No mito da Terra sem Males (ver box), o pajé, ante a iminência de ser tragado
pelas águas, executou esse solene canto, conseguindo escapar da morte e ser
levado para o outro mundo.
Sepultura e sobrevida
Antigamente, tanto os Guarani como os Tupi, enterravam o falecido dentro da
casa, que era abandonada em seguida. Por influência dos jesuítas, passaram a
construir cemitérios, hoje localizados bem distante das aldeias, justamente
pelo medo dos anguêry. Hoje, quando uma pessoa morre, é enterrada num
caixão ou diretamente na terra, numa cova de cinco a sete palmos de
profundidade.
O corpo fica com os pés voltados ao nascente, para que encontre, com maior
facilidade, o caminho da Terra sem Males, que fica nessa direção, depois do
oceano. Sobre o túmulo, são colocados os pertences e os instrumentos
religiosos do falecido, como o maracá (chocalho). Durante os primeiros dias,
acende-se uma fogueira para iluminá-lo na caminhada. Se é uma criança,
acende-se apenas uma vela, pois, sendo menor, não precisa de muita luz.
Quando a alma já chegou no outro mundo, pode aparecer em sonho, para dar
conselhos.
Os Guarani acreditam que alguém pode reencarnar, tomando o atsyguá, isto é,
o espírito do outro. O nome de alguém já falecido, dado a outra pessoa, pode
significar essa reencarnação. Por sua vez, os que levaram uma vida má podem
se transformar em animais, após a morte.
O povo Guarani
Os Guarani formaram uma grande nação, dividida em vários subgrupos. No
século 16, seu território compreendia o sul da Bolívia, todo o Paraguai, norte
da Argentina e do Uruguai, Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e do
Paraná e sul do Mato Grosso do Sul. Hoje constitui a etnia mais numerosa do
Brasil, com uma população de 47 mil pessoas ou mais.
No Brasil, dividem-se em quatro subgrupos:
Kaiowá ou Kaiuá, no Mato Grosso do Sul, com uma população em torno de
35 mil pessoas; Nhandeva ou Avá Guarani, no Mato Grosso do Sul e Oeste do
Paraná, com uma população de aproximadamente 6 mil pessoas; Mbyá, no
Paraguai, norte da Argentina, Uruguai, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Pará, com uma população em torno de
5.500 pessoas; Tupi-Guarani, no oeste e no litoral paulista, com uma
população em torno de 500 pessoas.