8Unidade: Aspectos Hist?ricos e legais, as politicas p?blicas; mitos e preconceitos; concep??es e caracter?sticas
de identificação. Essas mudanças tiveram implicações significativas na forma de identificar,
reconhecer e avaliar o indivíduo com AH/SD. De acordo com Alencar (2004), esses componentes
representam a energia que o indivíduo canaliza para resolver determinada tarefa, incluindo traços
de perseverança, dedicação, esforço, autoconfiança, bem como crenças na própria habilidade
de desenvolver um importante trabalho.
A AH/SD envolve uma complexidade e multiplicidade de olhares para que possamos conhecer
e entender as suas características – individuais ou de um grupo de indivíduos (VIEIRA, 2005).
Dentre as características, a principal delas é a precocidade, onde a criança apresenta desde
muito cedo determinada habilidade específica, desenvolvida em qualquer área do conhecimento
– como o exemplo relatado no início deste texto.
A precocidade e o gosto pela leitura, geralmente, estão presentes nos diferentes tipos de AH/
SD, embora pareçam estar relacionados apenas à inteligência linguística (FREITAS; PÉREZ, 2010
e FLEITH; ALENCAR, 2007). A precocidade, na verdade, mostra-se como um mecanismo de
busca autônoma e independente que a criança com AH/SD utiliza para suprir sua necessidade
de conhecimento e, geralmente, essas crianças são ávidas a obter informações de qualquer área
do conhecimento, e rápidas nessa busca, apesar de atuarem dentro de um ritmo próprio, ele
sempre costuma ser acelerado. A leitura é utilizada porque, por meio dela, torna-se mais fácil
obter as informações, elemento básico para a construção do conhecimento.
Vraive-Douret (apud BERGÉS-BOUNES; CALMETTES-JEAN, 2010) enfatiza que na
criança com AH/SD, mesmo sem estimulação específica, surge o aparecimento das primeiras
palavras por volta dos nove/dez meses e a primeira frase por volta de um ano e meio –
considerando a complexidade maturacional e neuronal que envolve essas aquisições, esta é
uma condição de excepcional desempenho para uma criança tão pequena. Segundo a autora,
outros indicadores da precocidade linguística e lógico-matemática podem estar presentes,
tanto na fala quanto na escrita, na estruturação espacial e temporal da criança e, também, nas
etapas de desenvolvimento psicoafetivo.
Winner (1998, p. 245) explica que crianças precoces “não fazem descobertas sobre o domínio
por conta própria”, elas necessitam de instrução, apoio e encorajamento intenso por parte dos
pais, cuidadores e professores, para progredir e, normalmente, não alcançam os níveis “atingidos
aparentemente sem esforço pelas crianças superdotadas”.
Frequentemente, entre as pessoas com AH/SD, duas qualidades são encontradas:
independência e autonomia. Essas qualidades são percebidas desde a tenra idade e mostram-
se essenciais para o elevado grau de comprometimento, na elaboração e execução das tarefas, e
de criatividade que geralmente essas crianças demonstram, o que faz com que não necessitem,
portanto, de muitos estímulos para desenvolver as atividades e concluir as tarefas a que se
propõe fazer, mostrando-se destemidos para o enfrentamento dos desafios e para correr riscos.
A maioria das pessoas acredita no mito de que a criança com AH/SD é perfeita, não apresenta
nenhum tipo de dificuldade, aprende tudo rapidamente e que a origem das suas habilidades é
divina. Acreditam ainda que elas apresentam desempenho equilibrado em todas as áreas, pois
também são associadas com a genialidade. Há, ainda, a crença de que a prevalência neste
grupo de pessoas é do gênero masculino, ou, ainda, que superdotação pode ser fabricada pelos
pais (BERGÈS-BOUNES; CALMETTES-JEAN, 2010).
Muitos desses mitos e crenças sobre AH/SD têm contribuído para propagar confusões e a ideia
equivocada de que as crianças com AH/SD deveriam tirar notas dez em tudo, o que de certa
forma tem prejudicado a identificação e o encaminhamento dessas crianças para atendimento
educacional adequado.