Gordon Allport e o Indivíduo Há cinco décadas, enquanto as melhores mentes da psicologia buscavam inflexivelmente maior rigor e quantificação, ou tentavam ansiosamente traçar motivos inconscientes até seu esconderijo oculto, Gordon Allport seguia serenamente seu próprio caminho, defendendo a importância do estudo qualitativo do caso individual e enfatizando a motivação consciente. Sua posição sistemática representa uma destilação e elaboração de ideias derivadas de fontes respeitadas como a psicologia da Gestalt, William Stern, William James e William McDougall, com ênfase na singularidade do indivíduo e na congruência de seu comportamento.
História Pessoal Allport nasceu em Indiana em 1897, um dos quatro filhos de um médico, mas cresceu em Cleveland. Formou-se em economia e filosofia em Harvard em 1919, passando depois um ano no Robert College, em Istambul, ensinando sociologia e inglês. Retornou a Harvard para obter seu Ph.D. em psicologia em 1922, estudando posteriormente em Berlim, Hamburgo e Cambridge. Em 1930, voltou definitivamente a Harvard, onde permaneceu até sua morte em 9 de outubro de 1967. Durante sua carreira, Allport recebeu praticamente todas as homenagens profissionais que os psicólogos têm a oferecer, incluindo a presidência da Associação Psicológica Americana e a medalha de ouro da Fundação Psicológica Americana em 1963.
A Estrutura e a Dinâmica da Personalidade Para Allport, estrutura e dinâmica da personalidade são, de modo geral, a mesma coisa. A estrutura é primariamente representada em termos de traços, e simultaneamente o comportamento é motivado ou impulsionado por esses traços. Personalidade "A personalidade é a organização dinâmica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente." Caráter "Nós preferimos definir o caráter como a personalidade avaliada, e a personalidade como o caráter sem valorização." Temperamento Refere-se às disposições estreitamente ligadas a determinantes biológicos ou fisiológicos, que mudam relativamente pouco com o desenvolvimento.
Traços e Disposições Pessoais Em 1961, Allport fez alterações terminológicas importantes, reservando o termo "traço" para os traços comuns, e introduzindo "disposição pessoal" para substituir o traço individual. Um traço é definido como uma "estrutura neuropsíquica capaz de tornar muitos estímulos funcionalmente equivalentes, e de iniciar e orientar formas equivalentes de comportamento adaptativo e expressivo". Uma disposição pessoal é uma "estrutura neuropsíquica generalizada (peculiar ao indivíduo)" com as mesmas funções do traço. A figura ilustra como um traço (fobia de comunistas) funciona como rótulo genérico para a ligação entre estímulos equivalentes e respostas equivalentes. Os traços não são livremente flutuantes, mas emergem em face de certos estímulos e expressam-se por meio de respostas limitadas.
Hierarquia das Disposições Pessoais 1 Disposições Cardeais Tão gerais que influenciam quase todos os atos de uma pessoa. São relativamente incomuns. 2 Disposições Centrais Tendências altamente características do indivíduo, que entram em ação com frequência e são fáceis de inferir. Uma personalidade pode ser conhecida com bastante exatidão por 5 a 10 disposições centrais. 3 Disposições Secundárias De ocorrência mais limitada, menos cruciais para a descrição da personalidade e mais focalizadas nas respostas que provocam e nos estímulos aos quais são apropriadas. Os traços não existem como sistemas de comportamento independentes. A operação de um determinado traço é sempre condicionada por outros traços. Eles tendem a ter um centro em torno do qual opera sua influência, mas o comportamento resultante é claramente influenciado simultaneamente por múltiplos traços.
Intenções e o Proprium Intenções Para Allport, mais importante que a busca do passado é a simples pergunta sobre o que o indivíduo pretende em seu futuro. As esperanças, desejos, ambições e planos da pessoa estão representados sob o termo "intenção". Aquilo que o indivíduo está tentando fazer é a chave mais importante para como a pessoa vai se comportar no presente. O Proprium (Self) Allport propôs que todas as funções do self ou do ego fossem chamadas de funções próprias da personalidade, constituindo o " proprium ". O proprium não é inato, mas se desenvolve ao longo do tempo, com sete aspectos surgindo durante o desenvolvimento: senso corporal, auto-identidade, autoestima, extensão do self , auto-imagem, capacidade de raciocínio e anseios próprios.
Autonomia Funcional O conceito mais controverso introduzido por Allport, a autonomia funcional afirma que uma atividade pode se tornar um fim em si mesma, apesar de ter sido iniciada por outra razão. Qualquer comportamento pode sustentar-se indefinidamente na ausência de reforço biológico. Motivação Inicial Comportamento inicialmente motivado por necessidades biológicas ou instrumentais básicas. Transformação Com a repetição e o desenvolvimento, o comportamento se torna independente de suas origens. Autonomia O comportamento torna-se um fim em si mesmo, motivado por seu próprio valor, não por recompensas externas. Allport reconheceu dois níveis: a autonomia funcional perseverativa (adições, mecanismos circulares, rotinas) e a própria (interesses, valores, sentimentos, intenções, disposições pessoais).
O Desenvolvimento da Personalidade O Bebê Allport via o recém-nascido como uma criatura quase inteiramente constituída por hereditariedade, pulsão primitiva e existência reflexa. No nascimento, o bebê não possui personalidade, mas está dotado de potencialidades físicas e temperamentais. A Transformação O processo de desenvolvimento ocorre ao longo de múltiplas linhas, envolvendo diferenciação, integração, maturação, imitação, aprendizagem, autonomia funcional e extensão do self . O Adulto No indivíduo maduro, os maiores determinantes do comportamento são um conjunto de traços organizados e congruentes. Em grande extensão, o funcionamento desses traços é consciente e racional. Allport afirmava que "o que impulsiona o comportamento, impulsiona agora", e não precisamos saber a história da pulsão para compreender sua operação. Os motivos mais importantes não são ecos do passado, mas acenos do futuro.
A Personalidade Madura Extensão do Self Capacidade de participar de uma ampla variedade de atividades diferentes e apreciá-las, com projeção no futuro. Relacionamento Caloroso Capacidade de relacionar-se calorosamente com outros em contatos tanto íntimos como não-íntimos. Segurança Emocional Segurança emocional fundamental e aceitação do self, com capacidade de auto-objetivação. Orientação Realista Orientação realista tanto em relação a si mesmo (auto-objetivação) como em relação à realidade externa. Humor e Insight Capacidade de compreender-se e de manter relações positivas consigo mesmo, vendo incongruências e absurdos. Filosofia Unificadora Uma filosofia de vida que dá propósito e significado a tudo o que a pessoa faz.
Legado e Avaliação Contribuições Duradouras Restauração e purificação do conceito de ego na psicologia Ênfase nos determinantes conscientes do comportamento Defesa do estudo detalhado do caso individual Foco no futuro e no presente, com relativa exclusão do passado Conceito de "singularidade padronizada" do indivíduo Críticas Inadequação formal da teoria e falta de base axiomática clara Pouca geração de proposições para testes empíricos Dificuldade em demonstrar empiricamente o conceito de autonomia funcional Suposição controversa de descontinuidade entre normal e anormal Ênfase excessiva na "singularidade" do indivíduo O trabalho de Allport se destaca como um monumento a um estudioso sábio e sensível, que estava determinado a representar os aspectos positivos do comportamento humano em termos que respeitassem a singularidade de cada organismo vivo.