Aventura nas Profundezas: O Resgate da Caverna Tham Luang
No norte da Tailândia, onde as montanhas escondem segredos ancestrais e as chuvas de monção transformam
rios em monstros, uma história real de coragem e sobrevivência escreveu-se nas entranhas da terra. Era 23 de
junho de 2018. Doze meninos, entre 11 e 16 anos, e seu técnico de futebol, Ekkapol Ekkapol "Ake" Chantawong
são do time juvenil Javalis Selvagens. Quando terminaram o treino, eles atravessaram campos de arroz com suas
bicicletas e subiram morros com florestas, encharcadas pela chuva dos últimos dias. Seu destino: a caverna Tham
Luang, um passeio valorizado entre os meninos, que adoravam explorar as grutas e reentrâncias da cadeia
montanhosa que se projeta sobre Mae Sai. Nenhum deles imaginava que aquele dia de verão seria o início
de um pesadelo de 18 dias, uma prova de resistência física e emocional que comoveria o mundo.
O Labirinto da Sombra
A caverna, um gigante de calcário com passagens estreitas e galerias submersas, tem seus riscos: pessoas já
sumiram em Tham Luang no passado. E quando a temporada de monções começa, em julho, a caverna deixa de
ser inofensiva e se torna extremamente perigosa. O local pode ficar inundado com até 5 metros de água durante
a temporada chuvosa, e só deve ser visitada entre novembro e abril.
A chuva caiu intensa e a caverna ficou inundada e engoliu o grupo. As águas subiram rápido, cortando a saída.
Foram encontradas bicicletas abandonadas, chuteiras esquecidas e marcas de mãos nas paredes — pistas de uma
fuga desesperada para o interior. Enquanto familiares rezavam do lado de fora. Quando a caverna se alaga água
se move rápida e fica barrenta e quase não há visibilidade. Mergulhadores da Marinha tailandesa enfrentaram
corredores alagados, onde a visibilidade era zero e o ar, pesado. A esperança minguava a cada hora: o oxigênio na
caverna caía, e as previsões meteorológicas anunciavam mais tempestades.
Nove Dias de Silêncio
Dentro da caverna, os meninos e o técnico, isolados na escuridão, lutavam contra a fome, o frio e o medo.
Ekkapol, ex-monge, ensinou-os a meditar para conservar energia. Bebiam água que escorria das paredes. Sem luz,
não sabiam se era dia ou noite. Enquanto isso, lá fora, uma operação global se armava: mergulhadores britânicos
experientes em cavernas, militares americanos, engenheiros chineses e voluntários australianos uniram-se aos
tailandeses. Drones sobrevoavam a montanha, bombas sugavam milhões de litros de água, e perfurações
tentavam criar atalhos. Mas a caverna resistia, guardando seus reféns como um dragão mitológico.
O Milagre da Praia de Pattaya
No décimo dia, um momento de alívio: dois mergulhadores britânicos, John Volanthen e Rick Stanton, emergiram
em uma câmara e ouviram vozes. "Quantos são vocês?", gritou Volanthen. "Treze!", respondeu uma criança, em
tailandês. A cena foi registrada em vídeo: luzes de lanternas revelaram rostos magros, mas sorridentes,
aglomerados em um pedaço de terra seca apelidado de "Praia de Pattaya". O mundo suspirou aliviado. Mas a
alegria durou pouco: resgatá-los exigiria mergulhar por quilômetros de túneis inundados, uma tarefa quase
impossível para garotos que nem sabiam nadar.
Herói nas Trevas
Enquanto equipes montavam um acampamento dentro da caverna para sustentar o grupo com comida e
remédios, um drama paralelo se desenrolava. Saman Kunan, 38 anos, ex-mergulhador de elite, voluntariou-se
ajudar no grande resgate. Na volta, após uma missão exaustiva, perdeu a consciência nas águas escuras e morreu
como um herói.
Saman Kunan, levou oxigênio e suprimentos para o grupo de 13 pessoas, mas ficou sem oxigênio quando
retornava para a entrada da caverna Tham Luang. “Sua missão era levar oxigênio, mas ele não teve o suficiente
para a sua volta” disse um amigo desolado. O ex-integrante do grupo de elite da Marinha era triatleta, muito
corajoso, determinado e altruísta, pois se colocou em risco para salvar os meninos. Sua morte ecoou como um
alerta: cada minuto era precioso.
As cartas trocadas entre os meninos e suas famílias — escritas à luz de lanternas — revelavam a dualidade entre
inocência e desespero. "Não se preocupem, estou bem", escreveu um. "Quero comer arroz frito com carne de
porco", brincou outro. Ekkapol, em uma carta comovente, assumiu a culpa: "Prometo cuidar das crianças até o
fim".
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