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HALL,LINDZEY&CAMPBELL
seu prazer pessoal, os processos cognitivos e o ambi-
ente contextual pouco contribuem. Finalmente, po-
dem predominar os fatores cognitivos, como quando
falsas crenças desencadeiam respostas de esquiva que
tornam a pessoa desatenta ao ambiente real e não são
alteradas pelo feedback sobre sua qualidade ineficaz e
distorcida.
Bandura está dizendo que devemos ser flexíveis
ao considerar as interações entre pessoa, comporta-
mento e ambiente. Por exemplo, suponha que obser-
vamos um aluno que está falando diante da classe.
Como podemos entender seu comportamento? Uma
abordagem de personalidade poderia destacar que a
pessoa é muito loquaz, uma abordagem de aprendi-
zagem procuraria reforços ambientais para o compor-
tamento de falar, e uma abordagem interacionista
examinaria as contribuições da pessoa e da situação
ao comportamento. Mas Bandura diz que temos de
perceber o relacionamento determinante recíproco
entre a pessoa, o comportamento e o ambiente. Isto
é, a pessoa tem uma tendência a falar e o ambiente
reforça sua loquacidade, mas também acontece que
falar é um feedback que torna mais provável que a
pessoa fale no futuro, e o comportamento de falar tam-
bém contribui para tornar uma sala de aula o tipo de
ambiente em que a fala ocorre. Ademais, precisamos
perceber que a pessoa contribui para a natureza do
ambiente, exatamente como o ambiente influencia
quem a pessoa é. Pessoa, situação e comportamento
estão inextricavelmente entrelaçados.
Além disso, o determinismo recíproco exige que
descartemos a ficção de que um evento só pode ser
compreendido como um estímulo, uma resposta ou
um reforço. Por exemplo, suponha que uma garoti-
nha pegue um biscoito da lata de biscoitos um pouco
antes do jantar. O pai diz para pô-lo de volta, o que
ela faz, e ele responde dizendo: “Que boa menina você
é.” Como podemos conceitualizar esta seqüência com-
portamental? O pai dizer à filha para devolver o bis-
coito é um estímulo, ela devolver é uma resposta, e o
elogio dele é um reforço. Isso parece bastante sim-
ples, mas Bandura salienta que o comportamento con-
tinua. O próximo evento na seqüência pode ser a filha
abraçar o pai. Agora, ela devolver o biscoito serve como
um estímulo, o elogio dele é uma resposta e o abraço
dela o reforça pelo elogio. Se ele por sua vez abraçá-
la, o elogio dele é um estímulo, o abraço dela uma
resposta e ele reforça o abraço dela com o abraço dele.
E assim por diante. A nossa interpretação de uma ação
depende de onde a localizamos no fluxo de compor-
tamento e no determinismo recíproco.
O determinismo recíproco também faz Bandura
explicar a liberdade e o determinismo de uma manei-
ra que soa muito parecida com a de George Kelly. Isto
é, as pessoas são livres na extensão em que conse-
guem influenciar as futuras condições às quais res-
ponderão, mas seu comportamento também é limita-
do pelo relacionamento recíproco entre cognição
pessoal, comportamento e ambiente. Conforme Ban-
dura (1978, p. 356-357) afirma: “Uma vez que as con-
cepções das pessoas, seu comportamento e seus am-
bientes são determinantes recíprocos um do outro, os
indivíduos não são objetos impotentes controlados por
forças ambientais, nem agentes inteiramente livres que
podem fazer o que quiserem.”
Uma análise completa do comportamento, da pers-
pectiva do determinismo recíproco, exige que consi-
deremos como os três conjuntos de fatores – cogniti-
vos, comportamentais e ambientais – se influenciam
mutuamente. Essa análise deixa claro que a teoria da
aprendizagem social de modo algum ignora os deter-
minantes internos, pessoais, do comportamento. Mas,
em vez de conceitualizar esses determinantes como
“dimensões estáticas de traços”, Bandura os trata como
fatores cognitivos, dinâmicos, que regulam e são re-
gulados pelo comportamento e pelo ambiente. Ban-
dura discute os determinantes pessoais do comporta-
mento em termos do auto-sistema e da auto-eficácia
do indivíduo. Trataremos agora dessas variáveis da
pessoa.
O AUTO-SISTEMA
Bandura não aceita a tentativa comportamentalista
radical de eliminar os determinantes internos, cogni-
tivos do comportamento pelo “desvio conceitual” de
reduzi-los à conseqüência de eventos ambientais an-
teriores. As cognições têm claramente origens exter-
nas, mas seu papel na regulação do comportamento
não pode ser reduzido à experiência anterior: “Não
podemos atribuir a experiências passadas uma capa-
cidade generalizável, esquecendo as influências atu-
ais decorrentes do exercício dessa capacidade, não
mais do que atribuiríamos as obras-primas literárias