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(ESB, Editora Imago, vols. IV e V, 1974),
que publicou em 1899, datada de 1900,
foi, em parte pelo menos, resultado dela
e relata como exemplos muitos de seus
sonhos.
Neste mesmo ano Freud conheceu
Emil Fliess, um obscuro otorrinolarin-
gologista de Berlim que acreditava na
relação das neuroses com a mucosa na-
sal e por quem desenvolveu uma grande
(e injustificada!) admiração. São também
de Fliess as idéias de uma periodicidade
masculina e outra, feminina e a da bisse-
xualidade. (Essa última, adotada por
Freud, irá jogar um importante papel na
sua teoria das neuroses). A partir de en-
tão é a ele que Freud passa a comunicar
suas idéias emergentes e a submeter seus
manuscritos. Fliess passa a ser o seu pú-
blico privado e seu referencial. Esse encan-
tamento parece ter fornecido dimensão
transferencial à auto-análise que Freud
desenvolvia então mas nos primeiro a-
nos do novo século rompeu com essa
ligação, depois de um longo período de
divergências que foi minando-a.
Até 1891 Freud morou com sua fa-
mília no número 8 da Maria Theresiens-
trasse e a partir dai na 19, Bergasse, de
onde só saiu em 1938, para transferir-se
para Londres. Nesse endereço ele aten-
deu seus pacientes, escreveu seus traba-
lhos, reuniu seus seguidores e criou sua
família, por quase 40 anos.
Freud escreveu em alemão, língua fa-
lada na Áustria, o que tem motivado vá-
rias questões quanto à tradução de sua
obra para outros idiomas. Vários auto-
res, entre os quais Bruno Bethelheim, P-
B Pontalis e Kemper, entre nós, escre-
veram sobre o fato e mostraram que,
entre outros problemas, as nuanças de
certas palavras alemãs não têm exatos
equivalentes em outros idiomas, o que
muitas vezes levou os tradutores a false-
ar as idéias do autor. De fato, o idioma
alemão é mais apto para expressar vi-
vências interiores do que, por exemplo,
o inglês, mais afeito ao que é objetivo,
técnico e pragmático.
Aos poucos ele foi se convencendo
do papel da vida sexual na etiologia das
neuroses, ao mesmo tempo em que foi
refinando suas concepções sobre a se-
xualidade e diferenciando-a da mera ge-
nitalidade. Em 1894 suas teses a respeito
já estavam bem sedimentadas e como
Breuer não as referendou, começou a
dar-se um afastamento entre eles, o qual
se completaria em 1896. Pouco depois,
Freud elaboraria suas teorias sobre as
defesas, as quais iriam consolidar as i-
déias sobre o inconsciente reprimido.
Até 1897 Freud acreditava que o
neurótico, quando criança, fora vítima
de abuso sexual por parte de um adulto
ou de uma criança maior, mas aos pou-
cos foi mudando esse ponto de vista, já
que tal ocorrência, embora relatada por
eles, em geral não encontrava compro-
vação na realidade. Constatou, então,
que os episódios relatados pelos pacien-
tes eram meras fantasias, conseqüência
de impulsos interiores, e que a realidade
psíquica não era uma cópia fiel da reali-
dade fática. Abrira, assim, as portas para