A moça tinha hábitos e manias que aliviavam um pouco a solidão e o vazio de sua existência.
Entretinha-se ouvindo a Rádio Relógio num aparelho emprestado de uma das colegas. Essa
emissora informava a hora certa, transmitia cultura inútil e propaganda, sem nenhuma música.
A garota colecionava também anúncios de jornais e revistas, que colava num álbum. Certa vez,
cobiçou um creme cosmético, que preferia comer em vez de passar na pele.
Era muito magra e pálida, pois não se alimentava direito. Basicamente vivia de cachorro-
quente com Coca-Cola, que comia na hora do almoço, em pé, no balcão de uma lanchonete ou
no escritório em que trabalhava. Não sabia o que era uma refeição quente. Seus luxos
consistiam em pintar de vermelho as unhas, que roía depois, comprar uma rosa e, quando
recebia o salário, ir ao cinema, o que a fazia desejar ser estrela de cinema, como Marilyn
Monroe, seu grande sonho.
Certo dia, o chefe de Macabéa, Raimundo, cansado do péssimo trabalho que ela executava,
com textos datilografados cheios de erros de ortografia e marcas de gordura, resolve despedi-
la. A reação da garota, de se desculpar pelo aborrecimento causado, acaba desarmando
Raimundo, que decide mantê-la por mais um tempo.
Num dia 7 de maio, Macabéa mente dizendo que arrancaria um dente e falta ao trabalho para
poder aproveitar a liberdade da solidão e fazer algo diferente. Assim que as colegas saem para
trabalhar, ela coloca uma música alta, dança, toma café solúvel e até mesmo se dá ao luxo de
se entediar. É nesse dia que conhece Olímpico de Jesus, único namorado que teve.
Não foi um namoro convencional. Olímpico também havia migrado do Nordeste, onde matara
um homem, fugindo para o Rio de Janeiro. Conseguira emprego numa metalúrgica, o que dá
delírios de grandeza em Macabéa. Afinal, ambos tinham profissão: ela era datilógrafa e ele,
metalúrgico.
Mau-caráter e ambicioso, Olímpico morava de favor no trabalho, roubava os colegas e
almejava um dia ser deputado. O passeio dos namorados era sempre seguido de chuvas e de
programas gratuitos, como sentar-se em bancos de praça para conversar. Nessas ocasiões,
Olímpico se irritava com as perguntas que Macabéa fazia, o que a levava constantemente a se
desculpar, pois não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos.
Certo dia, admitindo que ela nunca lhe dava despesa, Olímpico decide pagar um cafezinho
para Macabéa no bar da esquina. Avisa, porém, que se o café com leite fosse mais caro, ela
pagaria a diferença. Macabéa, emocionada com a "bondade" do namorado, acaba enchendo o
copo de açúcar para aproveitar, ficando enjoada depois. Em um passeio ao zoológico,
Macabéa fica com tanto medo do rinoceronte que urina na roupa e tenta disfarçar para não
desagradar ao namorado. Um dia, vendo que só o chefe e sua colega de escritório, Glória,
recebiam telefonemas, Macabéa dá uma ficha telefônica para que Olímpico ligue para ela. Ele
se recusa, dizendo que não queria ouvir as "bobagens" dela.
Até que, após conhecer Glória, Olímpico decide romper com Macabéa para ficar com a sua
amiga. O rapaz considera a troca um progresso, já que elas eram opostas: Glória era loira
(oxigenada), cheia de corpo, morava numa casa confortável, tinha três refeições por dia e, o
mais importante, seu pai era açougueiro, profissão ambicionada por Olímpico.