EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM BREVE ESTUDO SOBRE IDENTIDADE, CULTURA E PERTENCIMENTO, SUAS RELAÇÕES E INTER-RELAÇÕES Autoras: Crisnaiara Cândido de Souza Lucimara Afonso Castilho Priscilla Cândido
Objetivo da pesquisa: Discutir aspectos relacionados à identidade da Educação do campo, articulados à cultura e ao sentimento de pertencimento presentes nos sujeitos do campo. Analisar a luz dos princípios pedagógicos da Educação do campo o papel do educador do campo e a importância da escola como espaço de possibilidades para o desenvolvimento dessas particularidades
Bases Teóricas e Metodológicas Esta pesquisa constitui-se de uma revisão bibliográfica e documental, ancorada principalmente em Caldart (2002; 2004; 2011), Arroyo (2011) e Souza (2012), além das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, as Orientações Curriculares para a Educação do Campo do Estado de Mato Grosso e as Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo do MEC.
Identidade, Cultura e Pertencimento: Relações e inter-relações. Identidade, cultura e pertencimento são conceitos que se inter-relacionam, pois para construção de qualquer um deles, precisamos da contribuição do outro. A conexão entre esses conceitos é apontada por Caldart (2002), para compreendermos a dimensão de identidade: “Uma identidade é uma marca de pertencimento a um determinado grupo, que se diferencia de outros, ou que se contrapõe a outros grupos, outros traços de cultura, outro jeito de ser. Pode ser, pois de conformação ou de resistência ao ambiente social em que se origina”. (CALDART, 2002, p.83)
Construir uma identidade, portanto, implica necessariamente no fortalecimento do sentimento de pertença, em compreender que é necessário se sentir parte, absorver a cultura e contribuir com experiências, lutar coletivamente por melhores condições de vida, é se afirmar como ser histórico e social no ambiente em que nos inserimos. Identidade, Cultura e Pertencimento: Relações e inter-relações.
Educação do campo: traços de uma identidade em construção Caldart (2011) aponta alguns traços que desenham a identidade da Educação do campo: 1- A Educação do Campo identifica uma luta pelo direito de todos à educação. 2- Os sujeitos da Educação do Campo são os sujeitos do campo. 3- A Educação do Campo se faz vinculada às lutas sociais do campo. 4- A Educação do Campo se faz no diálogo entre seus diferentes sujeitos.
5- A Educação do Campo identifica a construção de um projeto educativo. 6- A Educação do Campo inclui a construção de Escolas do Campo. 7- As educadoras e os educadores são sujeitos da Educação do Campo. Educação do campo: traços de uma identidade em construção
A identidade das Escolas do Campo: As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo trazem em seu artigo 2º a forma como as escolas do campo são identificadas: Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, 2002, p.01)
Sentimento de Pertencimento: algumas considerações “[...] o sentimento de pertença é o que vai criar o mundo para que os sujeitos possam existir, uma vez que a condição para o desenvolvimento das suas competências e dos seus valores é a pertença a um lugar. É a partir dele que o ser humano elabora a sua consciência e o seu existir neste mundo. Pertencer significa se reconhecer como integrante de uma comunidade é um sentimento que move os sujeitos a defender as suas ideias, recriar formas de convivência e transmitir valores de geração a geração.” (BRASIL, 2003, p.36)
“Na medida em que o grupo se sente ator da ação em curso, o que for sendo construído de forma participativa desenvolverá a corresponsabilidade, pertencendo os resultados a todos desse grupo, pois conterão um pouco de esforço de cada um” (MATO GROSSO, 2012, p.127). Diante desse entendimento fica claro que, o sentimento de pertença, é fundamental para que a cultura e a identidade de um povo possa se estabelecer, uma vez que é esse sentimento que elabora nossa consciência para que possamos existir. Do mesmo modo, é importante enfatizar que para que o sentimento de pertença possa ser desenvolvido, antes o indivíduo precisa construir uma identidade própria, o que só é possível a partir de suas raízes históricas e culturais. Sentimento de Pertencimento: algumas considerações
Os princípios da Educação do campo: Traços pontuais I- Princípio pedagógico do papel da escola enquanto formadora de sujeitos articulada a um processo de emancipação humana. II- Princípio Pedagógico da valorização dos diferentes saberes no processo educativo. III- Princípio Pedagógico dos espaços e tempos de formação dos sujeitos da aprendizagem. IV- Princípio pedagógico do lugar da escola vinculado realidade do sujeito. V- Princípio Pedagógico da educação como estratégia para o desenvolvimento Sustentável. VI- Princípio Pedagógico da autonomia e colaboração entre os sujeitos do campo e o sistema nacional de ensino
O educador do campo: Desafios e possibilidades Pensar a escola do campo é pensar também em todo o movimento social, cujo objetivo precisa ser a formação integral dos sujeitos do campo e isto pressupõe que o trabalho do educador esteja pautado no compromisso ético de prepará-los para se tornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nos movimentos sociais, na política e na sociedade como um todo. A educação do campo precisa ter caráter libertador, crítico e emancipatório sem deixar de considerar a identidade, a cultura e as especificidades dos camponeses.
Considerações Finais O diálogo apresentado no corpo deste artigo sobre os princípios da Educação do campo alinhados ao papel da escola e ao trabalho do educador do campo, e ainda, as relações e inter-relações presentes entre a identidade, a cultura e o sentimento de pertencimento no âmbito da Educação do campo, nos possibilitou entre muitos entendimentos e percepções, uma reflexão crítica e profunda sobre a forma como essa educação vem se desenhando ao longo de sua história e, sobretudo, sobre os desafios que ainda precisamos enfrentar para que o projeto educativo proposto e defendido no seio dos movimentos sociais se materialize em todo o território nacional.
Considerações Finais Neste sentido, compreendemos que o fato da concepção de Educação do Campo encontrar-se ainda em construção, tanto nos governos quanto na sociedade civil e inclusive nos movimentos sociais, constitui-se um limite para o estabelecimento de políticas públicas específicas para a educação no meio rural. A visão de que a mesma educação que é oferecida nas cidades pode ser empregada no campo, ainda é evidente, dado que, em muitos locais do nosso país, os municípios preferem transportar os alunos do campo para a cidade para terem acesso à educação, ignorando sua cultura e identidade campesinas.
Considerações Finais Deste modo, fazendo nossas considerações, não finais, mas temporárias, pois entendemos que os estudos sobre essa temática estão sendo e ainda precisam ser amplamente discutidos, sinalizamos que apesar dos muitos avanços nas políticas públicas, frutos de intensas lutas dos movimentos sociais, a Educação do campo ainda perpassa por muitos desafios, sendo necessários ainda, grandes investimentos por parte do poder público na formação de professores e atendimento às demandas dos camponeses no que diz respeito às questões sociais.
Referências Bibliográficas ARROYO, Miguel G. A Educação Básica e o Movimento Social do Campo. In: ARROYO, Miguel G.; CALDART, Roseli S.; MOLINA, Mônica C.( orgs .) Por uma Educação do campo . Petrópolis/RJ: Vozes. 2 ed. 2011, p. 65-86. BRASIL, Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo . Brasília: MEC/SECAD, 2002. ______. Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo / Caderno de subsídios, MEC, Brasília, DF: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo, 2004. CALDART, Roseli S. Pedagogia da Terra: formação de identidade e identidade de formação. In: Pedagogia da Terra . Cadernos do Iterra , ano II, n.6. Veranópolis , RS: Iterra . dezembro de 2002, p. 77-98 ______. Elementos para a construção do projeto político-pedagógico da educação do campo. In: MOLINA, Monica C; JESUS, Sonia Meire S. A. de ( orgs .). Contribuições para a construção de um projeto de Educação do Campo . Brasília, DF: Articulação Nacional Por Uma Educação do Campo, 2004.
______. Por uma Educação do campo: traços de uma identidade em construção. In: ARROYO, Miguel G.; CALDART, Roseli S.; MOLINA, Mônica C.( orgs .) Por uma Educação do campo . Petrópolis, RJ: Vozes. 2 ed. 2011, p. 149-158. FERNANDES, Bernardo M.; CERIOLI, Paulo R.; CALDART, Roseli S. Primeira Conferência Nacional “Por uma Educação do campo” (Texto Preparatório). In: ARROYO, Miguel G.; CALDART, Roseli S.; MOLINA, Mônica C.( orgs .) Por uma Educação do campo . Petrópolis/RJ: Vozes. 2 ed. 2011, p. 21-63. MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Curriculares para a Educação do campo. In: Orientações Curriculares: Diversidades Educacionais . Cuiabá: Gráfica Print , 2012, p. 108-135 SOUZA, Maria Antônia. Educação do campo: propostas e práticas pedagógicas do MST. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Referências Bibliográficas