Análise do conto “A Teoria do Medalhão”, de Machado de Assis
Por Marcus Davy Viana Nogueira
Nascido no Rio de Janeiro da década de 1830, o pequeno Joaquim, o
Machadão brasileiro, nos deixa um retrato vivo da sociedade a que tanto observava e
com a qual convivia. Em uma de suas crônicas, o autor permite-se entregar a ironia mais
uma vez, ou mais umas vezes.
A Teoria do Medalhão, conto originalmente publicado na Gazeta de Notícias
em de 1881, alarga horizontes da contemporaneidade machadiana. Apontado
principalmente ao uso ideológico da linguagem, o autor defende seu pensamento de usar
da sua comicidade, seu sarcasmo para atacar a sociedade baseada em superficialidades.
Pessoas superficiais fazendo coisas superficiais. A estereotipagem a que o homem
naturalmente recorre em seu ambiente social.
O conto reflete da hipocrisia ao senso comum, usando um diálogo entre pai e
filho como pano de fundo. O autor denuncia a âmbito social medíocre formado na
burguesia do século XXI, destacando o estabelecimento do sucesso a qualquer preço,
ainda que haja a perda da veracidade das relações humanas. Porém, se trouxermos a
teoria para os nossos dias, perceberemos que a afirmativa ainda é verdadeira nas
máscaras sociais que são utilizadas com muita naturalidade por aqueles que almejam o
poder e a fama a qualquer custo.
Dizem que todo pai de certa forma quer se realizar um pouco através de seus
filhos. Neste caso, o pai, que não consegue quando era jovem ser um medalhão, passa a
projetar seu sonho no filho, se impondo autoritário, ao passo que o filho se sujeita a
aceitar passivamente as imposições do pai, anulando-se. O que do ponto de vista
filosófico, não caracteriza um diálogo, pois segundo a filosofia de Sócrates e Platão só
há verdadeiramente o diálogo quando ambas as partes são pensantes e podem articular
seus argumentos e discutir, respondendo ao outro como igual.
Por um olhar crítico, ao pai pode caber a representação dos meios midiáticos, o
poder de persuasão sobre a sociedade (o filho).
O ofício de medalhão, o ofício social de ser reconhecido, é representado os
dois lados do objeto: o que é visto por todos e é bonito e o lado interior que fica
escondido no peito de quem o usa. A sociedade faz uso de um sistema de disfarces ou
de máscaras para apenas aparentar algo que, muitas vezes, não se ajusta a realidade.
Afinal, em relação à hipocrisia social moderna a regra continua a mesma: "os fins
justificam os meios".
Há a variação do uso da linguagem no sentido que se exprime uma opinião
própria do autor ao passo que o leitor é motivado a despertar o senso crítico à sociedade
de aparências e a procurar não fazer parte do sistema vinculado a ela, caso queira
construir uma sociedade em que possamos avançar, além de saber identificar os
medalhões para que não possam nos manipular; revelando as facetas expressiva,
ideológica e terapêutica que podem ser encontradas no texto.
Marcus Davy Viana Nogueira
03/04/2013