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cristianismo a noção de responsabilidade individual é ao mesmo tempo universal e
faz surgir uma virtude também desconhecida pelos antigos que é a caridade, ou seja,
a responsabilidade pela salvação do outro, material e espiritual, seja o outro quem
for. O amor passa de uma noção pessoal e carnal, o amor paixão, para um amor de
compaixão, o amor ao próximo, sendo o próximo o outro em geral, já que todos são
irmãos. A compaixão, a benevolência, a solicitude, para com os outros, até mesmo
com outras formas de vida, passam a ser regras de comportamento ético.
Ser virtuoso, portanto ético, passa a ser agir em conformidade com a vontade de
Deus, e esse agir é um dever, e, como Deus se manifesta na pessoa humana, a
responsabilidade com o outro passa a ser um valor ético. Portanto, a autonomia tão
cara aos gregos antigos dá lugar ao conceito de dever, como limite da liberdade.
A modernidade inicia quando começa a desaparecer a ideia de ordem universal de
hierarquia natural dos seres, cedendo para as ideias de universo infinito, desprovido
de centro e de periferia, e de indivíduo livre, átomo no interior da natureza, para o
qual já não possui a definição prévia de lugar próprio e, portanto, de suas virtudes
próprias. A ordem do mundo não é mais dada de fora do mundo, quer seja pelo
cosmos, como queriam os gregos, quer seja por Deus, como pensavam os cristãos
na Idade Média. Assim, a modernidade afasta a ideia medieval de um universo regido
por forças espirituais secretas que precisam ser decifradas para que com elas
entremos em comunhão. O mundo desencanta-se como escreveu Weber e passa a
ser governado por leis naturais racionais e impessoais que podem ser conhecidas por
nossa razão e que permitirão aos homens o domínio técnico sobre a natureza.
No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber relaciona o papel do
protestantismo cristão à formação do comportamento típico do capitalismo moderno.
Weber descobre que os valores do protestantismo, tais como a disciplina ascética, a
poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a valorização do trabalho como
instrumento de salvação da ética protestante promovem o surgimento do capitalismo.