Treinamento – Gametogênese – Prof. Emanuel
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
PAULISTANO ADOTIVO
Ivan Angelo (Adaptado de Veja, janeiro de 2004)
Fico pensando: por onde foi que São Paulo me pegou? Já contei que não sou daqui,
que cheguei num dezembro de 38 anos atrás, meio tombado para um lado com o peso da mala
carregada de incertezas.
Capital dez vezes maior que a minha, habitada por gente que andava mais depressa
do que era costume na minha terra, e pedindo passagem; de caras com traços e cores bem
mais variados; de vozes com sílabas tônicas deslocadas (mãiê!, Antoniô!) e consoantes como
o "t" e o "r" soando muito puras; cidade de clima úmido, de névoas, de mais apelos, ruídos,
ofertas, exigências, perigos, ordem, disciplina - mais tudo -, São Paulo dava trabalho aos que
chegavam.
Eu não sabia, ou esqueci, que naquela década 60% das pessoas que moravam na
capital tinham vindo de outras cidades, outros Estados, outros países. Não, eu não estava
sozinho na minha perplexidade, talvez muitos dos que cruzavam comigo também hesitassem
nas esquinas.
Obras, muitas obras no caminho dos anos. Avenidas, elevados, metrô, marginais, vias
expressas... Até hoje a cidade se constrói e se destrói, sem nunca ficar pronta, sem guardar
seu passado, escamoteando-se, retirando da paisagem casas, prédios, ruas inteiras, até rios.
Olhava e pasmava. E percebia desordens aflorando na paisagem da ordem: favelas,
construções clandestinas, camelôs, moradores de rua. Desordem e progresso.
Então, o que foi que me pegou?
Estaria sendo pretensioso se dissesse que foram os teatros, ou os numerosos
cinemas. Que foram as bibliotecas, a vida cultural, os museus, a vibração profissional, os
botecos, as cruzadas de pernas, os violões, os restaurantes, as feiras, os festivais. Ou as
indústrias, o comércio, os bancos, a riqueza.
Ouvi de um pernambucano que vive em Berkeley, nos EUA: "São Paulo é um chip na
minha cabeça".
A primeira vez que percebi que já "pertencia" a São Paulo foi quando me surpreendi
comovido com a canção Sampa, que Caetano gravou em 1978: "Alguma coisa acontece no
meu coração, que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João". Aquela maneira de ver a
qualidade pelo ângulo do defeito me revelou o que eu próprio sentia. O que notamos como
defeito pode significar o maior esforço. É como enxergar no ato de mancar não a falha, mas o
esforço de andar. A canção captou o resultado de um gigantesco mutirão, sem o orgulho
bairrista, o tom ufanista. Percebi: a poderosa São Paulo me pegava pelas coisas mínimas.
Detalhes. Rostos rústicos cobiçando ferramentas nas vitrines do centro. Caprichosa
pirâmide de tomates na feira, quando o feirante poderia simplesmente entorná-los na banca.
Estrela de televisão comprando sapatos no shopping, sem assédio. Música de passarinhos,
ainda e apesar. Uma pizza, um certo chope, uma coxinha, um bauru. Florista onde parecia
improvável. Um miserável bradando na Sé: "Aqui ninguém morre de fome!".
Miudezas assim, somadas ao que a cidade tem de mundano e espetacular,
transformaram o esperançoso migrante em paulistano por adesão e adoção.
25. Na fertilização humana só os espermatozoides que têm o cromossomo Y geram filhos
homens (patrilinhagem, ou seja, linhagem paterna) enquanto só as mitocôndrias maternas
presentes no óvulo são transferidas para todos os filhos (matrilinhagem, ou seja, linhagem
materna).
Estudos envolvendo o cromossomo Y e o DNA mitocondrial de brasileiros brancos revelam que
"a imensa maioria das patrilinhagens é europeia, enquanto a maioria das matrilinhagens é
ameríndia ou africana".
(adaptado de "Ciência Hoje" - n
0
. 159).
Aliando esses conhecimentos aos das ciências sociais e transferindo as informações para o