- Você não deve passar nada bem, vivendo aqui... - Só por milagre é
que ainda não morri de fome. Não como há quase dois dias.
- Ah, lá por isso...
O velhote tirou então do alforge pão, queijo e um cantil de pele cheio
de vinho que, de seguida, dividiu com o dono da casa. Este, só de ver
comida, quase ia perdendo os sentidos.
Terminada a refeição, o velho levantou-se e disse: - Agora tenho de o
deixar, bom homem. A minha estrada é longa, muito longa...
Em seguida, meteu a mão numa dobra do grande manto, até àquele
momento cuidadosamente fechado, e retirou algo que, depois, pousou
no chão de terra batida.
O pobre homem ficou surpreendido. Tratava-se de uma galinha, de uma
linda galinha vermelha que, mal se viu livre, começou a saltitar pelo
quarto, debicando as migalhas de pão que haviam ficado do jantar.
- Trate bem dela, peço-lhe. Resista à tentação de a comer, pois, como
verá, ela põe um ovo todos os dias.
Dizendo estas palavras o velho sorriu e pareceu-me piscar o olho, mas
talvez tenha sido apenas uma impressão. Depois, acrescentou:
- Há-de ver que ela lhe dará muitas alegrias.
Fez um último aceno de despedida, abriu a porta e desapareceu no meio
da tempestade.
«Uma galinha, uma galinha...», ia repetindo de si para si o homem.
«Como terá ele conseguido mantê-la sossegada durante aquele tempo
todo debaixo do seu manto? Isto é tudo muito esquisito!»
Estendeu-se de novo na enxerga e adormeceu profundamente.
Na manhã seguinte, ao acordar, nem sequer se lembrava que
tinha um animal em casa. Mas, quando esticou as pernas para se
espreguiçar, sentiu que havia qualquer coisa fria e lisa aos pés da sua
pobre cama. Levantou a cabeça olhou para o fundo da sua enxerga e viu
um grande ovo. Mas não era um ovo branco como os outros; era amarelo