Contexto histórico A arquitetura colonial surge a partir de 1530, com a colonização efetiva do Brasil. É o momento das Capitanias Hereditárias e da fundação das primeiras vilas. Mas não era apenas Portugal que influenciava esse processo: havia também a presença indígena e africana, principalmente na mão de obra e nas técnicas construtivas. A arquitetura, então, não era só construção: ela funcionava como instrumento de poder da Coroa, de difusão da fé católica e de defesa militar diante de invasões estrangeiras. Planta de Restituição da Bahia – 1631. Domínio Público
Formação das Cidades Salvador – Cidade alta e Cidade Baixa As primeiras cidades eram fundadas em pontos estratégicos, geralmente em áreas elevadas para facilitar a defesa. Surgia então a divisão entre a Cidade Alta, voltada para a administração e residência, e a Cidade Baixa, onde se concentravam o porto e o comércio. As ruas eram estreitas, sem recuos, sem arborização. No meio de um urbano uniforme, os edifícios religiosos e públicos se destacavam, marcando a paisagem e mostrando o poder da Igreja e do Estado.
Materiais e Técnicas Pau a pique Pau a pique e taipa de pilão (barro + madeira) Adobe e alvenaria de pedra em edificações maiores Cantaria em cunhais, portais e vergas Coberturas: palha → telhas coloniais de barro Pisos: terra batida, madeira, lajes Taipa de Pilão Cantaria Adobe Alvenaria de Pedra Enxaimel A construção se baseava em técnicas simples e materiais disponíveis no próprio território. Usava-se muito o pau a pique e a taipa de pilão, feitos de barro e madeira. Nas edificações mais importantes, entravam o adobe e a alvenaria de pedra. A cantaria aparecia em detalhes nobres, como portais e cunhais. No início, as coberturas eram de palha, mas logo as telhas de barro se tornaram comuns. E os pisos variavam entre terra batida, madeira e, em casas mais sofisticadas, lajes.
Tipologias Residenciais A casa colonial podia ter várias formas. As casas térreas eram simples, alinhadas à rua, geralmente com um cômodo de frente e outros ao fundo. Já os sobrados tinham comércio no térreo e residência no andar superior, simbolizando riqueza e status. No campo, as casas bandeiristas de São Paulo tinham planta retangular, varandas e capelas. E nas grandes propriedades surgiam as fazendas, organizadas em torno da casa-grande, das senzalas e do engenho. Cada tipologia respondia ao modo de vida de quem a habitava. Sobrados Casa térrea Casa bandeirista Casa grande Senzala
Arquitetura Religiosa A Igreja Católica teve um papel central na colonização. As missões jesuíticas, por exemplo, não só catequizavam como também estruturavam vilas inteiras. O primeiro estilo adotado foi o Maneirismo, também chamado de estilo-chão, com fachadas simples e interiores discretos. Depois veio o Barroco, que alcançou o auge em Minas Gerais, com talha dourada, pinturas e azulejos. No final, apareceu o Rococó, mais leve e delicado, com ornamentos curvos. A arquitetura religiosa era, ao mesmo tempo, lugar de fé e instrumento de poder simbólico. Mosteiro de São Bento - Olinda Igreja de São Cosme e São Damião – Igarassu (PE)
Urbanismo e Sociedade A vida urbana colonial era marcada pela uniformidade. As casas geminadas criavam ruas contínuas e sem grandes variações. Essa homogeneidade era reforçada pelas Cartas Régias, que determinavam medidas e proporções. Mas havia diferenças sociais claras: os sobrados eram habitados pelas elites, enquanto as camadas populares ocupavam casas térreas simples. Além disso, os edifícios públicos, como Câmaras Municipais, Cadeias e Fortificações, reforçavam a presença do Estado português no espaço urbano. Casas de Câmara e cadeia – Salvador séc XVII Casas de Câmara e cadeia – Goiás 1733
Arquitetura Religiosa no Brasil Colônia Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto – Minas Gerais
Contexto Histórico A Igreja chegou com a colonização. Frei Henrique Soares celebrou a primeira missa em 1500. Desde então, a religião esteve ligada à Coroa pelo Padroado. Ou seja, a Igreja cuidava da fé, mas era a Coroa quem financiava e nomeava padres. A fé e a política eram inseparáveis na colônia. Primeira Missa no Brasil – Pintura de Victor Meirelles
Ordens Religiosas e Laicas As ordens religiosas – jesuítas, franciscanos, beneditinos e carmelitas – fundaram igrejas, conventos e colégios. Mas também havia ordens laicas, irmandades formadas por leigos (sem vínculo oficial com a igreja). O clero secular, com padres e bispos, teve papel menor. Essa variedade de instituições explica a diversidade de tipologias religiosas que encontramos no período. Ordens laicas Ordens religiosas
Primeira fase (1549-1654) As ordens religiosas Ordem jesuíta Nessa primeira fase, os jesuítas chegam em Salvador e começam a erguer igrejas e colégios. Suas construções eram simples, precárias, com constantes reparos. O partido arquitetônico era funcional: colégio com pátio central e igreja integrada. Esses conjuntos foram fundamentais para a catequese e a organização inicial da colônia. Em1549,chegaram ao Brasil liderados por Manoel da Nóbrega. Suas primeiras edificações foram construídas de maneira precária, exigindo constantes reparos e contavam com capacidade reduzida para atender a crescente demanda. Igreja Nossa Senhora do Rosário e residência anexa (antigo colégio Jesuíta), Embu (SP). Igreja dos Reis Magos e residência anexa (antigo colégio Jesuíta), Embu (SP).
Primeira fase (1549-1654) Ordem carmelita A Ordem do Carmo (1190), Israel. Chegaram ao Brasil em 1580 com destino à Paraíba. Chegando em Olinda/PE, região próspera pela cana de açúcar, receberam um terreno. Em Salvador, chegaram em 1586 e fundaram o convento Monte Calvário. Também foram para Santos em 1589 e Rio de Janeiro em 1590. Freiras Carmelitas Igreja do Convento do Carmo, Olinda (PE)
Primeira fase (1549-1654) Ordem beneditina No Brasil os monges chegaram em 1581 , para fundar um mosteiro em Salvador, o primeiro das Américas, atendendo à população local. Mosteiro de São Bento - Salvador Monges beneditinos
Primeira fase (1549-1654) Ordem beneditina No Brasil os monges chegaram em 1581 , para fundar um mosteiro em Salvador, o primeiro das Américas, atendendo à população local. Mosteiro de São Bento - Salvador Monges beneditinos
Segunda fase (1640-1730) Construção dos grandes conventos A segunda fase coincide com a restauração da monarquia portuguesa e a prosperidade relativa à cultura da cana de açúcar Condições propícias às ordens religiosas para expansão de seus domínios na colônia. Pequenas capelas e igrejas transformaram-se em grandiosas construções, com fachadas elaboradas e interiores requintados. Convento franciscano Nossa Senhora das Neves Olinda/PE –1585 Ordem Franciscana Os conventos coloniais seguiam um partido tradicional composto por igreja com nave única alongada, precedida por um pórtico com arcadas em arco pleno, sempre com número impar de vãos.
Segunda fase (1640-1730) Construção dos grandes conventos Convento de Santo Antônio de Igaraçu -1588 Ordem Franciscana Esta concepção básica das fachadas franciscanas foi inspirada no convento franciscano de Assis, figuras geométricas dispostas com clareza absoluta e uma única torre sineira recuada. De nave única, a fachada da igreja se assenta sobre três arcos, aos quais correspondem três janelas de verga reta no coro. Ao lado dos cunhais, nesse mesmo nível, duas fortes volutas os ligam ao corpo térreo mais largo.
Segunda fase (1640-1730) Construção dos grandes conventos Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro Ordem Beneditina O maior e mais importante é o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, projetado por Francisco Dias Mesquita em 1617 (engenheiro militar). A igreja original contava com nave única e apenas um corredor lateral, do lado da epístola, limítrofe às dependências do claustro. Apenas as duas torres sineiras, simétricas, se encontram discretamente recuadas sem interferir na bidimensionalidade
Terceira fase (1701-1800) Fortalecimento das ordens terceiras Convento São Bernardino de Sena e Capela da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, Angra dos Reis Marcada pela ascensão das ordens terceiras, as irmandades e confrarias passaram a construir um edifício específico para os mesmos. Ampliação de modestas capelas (dos primeiros anos de ocupação) por suntuosos e amplos templos; e antigas ermidas (pequenos edifícios religiosos ) também foram sendo ampliados.
O Barroco e o Rococó Interior da Igreja São Francisco de Assis A partir do século XVIII, com a riqueza do ouro, a arquitetura religiosa ganha feições barrocas e rococós. Surgem igrejas com curvas, talha dourada, altares ornamentados. Essa estética comunica tanto fé quanto poder, tornando as igrejas verdadeiros palcos da vida social e espiritual da colônia. No auge do barroco brasileiro está Aleijadinho, Antônio Francisco Lisboa. Escultor e arquiteto, deixou obras que sintetizam essa fase, como a Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto e o conjunto dos Doze Profetas em Congonhas. Sua arte mistura técnica, expressão e espiritualidade, tornando-se referência mundial.
Arquitetura Civil Rua Dom Cândido – Goiás
Contexto Geral Ouro Preto – Rua do Pilar A arquitetura residencial colonial era condicionada pelos lotes urbanos estreitos e profundos, sem recuos laterais ou frontais. As casas eram geminadas, alinhadas à rua, criando a chamada rua corredor. A uniformidade das fachadas refletia a padronização social, regulada por Cartas Régias e posturas municipais. Técnicas simples: pau a pique, taipa de pilão, adobe e pedra. Coberturas inicialmente de palha, substituídas depois por telha cerâmica colonial. Beirais e varandas protegiam as paredes frágeis da chuva. Materiais e Técnicas Tipos de Cobertura Meia-água: usada em construções simples (ranchos, cozinhas). Duas águas: mais comum nas casas geminadas e sobrados. Quatro águas e lanternim: em casas-grandes, mansões, pavilhões e claustros.
Tipos de Cobertura Coberturas uma água ou meia água duas águas quatro águas quatro águas com lanternim claustro pavilhão em forma de L varanda com alpendre varanda puxada
Tipologias residenciais A casa mais simples era a casa de porta e janela, geralmente só com uma sala, um quarto e uma cozinha. Já os sobrados eram o oposto: tinham comércio no térreo e residência no andar de cima, sendo símbolo de status social. As casas térreas, com piso de chão batido, eram ligadas às camadas populares. A área social, geralmente a sala de visitas, era o espaço do homem e de contato com o mundo externo. A área íntima, com alcovas e varandas, era o lugar da família e das mulheres. E a área de serviços, como cozinhas e quintais, era destinada ao trabalho escravo.
Casas de Câmara e Cadeias As cidades contavam ainda com edifícios civis de função pública, como as casas de câmara e cadeia, marca do poder da Coroa, além de outros edifícios de acordo com as funções econômicas dos núcleos urbanos. Símbolo da autoridade da Coroa. Piso Térreo – Cadeia; Piso Superior – Câmara. Situavam-se geralmente em espaços privilegiados e eram destacadas do casario. Técnicas construtivas tradicionais, com emprego de reforços nas partes destinadas às celas. Seus edifícios sediaram órgãos fundamentais na organização do Império Português e foram palco de negociações, conflitos e acordos entre o Reino e seus domínios. Erguidas na praça principal ou em pontos fulcrais de nossas vilas, marcavam a instituição da autonomia jurídico-administrativa em instância local. Casa de Câmara e Cadeia de Salvador, século XVII
Casas de Câmara e Cadeias As janelas nas cadeias eram essenciais porque era através delas que os presos recebiam alimentos sob a forma de esmolas, pois o poder público não tinha verba para manutenção dos presos. Os cuidados nas celas para evitar fuga de presos remonta-se à técnica construtiva de taipa de pilão reforçada, no seu interior com peças de madeira na vertical. As estruturas de cobertura eram sempre em madeira e o seu recobrimento em telhas cerâmicas. A casa de câmara e cadeia sempre foi objeto de preocupação do rei, das autoridades e da população, a qual não abria mão de ter a sua própria. Para sua construção, inicialmente se preparavam protótipos de projetos e notas de importância, organizados por governadores, ouvidores e engenheiros. A distribuição dos espaços visava a satisfazer as necessidades de serviços administrativos e judiciais, penitenciários e religiosos, dividindo-se em duas distintas partes: Câmara e Cadeia. A primeira acomodava-se em salas simples para os serviços camarários e judiciários, enquanto a última requisitava apenas celas para prisão. Os serviços de Câmara geralmente se satisfaziam com uma ou duas salas —a Casa da Câmara e a Casa das Audiências. As prisões localizadas no térreo das Casas de Câmara e Cadeia eram conhecidas como enxovias. Acerca de seus acessos, era comum que se fizessem por alçapões abertos no piso do sobrado, com o auxílio de escadas móveis. Museu das Bandeiras - Góiás
Arquitetura Açucareira Fazenda Pau Dalho situada no município de São José do Barreiro, na microrregião do Vale do Paraíba .
O Engenho e a sociedade colonial 1- Capela; 2-Casa Grande (Proprietário); 3-Hóspedes; 4-Casa do engenho; 5-Cavalariças; 6- Casa do bagaço; 7- Forno; 8- Cocheira; 9- Refinaria-destilaria; 10- Olaria; 11- Senzalas; 12; Casa do feitor. - ARQUITETURA RURAL Os Engenhos de cana eram formados basicamente por quatro edificações independentes: Moita–fábrica; Senzala; Casa-grande; Capela. Localizavam-se próximo aos rios , pois a energia hidráulica era a mais barata e usavam-se os leitos dos rios também para escoar a produção em direção aos portos. As rodas d’água e a lógica da produção definiam o partido arquitetônico das moitas. O senhor de engenho, figura central e dono das terras; Os trabalhadores livres, muitas vezes pobres, em funções auxiliares; Os escravizados, que constituíam a base de toda a produção.
Organização do Engenho e a casa grande Fazenda Viegas – Rio de Janeiro Os principais elementos eram: Casa-grande : residência da família senhorial, sempre em posição elevada, dominando a paisagem. Capela : próxima à casa, lugar de celebração religiosa, reforçando a ordem e o controle. Senzala : habitação coletiva dos escravizados, geralmente afastadas. Moenda e casa de purgar : onde a cana era transformada em açúcar. Anexos : armazéns, currais, terreiros, depósitos. Essa organização espacial não era aleatória, mostrava quem mandava e quem estava submetido. A casa-grande no alto, vigiando tudo. A capela, legitimando espiritualmente a hierarquia. As senzalas, confinadas, mostrando a exclusão social. Aqui podemos refletir: a arquitetura se torna um instrumento de poder, não apenas abrigo. A casa-grande tinha planta retangular e telhado de duas ou quatro águas. No interior, os ambientes eram divididos em: Área social : salas de recepção, onde o senhor de engenho afirmava seu status. Área íntima : quartos e alcovas da família. Área de serviço : cozinhas e anexos. Na casa-grande conviviam o luxo e a presença constante dos escravizados. Era o centro da autoridade política e econômica. Um detalhe importante: mesmo nas casas mais ricas, a simplicidade construtiva predominava. Usavam-se materiais como taipa e pedra, mas sempre adaptados às condições locais.
Organização do Engenho e a casa grande Planta de uma senzala A Capela Quase sempre vizinha à casa-grande, tinha um papel essencial: unir fé e poder. Ela era um espaço de legitimação: o senhor de engenho era apenas dono de terras e também protetor da fé católica. As celebrações reforçavam a hierarquia social: senhores à frente, escravizados ao fundo. As Senzalas Construídas em taipa ou pau a pique, sem conforto, eram espaços de confinamento. Ali dormiam dezenas de escravizados em condições precárias. Muitas vezes próximas à moenda, para facilitar o trabalho. As senzalas revelavam o caráter desumano do sistema colonial. As moitas dos engenhos também foram construídas com caráter exclusivamente utilitário, o que aproxima o engenho da construção militar. Corte de uma senzala Usina de engenho - 1-Almanjarra e moenda; 2-Reservatório de madeira para o caldo de cana; 3-Bateria para evaporação e cozimento 4-Chaminé; 5-Depósito de cana.
Arquitetura Militar
Fortificações Ao dominar uma colônia de terra, as civilizações construíam as fortificações demonstrando a posse do território, impondo marcas de presença e ocupação. Essas edificações eras representadas por castelos, fortalezas e fortins. As fortificações eram estruturas funcionais e militares que desempenhavam o papel de defesa territorial, servindo como instrumento prático e visível da sua capacidade de guerrilhar, destinada a prevalecer e se destacar na paisagem inserida. A arquitetura militar foi uma das importantes heranças que a corte portuguesa deixou para o Brasil colonial. A construção de fortificações em solo brasileiro foi de indispensável necessidade para garantir a segurança da família real e do território em que se instalaram, de invasores e despretensiosos. A arquitetura militar teve como principal finalidade no Brasil, a proteção e defesa do território e servindo como base para armamento bélico dos soldados. Os projetos eram da responsabilidade dos engenheiros-militares e as construções apresentavam, apesar das dimensões, grande simplicidade plástica e soluções racionais . A técnica construtiva era a taipa de pilão, considerada melhor até que as alvenarias e pedras, que acabavam se desgastando com os impactos das balas. Desenvolvimento das armas de fogo . As lutas passam a se desenrolar a distância . A forma das muralhas muda: poligonais ou estrelares (saliências e reentrâncias), permitindo manter sob fogo próximo as tropas que se aproximavam das portas das cidades. São eliminadas as torres , os muros são mais baixos (facilitar o transporte de armamentos) e adquirem mais massa . Surgem os engenheiros militares . Forte das Cinco Pontas–Recife, PE (1608)
Fortes e fortalezas Fortaleza de Santa Cruz - Niterói Os fortes foram construídos adaptando-se ao relevo dos locais. Não faltavam capelas, os portais, o paiol, os alojamentos, as aberturas para canhões e eventualmente, elementos como fosso, poço, cisterna e sistema de captação de água de chuva. A fortaleza construída em Niterói assemelha-se a uma pequena cidade: possui escadas, túneis, celas e calabouços, capela e até ruas e vielas, quase formando um labirinto (ou uma pequena vila medieval). Fortaleza de Santa Cruz (Niterói-RJ)