Locke afirmava que todos os nossos pensamentos e idéias se originam daquilo que
apreendemos pelos sentidos. Antes de percebermos qualquer coisa, a mente é uma
tabula rasa – ou uma lousa vazia quanto o quadro-negro antes de o professor entrar na
sala de aula. Mas então começamos a perceber as coisas. Vemos o mundo a nossa volta,
sentimos cheiro e gosto, tocamos e ouvimos. E ninguém faz isso com mais intensidade do
que uma criança. Surgem, assim, o que Locke chamou de “idéias sensoriais simples”.
Mas a mente não só receber passivamente informações do exterior. No interior da mente
também se dá uma atividade. As impressões sensoriais simples são trabalhadas pelo
pensamento, pelo conhecimento, pela crença e pela dúvida, resultando dessa maneira no
que Locke chamava de “reflexão”. Assim, Locke distinguiu entre “sensação” e reflexão”.
A mente não é um mero receptor passivo. Ela classifica e processa todas as sensações
à medida que vão chegando.
Locke afirmava que as únicas coisas que podemos perceber são sensações simples.
Quando comemos uma maçã, por exemplo, não sentimos a maçã inteira em uma única
sensação. Na verdade, recebemos toda uma série de sensações simples – algo que é
vermelho, fresco, suculento e ácido. Só depois de comer muitas maçãs é que pensamos:
agora estou comendo uma “maçã”. Como diria Locke, formamos uma idéia complexa de
uma “maçã. Quando uma criança come uma maçã pela primeira vez, ela não possui essa
idéia complexa, mas vê algo vermelho, saboreia algo fresco, suculento... e ainda um tanto
ácido”.
Pouco a pouco acumulamos diversas sensações semelhantes, que formam conceitos como
“maçã”, “pêra” e “laranja”. Mas, em última análise, todo o material para nosso
conhecimento do mundo nos chega pelos sentidos. Conforme Locke, o conhecimento que
não pode ser atribuído à sensação simples seria, portanto, um conhecimento falso e
precisaria ser rejeitado.
QUALIDADES DOS OBJETOS
Locke indagou se o mundo seria de fato como percebemos. Ao responder, estabeleceu uma
diferença entre o que chamou de qualidades “ primarias” e “secundárias”. E, com isso,
reconheceu uma dívida para com os grandes filósofos que o antecederam – inclusive
Descartes.
Por qualidades primárias, Locke entendia extensão, peso, movimento, número e assim por
diante. Quando se trata de qualidades como estas, podemos estar certos de que nossos
sentidos as reproduzem objetivamente. Mas também percebemos outras qualidades nas
coisas. Dizemos que alguma coisa é doce ou azeda, verde ou vermelha, quente ou fria.
Locke chamava isso de qualidades secundárias. Sensações como essas – cor, cheiro, sabor,
som – não reproduziriam as qualidades “reais” inerentes às coisas em si. Os objetos
possuiriam apenas qualidades primárias, mas as qualidades secundárias específicas que
cada objeto individual possui determinariam as qualidades secundárias particulares que
percebemos nos objetos.
Locke argumentava que todos concordamos quanto a qualidades primarias, como tamanho
e peso, pois elas estão nos objetos em si. Mas quanto a qualidades secundárias, como cor e
sabor, que se referem a sensações subjetivas de cada indivíduo, elas podem variar de
pessoa para pessoa e de animal para animal, dependendo da natureza das sensações do
indivíduo. (Locke não poderia saber, em meados do século XVII, que cor, cheiro etc. são,
também eles, definíveis em termos de grandezas físicas em princípio mensuráveis –