Uma era secular de Charles Taylor

TRABALHO DE CHARLES TAYLOR (FILÓSOFO) QUE TORNA MAIS CLARO O PROCESSO DE “SECULARIZAÇÃO”, NO TEMPO E NO ESPAÇO, QUE VEM ACONTECENDO NO OCIDENTE DESDE O SÉCULO XVI...

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UMA ERA SECULAR – Charles Taylor (Ed. Unisinos, 2010)
PREFÁCIO
A SECULARIZAÇÃO ACONTECIDA NO TEMPO E NO ESPAÇO
A INTENÇÃO DESTE TRABALHO É TORNAR MAIS CLARO O QUE VEM A SER O PROCESSO DE
“SECULARIZAÇÃO” ACONTECIDO NO OCIDENTE MODERNO. PARA ISSO, A EXPOSIÇÃO ESTÁ ESTRUTURADA
COMO UM RELATO HISTÓRICO - UM ENCADEAMENTO DE DADOS E FATOS ENTRE OS QUAIS SE POSSA
RECONHECER UMA LINHA DE NEXOS DE CAUSA E EFEITO -, VISANDO PRODUZIR UMA VISÃO PLAUSÍVEL
SOBRE O CAMINHO QUE NOS LEVOU À CONDIÇÃO ATUAL DA CRENÇA/DESCRENÇA.
NOSSA VIVA ESPERANÇA É QUE A BUSCA DO ENTENDIMENTO DO QUE ACONTECEU DESPERTE EM
OUTROS UM VIVO INTERESSE EM INVESTIGAR E APROFUNDAR A COMPREENSÃO DO CONTEXTO QUE
FAVORECE E SUSTENTA O ATO DO CRER E, INVERSAMENTE, A ATITUDE DA DESCRENÇA.
1- INTRODUÇÃO
1a - NOVIDADE E FONTE DO SECULARISMO MODERNO
É IRRECUSÁVEL RECONHECER A CHEGADA INCISIVA DA SECULARIDADE NA HISTÓRIA
CONTEMPORÂNEA QUANDO COMPARAMOS AS SOCIEDADES DO ATLÂNTICO NORTE (EUROPA, ESTADOS
UNIDOS E CANADÁ) COM QUALQUER OUTRA NA HISTÓRIA HUMANA: SEJA NO ESPAÇO – COM
PRATICAMENTE TODAS AS OUTRAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS (COMO OS PAÍSES ISLÂMICOS, A
ÍNDIA E A ÁFRICA) – SEJA NO TEMPO – COM TODAS AS SOCIEDADES DO PASSADO, INCLUÍDAS AS DO
PRÓPRIO NORTE DO OCIDENTE.
EMBORA A SECULARIDADE SE ESTENDA TAMBÉM, PARCIALMENTE E DE DIFERENTES MANEIRAS,
PARA ALÉM DO MUNDO DO NORTE DO OCIDENTE, ESTA REGIÃO DESEMPENHA UM PAPEL CENTRAL NA
QUESTÃO EM PAUTA, POIS É NELA QUE O PROCESSO SE ORIGINOU E ADQUIRIU PROPORÇÕES DE GRANDE
AMPLITUDE AO LONGO DOS ÚLTIMOS SÉCULOS.
VALE ANOTAR TAMBÉM QUE, EM NOSSO MUNDO GLOBALIZADO, O SURGIMENTO DO FENÔMENO
DA SECULARIZAÇÃO EM OUTRAS REGIÕES DO PLANETA NÃO ESTÁ ISENTO DA INFLUÊNCIA E, EM BOA
MEDIDA, OCORRE OSTENSIVAMENTE SOB O PATROCÍNIO DE INSTITUIÇÕES PRIVADAS E ESTATAIS DAS
SOCIEDADES DO ATLÂNTICO NORTE, OPERADO ESPECIALMENTE VIA ORGANISMOS INTERNACIONAIS, DE
ÂMBITO MUNDIAL OU REGIONAL, SURGIDOS NO SÉCULO XX,
INSTÂNCIAS DO SABER ACADÊMICO DA MESMA REGIÃO PODEM SER TAMBÉM MENCIONADAS
COMO FONTES ALIMENTADORAS NA DIFUSÃO DA IDEOLOGIA SECULAR.
1b - O QUE É “SECULARIZAÇÃO”?
O PROCESSO DE SECULARIZAÇÃO CORRESPONDE À MUDANÇA POLÍTICA, CULTURAL E
COMPORTAMENTAL, OCORRIDA MAIS ACENTUADAMENTE DO SÉCULO XVI ATÉ NOSSOS DIAS NO
AMBIENTE DO ATLÂNTICO NORTE MODERNO, RELACIONADO COM A PRESENÇA DA RELIGIÃO E COM A
REALIDADE E/OU DA RELEVÂNCIA DE DEUS NA HISTÓRIA E NA VIDA DAS PESSOAS.
DE FATO, A SECULARIZAÇÃO REPRESENTA A MAIS PROFUNDA TRANSFORMAÇÃO EXPERIMENTADA
PELA SOCIEDADE OCIDENTAL MODERNA, GRAÇAS À MAGNITUDE DOS IMPACTOS POLÍTICOS E CULTURAIS
QUE SE PRODUZIRAM AO LONGO DELA, E CUJOS RESULTADOS SÃO A NOVA FORMA DE PENSAR, SENTIR E

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AGIR, ATUALMENTE DIFUSA EM AMPLOS SEGMENTOS SOCIAIS E DOMINANTE EM INSTÂNCIAS CULTURAIS
INFLUENTES.
2- ÂMBITOS DA SECURALIZAÇÃO
A SECULARIZAÇÃO RECONHECÍVEL EM TRÊS ÂMBITOS
PARA FACILITAR A COMPREENSÃO DESSE FENÔMENO HISTÓRICO TÃO EXPRESSIVO, CONVÉM
COMEÇARMOS POR TIPIFICAR A SECULARIDADE EM TRÊS DIFERENTES ÂMBITOS:
 SECULARIDADE 1: A RELIGIÃO COLOCADA FORA OU SEPARADA DA ESFERA PÚBLICA (ESTADO,
ECONOMIA, CIÊNCIA, EDUCAÇÃO, ETC.);
 SECULARIDADE 2: PESSOAS SE AFASTANDO DE DEUS, DE SUAS CONVICÇÕES E PRÁTICAS
RELIGIOSAS (p.ex.: EUROPEUS DO SÉCULO XX E XXI);
 SECULARIDADE 3: AS CONDIÇÕES HOSTÍS À FÉ NO AMBIENTE CULTURAL DO OCIDENTE
MODERNO, FORTEMENTE ACENTUADAS DESDE MEADOS DO SÉCULO XIX, SINTETICAMENTE
EXPRIMÍVEIS COMO UMA TENDÊNCIA A RESTRINGIR O MUNDO REAL AO IMANENTE ,
RECUSANDO A REALIDADE TRANSCENDENTE E AS OPERAÇÕES MENTAIS DA METAFÍSICA
COMO JUÍZO DE REALIDADE VÁLIDO.
 SECULARIDADE 1:
2-1a - A RELIGIÃO E DEUS FORA DO ESPAÇO PÚBLICO
PARA EVIDENCIAR ESTA MUDANÇA NO ESPAÇO PÚBLICO BASTA DESTACAR ESTE FATO: EMBORA A
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DE TODAS AS SOCIEDADES PRÉ-MODERNAS ESTIVESSE DE ALGUM MODO
CONECTADA, EMBASADA OU GARANTIDA POR ALGUMA FÉ OU COMPROMISSO COM DEUS, OU COM
ALGUMA NOÇÃO DE REALIDADE DERRADEIRA, O ESTADO OCIDENTAL MODERNO ESTÁ LIVRE DESSA
CONEXÃO.
ISTO QUER DIZER QUE, EM NOSSAS SOCIEDADES “SECULARES”, AS PESSOAS PODEM ENGAJAR-SE
TOTALMENTE NA POLÍTICA SEM JAMAIS ENCONTRAR DEUS, OU SEJA, SEM PRECISAR RECONHECER, DE
MODO FORÇOSO E INEQUÍVOCO, COMO ERA ANTES, A IMPORTÂNCIA CRUCIAL DA REALIDADE DO DEUS
PESSOAL E DE SEU ENVOLVIMENTO NA HISTÓRIA, COMO É O DEUS DE ABRAÃO.
ESSA TRANSFORMAÇÃO ENVOLVE MAIS QUE O ESTADO.
SE RECUARMOS ALGUNS SÉCULOS EM NOSSA CIVILIZAÇÃO, VEREMOS QUE DEUS ESTAVA PRESENTE
NO SENTIDO ACIMA NUMA GRANDE QUANTIDADE DE PRÁTICAS SOCIAIS – NÃO APENAS POLÍTICAS – E
EM TODOS OS NÍVEIS DA SOCIEDADE.
PODEMOS CITAR COMO CLARAS DEMONSTRAÇÕES DAQUELAS CONDIÇÕES: O MODO DE
FUNCIONAMENTO DO GOVERNO LOCAL COM BASE NA PARÓQUIA, QUE ERA ESSENCIALMENTE UMA
COMUNIDADE DE ORAÇÃO; AS ASSOCIAÇÕES CIVIS MANTINHAM UMA VIDA DE RITUAIS QUE NÃO ERAM
APENAS PRO FORMA; ENFIM, OS ÚNICOS MODOS PELOS QUAIS A SOCIEDADE, EM TODOS OS SEUS
COMPONENTES, EXPRESSAVAM-SE A SI MESMAS ERAM AS FESTIVIDADES RELIGIOSAS.
CLARO ESTÁ QUE ESTAS CONDIÇÕES DESAPARECERAM PARA A SOCIEDADE CIVIL COMO UM TODO.
E SE RECUARMOS AINDA MAIS NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE, EM TEMPOS PRÉ-CRISTÃOS,
CHEGAREMOS A SOCIEDADES ARCAICAS NAS QUAIS TODO UM CONJUNTO DE DISTINÇÕES QUE

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ESTABELECEMOS ENTRE ASPECTOS RELIGIOSOS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS, SOCIAIS ETC. DE NOSSA
SOCIEDADE DEIXAM DE FAZER SENTIDO.
NESSAS SOCIEDADES MAIS ANTIGAS, A RELIGIÃO ESTAVA “EM TODA A PARTE”, ESTAVA INTER-
RELACIONADA COM TUDO O MAIS E, DE FORMA ALGUMA, CONSISTIA NUM “PLANO” ISOLADO EM SI
MESMO.
NAQUELAS SOCIEDADES, AS PESSOAS NÃO PODIAM ENGAJAR-SE EM NENHUM TIPO DE ATIVIDADE
PÚBLICA SEM “ENCONTRAR DEUS” NO SENTIDO ACIMA MENCIONADO.
MAS SITUAÇÃO É TOTALMENTE DISTINTA HOJE EM DIA.
AS IGREJAS ENCONTRAM-SE HOJE SEPARADAS DAS ESTRUTURAS POLÍTICAS (COM ALGUMAS
EXCEÇÕES, EM PAÍSES BRITÂNICOS E ESCANDINAVOS, MAS DE FORMA TÃO INEXPRESSIVA E MARGINAL
QUE, DE FATO, NÃO SE CONSTITUEM EM EXCEÇÕES À REALIDADE GERAL DO OCIDENTE).
2-1b - DO ESTADO TEOCRÁTICO PARA AS ARBITRARIEDADES DO LAICISMO
A SOCIEDADE POLÍTICA É HOJE VISTA COMO UMA SOCIEDADE DE CRENTES, DE TODAS AS NUANCES,
E DE NÃO CRENTES IGUALMENTE.
A RELIGIÃO, OU A SUA AUSÊNCIA, PASSOU A CONSISTIR NUMA QUESTÃO PRIVADA.
SOBRE ESTA QUESTÃO DA RELIGIÃO COMO “QUESTÃO PRIVADA”, CONVÉM NOS DETERMOS
BREVEMENTE PARA FAZERMOS ALGUMAS DISTINÇÕES, POIS CONTRIBUEM PARA A CARACTERIZAÇÃO QUE
ESTAMOS BUSCANDO A RESPEITO DA SECULARIDADE 1.
AQUI É PRECISO DISTINGUIR, DE UM LADO, A SECULARIZAÇÃO COMO A DIFERENCIAÇÃO ENTRE AS
ESFERAS SECULARES (GERALMENTE ENTENDIDA COMO UM PROCESSO DE ‘EMANCIPAÇÃO’ DAS ESFERAS
ESTADO, ECONOMIA, CIÊNCIA DO ÂMBITO RELIGIOSO), E AS INSTIUIÇÕES E NORMAS RELIGIOSAS; E, DE
OUTRO LADO, A SECULARIZAÇÃO COMO A SUPOSTA PRIVATIZAÇÃO DA RELIGIÃO” - COMO QUEREM
ALGUMAS CORRENTES COM NÍTIDO VIÉS ADVERSO À RELIGIÃO, CUJA CLARA INTENÇÃO É IMPEDIR O
PENSAMENTO RELIGIOSO DE EXERCER QUALQUER INFLUÊNCIA NA VIDA SOCIAL.
AS NOÇÕES DE LAICIDADE E LAICISMO AJUDAM A DISTINGUIR ESTAS DUAS POSTURAS.
LAICIDADE REFERE-SE À TRANSFERÊNCIA DE PESSOAS, COISAS, SIGNIFICADOS, DO USO OU
CONTROLE DA ESFERA ECLESIÁSTICA OU RELIGIOSA PARA O DA ESFERA CIVIL OU LAICA, SEM CONTUDO
NEGAR À RELIGIÃO O DIREITO LEGÍTIMO DE CONTRIBUIR, NUMA SOCIEDADE PLURAL, PARA A
FORMULAÇÃO ÉTICA E MORAL QUE A REGE. A LAICIDADE REPRESENTA O IDEAL DE UMA SOCIEDADE
LAICA – A EFETIVA AUTONOMIA DA ESFERA POLÍTICA EM RELAÇÃO À RELIGIOSA -, E AUTENTICAMENTE
DEMOCRÁTICA POR RESPEITAR O DIREITO UNIVERSAL À PARTICIPAÇÃO ATIVA NO ESPAÇO PÚBLICO,
INCLUINDO O DOS RELIGIOSOS.
LAICISMO É UMA POSTURA IDEOLÓGICA ANTIRELIGIOSA, MUITAS VEZES IDENTIFICÁVEL COMO UM
FUNDAMENTALISMO ANTIRRELIGIOSO, OU INTOLERÂNCIA EM RELAÇÃO À RELIGIÃO, NEGANDO ÀS
PESSOAS RELIGIOSAS O DIREITO DE INFLUENCIAREM, COMO AS DEMAIS, O ESPAÇO PÚBLICO COM SUAS
CONVICÇÕES: NA NOÇÃO DE “PRIVATIZAÇÃO DA RELIGIÃO” ESTÁ IMPLÍCITO O INTERDITO ARBITRÁRIO DO
ESPAÇO PÚBLICO PARA AS PROPOSTAS FUNDADAS EM DEUS, INDEPENDENTE DA EXTENSÃO DESSAS
CONVICÇÕES NO CORPO SOCIAL.
É NOTÓRIO QUE O LAICISMO, FREQUENTEMENTE EM OPOSIÇÃO AO SENTIMENTO
MAJORITARIAMENTE RELIGIOSO DA POPULAÇÃO, TEM SE IMPOSTO COMO MENTALIDADE DOMINANTE
GRAÇAS À MILITÂNCIA DESTA CORRENTE IDEOLÓGICA, ESPECIALMENTE ATIVA NAS ÁREAS DE FORMAÇÃO

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DA CULTURA, COMO A ACADÊMICA, A DA COMUNICAÇÃO SOCIAL E A DOS GRANDES SISTEMAS ESTATAIS
DE EDUCAÇÃO (NA ESTEIRA DAS RECOMENDAÇÕES DE GRAMSCI).
2-1c - O ESPAÇO PÚBLICO ESVAZIADO DE DEUS
ASSIM, UM ENTENDIMENTO DE SECULARIDADE DÁ-SE EM TERMOS DE ESPAÇOS PÚBLICOS. O FATO
É QUE ESTES FORAM SUPOSTAMENTE ESVAZIADOS DE DEUS OU DE QUALQUER REFERÊNCIA A UMA
REALIDADE DERRADEIRA.
OU, VISTO POR OUTRO ÂNGULO, COMO ATUAMOS EM VÁRIAS ESFERAS DE ATIVIDADE –
ECONÔMICA, POLÍTICA, CULTURAL, EDUCACIONAL, PROFISSIONAL, RECREATIVA – AS NORMAS E OS
PRINCÍPIOS QUE SEGUIMOS, AS DELIBERAÇÕES NAS QUAIS NOS ENVOLVEMOS GERALMENTE NÃO
REPORTAM A DEUS OU A QUAISQUER CRENÇAS RELIGIOSAS; AS CONSIDERAÇÕES A PARTIR DAS QUAIS
ATUAMOS SÂO INTERNAS À “RACIONALIDADE” DE CADA ESFERA – O GANHO MÁXIMO NA ECONOMIA, O
MAIOR BENEFÍCIO AO MAIOR NÚMERO DE PESSOAS NA ÁREA POLÍTICA, E ASSIM SUCESSIVAMENTE.
 SECULARIDADE 2:
2-2a - AFASTAMENTO DE DEUS, DAS CONVICÇÕES E PRÁTICAS RELIGIOSAS
NESTE SEGUNDO SENTIDO, A SECULARIDADE CONSISTE NO ABANDONO DE CONVICÇÕES E
PRÁTICAS RELIGIOSAS, EM PESSOAS SE AFASTANDO DE DEUS E NÃO MAIS FREQUENTANDO A IGREJA.
NESTE SENTIDO, OS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL TORNARAM-SE MAJORITARIAMENTE SECULARES –
ATÉ MESMO AQUELES QUE MANTÊM VESTÍGIOS DE REFERÊNCIA A DEUS NO ESPAÇO PÚBLICO.
CONTUDO, ESSE ESVAZIAMANTO DA RELIGIÃO DAS ESFEREAS SOCIAIS, TORNADAS AUTÔNOMAS
EM RELAÇÃO A ELA, CONVIVE COM A REALIDADE, MUITO EVIDENTE, DA VASTA MAIORIA DAS PESSOAS
QUE AINDA ACREDITA EM DEUS, E QUE PRATICA SUA RELIGIÃO FERVOROSAMENTE.
É CASO DA POLÔNIA, EM QUE A SECULARIDADE PÚBLICA FOI IMPOSTA POR UM REGIME DITATORIAL
E IMPOPULAR. MAS OS ESTADOS UNIDOS SÃO AINDA MAIS NOTÁVEIS NESTE SENTIDO: UMA DAS
PRIMEIRAS SOCIEDADES A SEPARAR IGREJA E ESTADO, O PAÍS É TAMBÉM A SOCIEDADE OCIDENTAL COM
AS ESTATÍSTICAS MAIS ELEVADAS DE FÉ E PRÁTICA RELIGIOSAS.
MESMO ASSIM, É ESSE O PONTO QUE AS PESSOAS QUEREM CHEGAR QUANDO SE REFEREM Á NOSSA
ERA SECULAR E A COMPARAM, COM NOSTALGIA OU ALÍVIO, A ÉPOCAS ANTERIORES DE FÉ OU PIEDADE.
 SECULARIDADE 3:
2-3a - CONTEXTO CULTURAL HOSTIL À FÉ NO OCIDENTE MODERNO
ACREDITAMOS QUE O EXAME DESTA ERA COMO SECULAR SEJA PERTINENTE EM UM TERCEIRO
SENTIDO, INTIMAMENTE RELACIONADO AO SEGUNDO (ABANDONO DAS CONVICÇÕES E PRÁTICAS
RELIGIOSAS) E NÃO DESVINCULADO DO PRIMEIRO (ESVAZIAMENTO DE DEUS NOS ESPAÇOS PÚBLICOS).
ESTE TERCEIRO SENTIDO ENFOCA AS CONDIÇÕES A QUE FOI E ESTÁ SUBMETIDA A FÉ.
QUEREMOS NOS REFERIR ÀS CONDIÇÕES QUE PRODUZIRAM A PASSAGEM DE UMA SOCIEDADE EM
QUE A FÉ EM DEUS ERA INQUESTIONÁVEL, E, DE FATO, NÃO PROBLEMÁTICA, PARA UMA SOCIEDADE NA
QUAL A FÉ É ENTENDIDA COMO UMA OPÇÃO ENTRE OUTRAS E, EM GERAL, NÃO A MAIS FÁCIL DE SER
ABRAÇADA.
PORTANTO, AQUI ESTAMOS FALANDO DE UM “CONTEXTO DE COMPREENSÃO”, UM PANO DE
FUNDO DIFUSO, UM BACKGROUND OU PARADIGMA CULTURAL GENERALIZADO, OU SEJA, UMA

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MENTALIDADE DOMINANTE QUE SE INSTALOU - OU REINSTALOU, SE QUISERMOS NOS REFERIR AO
PAGANISMO CONTRA O QUAL O CRISTIANISMO INICIANTE HAVIA LUTADO E VENCIDO -, HOSTILIZANDO E
SUPERANDO O QUADRO ANTERIOR DA CIVILIZAÇÃO CRISTà E CONFIGURANDO UMA “ERA PÓS-CRISTÔ.
2-3b - A FÉ COMO UMA ALTERNATIVA ENTRE OUTRAS
NESTE SENTIDO, EM OPOSIÇÃO AO SENTIDO 2 (CONVICÇÕES E PRÁTICAS RELIGIOSAS), PODE-SE
AFIRMAR, NO MÍNIMO, QUE MUITO MEIOS SOCIAIS DOS ESTADOS UNIDOS SÃO SECULARES, E
PODERÍAMOS DIZER QUE O PRÓPRIO PAÍS COMO UM TODO TAMBÉM O É.
CASOS CLARAMENTE DISTINTOS HOJE SERIAM, EM SUA MAIORIA, AS SOCIEDADES MULÇULMANAS,
OU O MEIO SOCIAL EM QUE VIVE A VASTA MAIORIA DOS INDIANOS.
NÃO FARIA DIFERENÇA SE ALGUÉM DEMONSTRASSE QUE AS ESTATÍSTICAS DE PRESENÇA EM
IGREJAS OU SINAGOGAS DOS EUA, OU EM ALGUMAS DE SUAS REGIÕES, ESTIVESSEM PRÓXIMAS
DAQUELAS DA PRESENÇA EM MESQUITAS NA SEXTA-FEIRA, DIGAMOS, NO PAQUISTÃO OU NA JORDÂNIA.
ISSO CONSTITUIRIA EVIDÊNCIA PARA CLASSIFICAR ESSAS SOCIEDADES COMO SEMELHANTES NO
SENTIDO 2 (CONVICÇÕES E PRÁTICAS RELIGIOSAS).
CONTUDO, PARECE EVIDENTE QUE EXISTEM GRANDES DIFERENÇAS ENTRE ESSAS SOCIEDADES,
DERIVADAS EM PARTE DO FATO DE QUE, PARA AS SOCIEDADES DO ATLÂNTICO NORTE, A FÉ É UMA OPÇÃO
– PODERÍAMOS ATÉ MESMO AFIRMAR, UMA OPÇÃO COMPLICADA NA SOCIEDADE CRISTÃ (OU “PÓS-
CRISTÔ) -, DIFERENTEMENTE DO QUE ACONTECE NAS SOCIEDADES MUÇULMANAS.
É NESSE SENTIDO QUE QUEREMOS EXAMINAR NOSSA SOCIEDADE COMO SECULAR.
HOUVE UMA MUDANÇA QUE IDENTIFICO COMO AQUELA QUE NOS LEVA DE UMA SOCIEDADE NA
QUAL ERA PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL NÃO ACREDITAR EM DEUS PARA UMA NA QUAL A FÉ, ATÉ MESMO
PARA O CRENTE MAIS DEVOTO, REPRESENTA APENAS UMA POSSIBILIDADE HUMANA ENTRE OUTRAS.
POSSO CONSIDERAR INCONCEBÍVEL A POSSIBILIDADE DE ABANDONAR MINHA FÉ, MAS EXISTEM
OUTROS, INCLUINDO TALVEZ ALGUÉM MUITO PRÓXIMO DE MIM QUE NÃO TEM FÉ EM DEUS, OU NO
TRANSCENDENTAL, E CUJO MODO DE VIDA NÃO POSSO SIMPLESMENTE DESCARTAR COMO DEPRAVADO,
CEGO, OU SEM VALOR.
A FÉ EM DEUS NÃO É MAIS AXIOMÁTICA. EXISTEM ALTERNATIVAS.
2-3c - A PROBLEMÁTICA OPÇÃO DA FÉ NO MUNDO PLURAL
EM CERTOS MEIOS SOCIAIS PODE ATÉ SER DIFÍCIL CONSERVAR A PRÓPRIA FÉ.
HAVERÁ PESSOAS QUE SE SENTIRÃO OBRIGADAS A DESISTIR DELA, MUITO EMBORA LAMENTEM
SUA PERDA. ESTA TEM SIDO UMA EXPERIÊNCIA CARACTERÍSTICA EM NOSSAS SOCIEDADES, PELO MENOS
DESDE MEADOS DO SÉCULO XIX.
HAVERÁ MUITAS OUTRAS PARA QUEM A FÉ JAMAIS PARECERÁ UMA POSSIBILIDADE ACEITÁVEL. HÁ
CERTAMENTE MILHÕES HOJE EM DIA PARA QUEM ISTO É VERDADE.
2-3d - AS DIFERENTES EXPERIÊNCIAS E BUSCAS MORAIS E ESPIRITUAIS
A SECULARIDADE NESTE SENTIDO É UMA QUESTÃO ATINENTE A TODO UM “CONTEXTO DE
COMPREENSÃO” NO QUAL ACONTECEM NOSSAS EXPERIÊNCIAS E BUSCAS MORAIS, ESPIRITUAIS E
RELIGIOSAS.

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“CONTEXTO DE COMPREENSÃO” NÃO SE REFERE APENAS A QUESTÕES FORMULADAS DE MODO
EXPLÍCITO POR QUASE TODO MUNDO, COMO O DIREITO E A NECESSIDADE DA PLURALIDADE DE OPÇÕES,
MAS TAMBÉM A OUTRAS QUE COMPÕEM O PANO DE FUNDO IMPLÍCITO E SEM FOCO DESSAS
EXPERIÊNCIAS E BUSCAS, A SUA “PRÉ-ONTOLOGIA” PARA USAR UM TERMO HEIDEGGERIANO.
DESSE MODO, UMA ERA OU SOCIEDADE SERIA SECULAR OU NÃO EM VIRTUDE DAS CONDIÇÕES DA
EXPERIÊNCIA DO ESPIRITUAL E DA SUA BUSCA.
OS FATORES DA CRENÇA OU DESCRENÇA
À PRIMEIRA VISTA, PARECE SIMPLES ESTABELECER UMA CORRELAÇÃO ENTRE AS CONDIÇÕES DA
EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL COM A PRESENÇA DE DEUS NO ESPAÇO PÚBLICO OU COM AS CONVICÇÕES E
PRÁTICAS RELIGIOSAS, MAS ISTO NÃO É TÃO SIMPLES ASSIM, COMO MOSTRA O CASO DOS EUA.
NO CASO DA ÍNDIA, A AUSÊNCIA DE DEUS NA ESFERA PÚBLICA PARECE ESTAR DESCONECTADA DAS
CONVICÇÕES RELIGIOSAS E CONDIÇÕES DA FÉ.
CONTUDO, NO CASO OCIDENTAL É POSSÍVEL SUSTENTAR QUE A MUDANÇA PARA A SECULARIDADE
PÚBLICA CONTRIBUIU EM PARTE PARA PROMOVER UMA ERA SECULAR NO TERCEIRO SENTIDO
(CONTEXTO DE COMPREENSÃO, PANO DE FUNDO DIFUSO, BACKGROUND).
CONTUDO, ARTICULAR AS CONDIÇÕES DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL – OU QUE FATORES IMPACTAM
A CRENÇA OU A DESCRENÇA - ACABA SENDO MAIS DIFÍCIL DO QUE SE PODE IMAGINAR, POIS AS PESSOAS
TENDEM A ESTAR FOCADAS NAS PRÓPRIAS CONVICÇÕES, SEJAM CRENTES OU DESCRENTES, E TÊM
DIFICULDADES EM EXAMINAR MAIS OBJETIVAMENTE AS CONDIÇÕES QUE AS ENSEJAM.
NA BUSCA DO QUE DETERMINA A CRENÇA OU A DESCRENÇA, PODEMOS COMEÇAR PERGUNTANDO:
O QUE INTERESSA GERALMENTE ÀS PESSOAS NESTE ÂMBITO DA ESPIRITUALIDADE? O QUE DESPERTA
GRANDE PARTE DA ANGÚSTIA E DO CONFLITO NAS CONDIÇÕES DA EXPERIÊNCIA EXPIRITUAL?
ISTO RELACIONA-SE COM UM SEGUNDO GRUPO DE QUESTÕES: EM QUE AS PESSOAS ACREDITAM E
O QUE ELAS PRATICAM? QUANTAS ACREDITAM EM DEUS? EM QUE DIREÇÃO SEGUE ESTA TENDÊNCIA?
PODEMOS AFINAR NOSSA BUSCA PRESTANDO ATENÇÃO N O INTERESSE PELA SECULARIDADE
PÚBLICA, ISTO É, O QUANTO LHES IMPORTA A AUSÊNCIA DE DEUS NA ESFERA PÚBLICA.
OU SEJA: QUAL O NÍVEL DE DESCONFORTO OU CONFORTO QUE A SECULARIDADE PÚBLICA LHES
CAUSA? CLARO QUE A REAÇÃO A ESTA QUESTÃO ESTÁ RELACIONADA COM AQUILO EM QUE AS PESSOAS
ACREDITAM, OU COM O QUE PRATICAM, E COM A MANEIRA COM QUE SÃO TRATADAS EM
CONSEQUÊNCIA DISSO.
AS CAUSAS DO DECLÍNIO DA FÉ CRISTÃ
MAS EM NOSSAS SOCIEDADES A GRANDE QUESTÃO RELATIVA Á RELIGIÃO É DEFINIDA EM TERMOS
DA FÉ. O CRISTIANISMO SEMPRE DEFINIU A SI PRÓPRIO EM RELAÇÃO A PROFISSÕES DE FÉ. E O
SECULARISMO 2 TEM SIDO GERALMENTE VISTO COMO O DECLÍNIO DA FÉ CRISTÃ.
ESSE DECLÍNIO É PERCEBIDO COMO AMPLAMENTE FORTALECIDO PELO DESPERTAR DE OUTROS
TIPOS DE CRENÇA, COMO CRENÇA NA CIÊNCIA E NA RAZÃO, OU AINDA PELA EMANCIPAÇÃO DE
DTERMINADAS CIÊNCIAS, COMO, POR EXEMPLO, A TEORIA DA EVOLUÇÃO, OU AS EXPLICAÇÕES
NEUROFISIOLÓGICAS PARA O FUNCIONAMENTO MENTAL.

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Índice da versão original em inglês (Harvard University Press, 2007)
Preface
Introduction
1) The Bulwarks of Belief
2) The Rise of th Disciplinary Society
3) The Great Disembedding
4) Modern Social Imaginaries
5) The Spectre of Idealism
6) Providential Deism
7) The Impersonal Order
8) The Malaises of Modernity
9) The Dark Abyss of Time
10) The Expanding Universe of Unbelief
11) Nineteenth-Century Trajectories
12) The Age of Mobilization
13) The Age of Authenticity
14) Religion Today
15) The Immanent Frame
16) Cross Pressures
17) Dilemmas 1
18) Dilemmas 2
19) Unquiet Frontiers of Modernity
20) Conversions
Epilogue: The Many Stories