Unidade 01 - Introdução e História da Psicologia.doc

jaiannyajorge 7 views 9 slides Sep 15, 2025
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About This Presentation

Texto de psicologia


Slide Content

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A PSICOLOGIA OU AS PSICOLOGIAS
BOCK, Ana Mercês. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia.
São Paulo: Saraiva, 1999. [Capítulo 1 – Resumido e adaptado]
Áreas do conhecimento: senso comum, filosofia, religião, arte e ciência
É a Psicologia científica que pretendemos apresentar a você. Mas, antes
de iniciarmos o seu estudo, faremos uma exposição da relação ciência/senso
comum; depois falaremos mais detalhadamente sobre ciência e, assim,
esperamos que você compreenda melhor a Psicologia científica.
Quantas vezes, no nosso dia-a-dia, ouvimos o termo psicologia?
Qualquer um entende um pouco dela. Usamos o termo psicologia no nosso
cotidiano com vários sentidos. Por exemplo, quando falamos do poder de
persuasão do vendedor, dizemos que ele usa de “psicologia” para vender
seu produto; quando nos referimos à jovem estudante que usa seu poder de
sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de “psicologia”; e quando
procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a ouvir nossos
problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as pessoas.
Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é
denominada de Psicologia do senso comum. O que estamos querendo dizer
é que as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno e
superficial, do conhecimento acumulado pela Psicologia científica, o que
lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um
ponto de vista psicológico.
O fato é que a dona de casa, quando usa a garrafa térmica para
manter o café quente, sabe por quanto tempo ele permanecerá
razoavelmente quente, sem fazer nenhum cálculo complicado e sem
conhecer as leis da termodinâmica. Quando alguém em casa reclama de
dores no fígado, ela faz um chá de boldo, que é uma planta medicinal já
usada pelos avós de nossos avós, sem, no entanto, conhecer o princípio
ativo de suas folhas nas doenças hepáticas e sem nenhum estudo
farmacológico. Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso
cotidiano é chamado de senso comum. Sem esse conhecimento intuitivo,
espontâneo, de tentativas e erros, a nossa vida no dia-a-dia seria muito
complicada.
O senso comum, na produção desse tipo de conhecimento, percorre um
caminho que vai do hábito à tradição, a qual, quando estabelecida, passa de
geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar uma
rua, a fazer o liquidificador funcionar, a plantar alimentos na época e de
maneira correta, a conquistar a pessoa que desejamos e assim por diante. E
é nessa tentativa de facilitar o dia-a-dia que o senso comum produz suas
próprias “teorias”.
O senso comum integra, de um modo simplificado, o conhecimento
humano. Quando utilizamos termos como “menina histérica”, “ficar
neurótico”, estamos usando termos definidos pela Psicologia científica. Não
nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos
de ser entendidos pelo outro. Podemos até estar muito próximos do
conceito científico, mas, na maioria das vezes, nem o sabemos. Esses são
exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência.
Mas o senso comum não é a única forma de conhecimento que o
homem possui para descobrir e interpretar a realidade. Povos antigos, e
entre eles cabe sempre mencionar os gregos, preocuparam-se com a origem
e com o significado da existência humana. As especulações em torno
desse tema formaram um corpo de conhecimentos denominado filosofia.
A formulação de um conjunto de pensamentos sobre a origem do
homem, seus princípios morais, forma outro corpo de conhecimento
humano, conhecido como religião. No Ocidente, um livro muito conhecido
traz as crenças e tradições de nossos antepassados e é para muitos um
modelo de conduta: a Bíblia. Esse livro é o registro do conhecimento
religioso judaico-cristão. Outro livro semelhante é o livro sagrado dos
hindus: Livro dos Vedas. Veda, em sânscrito (antiga língua clássica da
Índia), significa conhecimento.
Por fim, o homem, já desde a sua pré-história, deixou marcas de sua
sensibilidade nas paredes das cavernas, quando desenhou a sua própria
figura e a figura da caça, criando uma expressão do conhecimento que
traduz a emoção e a sensibilidade. Denominamos arte a esse tipo de
conhecimento.

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Somente esse tipo de conhecimento, porém, não seria suficiente para as
exigências de desenvolvimento da humanidade. O homem, desde os
tempos primitivos, foi ocupando cada vez mais espaço neste planeta, e
somente esse conhecimento intuitivo seria muito pouco para que ele
dominasse a Natureza em seu próprio proveito. Os gregos, por volta do
século 4 a.C, já dominavam complicados cálculos matemáticos, que ainda
hoje são considerados difíceis por qualquer jovem colegial. Os gregos
precisavam entender esses cálculos para resolver problemas agrícolas,
arquitetônicos, navais etc. Era uma questão de sobrevivência. Com o tempo,
esse tipo de conhecimento foi-se especializando cada vez mais. A este tipo
de conhecimento, que definiremos logo adiante, chamamos de ciência.
Portanto, arte, religião, filosofia, ciência e senso comum são diferentes
domínios do conhecimento humano.
O que é Ciência
A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou
aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma
linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de
maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a
verificação de sua validade. Assim, saber exatamente como determinado
conteúdo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa
forma, o saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido.
Essa característica da produção científica possibilita sua continuidade: um
novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente
desenvolvido. Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e
assim a ciência avança. Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um
processo.
A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à
objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas
de emoção, para, assim, tornarem-se válidas para todos.
Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas,
processo cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma
forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo
do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite que
denominemos científico a um conjunto de conhecimentos.
A Psicologia Científica e sua diversidade de objetos de estudo
Como dissemos anteriormente, um conhecimento, para ser considerado
científico, requer um objeto específico de estudo. O objeto da Astronomia
são os astros, e o objeto da Biologia são os seres vivos. Essa
classificação bem geral demonstra que é possível tratar o objeto dessas
ciências com certa distância, ou seja, é possível isolar o objeto de estudo.
Esse cientista não corre o mínimo risco de confundir-se com o fenômeno
que está estudando. O mesmo não ocorre com a Psicologia, que, como a
Antropologia, a Economia, a Sociologia e todas as ciências humanas, estuda
o homem.
Certamente, esta divisão é ampla demais e apenas coloca a Psicologia
entre as ciências humanas. Qual é, então, o objeto específico de estudo da
Psicologia?
Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá: “O
objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano”. Se a palavra
for dada a um psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de estudo da
Psicologia é o inconsciente”. Outros dirão que é a consciência humana, e
outros, ainda, a personalidade.
A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato deste
campo do conhecimento ter-se constituído como científico só muito
recentemente (final do século 19). Outro motivo que contribui para
dificultar uma clara definição de objeto da Psicologia é o fato de o cientista
— o pesquisador — confundir-se com o objeto a ser pesquisado. No sentido
mais amplo, o objeto de estudo da Psicologia é o homem, e neste caso o
pesquisador está inserido na categoria a ser estudada. Assim, a concepção
de homem que o pesquisador traz consigo “contamina” inevitavelmente a
sua pesquisa em Psicologia. Isso ocorre porque há diferentes concepções de
homem entre os cientistas. É o caso da concepção de “homem natural”,
formulada pelo filósofo francês Rousseau, que imagina que o homem era

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puro e foi corrompido pela sociedade, e que cabe então ao filósofo
reencontrar essa pureza perdida. Outros veem o homem como ser abstrato,
com características definidas e que não mudam, a despeito das condições
sociais a que esteja submetido. Nós, autores deste livro, vemos esse homem
como ser datado, determinado pelas condições históricas e sociais que o
cercam.
Na realidade, este é um “problema” enfrentado por todas as ciências
humanas, muito discutido pelos cientistas de cada área e até agora sem
perspectiva de solução. Conforme a definição de homem adotada, teremos
uma concepção de objeto que combine com ela. Como, neste momento, há
uma riqueza de valores sociais que permitem várias concepções de homem,
diríamos simplificadamente que, no caso da Psicologia, esta ciência estuda
os “diversos homens” concebidos pelo conjunto social. Assim, a Psicologia
hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo.
Por outro lado, essa diversidade de objetos justifica-se porque os
fenômenos psicológicos são tão diversos, que não podem ser acessíveis ao
mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos
padrões de descrição, medida, controle e interpretação. Esta situação leva-
nos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a postular
que no momento não existe uma psicologia, mas Ciências psicológicas
embrionárias e em desenvolvimento.
A subjetividade como objeto da Psicologia
Considerando toda essa dificuldade na conceituação única do objeto de
estudo da Psicologia, pensamos que o objeto de estudo da Psicologia
deveria ser um que reunisse condições de aglutinar uma ampla variedade de
fenômenos psicológicos. Assim, optamos por apresentar uma definição que
sirva como referência, uma vez que você irá se deparar com diversos
enfoques que trazem definições específicas desse objeto (o comportamento,
o inconsciente, a consciência etc.).
A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade: é essa a sua forma
particular, específica de contribuição para a compreensão da totalidade da
vida humana.
A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós
vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as
experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de
um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os
elementos que a constituem são experienciados no campo comum da
objetividade social. Esta síntese — a subjetividade — é o mundo de ideias,
significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas
relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é,
também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.
O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por nós,
possibilita-nos a construção de um mundo interior. São diversos fatores que
se combinam e nos levam a uma vivência muito particular. Nós atribuímos
sentido a essas experiências e vamos nos constituindo a cada dia.
A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e
fazer de cada um. É o que constitui nosso modo de ser: sou filho de
japoneses, militante de um grupo ecológico, detesto Matemática, adoro
samba e black music, pratico ioga. Meu melhor amigo é filho de
descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em Matemática, trabalha
e estuda, é corintiano fanático, adora comer sushi e navegar pela Internet.
Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade.
Entretanto, a síntese que a subjetividade representa não é inata ao
indivíduo. Ele a constrói aos poucos, apropriando-se do material do mundo
social e cultural, e faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este
mundo, ou seja, é ativo na sua construção. Criando e transformando o
mundo (externo), o homem constrói e transforma a si próprio.
De um certo modo, podemos dizer que a subjetividade não só é
fabricada, produzida, moldada, mas também é automoldável, ou seja, o
homem pode promover novas formas de subjetividade, recusando-se ao
assujeitamento e à perda de memória imposta pela fugacidade da
informação; recusando a massificação que exclui e estigmatiza o diferente,
a aceitação social condicionada ao consumo, a medicalização do
sofrimento. Nesse sentido, retomamos a utopia que cada homem pode
participar na construção do seu destino e de sua coletividade.
Por fim, podemos dizer que estudar a subjetividade, nos tempos atuais, é

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tentar compreender a produção de novos modos de ser, isto é, as
subjetividades emergentes, cuja fabricação é social e histórica. O estudo
dessas novas subjetividades vai desvendando as relações do cultural, do
político, do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais
observável no homem — aquilo que o captura, submete-o ou mobiliza-o
para pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade
(como dizia o filósofo francês Michel Foucault).
O movimento e a transformação são os elementos básicos de toda essa
história. E aproveitamos para citar Guimarães Rosa, que em Grande Sertão:
Veredas, consegue expressar, de modo muito adequado e rico, o que aqui
vale a pena registrar: “O importante e bonito do mundo é isso: que as
pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas
vão sempre mudando. Afinam e desafinam”.
As pessoas não estão sempre iguais. Ainda não foram terminadas. Na
verdade, as pessoas nunca serão terminadas, pois estarão sempre se
modificando. Mas por quê? Como? Simplesmente porque a subjetividade —
este mundo interno construído pelo homem como síntese de suas
determinações — não cessará de se modificar, pois as experiências sempre
trarão novos elementos para renová-la.
Talvez você esteja pensando: mas eu acho que sou o que sempre fui —
eu não me modifico! Por acompanhar de perto suas próprias
transformações, você pode não percebê-las e ter a impressão de ser como
sempre foi. Você é o construtor da sua transformação e, por isso, ela pode
passar despercebida, fazendo-o pensar que não se transformou. Mas você
cresceu, mudou de corpo, de vontades, de gostos, de amigos, de atividades,
afinou e desafinou, enfim, tudo em sua vida muda e, com ela, suas
vivências subjetivas, seu conteúdo psicológico, sua subjetividade. Isso
acontece com todos nós.
É claro que a forma de se abordar a subjetividade, e mesmo a forma de
concebê-la, dependerá da concepção de homem adotada pelas diferentes
escolas psicológicas. No momento, pelo pouco desenvolvimento da
Psicologia, essas escolas acabam formulando um conhecimento
fragmentário de uma única e mesma totalidade — o ser humano: o seu
mundo interno e as suas manifestações. A superação do atual impasse levará
a uma Psicologia que enquadre esse homem como ser concreto e
multideterminado. Esse é o papel de uma ciência crítica, da compreensão,
da comunicação e do encontro do homem com o mundo em que vive, já
que o homem que compreende a História (o mundo externo) também
compreende a si mesmo (sua subjetividade), e o homem que compreende a
si mesmo pode compreender o engendramento do mundo e criar novas rotas
e utopias.
O ESTUDO DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA - INTRODUÇÃO
Schultz, D. P., & Schultz, S. E. (2009). História da psicologia moderna.
(Cap. 1)
A psicologia é uma das mais antigas disciplinas acadêmicas e, ao mesmo
tempo, uma das mais novas. O interesse pela psicologia remonta aos
primeiros espíritos questionadores. Sempre tivemos fascínio pelo nosso
próprio comportamento, e especulações acerca da natureza e conduta
humanas são o tópico de muitas obras filosóficas e teológicas. Já no século
V a.C., Platão, Aristóteles e outros sábios gregos se viam às voltas com
muitos dos mesmos problemas que hoje ocupam os psicólogos: a memória,
a aprendizagem, a motivação, a percepção, a atividade onírica e o
comportamento anormal. As mesmas espécies de interrogações feitas
atualmente sobre a natureza humana também o eram séculos atrás.
A moderna abordagem psicológica teve início há pouco mais de
cem anos, em 1879. A distinção entre a psicologia moderna e seus
antecedentes não está nos tipos de perguntas feitas sobre a natureza humana,
mas nos método científico empregado na busca das respostas a essas
perguntas. O que distingue a disciplina mais antiga da filosofia da
psicologia moderna são a abordagem e as técnicas usadas, que denotam a
emergência desta última um campo de estudo próprio, essencialmente
científico.
Os filósofos estudavam a natureza humana através da especulação,
intuição e generalização baseadas em sua limitada experiência. Sucede
transformação no momento em que os filósofos começaram a aplicar os
instrumentos e métodos que já tinham se mostrado bem-sucedidos nas

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ciências físicas e biológicas a questões relativas à natureza humana.
Somente quando os pesquisadores passaram a se apoiar na observação e na
experimentação controladas para estudar a mente humana que a psicologia
começou a se distinguir de suas raízes filosóficas.
A nova disciplina da psicologia precisava desenvolver maneiras mais
precisas e objetivas de tratar o seu objeto de estudo. Boa parte da história da
psicologia, depois de sua separação da filosofia, é a história do contínuo
aprimoramento de instrumental, técnicas e métodos de estudo voltados para
alcançar uma precisão e uma objetividade maiores tanto no âmbito das
A Relevância do Passado para Compreender o Presente
Por que os psicólogos têm tanto interesse no desenvolvimento
histórico da sua área? Os estudiosos vêm tentando compreender o
pensamento e o comportamento humano desde os primórdios da história
registrada. O conhecimento da história permite enxergar o passado com
mais clareza e entender o presente. Somente examinando suas origens e
estudando seu desenvolvimento ao longo do tempo podemos ver com
clareza, e no contexto, a diversidade da psicologia moderna.
Não há uma única forma, abordagem ou definição particular da
psicologia moderna com que concordem todos os psicólogos. Em vez disso,
vemos uma enorme diferença e até desacordo e fragmentação, tanto em
termos de especializações científicas como em termos de objeto de estudo.
Alguns psicólogos concentram-se em processos cognitivos, outros estão
voltados para forças inconscientes, e há ainda os que trabalham com o
comportamento observável ou fatores fisiológicos e bioquímicos.
Assim, poderíamos descrever a história da psicologia como uma
história de caso, examinando os eventos e as experiências antecedentes que
lhe deram a face que tem hoje. Houve erros e concepções equivocadas, mas
há uma continuidade que moldou a psicologia contemporânea e que nos
fornece uma explicação da sua atual riqueza e diversidade.
Contexto de surgimento da Psicologia como ciência
Se temos a intenção de compreender a complexidade que define e
circunscreve a psicologia de hoje, o ponto de partida adequado é o século
XIX, o momento em que a psicologia se tornou uma disciplina independente
com métodos de pesquisa e raciocínios teóricos característicos.
Somente há pouco mais de cem anos os psicólogos definiram o objeto de
estudo da psicologia e estabeleceram seus fundamentos, confirmando assim
sua independência em relação à Filosofia. Os primeiros filósofos se
preocuparam com problemas que ainda são de interesse da Psicologia, mas
os abordaram de modos vastamente distintos dos empregados pelos atuais
psicólogos. A ideia de que os métodos das ciências físicas e biológicas
poderiam ser aplicados ao estudo de fenômenos mentais foi herdada do
pensamento filosófico e das pesquisas fisiológicas dos séculos XVII a XIX.
Essa época fervilhante constitui o cenário imediato onde surgiu a psicologia
moderna.
Em dezembro de 1879, na Alemanha, Wilhelm Wundt implantou o
primeiro laboratório de psicologia do mundo. Até então, os psicólogos
trabalhavam em departamentos de filosofia. O psicólogo britânico William
McDougall definiu a psicologia, em 1908, como a “ciência do
comportamento. Dessa forma, por volta do começo do século XX, a
psicologia americana conseguia a sua independência em relação à filosofia,
desenvolvia laboratórios nos quais aplicava os métodos científicos, formava
sua própria associação científica e definia-se formalmente como ciência —
a ciência do comportamento.
Forças Contextuais na Psicologia
A psicologia não se desenvolveu no vácuo, sujeita apenas a influências
interiores. Ela é parte da cultura mais ampla em que funciona, estando,
portanto, exposta a influências externas que moldam a sua natureza e a sua
direção de maneiras significativas. Uma compreensão adequada da história
da psicologia tem de considerar o contexto em que a disciplina surgiu e se
desenvolveu — as forças sociais, econômicas e políticas que caracterizam
diferentes épocas e lugares, influenciam seu passado e afetam o seu
presente.
Nos primeiros anos do século XX, a natureza da psicologia americana e

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o tipo de trabalho que muitos psicólogos faziam sofreram uma drástica
mudança, basicamente como resultado de oportunidades econômicas. O
foco da psicologia americana passou da pesquisa pura do laboratório
universitário para a aplicação do conhecimento e das técnicas psicológicas
a problemas do mundo real. Os psicólogos logo perceberam que, se
desejassem que um dia seus departamentos acadêmicos, orçamentos e
rendas crescessem, teriam de demonstrar aos administradores universitários
e aos legisladores a utilidade que a psicologia poderia ter na solução de
problemas sociais, educacionais e industriais.
Um dos fatores contextuais que influenciaram essas mudanças foi o
crescimento das escolas. Devido ao influxo de imigrantes para os Estados
Unidos perto da virada do século, e à sua alta taxa de natalidade, a
educação pública tornara-se uma indústria em crescimento. Entre 1890 e
1918, as matriculas em escolas públicas tiveram um aumento de 700%,
sendo construídas em todo o país novas escolas à proporção de uma por
dia. Muitos psicólogos aproveitaram essa situação e buscaram maneiras de
aplicar o seu conhecimento e os seus métodos de pesquisa à educação. Esse
foi o começo de uma rápida mudança de ênfase na psicologia americana —
do experimentalismo do laboratório para a aplicação da psicologia à
aprendizagem, ao ensino e outras questões práticas de sala de aula.
As guerras foram outra força contextual que ajudou a moldar a
psicologia. As experiências de psicólogos que colaboraram com o esforço
de guerra dos Estados Unidos na Primeira e na Segunda Guerra Mundiais
aceleraram o desenvolvimento da psicologia aplicada e estenderam a sua
influência a setores como a seleção de pessoal, os testes e a engenharia
psicológica. Muitos psicólogos destacados fugiram da ameaça nazista nos
anos 30, e a maioria deles foi para os Estados Unidos. O exílio e a
emigração forçados marcaram a fase da mudança do domínio da psicologia
do Velho para o Novo Mundo. A guerra influenciou as posições teóricas de
psicólogos individuais. Depois de testemunhar a carnificina da Primeira
Guerra, Sigmund Freud foi levado a propor a agressão como uma força
motivadora tão importante para a vida humana quanto o sexo, o que
representou uma enorme mudança em seu sistema da psicanálise. Erich
Fromm atribuiu seu interesse pelo estudo do comportamento irracional e
anormal ao fato de ter observado o fanatismo que tomou conta da Alemanha
durante a Primeira Guerra.
Um terceiro fator contextual são a discriminação e o preconceito, que
por muitos anos determinaram quem podia tornar-se psicólogo e onde cada
profissional poderia trabalhar. Durante décadas, os afro-americanos foram
amplamente excluídos da psicologia e da maioria dos campos que exigiam
estudos acadêmicos avançados. Até a década de 40, apenas quatro
universidades dos Estados Unidos ofereciam graduação em psicologia para
negros, e poucas admitiam negros como alunos de pós-graduação. Os judeus
também foram vítimas de discriminação, especialmente na primeira metade
da história da psicologia. Um extenso preconceito contra mulheres tem se
manifestado ao longo de quase toda a história da psicologia. Mesmo
quando conseguiam cargos de destaque, as mulheres recebiam salários
menores, e enfrentavam barreiras à promoção e cargos de chefia.
Esses e outros exemplos citados adiante mostram o impacto de forças
econômicas políticas e sociais sobre o desenvolvimento da psicologia
moderna. A história da psicologia é moldada não apenas pelas ideias, teorias
e pesquisas de seus grandes líderes, mas também por influências externas
— forças contextuais — sobre as quais teve pouco controle.
As Escolas de Pensamento: Marcos do Desenvolvimento da Psicologia
O termo escola de pensamento refere-se a um grupo de psicólogos que
se associam ideológica e, às vezes, geograficamente ao líder de um
movimento. Em geral, os membros de uma escola trabalham em problemas
comuns e compartilham uma orientação teórica ou sistemática. O
surgimento de escolas de pensamento diferentes, e por vezes simultâneas, e
o seu subsequente declínio e substituição por outras, caracterizam a história
da psicologia.
No curso da história da psicologia, desenvolveram-se diferentes
escolas de pensamento, sendo cada qual um protesto efetivo contra o que a
precedia. Toda nova escola usa um modelo mais antigo como base contra a
qual se opor e a partir da qual ganhar impulso. Embora tenha sido apenas
temporário o domínio de ao menos algumas escolas de pensamento, cada

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uma desempenhou um papel vital no desenvolvimento da ciência
psicológica.
As primeiras escolas de pensamento no campo da psicologia foram
movimentos de protesto contra a posição sistemática prevalecente. Cada
escola assinalou o que considerava as limitações e falhas do sistema mais
antigo e ofereceu novas definições, conceitos e estratégias de pesquisa para
corrigir as fraquezas percebidas.
Não podemos considerar nenhuma escola de pensamento como a versão
completa do fato científico. Durante os mais de cem anos de história da
Psicologia, ela tem buscado, acolhido e rejeitado diferentes definições, mas
nenhum sistema ou ponto de vista individual conseguiu unificar as várias
posições. O campo permanece especializado, e cada grupo adere à sua
própria orientação teórica e metodológica, abordando o estudo da natureza
humana a partir de diferentes técnicas.
Nos primeiros anos da evolução da psicologia como disciplina científica
distinta, no último quarto do século XIX, a direção da nova psicologia foi
profundamente influenciada por Wundt. Ele determinou o objeto de estudo,
o método de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objetivos da nova
ciência. A obra de Wundt teve como fruto a escola de pensamento
denominada estruturalismo, que se desenvolveu a partir dos trabalhos
iniciais no campo da filosofia e da fisiologia. Seguiu-se a isso o
funcionalismo, o comportamentalismo e a psicologia da Gestalt que, ou
evoluíram a partir do estruturalismo, ou se revoltaram contra ele. Num curso
de tempo mais ou menos paralelo, a psicanálise decorreu da reflexão
filosófica sobre a natureza do inconsciente e das tentativas da psiquiatria no
sentido de tratar os doentes mentais. Tanto a psicanálise como o
comportamentalismo geraram algumas subescolas. Na década de 50,
desenvolveu-se o movimento da psicologia humanista como reação ao
comportamentalismo e à psicanálise, incorporando princípios da psicologia
da Gestalt. Por volta de 1960, o movimento da psicologia cognitivista
desafiou com sucesso o comportamentalismo, e a definição da psicologia
mudou outra vez.

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Curso: Disciplina: Psicologia e Educação Data:
Profª: Alessandra Valor: 10 Período: Turno: Noite
Aluno/a: Nota:
ESTUDO DIRIGIDO
1) Após a leitura dos dois textos introdutórios, responda: o que
diferencia a Psicologia dos outros campos do conhecimento como as
Artes, a Filosofia, a Religião e o Senso Comum?
2) Cite os fatores históricos e contextuais que influenciaram o
surgimento da Psicologia.
3) Por que é possível dizer que não existe uma Psicologia, mas sim,
ciências psicológicas?
4) O que é subjetividade, segundo Ana Bock? Por que ela diz que ela é
moldada, mas também automoldável?
5) Leia o texto a seguir a responda as questões que se seguem.
Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos
Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de
que tomamos parte.
Não nasci professor ou fui marcado para sê-lo, embora minha infância e
adolescência tenham estado sempre cheias de “sonhos” em que raras vezes
me vi encarnando figura que não fosse a de professor.
Eu tinha, na verdade, desde menino, um certo gosto docente, que jamais se
desfez em mim. Um gosto de ensinar e de aprender que me empurrava à
prática de ensinar que, por sua vez, veio dando forma e sentido àquele gosto.
Umas dúvidas, umas inquietações, uma certeza de que as coisas estão
sempre se fazendo e se refazendo e, em lugar de inseguro, me sentia firme
na compreensão que, em mim, crescia de que a gente não é, de que a gente
está sendo.
Às vezes, ou quase sempre, lamentavelmente, quando pensamos ou nos
perguntamos sobre a nossa trajetória profissional, o centro exclusivo das
referências está nos cursos realizados, na formação acadêmica e na
experiência vivida na área da profissão. Fica de fora como algo sem
importância a nossa presença no mundo. É como se a atividade profissional
dos homens e das mulheres não tivesse nada que ver com suas experiências
de menino, de jovem, com seus desejos, com seus sonhos, com seu bem-
querer ao mundo ou com seu desamor à vida. Com sua alegria ou com seu
mal-estar na passagem dos dias e dos anos.
Na verdade, não me é possível separar o que há em mim de profissional do
que venho sendo como homem. Do que estive sendo como menino do
Recife, nascido na década de 20, em família de classe média, acossada pela
crise de 29. Menino cedo desafiado pelas injustiças sociais como cedo
tomando-se de raiva contra preconceitos raciais e de classe a que juntaria

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mais tarde outra raiva, a raiva dos preconceitos em torno do sexo e da
mulher.
Não nasci, porém, marcado para ser um professor assim. Vim me tornando
desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação
atenta a outras práticas ou à prática de outros sujeitos, na leitura persistente,
crítica, de textos teóricos, não importa se com eles estava de acordo ou não.
É impossível ensaiarmos estar sendo deste modo sem uma abertura crítica
aos diferentes e às diferenças, com quem e com que é sempre provável
aprender.
Uma das condições necessárias para que nos tornemos um intelectual que
não teme a mudança é a percepção e a aceitação de que não há vida na
imobilidade. De que não há progresso na estagnação. De que, se sou, na
verdade, social e politicamente responsável, não posso me acomodar às
estruturas injustas da sociedade. Não posso, traindo a vida, bendizê-las.
Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social de
que tomamos parte.
Trechos extraídos do livro: Política e Educação de Paulo Freire.
5.1) Identifique os fatos da vida de Paulo Freire que, segundo ele,
determinaram a formação de sua subjetividade.
5.2) Quais fatos de nossa época você considera que influenciam a
formação das subjetividades contemporâneas?
5.3) Explique a frase do livro: “A subjetividade não só é fabricada,
produzida, moldada, mas também é automoldável”.
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