Filosofia Moral
A Filosofia Moral distingue entre
ética e moral. Ética tem a ver com o
"bom": é o conjunto de valores, que
apontam qual é a vida boa na concepção
de um indivíduo ou de uma comunidade.
Moral tem a ver com o "justo": é o
conjunto de regras que fixam condições
equitativas de convivência com respeito e
liberdade. Éticas cada qual tem e vive de
acordo com a sua; moral é o que torna
possível que as diversas éticas convivam
entre si sem se violarem ou se sobreporem
umas às outras. Por isso mesmo, a moral
prevalece sobre a ética.
No terreno da ética estão as noções
de felicidade, de caráter e de virtudes. As
decisões de qual propósito dá sentido à
minha vida, que tipo de pessoa eu sou e
quero vir a ser e qual a melhor maneira de
confrontar situações de medo, de escassez,
de solidão, de arrependimento etc. são
todas decisões éticas.
No terreno da moral estão as
noções de justiça, ação, intenção,
responsabilidade, respeito, limites, dever e
punição. A moral tem tudo a ver com a
questão do exercício do direito de um até
os limites que não violem os direitos do
outro.
As duas coisas, claro, são
indispensáveis. Sem moral, a convivência
é impossível. Sem ética, é infeliz e
lamentável. Diz-se que quem age
moralmente (por exemplo, não mentindo,
não roubando, não matando etc.) faz o
mínimo e não tem mérito, mas quem não
age moralmente deixa de fazer o mínimo e
tem culpa (por isso pode ser punido). Por
outro lado, quem age eticamente (sendo
generoso, corajoso, perseverante etc.) faz
o máximo e tem mérito, mas quem não
age eticamente apenas faz menos que o
máximo e deixa de ter mérito, mas sem ter
culpa (por isso não pode ser punido, mas,
no máximo, lamentado).
1) Origem dos termos "ética" e "moral"
Ética vem do grego "éthos" e
moral, do latim "mos". Tanto "ethos"
quanto "mos" significam a mesma coisa:
hábito, costume. Quando os filósofos
gregos quiseram cunhar um nome para a
parte da filosofia que se ocupa com as
ações cotidianas do indivíduo, criaram a
expressão "ethiké epistéme", que
significava "ciência dos costumes" ou,
como ficou conhecida, "ciência ética", ou
simplesmente "ética". Já quando os
filósofos romanos, que eram atentos
leitores dos gregos, quiseram traduzir para
o latim a expressão "ethiké epistéme",
tentaram encontrar um equivalente em sua
língua e cunharam "scientia moralis", que
significava "ciência dos costumes" ou,
como ficou conhecida, "ciência moral", ou
simplesmente "moral". Assim, qualquer
diferença que se possa encontrar entre
"ética" e "moral" não advém do
significado original dos dois termos, pois
estes, em sua origem, eram apenas a
tradução um do outro.
Há também uma versão segundo a
qual "ética" não teria sua origem no grego
"éthos", escrito "έθος", com "ε" (épsilon,
letra grega que soa como um "e" curto e
aberto), "costume", e sim no grego "éthos"
escrito "ήθος", com "η" (eta, letra grega
que soa como um "e" longo e fechado),
"habitação". Para os que defendem essa
versão, essa segunda forma de "éthos"
("ήθος", com "η") designaria um modo de
ser, um caráter habitual, um conjunto de
traços e ações que constituem a identidade
de quem se é, nos quais se está à vontade,
"em casa". Nesse caso, a "ethiké
epistéme" significaria não a ciência dos
costumes, e sim a ciência do estar em
casa, do ser si mesmo, do encontrar-se em
sua própria identidade, sem distanciar-se
de si nem de seus valores. O fato de que
"ética" era escrita "ηθικά", com "η", nos
tratados gregos parece corroborar essa
versão. Nesse caso, a tradução de "ηθικά"
por "moralis" teria sido um erro dos
filósofos romanos.
2) Formas de distinção entre ética e moral
Há duas tradições de distinção
entre os dois termos. Uma delas é francesa
e ganhou fama no Período das Luzes, no
qual a célebre "Enciclopédia" de
D'Alembert e Diderrot atribuiu a "moral"
o sentido de conjunto de normas e valores