã o Às Pr o m e s s a s De De u s
Outro elemento importante é que nas orações esses servos
de Deus apelam e reivindicam as promessas que Deus fez no
passado aos patriarcas. Era como se Deus precisasse ser lembrado
do que prometera aos pais no passado.
Salomão apelou às promessas de Deus feitas a Davi:
"... que cumpriste para com teu servo Davi, meu pai, o que lhe
prometeste; pessoalmente o disseste e pelo teu poder o cumpriste, como
hoje se vê. Agora, pois, ó Senhor, Deus de Israel, faze a teu servo Davi, meu
pai, o que lhe declaraste, dizendo: Não te faltará sucessor diante de mim,
que se assente no trono de Israel, contanto que teus filhos guardem o seu
caminho, para andarem diante de mim como tu andaste. Agora também, ó
Deus de Israel, cumpra-se a tua palavra que disseste a teu servo Davi, meu
pai" (1 Rs 8.24-26).
103

CETADEB Teologia Pastoral I
Ezequias invocou a aliança que Deus fez a Abraão:
"Porventura, ó nosso Deus, não lançaste fora os moradores desta
terra de diante do teu povo de Israel e não a deste para sempre à
posteridade de Abraão, teu amigo? Habitaram nela e nela edificaram um
santuário ao teu nome, dizendo: Se algum mal nos sobrevier, espada por
castigo, peste ou fome, nós nos apresentaremos diante desta casa e diante
de ti, pois o teu nome está nesta casa; e clamaremos a ti na nossa angústia,
e tu nos ouvirás e livrarás" (2 Cr 20.7-9).
Neemias também apelou para as promessas divinas:
"Tu és o Senhor, o Deus que elegeste Abrão, e o tiraste de Ur dos
caldeus, e lhe puseste por nome Abraão. Achaste o seu coração fiel perante
ti e com ele fizeste aliança, para dares à sua descendência a terra dos
cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos jebuseus e dos
girgaseus; e cumpriste as tuas promessas, porquanto és justo" (Ne 9.7).
Daniel apelou para a aliança divina:
"Orei ao Senhor, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus
grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te
amam e guardam os teus mandamentos" (Dn 9.4).
1.3. Ap e l a n d o Ao Ca r á t e r Mis e r ic o r d io s o De De u s
Moisés queria tanto ver a glória de Deus, que suplicou:
“Rogo-te que me mostres a tua glória'', mas Deus lhe respondeu:
“Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o
nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e
me compadecerei de quem eu me compadecer" (Ex 33.18-19).
Aqueles homens de Deus também apelaram para o caráter
de justiça e de misericórdia de Deus. A oração de Salomão em 1 Reis
8 está impregnada de apelos à misericórdia divina.
Ezequias mencionou que o povo foi obediente e não invadiu
a terra das nações que agora ameaçavam a paz em Israel: "...eis que
nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora da tua possessão, que
nos deste em herançalAh! nosso Deus, acaso não executarás tu o
teu julgamento contra eles?" (2 Cr 20.11-12).
Esdras orou: “Ah! Senhor, Deus de Israel, justo és..." (Ed
9.15).

CETADEB Teologia Pastoral I
Neemias disse: "Porém tu, ó Deus perdoador, clemente e
misericordioso, tardio em irar-te e grande em bondade, tu não os
desamparaste... Todavia, tu, pela multidão das tuas misericórdias,
não os deixaste no deserto" (Ne 9.17,19).
E Daniel concluiu sua oração assim: "...porque não lançamos
as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas
em tuas muitas misericórdias" (Dn 9.18).
Quando o crente ora, toca na misericórdia de Deus,
aprendendo que ele é misericordioso, e este senso da misericórdia
divina deixa o obreiro mais humilde e misericordioso.
Davi, percebendo que havia pecado e que o juízo de Deus
era iminente sobre ele, falou ao profeta Gade: “Então, disse Davi a
Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor,
porque são muitíssimas as suas misericórdias, mas nas mãos dos
homens não caia eu" (1 Cr 21.13).
Quando o templo de Salomão foi inaugurado, os filhos de
Israel viram descer o fogo e a glória do Senhor sobre a casa,
prostram-se com o rosto em terra e adoraram, "e louvaram o
Senhor, porque é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre"
(2 Cr 7.3).
1.4. In t e r c e s s ã o E Co n f is s ã o De Pe c a d o s
Por último, a intercessão e a confissão de pecados fazem
parte destas orações, não apenas a favor de quem está
intercedendo a Deus, mas também a favor da nação de Israel.
Quando o obreiro dedica tempo para falar com Deus pode suplicar-
lhe que perdoe os pecados, os pecados de seus familiares, da igreja
e de seus amigos.
O ministro deve ter um coração misericordioso
intercedendo continuamente a Deus a favor dos demais. A oração
do intercessor a favor das pessoas é destaque em vários textos da
Bíblia. 0 intercessor é alguém que se põe entre o povo e Deus,
suplicando o favor divino e desviando a ira de Deus. O texto de
Ezequiel 22.30 expressa a importância de um intercessor para
105

CETADEB Teologia Pastoral I
aplacar a ira divina: "Busquei entre eles um homem que tapasse o
muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra,
para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei."
Daniel foi um intercessor que se colocou diante de Deus a
favor do povo. No final de sua oração, Daniel apela para o caráter
perdoador de Deus, suplicando: "Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa;
ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo,
ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo
teu nome. Falava eu ainda, e orava, e confessava o meu pecado e o
pecado do meu povo de Israel, e lançava a minha súplica perante a
face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus" (Dn
9.19-20).
Abraão, quando Deus lhe avisa que irá destruir as cidades
de Sodoma e Gomorra, coloca-se diante de Deus, intercedendo a
favor dos justos que supostamente deveriam habitar naquelas
cidades, e apela para o caráter de justiça de Deus: "Destruirás o
justo com o ímpio? Longe de ti o fazeres tal coisa, matares o justo
com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti. Não
fará justiça o juiz de toda a terra?" (Gn 18.23-25).
A cada resposta de Deus, percebe-se que não existem
tantos justos assim, por isso pergunta a Deus se ainda destruiria a
cidade caso houvesse dez justos habitando nela (Gn 18.32).
Por fim, cessa de interceder, porque que a cidade é tão
iníqua que não há nem dez justos. Na hora de destruir a cidade,
"lembrou-se Deus de Abraão, e tirou a Ló do meio das ruínas" (Gn
19.29).
Quando o povo de Israel transgrediu a Deus fazendo um
bezerro de ouro para adorar, Deus disse a Moisés: "Agora, pois,
deixa-me, para que acenda contra eles o meu furor, e eu os
consuma; e de ti farei uma grande nação".
Moisés percebeu que Deus se irou e que estava disposto a
destruir a nação, e por isso prostrou-se diante do Altíssimo,
suplicando: "Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si
deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-
106

CETADEB Teologia Pastoral I
me, peço-te, do livro que escreveste (Ex 32.31-32). A intercessão de
Moisés salvou a nação.
Quando Salomão orou a Deus na inauguração do templo,
este lhe respondeu assim: “Se o meu povo, que se chama pelo meu
nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus
maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus
pecados e sararei a sua terra" (2 Cr 7.14).
Davi suplicou perdão de seus pecados: " Lava-me
completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado"
(SI 51.2). A oração de confissão, presente nas grandes orações do
Antigo Testamento foi lembrada pelo Senhor Jesus Cristo quando
ensinou seus discípulos a orar, dizendo: "Perdoa as nossas dívidas,
assim como perdoamos os nossos devedores" (Mt 6.12).
Em João 17 há o registro da oração de Jesus a favor dos
discípulos, um exemplo de oração intercessória. "É por eles que eu
rogo", dizia Jesus ao Pai, e todo o capítulo se constitui numa grande
oração, a favor dos discípulos e dos futuros crentes, baseada
também na misericórdia divina. "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e
ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste
esteja neles, e eu neles esteja" (Jo 17.26).
2. Je s u s E A Or a ç ã o.
Os quatro livros dos evangelhos registram que a oração
fazia parte da vida diária de Jesus. Nesses, há menção de Jesus em
seus momentos de intercessão e de intimidade com o Pai. Quando
se sentia pressionado pela multidão, “se retirava para lugares
solitários e orava" (Lc 5.16).
Às vezes retirava-se a noite toda: “Naqueles dias, retirou-se
para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus" (Lc
6.12), ou era flagrado orando sozinho (Lc 9.18). E esta vida de
oração o acompanhou até horas antes de sua morte. “E, estando em
agonia, orava mais intensamente. Levantando-se da oração, foi ter
com os discípulos, e os achou dormindo de tristeza, e disse-lhes: Por
Í07

CETADEB Teologia Pastoral I
que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em
tentação" (Lc 22.41. 44-46).
Os apóstolos que escreveram as epístolas conheceram Jesus
na intimidade, e um deles ao escrever a epístola aos Hebreus,
afirma que Jesus, quando orava, fazia suas orações com súplicas e
gemidos. "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com
forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da
morte..." (Hb 5.7).
Ora, se Jesus, que viera do céu necessitava reservar tempo
para ficar em oração a sós com o Pai, que se espera do obreiro do
Senhor? Neste sentido, Jesus contou uma parábola, isto é, abriu
diante deles uma janela para incentivá-los a orar sem nunca
esmorecer ou desanimar (Lc 18.1).
2.1. Je s u s En s in o u Os Dis c íp u l o s A Ora r
Jesus ensinou seus discípulos que a oração é algo muito
particular na vida de cada pessoa. Os judeus costumavam orar em
público para serem vistos pelas pessoas, e Jesus viu nisso uma
atitude hipócrita, uma vida de aparências, e alertou: "Quando vocês
orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé
nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos
outros" (Mt 6.5 - NTLH).
"Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada
a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições,
como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão
ouvidos" (Mt 6.6).
Os discípulos notaram que Jesus orava constantemente, por
isso pediram ao Mestre que lhes ensinasse a orar. Algumas das
maiores pregações sobre oração tiveram como base a oração que
Jesus ensinou.
Ele deixou um modelo de como se deve orar. "Portanto, vós
orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu
108

CETADEB Teologia Pastoral I
nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra
como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as
nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal
pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!" (Mt 6.6-
13).
2.2. Je s u s In c e n t iv o u Os Dis c íp u l o s A Pe d ir e m Ao Pa i Em Or a ç ã o
"Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam,
e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede recebe; o que busca,
encontra; e àquele que bate, a porta será aberta" (Mt 7.7-8 - NVI).
2.3. Je s u s En s in o u Os Dis c íp u l o s A Or a r Pa r a Se r e m Gu a r d a d o s
Do Mal
É de fundamental relevância o ensinamento de Jesus sobre
a oração para ser protegido do mal. Na oração dominical, ele
ensinou os discípulos a orar, dizendo: "E não nos deixes cair em
tentação; mas livra-nos do mal'’ (Mt 6.13).
Este é em si um bom motivo para que se busque a Deus.
Ora, se o Senhor Jesus ensinou a orar assim, é porque o mal é um
perigo que sempre ronda os crentes. E "mal" aqui, não é uma coisa
genérica, uma maldade ou uma situação difícil; "mal", aqui se refere
ao Maligno. Isto porque o Maligno prepara situações e laços para
levar as pessoas à queda.
Na conhecida "oração sacerdotal" de João 17 Jesus orou ao
Pai, suplicando a favor de seus filhos: "Não peço que os tires do
mundo, e sim que os guardes do mal" (v. 15).
O mal, ou o Maligno é visto por Pedro como um leão que
ruge ao derredor buscando alguém para tragar (1 Pe 5.8). Paulo
conhecia muito bem a ação do mal, e afirmou: "O Senhor me livrará
também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino
celestial" (2 Tm 4.18).
109

CETADEB Teologia Pastoral I
O ensino de Jesus sobre a oração foi levado a sério pela
igreja que surgia naqueles dias. "E perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42).
A oração individual é importante, e não se pode
negligenciar o tempo de oração coletiva, quando todos se reúnem
num só lugar para interceder. A primeira grande oração registrada
no livro de Atos dos Apóstolos possui alguns dos elementos vistos
anteriormente.
"Por que se enfureceram os gentios, e os povos
imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as
autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o
seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta
cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste,
Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para
fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito
predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças
e concede aos teus servos que anunciem com toda a
intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer
curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo
Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam
reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com
intrepidez, anunciavam a palavra de Deus" (At 4.25-31).
3. O En s in a m e n t o De Pa u l o So b r e A Or a ç ã o.
As epístolas de Paulo contêm ensinos importantes sobre a
oração, podendo-se resumir o que ele disse traçando alguns
pontos:
3.1. A O r a ç ã o É Um a Ba t a l h a
Paulo via a oração como uma batalha. "Rogo-vos, pois,
irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do
Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu
favor" (Rm 15.30).
110

CETADEB Teologia Pastoral I
A palavra "lutar" aqui é "sunagonizomai" (aovayoviÇo|iai),
agonizar, como numa luta mesmo.
Esta palavra é usada em Lucas 13.24 para "esforçai-vos"; e a
"lutar nos jogos" (1 Co 9.26).
Para Paulo, havia a necessidade de se manter uma luta em
oração. O sentido de lutar, brigar, fazer esforço, é muito forte na
mensagem de Paulo. "Combate o bom combate da fé" (1 Tm 6.12; 2
Tm 4.7), afirma Paulo.
Orar, é entrar numa batalha! Cl 4.2,12). Paulo fala de
Epafras "O qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós
nas orações..." (Cl 4.2,12). Aqui o sentido também é de agonizar, de
se esforçar para alcançar um prêmio. Epafras, pelo visto, era
homem de oração! Paulo afirma: "Porque não sabemos orar como
convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com
gemidos inexprimíveis" (Rm 8.26), o que indica que o Espírito Santo
participa do esforço feito na oração. Foi o que teria acontecido com
Jesus diante do desespero de Maria: "Ele agitou-se no espírito e
comoveu-se” (Jo 11.33).
Paulo costumava interceder a favor de cada pessoa, citando
seus nomes a Deus. E orava com propósito, "Para que o Deus de
nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de
sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os
olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu
chamamento..." (Ef 1.1-18).
É na oração que ele se põe de joelhos "diante do Pai"
suplicando por cada membro do corpo de Cristo (Ef 3.14-20), e "por
todos os santos" (Ef 6.18). "E também faço esta oração: que o vosso
amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a
percepção..." (Fp 1.9).
É quando tem a oportunidade de interceder pelas
necessidades do mundo, suplicando, orando e intercedendo com
ações de graça "em favor de todos os homens, em favor dos reis e de
todos os que se acham investidos de autoridade" (1 Tm 2.1-2).
lll

CETADEB Teologia Pastoral I
3.2. A Or a ç ã o É A Pr in c ip a l Ar m a Es p ir it u a l Na Lu t a Co n t r a
Sa t a n á s
Paulo afirma que as armas do crente não são carnais, isto é,
ele não luta com coisas comuns, como carne e sangue, e que essas
armas são "poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando
nós sofismas, e toda altivez que se levante contra o conhecimento
de Deus..." (2 Co 10.4). O obreiro invade o território de Satanás com
armas espirituais, e uma delas é a oração.
Por isso Paulo aborda a questão, afirmando que, embora
“andando na carne, não militamos segundo a carne" (v.3). Se as
armas não são carnais - quer dizer - se não fazem parte do arsenal
natural humano, elas são espirituais; e como toda arma espiritual
ela só tem poder de ação em território espiritual.
3.3. A O ra çã o É Uma F o rta le za P a ra A V ida Do O b reiro
O obreiro quando mantém uma vida de oração, vive sob
constante proteção de Deus. "Embraçando sempre o escudo da fé",
afirma Paulo, "com toda oração e súplica, orando em todo tempo no
Espírito" (Ef 6.16,18). E o leva a viver constantemente nas "regiões
espirituais". Ele aprende a "orar no Espírito" (Ef 6.18).
Ele consegue viver entre o natural e o espiritual ou
transcendental com a maior naturalidade. "Orarei com o espírito,
mas também orarei com a mente" (1 Co 14.15), "orando no Espírito
Santo” (Jd 20).
O obreiro que ora, apesar de lutar em intercessão, aprende
a depender de Deus e a descansar nele.
3.4. A O ra çã o É Um Rio Em Que O s Serm ões São B anhados Com
A Gr a ç a De Deu s
É na oração que o obreiro recebe inspiração, reflete os
temas teológicos e aprende a aplicar o sermão às necessidades das
pessoas. Cada mensagem que prepara deve ser regada com as
112

CETADEB Teologia Pastoral I
lágrimas da oração. Deve aprender a refletir o que irá pregar em
oração.
O Espírito Santo é o inspirador de suas mensagens, mas é
necessário que se detenha pare refletir sobre o que irá falar em
oração diante de Deus. Os maiores sermões surgiram quando os
joelhos estavam dobrados diante do Senhor.
4. Frases Atribuídas A Servos De Deus Que Oravam
Em seu livro, Seu Destino é o Trono, Paulo Billheimer
(Cruzada de Literatura Cristã, l ã. Edição, 1984 p. 46), cita várias
frases de homens de Deus cuja vida de oração marcaram a história
da igreja.
Ele fala que se atribui ao pregador inglês João Wesley a
famosa frase: "Deus nada fará senão em resposta à oração" e que
S.S. Gordon afirmou: "A coisa mais importante que alguém pode
fazer para Deus e para o homem é orar. Orar é desferir o golpe
vencedor... o culto é a colheita dos resultados".
E.M. Bounds conhecido por sua profundidade da vida de
oração declarou: "Deus molda o mundo pela oração. Quanto mais
oração houver no mundo, tanto melhor o mundo será e tanto mais
poderosas as forças contra o mal. As orações dos santos de Deus são
o capital acionário do céu mediante o qual Deus leva avante sua
grande obra na terra... a oração deveria ser o principal negócio de
nossos dias".
É recomendável que os obreiros lutem constantemente
contra a vontade de não querer orar. A maior vitória do obreiro é
dominar sua própria vontade. Ele deve lutar contra a vontade de
não querer obedecer. A oração é um mandamento. Tem de ser
obedecido.
O obreiro deve lutar contra as potestades satânicas no
mundo espiritual que se lhe opõem e impedem-no de orar.
Neste sentido foi que Jesus contou uma parábola em Lucas
18: "...sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer" (v.l).
113

CETADEB Teologia Pastoral I
Ele contou a história de uma viúva que não desistiu
enquanto sua causa não fosse julgada. Por isso, a oração que vence
é a oração de perseverança, isto é, orar sempre sem nunca
desanimar.
O conhecido cântico da Harpa Cristã deve ser cantado
nesses dias:
Com Jesus a minha alma deseja estar;
no jardim em constante oração
Quando a noite chegar;
e o mal me cercar quero estar em constante
oração... (H.C. 296).
Questão para reflexão: Como posso manter o equilíbrio
entre a vida de estudo e a vida de oração? Se os dois temas são
importantes, qual deles têm maior peso em meu ministério?
Centralidade da reflexão: Devo reconhecer que sem uma
vida de oração meu ministério será infrutífero, pois a oração é a
mola-mestra que impulsiona o poder de Deus em minha vida.
A ESPOSA do ministro
Neste capítulo o aluno estudará sobre o papel da esposa do
obreiro no dia-a-dia da vida ministerial à luz das escrituras e da
cultura de cada povo. Esse tema, embora seja interessante e
importante para homens e mulheres, raramente é estudado em
escolas bíblicas.
Na realidade, a maioria das esposas não é preparada para
exercer o ministério ao lado do esposo. Geralmente acontece que o
esposo se envolve no ministério depois de anos de casado, dando-
se conta da realidade ministerial e da importância de um melhor
preparo da esposa quando está pastoreando uma igreja.
Via de regra, é a esposa que mais sofre com o despreparo e
com as demandas do serviço na igreja, tanto da parte do esposo,
114

CETADEB Teologia Pastoral I
quanto do povo e dos demais obreiros. Devido a tal problemática,
este capítulo tratará de alguns problemas e soluções possíveis para
que o ministro tenha uma esposa à altura de seu ministério.
O tema será desenvolvido comparando a maneira como as
mulheres eram tratadas na antiguidade até a aquisição dos direitos
sociais nos dias de hoje, com exemplos extraídos da Bíblia e das
páginas da história.
O estudante da Bíblia precisa entender que muito do que é
apresentado nas Escrituras deve ser entendido à luz da cultura da
época, isto é, da cultura oriental, tanto em relação ao homem como
à mulher. Até hoje, em cada país a mulher é tratada na sociedade
de maneiras diferentes, conforme a raça e a cultura. Apesar de ser a
Bíblia um livro que espelha a cultura oriental, com todos os
costumes sociais de cada época, é nele que se encontram os
elementos que podem ajudar o obreiro na vida ministerial, e os
princípios que norteiam a vida cristã.
Levando em conta este aspecto, há que se dar uma vista
d'olhos primeiramente na questão histórica.
1. Visão Histórica Da Mulher Na Antiguidade
No tempo de Cristo e dos primeiros séculos da igreja, as
mulheres não tinham direitos sociais: Eram discriminadas
socialmente, não eram incluídas no censo da população, não tinham
nome próprio e eram consideradas intelectualmente inferiores.
Esta condição social permaneceu até o século XX na maioria
dos países do Ocidente, e ainda permanece em grande parte de
países orientais.
1.1. As M ulheres Eram Socialm ente D iscrim inadas
A posição da mulher não mudou desde os dias de Moisés,
no deserto até os dias de hoje em algumas regiões da terra.
Ela era tratada muitas vezes como um objeto, sem voz ativa
nas decisões e sem direito a herança. Um dos exemplos da
115

CETADEB Teologia Pastoral I
discriminação da mulher em relação a herança pode ser vista na lei
de Moisés que não dava direito de herança às mulheres.
A questão da herança só sofreu alteração quando Moisés,
antes de entrar em Canaã, levando em consideração as reclamações
das filhas de Zelofeade, estabeleceu uma lei dando direitos às
mulheres, mesmo assim, só teriam este direito caso não houvesse
herdeiros homens na família (Nm 26.33 e 27.1-11).
Na antiguidade a mulher era responsável por buscar água
na fonte, um costume preservado em Israel desde os tempos de
Rebeca, esposa de Isaque, e no Novo Testamento representado
muito bem pela mulher de Samaria que Jesus encontrou junto a
fonte (Gn 24.15 ss e Jo 4.6-30). Além de ser a responsável por
manter a casa abastecida com água, ela cuidava das crianças,
trabalhava na moenda dos grãos, preparava a alimentação da
família e, muitas vezes, ajudava no pastoreio do rebanho - nada
diferente dos dias atuais.
A segregação social das mulheres daqueles dias pode ser
vista também nas páginas do Novo Testamento, em textos que
devem ser entendidos à luz da cultura oriental da época.
Paulo fala da atividade das mulheres na igreja e dos cultos
nas casas dela, como se verá mais adiante, elogiando a atuação das
mulheres, e noutra ocasião proibindo a participação das mulheres
nas reuniões. Ambos os episódios devem ser entendidos à luz dos
costumes da época, em que as mulheres não participavam das
reuniões públicas no mesmo espaço dos homens, sendo, às vezes,
separadas por uma cortina. (Este contraste ou paradoxo Paulino
pode ser analisado lendo-se Romanos 16.3-15 em que Paulo fala das
mulheres que tinham igrejas em suas casas, e o texto de 1 Coríntios
14.34-35).
1.2. As M ulheres N ão Eram Levadas Em C o n ta N o Censo Da
População
É bem possível que a discriminação social seja a razão por
que as mulheres não eram contadas nos censos levantados pelo
governo.
116

CETADEB Teologia Pastoral I
Nos registros bíblicos dos censos feitos em Israel, somente
os homens eram contados, acima de vinte anos de idade, e nem
mesmo se contavam os que tinham menos de vinte anos (Os da
tribo de Levi eram contados a partir de um mês de idade (Nm 3.4
ss).
O fato dos escritores do Novo Testamento mencionarem
que na multiplicação dos pães "os que comeram foram cerca de
cinco mil homens, além de mulheres e crianças" (Mt 14.21), indica
que as mulheres não eram levadas em conta na cultura da época).
Tais dados não devem ser motivo de admiração, porque as
mulheres brasileiras só passaram a ter direito de voto a partir da
metade do século XX.
1.3. As M ulheres E Seus Nomes
No passado, muitas vezes, as mulheres nem nome
possuíam, sendo chamadas pelo nome do pai ou do marido. As
mulheres romanas não tinham nome próprio, apenas uma
designação feminina do nome do pai. Assim, a filha de Júlio
receberia o nome de Júlia, de João, Joana.
No caso de haver mais de uma filha, a segunda receberia o
nome de Secunda, e a terceira, Tertia, e assim por diante. Ainda
poderiam ser chamadas de "Maior" e "Menor", isto é, a mais velha
e a mais nova.
Pode-se observar essa ausência de nome em várias
passagens bíblicas em que as mulheres são citadas, apenas como
filha ou esposa de um determinado indivíduo. Raramente os
escritores dos evangelhos mencionam o nome das mulheres. Por
exemplo, a mulher que sofria de hemorragia havia doze anos não
tem o seu nome citado por Mateus e Marcos.
É apenas "mulher" (Mt 9.20-22; Mc 5.25-34). A mulher
Cananéia que implorou a Jesus pela cura de sua filha é citada
apenas como "mulher" (Mt 15. 21-28). Nem tão pouco é
mencionado o nome da mulher que trazia o vaso de perfumes, mas
deduz-se ser Maria Madalena (Mt 26.7).
117

CETADEB Teologia Pastoral I
Nem a mulher de Pilatos tem seu nome mencionado no
Novo Testamento, isto que era esposa de um governador (Mt
27.19). O fato de muitas mulheres não serem mencionadas
mostram como eram tratadas na sociedade.
1.4. A s Mu l h e r e s Er a m In t e l e c t u a l m e n t e In f e r io r iz a d a s
Elas eram consideradas menos inteligentes que os homens,
o que demonstra uma inferioridade social. Os gregos achavam que
as mulheres eram intelectualmente inferiores aos homens, por isso
eram deixadas de fora de todas as funções sociais, e tidas apenas
como objetos de apelo sexual. E os homens romanos tinham a
mesma opinião sobre as mulheres.
Apesar de tudo, quando comparadas às mulheres da época
de Cristo na Judéia, as mulheres romanas usufruíam muito mais
liberdade que as mulheres do século XIX e do século XX. E é sob este
ângulo que se entende como Priscila tem tanto destaque na igreja
do Novo Testamento, pois residira em Roma durante anos.
Plínio, escritor romano, escreve ao imperador Trajano,
pedindo que seja concedida cidadania a duas escravas alforriadas e
o mesmo status à filha de um soldado (BELL, JR, Albert, Explorando
o Mundo do Novo Testamento, Editora Atos, p 107).
As mulheres romanas à época de Cristo ficavam sob a
guarda dos pais até o dia em que eram dadas em casamento. E é
neste contexto que se entende as recomendações de Paulo a
respeito das virgens e de como os pais deviam proceder com elas
em 1 Coríntios 7. 25-40.
Elas eram mantidas em casa até o casamento, e usadas
como negócio na família. Era um trunfo financeiro para se obter
dinheiro. Pode-se entender um pouco mais na declaração de Cícero:
"Nossos ancestrais decretaram que as mulheres, por serem
intelectualmente mais pobres, deveriam ter guardiães que as
protegessem" (Pro Murema: 12.27). Plínio em suas cartas (Cartas
4.19), fala maravilhosamente bem de sua mulher, mas seu texto
mostra o quanto a mulher daquela época vivia alienada da vida do
118

CETADEB Teologia Paslor.il I
marido: "Se me disponho a ler uma de minhas obras, ela senta-se
escondida por trás das cortinas e bebe alegremente, demonstrando
seu grande prazer.
Ela não me ama por causa de minha idade ou aparência,
que vagarosamente mudará, mas por minha fama".
2. A Visão De Cristo Sobre O Papel Das Mulheres
Naquele Período Da História
Cristo, contrariamente aos costumes de sua época, resgatou
a mulher à sua verdadeira posição no reino de Deus, dando-lhe
oportunidades nunca antes oferecidas, e mudando o conceito de
julgamento sobre elas.
A maneira como Jesus tratou as mulheres indica que na
cultura do reino de Deus elas têm um tratamento diferenciado. Por
exemplo: Ao negar responder aos acusadores da mulher pega em
adultério em João 8 Jesus demonstra misericórdia e imparcialidade
na lei.
A lei afirmava em Levítico 20.10 que homem e mulher pegos
em adultério deveriam ser mortos, mas a segregação social
daqueles dias levou os fariseus a quererem apedrejar apenas a
mulher.
Os acusadores, por outro lado, tiveram que ser lembrados
de que também eram pecadores. Jesus absolveu a mulher com uma
sentença: "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais"
(Jo 8.11).
2.1. As M ulheres Trab alh avam Com Jesus
Ele incluiu as mulheres em sua equipe de trabalho dando-
lhes oportunidade de serviço. O texto de Lucas 8.1-3 é uma
demonstração de que as mulheres seguiam a Jesus por todas as
cidades e o serviam com seus bens: "Maria, chamada Madalena, da
qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de
Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência
com os seus bens".
119

CETADEB Teologia Pastoral I
No dia da ressurreição quase todos os discípulos se
esconderam com medo dos judeus, as mulheres, no entanto,
descobriram que Jesus havia ressuscitado e foram as primeiras a
anunciar sua ressurreição (Lc 23.49,55).
Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver o Cristo
ressuscitado (Mc 16.9,10; Jo 20.1,11,18). Joana também seguiu a
Jesus até à cruz e à ressurreição (Lc 24.10).
Em meio a uma sociedade predominantemente masculina,
em que as mulheres não tinham direito algum, Jesus as resgatou à
verdadeira condição de filhas de Deus, servindo a Jesus.
3. A Atitude Da Igreja A Respeito Das Mulheres
O evangelho restaurou dignidade à mulher, o que pode ser
observado pela atividade delas no Novo Testamento. Um dos
exemplos mais claros do Novo Testamento está em Priscila, mulher
a quem o apóstolo Paulo sempre referia como obreira e
companheira de Áquila. Ela e seu esposo Áquila foram expulsos de
Roma por decreto do imperador Cláudio e se encontraram com
Paulo na cidade de Corinto.
Quando se estuda a vida de Priscila e de Áquila, nota-se
neles um casal que trabalhava em harmonia na obra de Deus (At
18.2-4). Ela e Áquila percebem que Apoio, um judeu alexandrino, e
eloqüente expositor bíblico necessitava de um maior conhecimento
de Jesus.
O casal, então, chama-o à parte e expõe-lhe de forma clara
o caminho de Deus (At 18.24-28). Paulo afirma que o casal colocou a
vida em risco defendendo-o diante das muitas perseguições, além
de que reuniam a igreja na casa deles (Rm 16.3-5; 1 Co 16.19).
Estudaremos sobre Áquila na lição sobre a família do obreiro.
3.1. As M ulheres Cooperavam Com O s Homens N o Serviço Da
Igreja
Isto se depreende do fato, de que os apóstolos sempre
fazem agradecimentos e recomendações especiais às mulheres.
120

CETADEB Teologia Pastoral I
Seria bom que o estudante examinasse cada personagem e os
textos bíblicos em que elas são citadas.
Maria, Júnias, Trifena e Trifosa, Júlia (Rm 16.6,7,12,15);
Ninfa, de Laodicéia (Cl 4.15); Cláudia (2 Tm 4.21); além de Lídia, que
muitos acreditam ser a iniciadora da igreja de Tiatira (At 16.14-15 c/
Ap 2.18).
Que elas se envolviam na vida da igreja pode ser notado
quando o apóstolo Paulo escreve aos irmãos de Corinto defendendo
o direito de ter em sua companhia uma mulher ou esposa,
perguntando por que ele e Barnabé não tinham o direito de serem
acompanhados por uma esposa ou irmã em suas viagens. "E
também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como
fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?" (1 Co
9.5).
Este texto de Paulo aos coríntios mostra quão necessário é,
para o homem, ter uma esposa companheira na obra. Pelo menos
pode-se supor que os demais apóstolos, os irmãos de Jesus, e Pedro
viajavam acompanhados de suas esposas ou irmãs. A dificuldade
para saber se eram apenas irmãs ou esposas deve-se ao fato de que
a palavra grega para mulher e esposa é a mesma.
Os avanços das conquistas sociais das mulheres foram
possíveis graças ao cristianismo que a elevou um patamar de maior
dignidade, especialmente na cultura ocidental, que pode ser
contrastado com a maneira como as mulheres ainda hoje são
tratadas em países predominantemente islâmicos.
A sociedade cristã abriu espaço para uma mulher mais livre,
em que pode usar de sua criatividade, com os mesmos direitos
sociais que o homem. Inclusive a de ser respeitada em seu direito
de se achegar à presença de Deus.
Em nenhum momento a Escritura afirma que a mulher
precise da intermediação do homem para ter acesso a Deus. Ao
contrário, o apóstolo Paulo deixa bem claro que diante de Deus,
homem e mulher são iguais. Homem e mulher são ouvidos e aceitos
121

(IIADEB Teologia Pastoral I
por Deus a qualquer momento. "No Senhor, todavia, nem a mulher
é independente do homem, nem o homem, independente da
m ulher (1 Co 11.11).
Apesar destes avanços do pensamento cristão, persistem
barreiras quanto a mulheres tomarem iniciativas e liderança em
assuntos da igreja. Ora, a mulher não deve ser privada de sua
criatividade e liderança, e sim incentivada a trabalhar ainda mais na
obra de Deus, sem esquecer, obviamente, sua função de esposa e
de mãe.
A Bíblia é tão flexível sobre este tema, que registra o
exemplo de certas mulheres do Antigo Testamento que tomaram
iniciativas diante de homens indecisos. Há o exemplo da profetiza
Débora, mulher de Lapidote que saiu à guerra com Baraque, que
solicitou a presença dela na batalha (Jz 4.4 e ss). Noutro episódio vê-
se nitidamente a liderança de uma mulher evitou que a cidade fosse
destruída pelo exército de Joabe (2 Sm 20.16-22).
4. O Sonho Que O Obreiro Tem Da Mulher Ideal
As esposas de obreiros costumam espelhar-se no modelo da
esposa perfeita e virtuosa descrita pelo rei Salomão no livro de
Provérbios: "Mulher virtuosa, quem a achará?” (A descrição dessa
fenomenal mulher que Salomão anelava está em Provérbios 31.10-
31).
Quando uma esposa se analisa à luz deste texto sente-se
diminuída e incompetente para acompanhar o esposo, pelo padrão
elevadíssimo colocado por Salomão, que jogou toda a
responsabilidade do sucesso do empreendimento do marido sobre
a mulher: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a mulher
que procede vergonhosamente é como o apodrecimento dos seus
ossos" (Pv 12.4). Por não ter tido tempo de se preparar para ser
esposa de obreiro, ela não pode ser "cobrada" pelo marido, mas
compreendida e ajudada pelo esposo a cada passo da vida
ministerial. Vale destacar que no Novo Testamento não temos um
ensinamento que forneça um padrão bíblico para que uma mulher
seja esposa de obreiro.
122

CETADEB Teologia Pastoral I
Quando o homem é chamado para o ministério ainda
solteiro, deve pensar seriamente na esposa que o acompanhará por
toda a vida escolhendo uma mulher que tenha também o mesmo
sentimento. “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea" (Gn 2.18), disse Deus na criação do
homem.
A esposa não foi criada para ser uma escrava do lar, uma
escrava sexual, ou uma reprodutora mãe de filhos, mas para viver
em perfeita harmonia com seu esposo, compartilhando das mesmas
atividades. Este companheirismo é colocado à prova no dia-a-dia do
lar e no trabalho da igreja.
Desta forma, unem-se em matrimônio sabendo dos desafios
que terão pela frente. Não existem na Escritura regras rígidas de
como proceder para se ter uma esposa. Encontramos um texto
afirmando que “casa e bens são herança dos pais, mas a esposa
certa vem do Senhor”, e outro que diz, “O que acha uma esposa
acha o bem e alcançou a benevolência do Senhor" (Pv 18.22).
Se o homem foi chamado para o ministério quando solteiro
Deus o orientará e encontrar a esposa que o complementará.
Os maridos precisam aprender a dialogar com suas esposas,
permitindo que elas estudem, que se profissionalizem e que se
aperfeiçoem em tudo. Assim, elas serão mais úteis no ministério,
fazendo do sucesso do esposo, seu próprio sucesso.
Quando um homem casado é chamado para o ministério,
certamente Deus está incluindo sua esposa no chamamento, pois
Deus não vê o homem como um ser isolado, mas os dois. Afinal, ele
é o cabeça da mulher, autoridade instituída por Deus, e sendo os
dois uma só carne, pode-se supor que Deus está chamando os dois.
No momento da consagração, do reconhecimento público e
da imposição de mãos para o ministério a mulher deveria ser
chamada a ajoelhar-se ao lado do esposo - mesmo em
denominações que não aceitem consagração de mulheres ao
ministério.

CETADEB Teologia Pastoral I
Porque ela haverá de carregar, daí em diante, ao lado do
esposo, o peso do serviço ou do ministério. Nenhum pastor terá
sucesso na jornada ministerial se não contar com a colaboração de
sua esposa.
Os homens também lêem o texto de Provérbios imaginando
uma companheira que seja esposa, amante que satisfaça seus
desejos sexuais, mãe aplicada e dedicada aos filhos, mulher de
iniciativa e que se envolva em todos os projetos da igreja, o que
nem sempre é possível. Esses sonhos precisam ser reavaliados. Um
homem que sonha com uma mulher assim deverá contratar
empregadas que façam o trabalho para ela.
Dificilmente o obreiro encontrará esta "super mulher", e
terá que aprender a conviver com as limitações da vida conjugal
porque a mulher não poderá desempenhar todas as funções que os
homens acham que são da competência delas realizar.
É aqui que Pedro aconselha que o esposo viva a vida comum
do lar, com discernimento. Podemos tomar a liberdade e
parafrasear o texto assim: "Maridos, vós, igualmente, vivei a vida
comum do lar, - ajudando na casa, limpando, lavando, trocando
fraldas - com discernimento; e, tendo consideração para com a
vossa mulher como parte mais frágil - isto é, como vaso delicado e
raro - tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da
mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas
orações" (1 Pe 3.7 - inserções do autor).
Bem, será difícil conseguir mulher assim, como bem afirmou
uma esposa de pastor: "Sempre têm-nos por imperfeitas, sempre
faltando alguma coisa em nós. Se materialmente estamos bem,
falta-nos o espiritual, ou vice-versa". Os obreiros têm certos sonhos
irreais; sonham alto demais.
5. A Esposa Do Pastor No Novo Contexto Social
As mulheres sempre tiveram grande participação nas
atividades da igreja, o que contrastava com a rigidez das leis da
nação que tolhiam a liberdade da mulher em querer trabalhar.
124

CETADEB Teologia Pastoral I
No século, XX, no entanto, a mulher obteve grandes
avanços de independência e liberação dentro da sociedade. As leis
dos países cristãos deram esta liberdade e independência da mulher
em relação ao homem.
Exemplo disto, é que em muitos países e também no Brasil,
as leis civis não consideram apenas o homem como chefe do lar,
mas também a mulher.
Homem e mulher são iguais perante a lei dentro do lar, é
que reza a constituição.
As leis brasileiras com respeito às mulheres foram
aperfeiçoadas, permitindo que as mulheres trabalhem em todos os
setores da produtividade da nação, como médicas, advogadas,
juízas, cientistas, executivas, etc. As mulheres de hoje estão mais
preparadas para enfrentar este mundo industrializado e
competitivo, sem precisar enfrentar as dificuldades que seus
antepassados tiveram.
Também, no passado, muitas mulheres obreiras
enfrentaram a fome, a miséria, a perseguição, bem como todo tipo
de dificuldades ao lado dos maridos nas missões em terras
estranhas, e muitas delas deram suas vidas pelo evangelho
morrendo no campo missionário.
Em contrapartida a mulher de obreiro hoje precisa estar
preparada para enfrentar as demandas do ministério diante de uma
sociedade liberalizada quanto aos padrões bíblicos da família.
Firmeza na fé é requisito básico para se enfrentar as tentações das
riquezas e da luxúria. E o desafio de ser uma esposa intelectual sem
deixar de ser espiritual.
6. C o n se lh o s P rá tic o s P a ra A Vida M in is te ria l A Dois
É preciso admitir que numa lição apenas, é impossível
abordar todas as implicações e soluções que afetam a vida
ministerial das esposas de obreiros.
No entanto, a experiência ministerial permite que se
identifiquem alguns comportamentos inadequados que
125

CETADEB Teologia Pastoral I
comprometem o relacionamento do ministro com sua esposa e
vice-versa.
6.1. Esposa Faz-Tudo
Existe no meio evangélico a idéia de que a esposa do
obreiro seja eficiente em tudo. Que ela saiba dirigir o coral, cantar,
cuidar das crianças, liderar as mulheres, tocar instrumentos
musicais, etc.
Este é um engano que precisa ser corrigido. São áreas que
outras pessoas da igreja também sabem executar com maestria. Se
a esposa do pastor não tem todos os dotes necessários é criticada,
se os têm, é invejada. Sim, pois muitas mulheres gostariam de estar
no lugar dela.
Uma esposa de pastor precisa aprender a lidar bem com
esta área, se possível, gerenciando para que outras esposas
trabalhem na obra, aliviando-lhe de certas responsabilidades.
6.2. A Esposa Cium enta
Um dos problemas que precisa ser bem administrado é o
ciúme que a esposa do pastor tem do marido sempre que o vê ao
lado de outras mulheres, o que é parte de seu ofício.
Ao contrário de ser ciumenta, ela deveria usar seu bom
senso e a capacidade que Deus lhe deu de observar quando certas
mulheres estão cobiçando sexualmente seu esposo. Se o casal tiver
um bom diálogo, a esposa poderá ajudar o marido sobre este
assunto.
A esposa ciumenta destrói o ministério do marido, por isso,
deve amadurecer para nunca se sentir ameaçada pelas outras
esposas, e cumprir seu papel de esposa, cuidando de sua aparência,
vestindo-se bem, fazendo um cursinho de etiqueta para receber
amigos e amigas da igreja, esmerando-se na casa, cuidando da
aparência de seu esposo, e deixando-o livre, sem ficar no "pé dele".
Deve aprender a confiar no esposo.
126

CETADEB Teologia Pastoral I
Deve ser mulher de oração a favor do esposo, suplicando
que Deus o proteja, e ajudando-o para que ele não caia em ciladas
sexuais, em ciladas financeiras ou que venha a se orgulhar.
O ciúme corrói o relacionamento marido e mulher como um
câncer.
O pastor ministra a pessoas, não a objetos. Se trabalhasse
numa fábrica, lidando com uma máquina, sem ter com quem
conversar o dia todo, por certo chegaria em casa com uma vontade
insaciável de falar.
No entanto, passa todo o dia falando, seja ao telefone, com
outros colegas, aconselhando, orando, ministrando e pregando, e
quando chega em casa não lhe apetece falar.
Resultado: a esposa se ressente com tudo isso. Além do
mais, 80% das pessoas que o procuram são mulheres e a queixa
principal das esposas é que seus maridos são mais corteses com as
outras mulheres do que com elas.
Na maioria das vezes as mulheres que o procuram para
aconselhamento vêem no pastor o homem ideal com quem
gostariam de casar, compreensivo, atento, cordial, romântico e que
elas não têm em casa.
A esposa do pastor não pode ser mulher ciumenta; ou
confia no marido que Deus lha deu, ou jamais deveria haver casado.
Muitos ministérios não prosperaram e muitas igrejas
enfrentaram problemas com esposas de pastores ciumentas.
6.3. Es p o s a Fa l a d e ir a
Basta ler Tiago 3 para se ter idéia do poder destrutivo da
língua. A língua, diz Tiago, precisa ser freada, pois "é fogo; é mundo
de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de nosso
corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a
carreira da existência humana, como também é posta ela mesma
em chamas pelo inferno” (Tg 3.6).
127

CETADEB Teologia Pastoral I
Eis algumas recomendações importantes:
[3 É imprescindível que a esposa do pastor aprenda a controlar
suas palavras. Falar demais e não saber ouvir são dois defeitos
graves numa esposa de pastor.
[3 Deve aprender a guardar segredos do que vê e ouve.
S Jamais deve compartilhar com suas melhores amigas como é a
vida conjugal dos dois, como vivem no lar, e nunca falar
negativamente de seu marido. Agindo assim, descobrirá
espiritualmente o esposo, levando-o a perder sua autoridade
espiritual perante as pessoas.
S Se necessário, deve relatar em aconselhamento, as coisas boas,
e de como é possível marido e mulher solucionarem cada
problema que enfrentam.
Uma esposa de pastor que não tem ciúmes das demais
mulheres da igreja e que guarda os seus lábios pra não falar além do
necessário, faz do ministério do pastor, seu próprio sucesso
ministerial.
Paulo pediu aos irmãos que ficassem firmes, "em um só
espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica" (Fp
1.27).
E depois acrescenta:
"Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo
o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude
há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso
pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e
ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será
convosco" (Fp 4.8-9).
A mulher do obreiro deve se conscientizar de que existem
muitas mulheres na igreja querendo ocupar o lugar dela. Uma
mulher falou à esposa de um pastor: “Como eu gostaria de ter um
esposo como o teu".
128

CETADEB Teologia Pastoral I
Aos olhos de outras mulheres o pastor é um homem
perfeito, santo, marido exemplar, um super-homem. Elas sonham
com a posição e gostariam de ser a esposa do pastor. A esposa do
pastor não pode ter ciúmes de tais mulheres, além de que, deve de
todas as maneiras, proteger seu esposo. É tarefa difícil, mas
necessária.
Uma das soluções é que o aconselhamento pastoral seja
feito junto com a esposa. A presença da esposa no aconselhamento
de mulheres afasta, automaticamente, aquelas que procuram o
pastor com segundas intenções.
É claro que nem sempre uma mulher busca aconselhamento
com intenções levianas; ela pode ser sincera naquilo que busca, mas
existe uma tendência de se envolver emocionalmente.
Muitos problemas podem ser evitados com a presença de
sua esposa. Se alguma mulher fizer tentativas de sedução, a esposa
será verdadeira ajudadora, observando e dando "cobertura" ao
esposo. As mulheres, em geral, possuem um sentido apurado e
podem avisar seus esposos do perigo iminente.
Outra solução é formar uma equipe de mulheres na igreja
que ajudem no aconselhamento de mulheres. O pastor,
obviamente, se encarrega da supervisão e, sempre que necessário
estará presente para ajudar na solução de problemas.
Na maioria das vezes as pessoas querem mesmo é o pastor;
neste caso, ele faz o primeiro atendimento, e depois chama à sua
sala alguns de seus auxiliares, homens ou mulheres que se
encarregarão de fazer o acompanhamento. Isso livra o pastor do
estresse pastoral, proporciona aos demais líderes que cresçam na
área de aconselhamento e distribui responsabilidades a todos os
demais.
Seguindo estes procedimentos, por certo, o ministro
preservará sua integridade e a de sua família. Além de que terá uma
esposa em quem pode confiar nos momentos de dificuldade.
Durante a vida ministerial, por certo, estes valores aqui
sugeridos serão de grande auxílio ministerial e outros, serão
129

CETADEB Teologia Pastoral I
agregados à medida que o obreiro desenvolve seu ministério ao
lado de sua esposa.
Questão para reflexão: Por que culpar minha esposa ou
meu esposo pelo fracasso de meu ministério? Deus nos chamou e
juntos devemos admitir nossos erros e fracassos, vivendo unidos
para resolver cada problema que surge na caminhada ministerial.
Centralidade da reflexão: Uma esposa bem preparada. Eis o
sonho de todo obreiro. Mas, para se conviver com uma esposa de
qualidade é necessário se preparar para a obra de Deus. O
verdadeiro obreiro saberá admitir seus erros, e jamais colocará a
culpa de seus fracassos na esposa. Independentemente do
ministério, sempre haverá de amá-la ajudando-a em tudo.
Atividades - Lição IV
> Marque "C" para Certo e "E" para Errado
1) m Na maioria das orações registradas na Bíblia, pode-se
observar que, quando oravam, adoravam a Deus, reconhecendo
a soberania e o governo do Eterno sobre todas as coisas.
2) 0 O ministro deve ter um coração misericordioso intercedendo
continuamente a Deus a favor dos demais.
3) Q Os quatro livros dos evangelhos registram que a oração fazia
parte da vida diária de Jesus.
4 ) 0 Os discípulos notaram que Jesus orava uma vez por semana,
na sinagoga, por isso pediram ao Mestre que lhes ensinasse a
orar.
5) 5J Paulo via a oração como uma batalha.
6) 0 Paulo afirma que as armas do crente são carnais.
130

CETADEB Teologia Pastoral I
Lição V
G^3
!=E3
L_. I
131

Teologia Pastoral I

CETADEB Teologia Pastor,il I
O Ministro E Sua Família
A
inda não se criou um substituto para a
família. Esta instituição estabelecida por Deus
é a única base sólida contra a degradação
social, econômica e política de uma nação, e
sobre os alicerces da família a sociedade é
organizada. Não se propõe fazer aqui um
estudo sobre as diferenças entre as sociedades do mundo antigo e
sim recorrer às escrituras à busca de parâmetros que orientem o
obreiro a ter uma família que seja modelo para a sociedade.
Por ser um tema de larga abrangência o tema da família do
obreiro será estudado em duas partes. Na primeira parte serão
fornecidos alguns modelos de famílias do Antigo Testamento,
extraindo-se deles exemplos positivos e negativos, e depois se
estudará o ensinamento apostólico do Novo Testamento, com
especial ênfase no casal Priscila e Áquila.
Esta exposição é importante porque a família do ministro é
usada como modelo ou baliza para as demais famílias da igreja. A
saúde de uma congregação local depende, e bastante, do modelo
familiar do pastor.
Na segunda parte desta lição o aluno compreenderá os
vários tipos de pressões que sofrem a família do ministro, e se
defrontará com orientações práticas de como solucionar cada
problema.
A maior parte dos episódios bíblicos de Gênesis a Malaquias
se desenrola a partir do sucesso ou fracasso das famílias o que
tende a limitar o estudo a apenas algumas delas. São famílias cujos
chefes ou filhos cometeram erros e excessos, e, no entanto, são
citadas como exemplos de fé e de pessoas que agradaram a Deus.
133

CETADEB Teologia Pastoral I
Seus erros são mencionados nas Escrituras para servir de
exemplo de como não se deve proceder. Vale lembrar que quando
se estudam os casos do Antigo Testamento tem-se que levar em
conta a admoestação de Paulo: "Tudo isso aconteceu com os nossos
antepassados a fim de servir de exemplo para os outros, e aquelas
coisas foram escritas a fim de servirem de aviso para nós. Pois
estamos vivendo no fim dos tempos" (1 Co 10.11 NTLH).
Depois de se estudar algumas das famílias do Antigo
Testamento, o aluno se defrontará com o ensinamento apostólico
do Novo Testamento e as recomendações que eles deram quanto
ao obreiro e sua família.
1. Fam ílias Do Antigo Testam ento. Seus Erros E Acertos
A seguir o estudante poderá fazer uma análise rápida de
algumas famílias usadas por Deus no Antigo Testamento. Apesar de
alguns chefes cometerem fracassos, são mencionados como heróis
da fé.
1.1. No é. Mo d e l o De Fa m íl ia Pa t r ia r c a l
A Bíblia começa a história de Noé assim: "Esta é a história
da família de Noé: Noé era homem justo, íntegro entre o povo da
sua época; ele andava com Deus" (Gn 6.9 - NVI).
Duas coisas são ressaltadas na vida deste homem: justeza e
integridade social, além de que "Noé andava com Deus". O quadro
social dos dias de Noé era tão ou mais corrupto que os dias atuais.
Sexo e mentira; fraude nos negócios, roubos, assaltos, estupros,
violência e toda sorte de crimes.
Em meio a uma sociedade corrompida, Deus observou que
Noé era uma exceção naqueles dias, zelando pela família,
mantendo-a à parte dos padrões sociais da época. A sociedade
daqueles dias era tão corrompida que Deus decidiu pôr fim a tudo,
mas preservou a Noé, e lhe disse: "Entre na arca, você e toda a sua
família, porque você é o único justo que encontrei nesta geração"
(Gn 7.1- NVI).
134

CETADEB Teologia Pastoral I
A escritura dá a entender que o estilo de vida de Noé, isto é,
a vida de integridade, de justeza e de comunhão com Deus salvou a
família toda: "Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, ainda que
Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, não salvariam nem a seu
filho nem a sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua
própria vida" (Ez 14.20).
O apóstolo Pedro afirma que Deus "não poupou o mundo
antigo, mas preservou a Noé, pregador da justiça e mais sete
pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios" (1 Pe
2.5).
Um homem justo e piedoso não poderia ter uma nota triste
em sua biografia, mas ainda que possuindo tantas qualidades, a
escritura não encobre o fracasso de Noé, que se embriagou e, por
estar embriagado, amaldiçoou um de seus filhos.
O fracasso de Nóe serve de advertência para nos indicar e
mostrar às gerações futuras que o homem é pecador e imperfeito, e
que depende sempre da misericórdia divina.
1.2. Ab r a ã o. Mo d e l o De Fa m íl ia De Fé
Depois do dilúvio a sociedade voltou a se corromper, e Deus
chamou a Abraão que residia em Ur, na Caldéia, levando-o, a
peregrinar em Canaã. O objetivo de Deus ao chamar Abraão é bem
claro: ele queria formar uma nova família e a partir dali, uma nova
nação. "De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te
engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!" (Gn 12.2).
A maioria dos intérpretes bíblicos concorda que a chamada
de Abraão tinha como objetivo formar uma nova família cujo
padrão de vida mudasse o comportamento social daqueles dias.
Quando da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra,
tendo em vista que Abraão viria a ser uma grande e poderosa
nação, Deus disse: "Ocultarei a Abraão o que estou para fazer, visto
que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e
nele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o escolhi
para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que
135

CETADEB Teologia Pastoral I
guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para
que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito"
(Gn 18.17-19).
Novamente fica evidente que Deus atenta para os que têm
vida de justiça e integridade. Deus está afirmando a Abraão que não
suportava a degradação da família e que o havia escolhido por sua
capacidade de estabelecer uma família em ordem. Assim, tanto em
Noé quanto em Abraão pode-se ver a intenção de Deus em
estabelecer famílias na terra com um padrão de vida elevado, digna
de ser chamada pelo nome de Deus.
Na Antiguidade Abraão foi considerado "amigo de Deus",
mesmo assim Deus permitiu que alguns de seus erros fossem
registrados para exemplo nosso. Abraão mentiu duas vezes
afirmando que Sara era sua irmã e despediu de casa a escrava Agar
com seu filho Ismael por desavenças destes com a esposa.
A partir da descendência de Abraão novas nações se
estabelecem na terra. Ismael, filho dele com a escrava Agar gerou
os árabes; e os netos de Abraão, Esaú e Jacó formaram os
Indumeus e os Israelitas.
1.3. Josué. M odelo De Fam ília Unida.
Josué e sua família saíram do Egito juntamente com Moisés
e peregrinaram durante quarenta anos juntamente com o povo no
deserto. Dentre as pessoas que saíram do Egito com mais de vinte
anos, somente ele e Calebe entraram na Terra Prometida.
Assumiu a liderança do povo depois da morte de Moisés, e
o conduziu até a terra da promissão, estabelecendo as tribos em
suas possessões. Antes de morrer, fez um relato da história do povo
desde Abraão, da escravidão do Egito, e de como Deus os tirou do
jugo de Faraó conduzindo-os até Canaã.
Não há registros bíblicos de como era a família de Josué,
pois a escritura dispõe apenas de sua declaração de que fora fiel a
136

CETADEB Teologia Pastoral I
Deus, e que todos os de sua casa serviam ao Senhor. "Se, porém,
não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir,
se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates,
ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo.
Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor" (Js 24.15 - NVI).
Sua declaração de compromisso e fidelidade foi anotada por
testemunhas, escrita num memorial de pedra e anotada no livro da
Lei (Js 24.26).
1.4. Eli, O Pa i Om is s o.
Eli era sumo sacerdote em Israel no tempo dos juizes e sua
história está registrada no livro de Samuel.
Seus filhos que auxiliavam no ministério não eram bem
comportados nem procediam corretamente na função sacerdotal;
eram iníquos e mulherengos, e Eli, velho, não conseguia dominá-los.
O ministério sacerdotal em que os filhos sucediam o pai
requeria que os levitas fossem exemplos de vida. No caso do sumo
sacerdote Eli ele é repreendido por Deus por não disciplinar seus
filhos.
Deus lembra a Eli que a família dele foi escolhida desde os
dias de seu pai Levi para oferecer sacrifícios no altar, tendo a honra
de poder participar das ofertas e sacrifícios, mas Eli não estava
levando a sério o seu ministério, e Deus considerava a atitude dele
como de desprezo ao chamamento, e lhe pergunta: "Por que você
honra seus filhos mais do que a mim, deixando-os engordar com as
melhores partes de todas as ofertas feitas por Israel, o meu povo?"
(v.29).
Eli fazia vistas grossas aos erros dos filhos, e não interferia.
Eli serve de exemplo de pai omissivo, que não exerce
autoridade espiritual na família; de pai que não repreende os filhos
quando estes não se conduzem como Deus quer. Quantos
ministérios nos dias de hoje retratam o mesmo problema de Eli!
137

CETADEB Teologia Pastora! I
1.5. Sam uel. Pai Ín tegro
Samuel substituiu a Eli no comando do reino no tempo dos
juizes, e sua vida é exemplo de homem de Deus por mais de
quarenta anos.
No entanto, apesar de ser sacerdote e profeta uma nota
triste foi escrita no fim de sua vida a respeito de sua família:
"Quando envelheceu, Samuel nomeou seus filhos como líderes de
Israel. Seu filho mais velho chamava-se Joel e o segundo, Abias. Eles
eram líderes em Berseba. Mas os filhos dele não andaram em seus
caminhos. Eles se tornaram gananciosos, aceitavam suborno e
pervertiam a justiça. Por isso todas as autoridades de Israel
reuniram-se e foram falar com Samuel, em Ramá. E disseram-lhe:
"Tu já estás idoso, e teus filhos não andam em teus caminhos;
escolhe agora um rei para que nos lidere, à semelhança das outras
nações” (1 Sm 8.1-5 - NVI).
Estes exemplos bíblicos mostram que a falta de obediência
e do temor de Deus causam problemas na família. A expressão,
"teus filhos não andam em teus caminhos", inocenta a Samuel, e
serve de alerta para que os filhos sigam o bom exemplo dos pais.
Os filhos de Samuel eram gananciosos, aceitavam suborno e
pervertiam o direito dos pobres. (O neto de Samuel, Hemã, filho de
Joel é visto como um dos levitas adoradores - 1 Cr 15.16-17. Muitas
vezes Deus recompensa os bons pais, na vida dos netos!).
1.6. Davi. Exemplo De Fra ca sso Fam iliar.
Davi é tido como o mais poderoso rei da história de Israel.
Além de rei era profeta, e a Bíblia o apresenta como homem
segundo o coração de Deus (At 13.22). No entanto, a Bíblia não
encobre suas transgressões nem tão pouco os acontecimentos
trágicos de sua família.
O capítulo 11 de 2Samuel registra o início da tragédia
familiar de Davi quando ele adulterou com Bate-Seba, cujo marido,
Urias, estava lutando na guerra. Logo que ficou sabendo que Bate-
138

CETADEB Teologia Pastoral I
Seba engravidara, mandou chamar o esposo dela do front da
guerra, insinuando que este se deitasse com Bate-Seba e depois
imaginasse que o filho era seu. Urias recusou ir para casa, e Davi
ordenou que ele fosse morto na batalha. Depois que Urias morreu,
Davi tomou a mulher para si, e a partir daí uma sucessão de
tragédias começaram a acontecer.
Através do profeta Natã Deus advertiu a Davi sobre as
conseqüências de seu erro e das desgraças que devido ao pecado,
aconteceriam em sua família (2 Sm 12). Os filhos de Davi passaram a
brigar entre si, e a família experimentou momentos de grandes
dificuldades. Logo depois, um de seus filhos, Amnom estuprou a
meia-irmã Tamar causando vergonha em Jerusalém.
Não se vê um movimento de Davi para repreender o filho.
Absalão, meio-irmão de Amnon, dois anos depois preparou uma
cilada e o matou. Mais tarde, Absalão se revoltou contra Davi, seu
pai, e o expulsou de Jerusalém, mantendo relações sexuais com as
concubinas do pai aos olhos de todo o povo. Por fim, o próprio
Absalão morreu na guerra que travava contra o pai.
Por que citar neste estudo pessoas que são exemplos de
fracassos na família? Primeiramente, porque quando estas mesmas
pessoas são citadas como exemplo no livro de Hebreus, o escritor
não registra seus fracassos, mas suas vitórias.
Em segundo lugar, convém lembrar que todos os heróis da
fé citados em Hebreus 11 não são lembrados por seus erros, mas
por sua fé em Deus. É sobre isto que escreve o autor do livro de
Hebreus: "...para que não vos torneis indolentes, mas imitadores
daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas"
(Hb 6.12). São homens e mulheres que superaram as dificuldades
porque tinham em vista as promessas de Deus.
2. O Enfoque Do Novo Testamento Sobre A Fam ília Do
Ministro
O Novo Testamento abre uma página nova na história
bíblica, pois na nova comunidade passam a fazer parte famílias de
todos os povos da terra, e não apenas israelitas.
139

CETADEB Teologia Pastoral I
Das famílias do Antigo Testamento deve-se imitar a fé que
tiveram, mas para as famílias de hoje o estudante deve analisar o
conteúdo do Novo Testamento e o que os apóstolos exigiam de
uma pessoa para que se tornasse líder na igreja.
Diferentemente do Antigo Testamento, quando apenas a
nação de Israel era tida como povo de Deus, no Novo Testamento
Deus acolhe pessoas de todos os povos, línguas, tribos e nações e
faz dessa gente nação santa, povo adquirido de Deus, família de
sacerdotes.
Pedro interpretou este propósito divino quando escreveu:
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Vós,
sim, que antes não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus" (1 Pe
2.9-10).
Escolhidos por Jesus Cristo para a missão evangelizadora e
para o estabelecimento de igrejas, os apóstolos estabeleceram
regras e parâmetros quanto aos líderes desta nova comunidade.
Eles se preocuparam com a família do obreiro e com o
testemunho que devem dar na sociedade onde a igreja está
inserida. No ensino apostólico depara-se com as orientações para
uma vida ministerial bem sucedida. Assim, é necessário saber quais
as recomendações apostólicas sobre a família do obreiro.
2.1. Recom endações A p o stó lica s Sobre A Fam ília
Dentre todos os apóstolos, Paulo foi quem estabeleceu as
condições de como devem ser escolhidos os líderes da igreja, e
entre as várias orientações, ele estabelece critérios para a vida
pessoal e familiar do obreiro. E ele tinha autoridade para tanto.
Homem de revelação, culto, profundo conhecedor das culturas de
sua época, aconselha que os líderes da igreja tenham certas
qualidades que os diferenciem dos demais líderes da sociedade.
Tal conhecimento é visto nas recomendações a Tito sobre a
escolha dos presbíteros, recomendando que tivesse cuidado
140

CETADEB Teologia Pastoral I
quando o líder fosse cretense, porque, segundo ele, a fama dos
habitantes de Creta não era muito boa. Eram tidos por um de seus
profetas como "mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos". E
depois acrescenta: "Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os
severamente, para que sejam sadios na fé" (Tito 1.12-13).
2.1.1. Marido de uma única esposa. Diferentemente do
Antigo Testamento cuja sociedade permitia que o líder casasse com
várias mulheres, na nova comunidade Paulo estabelece que o líder
da igreja deveria ser "esposo de uma só mulher" (1 Tm 3.2 e Tt 1.6).
E nesta questão Paulo contraria o costume da época da sociedade
greco-romana, indicando que a igreja, a família de Deus deveria ter
um padrão de vida diferente do mundo.
2.1.2. Líder na família. Paulo estabelece que o ministro "...
governe bem a sua casa, criando os filhos sob disciplina, com todo
respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como
cuidará da igreja de Deus?)".
No conceito de Paulo, governar bem a casa é saber
administrar as questões espirituais do lar, pois ele fala em criar os
filhos sob disciplina, e isto com todo respeito. O bom ministro
aprenderá a tratar as questões disciplinares do lar, respeitando os
filhos.
Esta disciplina no lar é mais bem explicada no texto a Tito:
"que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem
são insubordinados" (Tt 1.6).
A boa ordem dentro da casa não é algo que se comece a
meio caminho, quando os filhos estão moços, e sim uma tarefa que
deve ser feita desde que são crianças.
Manter os filhos sob disciplina não é tarefa a ser feita
depois que estes se tornam adultos.
Enfrentam sérios problemas casais que se convertem
quando os filhos estão na adolescência, o que não isenta o líder de
sua responsabilidade. O verdadeiro líder do lar é líder mesmo que
não seja crente.
141

CETADEB Teologia Pastoral I
O maior desafio, no entanto, surge anos depois quando os
filhos adultos resolvem seguir seu próprio caminho. Um bom
ministro saberá respeitar as decisões de seus filhos.
A mesma exigência é feita aos diáconos. "O diácono seja
marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria
casa" (1 Tm 3.12). Não se pode abrir mão desses pressupostos
bíblicos na igreja.
Uma família em ordem é exemplo para a igreja e para os
vizinhos. Assim, o melhor que se tem a fazer é criar os filhos nos
caminhos de Deus, servindo-lhes de exemplo em tudo. E que
modelo de chefe de família é exigido dos obreiros?
João, o apóstolo, elogia alguém pelo cuidado que tinha com
os filhos - sejam estes filhos naturais ou espirituais: "Não tenho
alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na
verdade" (3 Jo 1.4).
A boa administração da casa trará reflexos imediatos na
Casa de Deus. Um pastor que perde o controle sobre sua casa, e não
consegue o companheirismo da esposa, de maneira respeitável,
nem a submissão dos filhos, deve urgentemente reavaliar e
reconsiderar onde errou, pedindo até mesmo perdão à igreja por
não ter conseguido ser um bom marido, pai e sacerdote do lar.
Talvez os apóstolos entenderam que este modelo familiar
era o que Jesus tinha em mente quando falou sobre a "casa digna",
isto é, um lar bem administrado onde as pessoas são bem recebidas
e sentem prazer em estar.
Por isso abordam também o tema da hospitalidade,
colocando como exigência que o obreiro seja "hospitaleiro, amigo
do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si" (Tt 1.8).
Este conceito de "casa digna" é abordado por Jesus ao
enviar seus discípulos às cidades de Israel: "Na cidade ou povoado
em que entrarem, procurem alguém digno de recebê-los, e fiquem
em sua casa até partirem. Ao entrarem na casa, saúdem-na. Se a
casa for digna, que a paz de vocês repouse sobre ela; se não for, que
a paz retorne para vocês" (Mt 10-11-13 - NVI).
142

CETADEB Teologia Pastoral I
O conceito de dignidade do lar pode ser visto também em
Romanos 16.2 em que Paulo afirma que faz parte dos santos
tratarem bem e ajudar os demais irmãos. Outros textos: (Fp 1.26; Cl
1.10). O obreiro deve ser exemplo do evangelho de Cristo,
tornando-se modelo de dignidade na comunidade onde reside.
3. Áquila E Priscila: Exem plos De Obreiros
Faz-se necessário enriquecer esta lição fazendo uma
abordagem detalhada do casal Áquila e Priscila, cujo exemplo
transpira nas páginas do Novo Testamento.
Ao que parece, Áquila e Priscila não tinham filhos - pelo
menos não existe menção deles na Bíblia - ou se tinham filhos, por
ocasião do relato bíblico deveriam ser adultos. O que se vê a seguir
é um casal envolvido na obra de Deus.
Eram peregrinos em busca de uma pátria. O relato bíblico
afirma que casal vivia em Roma, até que o imperador Cláudio
ordenou que todos os judeus saíssem de Roma. Por serem judeus
residentes em Roma Áquila e Priscila, saíram à procura de novas
terras. Os dois também conheciam o evangelho de Cristo e não
medem esforços em encontrar um bom lugar para viver. Assim,
depois de peregrinarem por várias cidades, fixaram residência em
Corinto (At 18.1,2).
Eram perfeitos na profissão. Não se requer que homem e
mulher tenham a mesma profissão, mas no caso de Áquila e Priscila,
ambos trabalhavam fabricando tendas. Tinham o mesmo ofício.
Profissionalmente pensavam igual, tinham uma só mente (At 18.3).
É possível que esta atividade conjunta fosse fruto da experiência de
vida que tiveram em Roma, em que as mulheres cooperavam mais
intimamente com o esposo, conforme citamos na lição sobre a
esposa do pastor. Que bom ver surgir no seio da igreja casais que
trabalhem unidos na edificação da igreja de Cristo. Eles aprendem a
dividir as tarefas do dia-a-dia não em função do conforto pessoal,
mas da extensão do reino de Deus.
Eram perfeitos na sociedade. O obreiro e sua esposa devem
trabalhar juntos - muitas vezes, em nossa sociedade, a ela compete
143

CETADEB Teologia Pastoral I
cuidar de certas tarefas da casa, mais que ele. Mas, tornam-se bons
parceiros quando abrem espaço para que outros se juntem a eles.
Áquila e Priscila encontraram o apóstolo Paulo em Corinto, também
um peregrino, que fabricava tendas para se sustentar e foi acolhido
pelo casal. Os três tinham a mesma profissão, e faziam tendas (At
18.3). 0 marido deve fazer o possível para tornar sua esposa
parceira de suas atividades na igreja, pois uma sociedade perfeita é
aquela em que os sócios trabalham buscando o lucro do próximo ou
o lucro do reino de Deus.
Perfeitos na hospitalidade. Mas não somente acolheram a
Paulo na sociedade. Paulo, apóstolo, peregrino e empreendedor de
novas igrejas, chega a Corinto e o lar que encontrou foi o de Áquila
e Priscila. O casal perfeito é, acima de tudo, hospitaleiro. Assim
como Sara, esposa de Abraão que ordenou se preparasse o almoço
para os três viajantes que pararam em sua casa na hora do maior
calor do dia, Áquila e Priscila, acolheram um outro anjo de Deus,
Paulo, que em sua casa encontrou um cantinho para descansar. A
casa de Áquila e Priscila tornou-se o refúgio de Paulo, mais tarde, o
refúgio de toda equipe apostólica e também o lugar de encontro da
igreja.
Nada gera mais atrito entre um casal que um hóspede
indesejável, tema que será abordado no capítulo seguinte. Existem
pessoas que não se comportam como bons hóspedes deixando o lar
que o hospeda em alta tensão. Por isso, a hospitalidade tem que ser
das virtudes, a mais harmônica. É num lar assim que o casal e o
hóspede entram em harmonia com Deus. É na hospitalidade que as
diferenças entre o casal ficam mais acentuadas! É na hospitalidade
que se percebe se um casal está unido ou não.
Perfeitos na missão do Reino de Deus. Depois de um ano e
meio compartilhando seu lar com Paulo em Corinto, o casal não
hesita em mudar de rumos e acompanha o apóstolo Paulo numa
viagem missionária, de cidade em cidade, de porto em porto e se
estabelece em Éfeso (At 18.18,19). Estavam dispostos a novas
aventuras da Fé. Paulo segue adiante, mas o casal fica na cidade de
Éfeso, pastoreando a igreja na cidade.
144

CETADEB Teologia Pastoral I
Conhecedores do propósito de Deus. Ambos eram
conhecedores da palavra de Deus. Quando Apolo, homem
eloqüente e poderoso nas Escrituras chegou a Éfeso, Áquila e
Priscila viram neste judeu alexandrino um expositor bíblico em
potencial. Apolo se viu cercado da hospitalidade e do amor do casal.
Mas não somente isto. Foi doutrinado com respeito ao propósito de
Deus. Por estarem atentos ao rumo da igreja, Áquila e Priscila não
hesitaram em corrigir a visão doutrinária e de fé de Apolo (At
18.26).
O casal perfeito compartilha visões e sonhos, mas também
compartilha dos livros que se amontoam na mesa. A esposa perfeita
não reclama dos livros que enchem as prateleiras, mas aprende a
amá-los tanto quanto o marido. (Aqui está a dica). Nem o marido
reclama das flores e plantas que adornam o lar.
Promoviam os relacionamentos entre os membros das
igrejas. Quando Apolo seguiu viagem, precisando de hospedagem,
Áquila e Priscila o recomendaram aos seus amigos em Corinto (At
18.27-; 19.1). O obreiro e sua esposa não possuem exclusividade em
suas amizades, mas partilham do seu ministério com todos.
Fortes na vida da igreja local. A igreja em Roma se reunia
na casa de Áquila e Priscila (Rm 16.5). Com a perseguição, e com a
mudança para Corinto, passou a se reunir na casa deles, na nova
cidade. Agora em Éfeso, o casal abre a casa aos irmãos. A igreja de
Éfeso cujo potencial é conhecido de todos foi pastoreada com a
ajuda de Áquila e Priscila. O casal não mediu esforços e Éfeso é tida
como uma igreja perfeita em tudo (At 18.19).
Companheiros na fé do apóstolo. Paulo os chama de
companheiros, cooperadores. O casal é elogiado por esta qualidade
(Rm 16.2). Na história da igreja sempre houve lares onde os
obreiros encontraram amizade, ajuda e socorro. Áquila e Priscila
eram fiéis ao apóstolo e a Cristo. Paulo afirma que o casal arriscou a
vida tentando ajudá-lo. Não sabemos o que o casal fez, se o
escondeu ou se o seqüestrou de alguma prisão, mas Paulo afirma
que eles colocaram em jogo suas próprias vidas (Rm 16.4).
145

CETADEB Teologia Pastoral I
Viviam a serviço dos santos. Paulo destaca o casal como
pessoas que estavam dispostos a morrer pelos irmãos na fé (Rm
16.4). O obreiro e sua esposa, não vive para si mesmo, mas para o
próximo e, se possível, dá a vida por seus irmãos.
Conclusão desta lição.
O ministro é primeiramente o pastor de sua própria família,
pois não há como separar a vida pastoral, vivida todos os dias no
cuidado do rebanho, da esposa e dos filhos. Ele é um pastor na
igreja, e um pastor em casa. Pastoreia sua família como exemplo de
como devem ser pastoreados os membros da sua igreja.
Deve entender também que é um profeta no seu lar, tal
qual Abraão, nosso exemplo, apontado por Deus como profeta.
"Pois ele é profeta, e intercederá por ti, e viverás" (Gn 20. 7). Aqui o
profeta aparece com a qualidade de um intercessor. O pastor ou
ministro é responsável diante de Deus por sua esposa e filhos.
Como profeta ele é o guardião espiritual do lar, detectando
a entrada sutil do mal e repreendendo os ataques demoníacos e as
enfermidades. Quantas vezes o obreiro tem de enfrentar as trevas
que tentam se impor sobre sua casa com rebeldia, enfermidades e
opressão satânica.
O ministro jamais deve esquecer que além de esposo, é um
amante de sua mulher. A expressão "amante", é correta, porque no
mundo, os homens parecem encher de regalias a mulher que
mantém fora do casamento. A esposa, além de ser mulher, deve ser
tratada com carinho, presentes e regalias pelo esposo que
demonstra ser um bom amante.
O ministro deve sobressair-se também como modelo de pai.
Este tema será abordado com maior profundidade no capítulo a
seguir. Como pai e esposo, o bom ministro haverá, sempre, de
prover as necessidades espirituais e materiais da família. Filhos bem
cuidados quando pequenos, serão grandes amigos quando grandes.
Questão para reflexão: Até que ponto, como esposo, tenho
representado a autoridade de Deus dentro do lar? E até que ponto
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CETADEB Teologia Pastoral I
sou apaixonado por minha esposa e filhos sem sacrificá-los
diretamente na obra que estou envolvido?
Centralidade da reflexão: O padrão de Deus para a igreja é
o lar, pois serve de modelo de autoridade e amor. É no lar que
podemos demonstrar nossa intimidade com Deus e nossa amizade
com os amigos.
O MINISTRO E SUA FAMÍLIA
N
o início desta lição você pôde observar
vários modelos de famílias do Antigo
Testamento e entender o modelo
implantado pelos apóstolos para os
obreiros do Novo Testamento, cujo
exemplo foi detalhado na vida familiar do
casal Áquila e Priscila. Agora você verá os
problemas mais comuns enfrentados pelos obreiros no contexto
brasileiro, e verá as soluções para cada caso.
Todos os dias o pastor tem de resolver conflitos entre a
igreja e o lar, conflitos da igreja com os filhos, com a esposa e com
parentes próximos, que drenam sua espiritualidade e desafiam o
chamamento recebido de Deus.
Quando se reflete sobre o tema, pode-se encontrar vários
tipos de pressões muito fortes sobre a vida e o ministério do
obreiro. As pressões da igreja, que conflitam com o lar, as pressões
da consciência e de seu chamamento e as pressões do lar.
Os conflitos, se não forem resolvidos um a um trarão
conseqüências para a família e para a igreja.
A seguir o aluno verá as pressões que o obreiro sofre, e
depois estudará as possíveis soluções para cada caso.
147

CETADEB Teologia Pastoral I
1. Enfrentando As Pressões Do Povo
As atividades do obreiro na igreja, e as pressões que o povo
exerce sobre o líder fazem-no viver pressionado por todos os lados.
Há uma tendência no meio evangélico de crer que o pastor
é pago para fazer a obra de Deus, e as igrejas que pensam assim não
dão sossego ao pastor.
Se este dedicar uma parte do dia para o estudo e a oração
sem comparecer ao escritório da igreja, é tido como preguiçoso;
caso se dedique à visitação (costume herdado da atividade que os
padres exerciam em nossas comunidades), não terá tempo para
estudar a Bíblia.
Algumas igrejas costumam valorizar o obreiro pelo que ele
faz; outras, pelo que ele é.
Quanto às visitas pastorais, assunto que será tratado noutro
capítulo, existe a tendência de deixar os irmãos dependentes da
visita pastoral, isto é, os membros não retornam aos cultos se o
pastor não lhes visitou durante a semana. Este tema será tratado
com maiores detalhes mais adiante.
1.1. So l u ç õ e s À Pr e s s ã o Do Po v o
O obreiro deve aprender a liberar-se das pressões do povo,
e não se deixar levar pelo que o povo diz a seu respeito. Esta é uma
armadilha, em que os obreiros, até os mais experientes caem. Em
busca da auto-afirmação ministerial, costumam fazer o que o povo
pensa que deve ser feito, e não o que Deus pede dele.
Saul é exemplo de um líder que tomou decisões erradas
pressionado pelo povo. Na tentativa de provar a si mesmo e ao
povo que era chamado por Deus, Saul caiu na armadilha de fazer o
que o povo queria e não o que Deus lhe mandou fazer.
Certo dia, depois de esperar sete dias por Samuel,
pressionado pelo povo decidiu, ele mesmo, apresentar o sacrifício.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Ao ser confrontado por Samuel, desculpou-se, dizendo: "Vendo que
o povo se ia espalhando daqui, e que tu não vinhas nos dias
aprazados..." (1 Sm 13.11). A pressão do povo o levou ao erro.
Na guerra contra os amalequitas se deixou levar pela
pressão popular. Colocou a culpa no povo, e pediu a Samuel que o
honrasse diante dos anciãos de Israel: "Pequei, pois transgredi o
mandamento do Senhor e as tuas palavras; porque temi o povo, e
dei ouvidos à sua voz... honra-me, porém, agora diante dos anciãos
do meu povo, e diante de Israel..." (1 Sm 15.15, 30 - grifo do autor).
A pressão da congregação, ou o medo do povo precisa ser avaliado
em cada situação.
Quando se é jovem existe a tendência de ouvir
demasiadamente o povo e não a Deus. Aprende-se, depois, que o
povo muda de idéia como o vento muda de direção, e que nunca
estará satisfeito por melhor que seja o pastor. Nesse sentido, o
obreiro deve ser firme com o propósito de Deus e conduzir o
rebanho sem se deixar levar pela exigência do povo. A expressão
"voz do povo, voz de Deus" não encontra respaldo algum nas
escrituras.
Algumas igrejas assemelham-se a clubes em que a diretoria
- uma espécie de poder legislativo - decide o que o executivo (o
pastor) deve fazer. Operam na ordem inversa dos princípios bíblicos
do Novo Testamento. O pastor é o homem de Deus colocado pelo
próprio Deus sobre o rebanho; e quem coloca ou tira o líder da
direção da igreja é Deus e os meios que ele decide usar.
As "igrejas clubes" - em que os membros mandam em tudo
- aparentemente funcionam bem, mas não cumprem com o
propósito de Deus que é o de trazer o governo de Deus sobre a
terra. Deus governa através dos homens por ele levantados na
igreja.
Não existem modelos democráticos, populistas ou
teocráticos explicitados no Novo Testamento. O Espírito Santo não
deixou modelo algum, para que a igreja seja governada por líderes
que têm revelação de Deus sobre a igreja.
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CETADEB Teologia Pastoral I
A pressão do povo sobre o ministro tende a gerar um
segundo problema que é o conflito de consciência, isto é, a
consciência pressiona o obreiro entre fazer o que o povo quer e o
que ele acha que deve fazer.
2. Enfrentando As Pressões Da Consciência
A igreja e os obreiros precisam entender que o pastor é uma
classe especial que não se enquadra nos regimes das leis
trabalhistas, isto é, ele não tem hora para começar e para terminar
de trabalhar, não assina o cartão-ponto, e seu trabalho requer que
se envolva na obra as vinte e quatro horas do dia.
Diferentemente dos executivos e empregados que retornam
para casa no fim do dia; os ministros passam o dia ouvindo pessoas,
atendendo compromissos da igreja e, nem sempre têm tempo de
voltar para casa antes do culto da noite.
Por questão de consciência, e por querer levar adiante seu
chamamento, trabalham demais.
Depois de um dia cheio, atendendo compromissos da igreja,
retornam tarde da noite para casa quando a esposa e os filhos já
estão dormindo. No domingo, poderiam dormir até mais tarde, mas
têm de se levantar cedo para as atividades da igreja.
É um círculo interminável. Caso reservem a segunda-feira
para o descanso, não podem ficar com os filhos que estudam
durante o dia ou envolvem-se em diferentes atividades. O ministro
tem tanto trabalho que as vinte e quatro horas são insuficientes
para realizar tudo o que tem de fazer. Visitas, estudos,
interferências, oração, aconselhamentos, administrações - são
trabalhos para o super-homem.
Resultado: Ao fim de tudo descobrem que, se não se
cuidarem, ocuparão todo o tempo servindo a igreja, descuidando-se
de outros afazeres, como a família e a comunhão diária com Deus.
As pressões da consciência são comuns e afetam o
planejamento de horários com a família, o tempo de férias, as
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CETADEB Teologia Pastoral I
noites ou noite de folga e especialmente sobre a esposa que se vê
acuada diante de tantas exigências da consciência.
2.1. So l u ç õ e s À Pr e s s ã o Da Co n s c iê n c ia
Tanto a igreja quanto o ministro precisam entender que o
pastor é um elemento atípico, isto é, não se enquadra em classe
empregatícia alguma. O pastor, diferentemente de um membro da
igreja, dorme sempre muito tarde, seus horários são diferentes, e
ele deve ter liberdade de administrar o seu tempo e não se
submeter à pressão dos membros da igreja. Se seu ministério
requer longos períodos da noite, deve dormir até mais tarde pela
manhã, ou à tarde.
O obreiro precisa entender que certos membros da igreja
dormem cedo "como galinhas" e costumam chamar o pastor nas
primeiras horas da manhã, às vezes de madrugada.
Esquecem que o pastor, devido aos compromissos da igreja
precisou ficar acordado até altas horas orando ou ajudando alguma
pessoa. Esta pressão do povo e da consciência faz que o pastor não
durma o necessário, prolongando o horário até mais tarde,
imaginando que alguém poderá lhe chamar. O que não pensarão do
pastor, indaga-se? Anos de vigor são perdidos por não dormir o
necessário ministrando às pessoas até tarde da noite.
Ap r e n d a a p l a n e j a r o s h o r á r i o s c o m a f a m í l i a. Resolver
estes conflitos de consciência requer planejamento de horários, e
uma conversa franca com os auxiliares mais chegados que
aprenderão a respeitar o horário e não telefonarão a qualquer
momento. Como as noites são sempre ocupadas com assuntos da
igreja e o casal raramente tem tempo de ficar a sós, nada melhor do
que separar um tempo para os dois, enquanto os filhos estão na
escola.
De c i d a q u a n t o a o t e m p o d e f é r i a s. Férias, então, parecem
ser um dos sete pecados capitais, e alguns obreiros quando tiram
férias, usam-na para pregar em alguma outra cidade. Errado. As
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CETADEB Teologia Pastoral I
férias são um período de descanso em família, em que o obreiro se
recupera mental e fisicamente para o ano todo. Trinta anos de
ministério, trinta férias. Todos saem em férias, por que não o pastor
e sua família?
É bom tirar férias com a família e em família, aprendendo a
planejar as férias com os filhos, e aproveitando ao máximo o tempo
livre. O obreiro não deve se deixar impressionar por aqueles que se
orgulham de nunca tirar férias. Tais pastores não conhecem a
Escritura, senão, saberiam que os judeus tinham várias festas
anuais, uma das quais a dos Tabernáculos, um tempo de descanso,
alegria, festas e comes-e-bebes.
Por isso, se necessário deve ensinar a igreja sobre a
importância da família e dos filhos, exigindo que os obreiros gastem
tempo com os filhos e a esposa.
O obreiro deve planejar passeios e viagens com os obreiros
e suas esposas, levando-os a valorizar o tempo da família. Eles se
tornarão os maiores defensores da família e saberão respeitar o
horário de trabalho do pastor.
R e se rve u m a n o ite p a ra a fa m ília . Os filhos crescerão
saudáveis. Não se deve abrir mão de uma noite para o casal, e deve-
se separar uma noite para os filhos, permitindo que eles mesmos
planejem as brincadeiras da noite.
O obreiro deve se manter firme quanto a noite da família e
deve incentivar para que seus auxiliares façam a mesma coisa, se
possível, estes também tenham a noite da família na mesma noite
que seu pastor.
Os filhos ficarão marcados para sempre. Basta fazer os
cálculos para descobrir quão pouco tempo se tem para ficar com os
filhos ao longo da vida.
Talvez esse conflito, esse paradoxo, entre servir a Deus e a
família, sem ser relapso com Deus, nem prejudicar a família, precise
ser resolvido pessoalmente por cada obreiro. O obreiro deve ter em
mente que, se não sabe governar bem a sua própria casa, também
não saberá governar a igreja deT)eus.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Resulta que a pressão do povo e da consciência gera um
terceiro conflito que é o da obediência aos princípios bíblicos. Como
viver em obediência à palavra de Deus sem conflito de consciência e
sem bater de frente com o povo?
3. Enfrentando A Pressão Dos Princípios Bíblicos
O conflito começa quando o obreiro desconhece tudo o que
a escritura diz a respeito do chamamento divino, do propósito de
Deus com a família e não consegue fazer uma interpretação correta
dos textos bíblicos. Dois textos bíblicos, quando comparados,
costumam gerar conflitos na vida do ministro.
O primeiro é a declaração de Jesus em Lucas 14.26: "Se
alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e
filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a própria vida, não pode ser meu
discípulo" e o outro foi citado por Paulo: "... e que governe bem a
própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito
(pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da
igreja de Deus?)" (1 tm 3.4-5). Como conciliar estes dois textos?
Se questões teológicas como esta de abandonar os pais,
filhos e parentes não forem resolvidas à luz de outros textos bíblicos
que falam da família, por certo, o obreiro entrará em conflito, e
tanto a igreja quanto a família serão prejudicadas. Sempre que se
conversa com pastores descobre-se que este é o dilema que eles
enfrentam todos os dias.
São conflitos como este que, quando não solucionados
levam os obreiros ao extremismo, como o de certo obreiro
mundialmente famoso que relatou para a igreja a reação de seu
filho, ao chegar em casa depois de uma longa viagem. Gloriava-se
diante da igreja, contando: "Um dia desses meu filho perguntou à
minha esposa: mãe, quem é esse tio?"
Ele se orgulhava de ficar apenas três meses em casa durante
o ano. Não é de se admirar que anos depois o tal obreiro já estava
no terceiro casamento.
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CETADEB Teologia Pastoral I
3.1. S o lu çã o A Es t e Pr o b l e m a
A consciência do obreiro o pressiona muito nesta área, e
isto precisa ser bem administrado. Os ministros vivem premidos
pela consciência, especialmente quando são obrigados a viver de
maneira completamente diferente dos membros da igreja. Por um
lado devem abandonar mulher e filhos por amor ao Senhor e por
outro, cuidar da casa. O que fazer? Deve-se viver na riqueza ou
escolher a pobreza? Pode-se adquirir bens como qualquer outra
pessoa - desde que sejam frutos de nosso trabalho, ou deve-se
adotar um estilo de vida franciscano? São perguntas que precisam
de respostas. Alguns ensinamentos teológicos ensinam que a
pobreza é relevante para a salvação, e que o importante é alcançar
o céu; outros, que a riqueza é um direito do cristão quando é salvo.
O que fazer?
A solução a este conflito teológico está em se fazer uma
exegese bíblica e clara sobre os temas conflitantes. Por não resolver
estas questões bíblicas muitos obreiros se distanciam de seus
parentes mais chegados, como pais, sogros e demais familiares
criando problemas no relacionamento familiar.
O pastor é levado a viver totalmente contrário à realidade
da vida, confundindo o chamado ao discipulado com o chamamento
ministerial. Uma coisa é o chamado ao discipulado, que muitas
vezes requer seguir a Cristo em detrimento da família, mas o
chamamento ao ministério não é sinônimo de rompimento das
relações familiares.
Quando Jesus afirma que se deve abandonar tudo por amor
a ele, está falando do custo do discipulado, que faz a pessoa decidir
ou optar entre a família, os relacionamentos familiares e Jesus. Uma
pessoa deve fazer a escolha máxima, que é seguir a Jesus apesar dos
protestos de seus familiares.
De maneira geral, uma família que se converte a Cristo paga
o alto preço do discipulado para segui-lo. O chamado ao discipulado
não dá à pessoa opção de escolha.
154

CETADEB Teologia Pastoral I
Assim, Lucas 14.26 precisa ser estudado ao lado de 1
Timóteo 3.5 em que Paulo estabelece um padrão de obreiro na
igreja: “Pois se alguém não sabe governar a própria casa, como
cuidará da igreja de Deus?" (1 Tm 3.5) e também com textos como:
"Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com
promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra"
(Ef 6.2-3).
Existem situações em que o obreiro deve abrir mão ou
abdicar de determinado ministério para poder cuidar do pai e da
mãe quando idosos, e não jogá-los para morrer em qualquer lugar.
E se no ministério o obreiro puder cuidar dos seus "velhos", a
promessa de longos dias de vida prometidos por Deus estarão ao
seu alcance.
Esta demanda teológica conflitante não obriga o ministro a
viver em casas espremidas no fundo de templos, enquanto o
próprio templo, arejado e confortável, permanece vazio vários dias
da semana. Assim, parece que a solução aos conflitos familiares
deságua sempre na vida de miséria que leva a família do pastor a
sofrer e a viver como se fosse de outro Planeta.
É um conflito que pressiona a consciência do obreiro. Certas
congregações não entendem estes dilemas e contribuem para que o
conflito pastoral aumente.
Na atual conjuntura social é recomendável que o ministro
evite residir em casa pastoral em fundos de templo ou em anexos. O
bom mesmo é residir com a família a uma distância segura do
templo. Três quilômetros de distância já é uma boa margem de
segurança. É bem melhor. Esposa e filhos terão maior liberdade de
ação e não ficarão expostos ao olhar dos críticos de plantão.
3.2. Re f le x o s So b r e A Es p o s a
A esposa do ministro também se sente pressionada nestas
três áreas, especialmente quando é obrigada a desenvolver um
ministério lado a lado com seu marido - sem que seja remunerada
para isso.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Existe o conceito errado de que a esposa do pastor deve
liderar o ensino de crianças da igreja, cuidar do coral, das reuniões
de senhoras, reuniões do círculo de oração das mulheres e ser
presidente da assistência social da igreja. Todavia, ela tem os filhos
para cuidar, treinar, disciplinar, tem o marido que precisa de
cuidados e ela mesma precisa estar sempre bem arrumada para não
ser confundida com a servente de limpeza, etc.
E tudo isso sem receber ajuda financeira alguma. Eis por que
muitas esposas recorrem a tratamento psiquiátricos e não poucas
precisam de internamento hospitalar, enfermas, depressivas,
insatisfeitas e revoltadas.
Além destes três tipos de pressões tão comuns na vida do
pastor, existem outras áreas em que o obreiro precisa de sabedoria
e de soluções em seu ministério. Cada uma delas será apresentada
com as possíveis soluções.
4. Viagens
Problemas. Além do trabalho local, dos cuidados com a
igreja, da agenda cheia e da família que requer dele atenção
especial, o ministro se vê obrigado a dividir seu precioso tempo com
as freqüentes viagens. São convenções, retiros, reuniões de
comissões e conferências em que é convidado a pregar. Quando
isso ocorre, acumulam-se as atividades da igreja e na outra ponta,
quem sofre é a família. Sempre que retorna das viagens o trabalho
está acumulado.
Solução. Deve-se buscar um entendimento com os outros
pastores da igreja, se houver outros ministros, no sentido de
dedicar à família um dia, por cada semana ausente. Se ficar quinze
dias viajando, o recomendável é que dedique, pelo menos dois dias
inteiros à esposa e aos filhos.
A igreja sempre existirá, mas o obreiro é passageiro. Em
poucos anos ele envelhece e parte para a eternidade, mas a igreja
continua. Uma outra maneira de suprir a ausência em viagens é
levar a esposa e, quem sabe, os filhos em algumas delas.
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Quando algum compromisso coincidir com a época de férias
das crianças, o ministro deve buscar um lugar agradável para
descansar alguns dias com eles.
Geralmente essa provisão deve ser feita pela igreja
hospedeira. Faz parte da honra, assunto que será abordado noutro
capítulo. Os filhos, mesmo pequenos, tornam-se parte integrante do
ministério do pai.
A esposa deveria participar, todos os anos, de algum retiro
ou conferência em que seu esposo irá assistir ou ministrar, nem que
para isso ele tenha que arrumar dinheiro emprestado (Não é lá
recomendável, mas às vezes, necessário).
5. Horários
Problemas. O maior conflito está no horário das refeições.
Quantas vezes, toda a arte de cozinhar é prejudicada pela
impontualidade do marido no almoço. Quando ele chega em casa,
tudo está frio. O obreiro trabalha com pessoas; e não com objetos;
e as pessoas reclamam se não forem bem atendidas. É difícil
sinalizar à pessoa que o aconselhamento chegou ao fim. Por isso,
além de não chegar na hora do almoço, o ministro-pai nem sempre
consegue chegar a tempo de assistir ou apoiar alguma atividade dos
filhos na escola.
Soluções. O pastor, chefe de família, deveria estar presente,
todos os dias, em alguma refeição da família, especialmente quando
os filhos são ainda pequenos, e não estão às voltas com cursos
extras curriculares na escola, etc. Certo pastor foi convidado para
orar todos os dias ao meio-dia, junto com os demais pastores da
cidade, a favor da unidade, e reagiu assim: "Podem me convocar
para orar cedo, de manhã ou pela tarde, nunca na hora do almoço.
Quase perdi meus filhos, pela ausência constante à mesa". Ele
percebeu que a ausência do pai trouxe problemas ao seu
relacionamento familiar, e a hora da refeição era muito importante.
Se não for possível almoçarem juntos, pelo menos algumas noites
deveriam jantar juntos.
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Quando os filhos crescem os problemas aumentam, porque
os filhos também se envolvem na igreja, em horários diferentes do
pastor. E, geralmente, pastor e filhos não conseguem se encontrar,
a não ser na hora do culto. Isto tem de ser evitado.
6. Fin a n ç a s.
Problemas. Este é um dos maiores problemas que a família
do pastor enfrenta. Com raríssimas exceções o obreiro ganha tão
pouco que mal consegue sustentar sua família. Persiste, na maioria
das igrejas, a velha idéia de que o pastor deve ser pobre; que deve
viver de forma franciscana, com parcos recursos. Seu salário nunca
é estipulado em termos de "suficiente", mas em quantos salários
mínimos deve ganhar.
Uma esposa indagou: "Já que sofremos a privação de nosso
marido e pai de nossos filhos, por que não temos, pelo menos o
dinheiro suficiente para viver como as demais famílias? Todo nosso
sacrifício é para viver sempre com necessidades, problemas na
igreja, incompreensão, até que nos mandem embora daqui e vamos
a outra cidade sem saber o que nos aguarda" O pastor vive o dilema
de sempre viver nos extremos entre a riqueza e pobreza.
Soluções. As igrejas precisam dar prioridade ao pastor e não
à instituição. Ao homem e não à obra. A igreja tem de ser
administrada por pessoas espirituais, compreensivas, que
discernem entre o que é material e o que é espiritual, sabendo que
a igreja é, antes de tudo, um organismo vivo, um corpo. Quando um
técnico administra os recursos da igreja tende a fazer tudo de
maneira burocrática, rígida, tratando o pastor como um subalterno.
O bom administrador - se não for o pastor - há de compreender
que no corpo de Cristo existe uma família, um pastor casado que
precisa viver sem certas preocupações materiais. Algumas igrejas
funcionam como empresas multinacionais: sugam o funcionário e
depois o dispensam; e o mesmo acontece com a maioria das
denominações, que colocam em primeiro lugar a instituição. Todo o
dinheiro arrecadado, tudo o que é feito, visa engrandecer a
denominação ou a igreja da localidade. E esquecem do sustento do
pastor.
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CETADEB Teologia Pastoral I
As igrejas precisam rever esta questão salarial do pastor. A
começar pela tesouraria que deve ficar sob a responsabilidade de
gente espiritual, de pessoas de fé, que também aprendem a buscar
em Deus os recursos para a igreja e nunca na mão de funcionários
de banco. O planejamento financeiro não deve ser estático, mas
dinâmico, porque a obra de Deus não está limitada ao dinheiro e é
feita por fé. Por outro lado existem igrejas que têm muito dinheiro
guardado em poupança enquanto a família do pastor carece de
pequenas coisas.
O administrador da igreja, seja ele o pastor ou outra pessoa
qualquer deve administrar os recursos financeiros sabendo que o
Senhor Jesus é o dono da igreja e que ele dispõe de recursos para os
passos de fé de seu povo. A matemática de Deus é diferente.
Outro conflito que tem de ser resolvido é o abismo
espiritual que costuma existir entre o ministro e a esposa; é uma
questão de visão e espiritualidade.
7. Visão E Espiritualidade.
Problemas. O pastor passa boa parte de seu dia lendo,
conversando com as pessoas, orando e pesquisando, o que o leva a
alcançar um grau de espiritualidade maior que o da esposa - Se
bem que isto está mudando. O marido tem uma visão da obra, da
igreja, e do que Deus quer para o povo, enquanto a esposa fica
totalmente alienada de seu projeto, geralmente envolvida nas lides
caseiras, ou em sua atividade profissional.
Quando isto acontece aumenta o abismo espiritual entre
ambos, especialmente quando existe falta de diálogo entre eles.
Conseqüentemente, a esposa se torna pouco espiritual,
incompreensiva, rígida com os demais, especialmente com as
pessoas a quem o esposo deve mostrar amor e tolerância.
Tendo que cuidar da casa e de algumas atividades da igreja -
persiste a idéia errada de que a esposa do pastor é a primeira dama
que assume automaticamente a presidência disso e daquilo, do
coral, etc. - ela passa a ter calos espirituais.
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Ocupando-se com tantas coisas no lar e na obra, não sobra
tempo para orar, ler as escrituras, estar nos retiros e congressos, e
mesmo assim, sente-se obrigada a falar de Cristo e a consolar
espiritualmente todos os que entram em sua casa.
Ela tem um vocabulário espiritual, sem a vida espiritual. O
pior ainda é quando sua falta de espiritualidade advém do fato de
conhecer tão intimamente o seu marido e saber que ele não vive o
que prega.
Soluções possíveis.
Ze l a r p e l a c o m u n i c a ç ã o e n t r e m a r id o e m u l h e r. O ministro
deve deixar este canal de comunicação desobstruído. O pastor deve
partilhar seus pensamentos, planos e projetos com a esposa, e, na
medida do possível deixá-la a par do rumo espiritual da igreja. O
que se vê, geralmente, são esposas que parecem viver anos
atrasadas em relação ao marido, desinformadas e alienadas dos
assuntos espirituais, e do que acontece na igreja em geral.
Bu s c a r u m t e m p o a s ó s, s e m o s f i l h o s. O ministro e sua
esposa podem participar de algum retiro de casais, de obreiros, e
dedicar um tempo razoável, conversando, e trocando idéias. Uma
viagem de carro ajuda a colocar os assuntos em dia.
Muitas vezes o pastor está tão ocupado e a esposa se sente
tão afastada dele, que lhe ocorre a idéia de marcar uma hora no
gabinete com seu marido. "Reserve uma hora na sua agenda para
conversarmos", disse a mulher ao seu esposo, pastor.
Cu i d a r d o d e s c a n s o p a s t o r a l. Este tema será abordado
posteriormente, porém , pode-se crescer juntos, espiritualmente,
usando de maneira adequada o descanso pastoral.
No entanto, é preciso resolver a questão do descanso
pessoal, isto é, além do descanso com a família, do tempo
necessário para estar com a esposa e filhos, o pastor precisa de um
tempo seu em que poderá caminhar, exercitar-se, praticar algum
esporte, descansar sozinho em algum lugar, meditar, etc. Algumas
igrejas têm trabalho de domingo a domingo - todos os dias e todas
as noites.
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CETADEB Teologia Pastoral I
Ora, é possível que uma igreja trabalhe dessa forma, mas
não com um só pastor; neste caso, a igreja precisa de uma equipe
de vários pastores, além de outros líderes para que os obreiros
tenham uma ou duas noites de folga - tempo para a noite da família
e o tempo com a esposa, assunto que foi exposto anteriormente.
Eis porque muitos pastores, ainda jovens, estão às voltas
com problemas do estresse pastoral, controlando o colesterol, os
triglicérios, tudo porque não praticam esporte algum.
Antigamente a atividade pastoral permitia que os obreiros
fizessem longas caminhadas para visitar uma família ou ministrar
numa congregação, e com isto solucionavam os problemas de
saúde.
Diferentemente de hoje, quando se locomove para todos os
lugares de automóvel. Se Elias vivesse em nos dias de hoje, não
poderia correr e caminhar quarenta dias e quarenta noites.
8. Hó s p e d e s
Problemas. "Hóspede e peixe no terceiro dia cheiram mal",
diz um provérbio judeu. No ministério pastoral uma questão que
precisa ser bem administrada é sobre o que fazer com os hóspedes,
porque, via de regra, é a esposa do pastor que terá a
responsabilidade final.
É ela que atende a todos e precisa buscar todo dia o milagre
da multiplicação dos pães, fazendo o dinheiro esticar, e o estoque
de alimentos multiplicar-se. Parece que todo o hóspede tem um só
rumo: a casa do pastor. Precisamos, pois, encontrar soluções sem
deixarmos de ser hospitaleiros.
Soluções possíveis.
Nas grandes cidades, os pastores encontraram soluções
diversas, limitando suas casas para a família e para alguém mais
íntimo da família. Os hóspedes podem ser alojados em hotéis ou em
casas de outros irmãos. A questão da hospitalidade tem vários
aspectos, como veremos a seguir.
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Hó s p e d e s a c o n v i t e d a i g r e j a. Alguns conferencistas
preferem estar perto do pastor, e querem manter comunhão e ter
tempo para conversar; neste caso, o melhor lugar é a casa do
pastor. Outros preferem hotéis, onde se sentem mais à vontade.
Mas cada pastor e cada igreja têm sua particularidade. Nos
dias apostólicos não havia hotéis e pousadas como hoje. O viajante
carregava seus pertences, e até o material de cozinha, porque as
hospedarias eram poucas.
Assim, tomando a Paulo como exemplo, sempre que viajava
dependia da hospitalidade dos irmãos para ministrar em alguma
cidade.
A hospitalidade fazia parte da cultura da época, e foi
assimilada pela igreja. "Não se esqueçam da hospitalidade; foi
praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos" (Hb 13.2 -
NVI).
A hospitalidade não inclui apenas receber uma pessoa no
lar, mas saber receber alguém e cuidar dele, nem que seja num
hotel.
A igreja deve providenciar para que seus convidados se
hospedem na casa de outra pessoa, em hotel ou no próprio prédio
da igreja.
Algumas igrejas costumam manter um apartamento
mobiliado junto ao templo ou na cidade, onde o conferencista pode
ficar bem hospedado, e sentir-se em casa.
Às vezes, tendo que ficar até dez dias numa cidade, essa é a
melhor opção tanto para o conferencista como para a família do
pastor.
Ao concluir esta matéria é preciso entender que o
conferencista não é convidado do pastor, mas da igreja. Encontrar
soluções leva tempo.
Certo pastor tinha uma casa bem mobiliada o que levava
certos hóspedes a ficarem ali até dois meses. Cansado, uma das
soluções que encontrou foi a de residir num lugar menor e "forçar"
a igreja a acomodar os hóspedes.
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Hó s p e d e s d a f a m í l i a. O ministro, geralmente, tem de prover
lugar para hóspedes, ou parentes, pessoas que vêm à cidade e
precisam de um lugar para se hospedar.
Geralmente os parentes de um dos dois contam com a casa
do pastor. Portanto, é deles a responsabilidade de hospedar seus
parentes, e a igreja o sabe muito bem. Mas nem todo hóspede é
parente.
Os povos do Oriente Médio tinham lá seu jeito de dizer ao
visitante se ele era bem-vindo ou não, de forma discreta. Um
viajante ou forasteiro era motivo de satisfação, pois trazia notícias
do mundo e deixava o beduíno a par dos acontecimentos. Esses, no
entanto, eram cuidadosos no trato com seus hóspedes.
A forma como o hospedeiro cozinhava ou preparava a
refeição indicava ao hóspede se era bem-vindo ou não. Por
exemplo, se o visitante recebesse uma xícara de chá com pouco ou
quase nada na xícara, era bem-vindo, um indicativo de que teriam
todo o tempo do mundo para beber e conversar.
Se a xícara estivesse cheia, transbordando, a mensagem era:
"Tome seu chá e dê o fora". Uma maneira antiga de dar a entender
ao visitante de que, hóspede que não é bem-vindo dorme na sala...
Hó s p e d e s c a s u a i s. Os ministros devem ensinar os membros
de suas igrejas a não saírem por aí, vagando pelo país ou tirando
férias na casa de irmãos.
É necessário implantar uma nova cultura evangélica em que
os irmãos aprendam a tirar férias sem incomodar a vida do pastor e
da igreja.
Mas este não é um problema apenas dos membros. Muitos
obreiros, também, saem a esmo, buscando pregar aqui e ali seja
durante as férias ou fora dela, com a família a tiracolo, espremidos
em casas de praia ou apartamentos.
Os verdadeiros servos de Deus estão muito ocupados para
andarem perambulando à cata de igrejas para pregar. Hoje os meios
de comunicação estão à disposição de todos. Um simples
telefonema, ou um correio eletrônico ajuda na arte de encontrar
hospedagem.
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Conclusão: Para cada problema deve haver uma solução. O
obreiro deve discutir com a esposa a solução para alguns destes
conflitos e, quando necessário, reunir os que lhe são mais chegados
na administração da igreja e no ministério para que se encontre
solução rápida a alguns destes problemas. Por certo, a vida
ministerial não terá tantas surpresas no dia de amanhã.
Questão para reflexão: Até que ponto estou cuidando da
família sem fazê-la sofrer com as pressões ministeriais?
Centralidade da reflexão: Não devemos fazer nossa família
sofrer com os nossos sofrimentos. Se formos ministerialmente
equilibrados, certamente nossa família não soferá tanto.
Atividades - Lição V
> Marque "C" para Certo e "E" para Errado
1) lâ J Em meio a uma sociedade corrompida, Deus observou que
Noé era uma exceção naqueles dias, zelando pela família.
2) Saul é tido como o mais poderoso rei da história de Israel.
3) © No conceito de Paulo, governar bem a casa é saber
administrar as questões espirituais do lar.
4) ÜsJ Salomão é exemplo de um líder que tomou decisões erradas
pressionado pelo povo.
5) 1 3 É bom tirar férias com a família e em família.
C-6) '§ J A hospitalidade não inclui apenas receber uma pessoa no lar,
mas saber receber alguém e cuidar dele, nem que seja num
hotel.
164

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