No dia seguinte, 16 de dezembro, um sábado, Dequinha continuava a
perambular pelo circo e começou a provocar o arrumador Maciel Felizardo, que
era constantemente acusado de ser o culpado da demissão de Dequinha.
Seguiu-se uma discussão e Felizardo agrediu o ex-funcionário, que reagiu e
jurou vingança.
Na tarde de 17 de dezembro de 1961, Dequinha se reuniu com José dos
Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o Bigode, com o plano de colocar
fogo no circo. Eles se encontraram num local denominado Ponto de Cem Réis,
na divisa do bairro Fonseca com o centro, e decidiram botar em prática o plano
de vingança. Um dos comparsas de Dequinha, responsável pela compra da
gasolina, advertiu o chefe da lotação esgotada do circo e iminente risco de
mortes. Porém, Dequinha estava irredutível: queria vingança e dizia que
Stevanovich tinha uma grande dívida com ele.
Com 3000 pessoas na plateia, faltavam vinte minutos para o espetáculo
acabar, quando uma trapezista percebeu o incêndio. Em pouco mais de cinco
minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. 372 pessoas
morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a mais de
500 o número de mortes, das quais 70% eram crianças. Ironicamente, a fuga
de um elefante da sua jaula, foi o que acabou por salvar imensa gente. O
animal com sua força, arrebentou com parte da lona, abrindo assim caminho
para um maior numero de pessoas fugir para a rua. A lona, que chegou a ser
anunciada como sendo de náilon, era, na verdade, feita de tecido de algodão
revestido de parafina, um material altamente inflamável.
2
Por coincidência, nesse dia, a classe médica do estado do Rio de Janeiro
estava em greve. O Hospital António Pedro, o maior de Niterói, estava
encerrado. A população arrombou a porta e, os médicos em greve foram sendo
convocados através da rádio, pelos soldados do exército, os quais
compareceram ao hospital de imediato. Médicos de clínicas privadas também
foram atender ao hospital. Inclusivamente, os cinemas e teatros de Niterói, Rio
de Janeiro e outras cidades vizinhas interromperam seus espetáculos para
averiguar se haveriam médicos entre o público, tal foi a dimensão da
catástrofe. Padres também foram convocados de emergência, para darem a
aextrema-unção às vitimas que já se sabia que não tinham qualquer hipótese
de sobrevivência. Nos dias seguintes, várias personalidades da elite fluminense
e, brasileira no geral, deslocaram-se a Niterói para prestar o máximo de apoio e
auxílio às vitimas. De entre essas personalidades destaca-se o então
Presidente, João Goulart.
As agências funerárias não tinham mãos a medir, tal era elevado o numero de
caixões que eram necessários, para enterrar as vitimas mortais. O Estádio Caio
Martins, foi transformado numa oficina provisória para a construção rápida de
urnas, com carpinteiros da região a trabalharem dia e noite. Os cemitérios
municipais de Niterói, logo ficaram lotados; assim, uma roça no município de
São Gonçalo, vizinho de Niterói, foi usada de urgência como cemitério para
enterrar os restantes corpos.