VIRKLER, Henry. Hermenêutica Avançada. Tradução: Luiz Caruso, São Paulo: Editora Vida, 2007
RESPOSTAS DAS QUESTÕES PROPOSTAS
Celso do Rozário Brasil
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que vale essa palavra do Senhor, porque os discípulos formam uma irmandade. Nessa irmandade
não pode existir a ira.
Podemos dizer que Jesus não está ensinando que a ira deve punida com a morte, mas
ilustra, com essas palavras, quão sério era para ele esse pecado. A presença da ira indica a falta de
amor. O amor ao próximo foi classificado como segundo mandamento na ordem da importância.
(Ver Lucas 10:27). Portanto, dentro do espirito da lei, aquele que se ira contra outrem quebra o
espirito de um dos mais importantes mandamentos.
Que significa irar-se? Com base no texto original, a ira pode mostrar-se em duas
direções: Para dentro e para fora.
Vista para dentro, a ira equivale a estar amargurado, estar raivoso contra o irmão,
ficar exasperado, carregar rancor dentro de si, distanciar-se do irmão, manter-se separado dele,
consumir-se intimamente.
Para fora, irar-se significa estar agitado, enfurecer-se, agredir, ser duro, injusto,
externar uma mentalidade áspera, ter acessos de cólera.
Tudo isso é assassinato do irmão.
É transgressão do mandamento: “Não matarás”.
É uma palavra muito séria de Jesus, que alumia para dentro do último cantinho de
nosso coração e nos julga e purifica continuamente. Nosso constante fracasso é trazido à luz. Ter de
admitir sempre de novo esse fracasso nos preserva de toda confiança no poder próprio e destroça
integralmente toda presunção e todo orgulho. “O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração”
(1 Sm 16.7). Quando no coração se encontram todos os tipos citados de ira, o discípulo já se tornou
culpado do julgamento, porque tornou-se um “assassino” do irmão.
Quando a revolta interior ou a fúria exterior são seguidas do duro e amargo insulto
“raca”, isto é, “cabeça oca”, então esse assassino do irmão deve ser julgado pelo tribunal supremo
desta terra, o Sinédrio.
Quem se deixa arrastar pela ira ao ponto de agredir o irmão com uma palavra ofensiva
como “tolo”, ou seja, “vá para o inferno, desgraçado (descrente)”, esse próprio deverá ir para o
inferno.
“Raca” é uma palavra de escárnio e procede do orgulho, significando: “Você é
alguém vazio” ou “você tem a mente vazia”. “Louco” é uma palavra maliciosa e procede do ódio,
olhando para a pessoa não apenas como vil e que não merece honra, mas como alguém vil que não
merece ser amada.
Provavelmente, as leis judaicas tinham sanções contra o insulto específico de
“raca”, mas Jesus mostrou que a agressão verbal de qualquer tipo torna a pessoa sujeita à
condenação eterna. “Inferno” refere-se aqui à “Gehenna”, o Vale de Hinom, que era um depósito
de lixo fora de Jerusalém onde fogos queimavam constantemente para incinerar restos. O local
também era conhecido como o lugar de sacrifícios humanos com fogo durante os reinados de
Acaz e Manassés (II Crônicas 28.3; 33.6). Jeremias profetizou que ele será chamado o “Vale da
Matança” (Jeremias 7.31,32), como símbolo do julgamento terrível de Deus.
Vemos, assim, que Jesus não se refere à ira justa contra os ímpios e iníquos (João
2.13-17). Ele condena o ódio vingativo, que deseja, de modo injusto, a morte doutra pessoa. “Raca”
é (conforme já vimos) um termo de desprezo que provavelmente significa “tolo”, “estúpido”
Chamar alguém de “louco”, com ira e desprezo, pode indicar um tipo de atitude de coração
conducente ao perigo do “fogo do inferno”.
Sabemos que sentir raiva é uma paixão natural. Há casos em que é legítimo e
louvável. Todavia, é pecaminoso quando sentimos raiva sem causa, por causa de suposições sem
fundamento ou de afrontas triviais.