importante era uma Deusa-Mãe, e não o Deus de Chifres. Três anos depois, em 1951,
caíram as últimas leis anti-feitiçaria da Inglaterra. A porta estava aberta para os
bruxos.
Surge então Gerald Gardner, o mais importante personagem do renascimento
da Bruxaria como religião. Gardner era um folclorista inglês, amigo pessoal do grande
mago Aleister Crowley. Admirador de Frazer e Murray, realizava profundas pesquisas
sobre os cultos de fertilidade pré- cristãos e sua sobrevivência. No decorrer destas
pesquisas, em 1939, conheceu um grupo de pessoas que mais tarde descobriu fazerem
parte de um Coven secreto (como o eram todos, na época). Gardner ficou fascinado: a
existência destes bruxos confirmava as teses de Margaret Murray. Estabeleceu uma
relação de amizade profunda com os membros deste Coven (denominado Coven de
New Forest), e acabou por receber Iniciação.
O Coven de New Forest, dirigido por uma bruxa conhecida por ‘Old Dorothy’,
era representante de uma tradição que havia sobrevivido às perseguições. Há quem
insinue que Gardner inventou o Coven para dar bases à seu trabalho posterior, e que
Old Dorothy nem ao menos existiu. Essas declarações foram refutadas com alegadas
evidências históricas por Doreen Valiente, no ensaio “Em Busca de Old Dorothy”,
publicado no livro “The Witches’ Way” (‘O Caminho dos Bruxos’), do casal Janet e
Stewart Farrar.
Com o passar do tempo, Gardner preocupou-se com o futuro da Tradição, pois
todos os membros do Coven eram idosos, e não havia previsão de aceitar novos
iniciados. Ele não aceitou esse destino, e pediu permissão para publicar algumas
práticas da religião. Relutantes, os Sábios do Coven negaram. Mesmo assim, Gardner
publicou, em 1948, “High Magic’s Aid”, um romance no qual descrevia, sutilmente,
alguns rituais da Arte. A publicação do livro causou polêmica entre o Coven de New
Forest, e Gardner quase foi banido. Mas, com a queda das leis anti-feitiçaria, os
Sábios do Coven reviram sua posição e deram permissão a Gardner para afirmar que a
Bruxaria estava viva, desde que não revelasse nenhum segredo. Então, em 1954,
Gerald Gardner publicou o primeiro livro da Bruxaria Moderna: “Witchcraft Today”,
seguido de “The Meaning of Witchcraft” (1959). Neles, Gardner afirmava estarem
certas as teorias de Murray, pois ele mesmo era um bruxo iniciado. Os livros falavam
apenas superficialmente sobre a Tradição que lhe havia sido confiada, concentrando-
se mais no aspecto histórico da religião.
Paralelamente à publicação dos livros, Gardner saiu do Coven de New Forest
e iniciou seu próprio Coven, iniciando pessoas que lhe pareciam sinceras e dedicadas.
A essas pessoas, transmitia integralmente o conteúdo de um manuscrito, por ele
denominado de “Livro das Sombras”. Este livro continha integralmente a Tradição do
Coven de New Forest, mesclada a práticas mágicas retiradas da Clavícula de Salomão
e dos escritos de Crowley. Seu conteúdo, copiado por todo iniciado, passou a ser
denominado de Tradição Gardneriana, a primeira Tradição da Bruxaria Moderna.
O ‘Livro das Sombras’ Gardneriano teve três versões, conhecidas pelas letras
A, B e C. O texto que é utilizado atualmente pelos Covens Gardnerianos é o C, escrito
por Gardner em conjunto com uma de suas iniciadas, Doreen Valiente, responsável
por grandes mudanças no texto original.
Valiente ‘paganizou’ ao máximo os ritos e textos, retirando qualquer
influência de magia judaico-cristã ou textos escritos por Crowley. Atualmente, a
Gardneriana é a mais sigilosa de todas as Tradições modernas.
Gardner morreu em 1964, e o comando de seus Covens foi passado à Monique
Wilson, conhecida como Lady Olwen. Na década de 60, surgiu outro personagem
6