Existe ainda uma faculdade de associação e coordenação que se manifesta desde que já não se trate de
signos isolados. Ela desempenha o principal papel na organização da língua enquanto sistema.
Entre todos os indivíduos unidos assim pela linguagem se estabelecerá uma espécie de meio termo, todos
reproduzirão, aproximadamente, os mesmo signos unidos aos mesmos conceitos.
Pelo funcionamento das faculdades receptiva e coordenativa, nos indivíduos falantes, é que se formam as
marcas sensíveis a todos, e são elas que estão na origem da cristalização social da linguagem.
Ao separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo: 1) o que é social do que é individual; 2) o que é
essencial do que é acessório, ou incidental.
A língua não constitui uma função do falante. Ela é o produto que o falante registra passivamente.
A fala, ao contrário, é um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir: 1) as
combinações pelas quais o falante realiza o código da língua para exprimir seu pensamento pessoal; 2) o
mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações.
3 – Lugar da Língua nos fatos humanos. A Semiologia
A Língua, ao contrário da linguagem, é classificável entre os fatos humanos.
A Língua é uma instituição social, um sistema de signos que exprimem idéias. Pode-se, então, conceber
uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social: a Semiologia.
A Semiologia estudará a consistência dos signos, as leis que os regem, e a Lingüística será uma parte dessa
ciência geral. A tarefa da Lingüística é definir o que faz da língua um sistema especial no conjunto dos fatos
semiológicos.
O signo escapa sempre à vontade individual ou social, e é este seu principal caráter. Esse caráter só
aparece nítido na língua, mas manifesta-se nas mais diversas coisas, e são menos estudadas.
O problema lingüístico é antes de tudo semiológico. Se a intenção é descobrir a verdadeira natureza da
língua, será mister considerá-la no que ela tem de comum com todos os outros sistemas semiológicos.
Considerando os ritos, os costumes, etc., como signos, esses fatos aparecerão sob outra luz e sentir-se-á a
necessidade de agrupa-los na Semiologia.
Cap. IV – Lingüística da Língua e Lingüística da Fala
Com outorgar à ciência da língua o primeiro lugar no conjunto dos estudos da linguagem, situamos toda a
Lingüística. Todos os outros elementos da linguagem, que constituem a fala, subordinam-se a esta primeira
ciência.
O estudo da linguagem comporta duas partes: uma tem por objeto a língua, que é social e independe do
indivíduo, estudo essencialmente psíquico. Outra, secundária, tem por objeto a fala, elemento individual da
linguagem, inclusive a fonação, e é psicofísica.
O conjunto global da linguagem é incognoscível, ao passo que a distinção entre língua e fala, e a
subordinação desta a aquela, formam a primeira bifurcação quando se procura estabelecer a teoria da
linguagem.
Cap. V – Elementos internos e Elementos externos da Língua
A definição de Língua pressupõe que eliminemos dela tudo o que lhe seja externo ao organismo, ao seu
sistema: tudo o que compõe a Lingüística externa.