compreendidos. E a morte não aterroriza tanto. Entendi que desencarnara, mas não sabia o
que fazer para melhorar minha situação. Fiquei naquele templo a orar junto com outros
desencarnados e com encarnados que lá iam. A oração levou-me a meditar, a me arrepender
dos meus erros. Fiz muitos atos errados, fui egoísta, materialista, nos meus vinte e um anos
que passei encarnada, tinha muito do que me arrepender. Não saí mais do templo, temi os
irmãos trevosos, tinha medo que eles me prendessem. Eles não entravam no templo, mas
via-os fora. Fiquei anos no templo, cansei, resolvi ser sincera comigo mesma e pedir
socorro. Chorando, pedi ajuda a Deus. Trabalhadores do Bem auxiliaram-me. Levei tempo
para me recuperar num hospital de um Posto de Socorro. Hoje estou bem, sou grata,
aprendo a viver aqui, anseio por melhorar moralmente e pôr em prática o que aprendo.
Marina suspirou, mas não estava triste, as lembranças de tudo que passou lhe dão
forças para melhorar cada vez mais. Após uma pausa, foi a vez de Isa falar.
—Desencarnei por um tumor maligno no cérebro, depois de alguns meses doente.
Estava com dezesseis anos. Seguia uma religião que equivocadamente me ensinou que,
com a morte, adormecia para acordar no julgamento de toda a humanidade, nos fins dos
tempos. Senti um torpor com a morte do meu corpo, uma espécie de sono, no qual achava
que dormia, mas ao mesmo tempo via e ouvia tudo, embora sem muita clareza, o que se
passava ao meu redor. Fiquei junto dos familiares a velar meu corpo. O desespero dos meus
foi grande, gritavam, choravam, sofriam horrivelmente. Sentia muita perturbação, mas
também sentia-me amparada, escutava alguém convidando para ir, partir. Os meus
familiares me seguravam e não me esforcei para ir, não queria deixá-los sofrendo tanto.
Após meu corpo ter sido enterrado, meus familiares foram embora, chamei com fé: “Meu
Deus, ajuda-me!” Socorristas me levaram para um Posto de Socorro tentaram explicar e me
curar. A doença, o reflexo dela, ainda era forte em mim. Não me apavorei ao saber que meu
corpo morreu, decepcionei-me por não ser como pensava, como acreditava. Entendi as
explicações que gentilmente os benfeitores me transmitiam, raciocinando, achei justas e
lógicas. Não temi mais, e passei a dormir com mais tranquilidade. Mas os lamentos, o
desespero dos meus, enlouqueciam-me. Julgava-me tão coitada por ter morrido que
comecei a ter dó de mim, e a autopiedade não leva a nada, só maltrata, desesperei. Eles
começavam a chorar, eu também desesperava e chorava. Quando me chamavam, queria ir
para perto deles e acabei indo. Que agonia! Choravam, lamentava, era como se eu tivesse
acabado. Sem entender, pois novamente fiquei confusa, sofri muito. Diziam que estava
dormindo, que nada via ou sentia, gritava que não e novamente me apavorei, temi
adormecer. Detestei ficar no meu ex-lar, quis voltar ao Posto de Socorro, mas não sabia
como. Lembrei de Jovina, uma caridosa enfermeira que cuidou de mim, chamei por ela.
Jovina carinhosamente veio em minha ajuda, senti alívio ao vê-la. “Jovina, socorre-me!”
Implorei em lágrimas. “Tira-me daqui, me leva para um lugar onde não possa voltar mais.”
Jovina me levou para uma Colônia, onde fui internada no hospital do Educandário na ala
para jovens. Tive de receber um tratamento especial para superar e entender o desespero
dos meus pais, procurando não dar importância aos seus chamados para não sentir tanto. Os
orientadores do Educandário, para que pudesse me recuperar mais rápido, tentavam ajudar
mais pais. Como o sofrimento leva muitas pessoas a procurar ajuda, meus familiares
aceitaram conversar com uma vizinha Espírita que bondosamente lhes explicou que
deveriam conformar-se com a vontade de Deus e que eu, sendo boa, deveria estar em bom
lugar e que não deveriam me chamar, etc. Foram ótimos conselhos, que entenderam de
modo confuso. Mas, para meu alívio, melhoraram, não chamaram mais por mim e não
desesperaram, sofrendo menos. Pude então me sentir mais aliviada, esforcei-me para sarar,