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na grande maioria, o somatório dos alimentos naturais da agricultura e pescas
produzidos pelo modelo intensivo e aquicultura, bem como os transformados
pela indústria alimentar. Embora alguns dos alimentos transformados, como o
clássico e secular pão, cujo elevado consumo é uma realidade para a maioria dos
cidadãos, derivado em parte do seu baixo preço relativo, sejam genericamente
aceites também como alimento bom e saudável, a verdade é que, à luz dos novos
conhecimentos no campo nutricional, o assunto é altamente discutível. De facto,
o pão das últimas décadas em nada se assemelha ao pão dos nossos antepassados,
que era fabricado com cereais completos/integrais não contaminados com
químicos do ambiente, pesticidas, e fungicidas, e moídos (maior tempo de
digestão, absorção) e daí nutricionalmente superior e menos” tóxico”. De facto, a
partir dos cereais triturados pelas novas máquinas de elevada eficiência obtêm-
se, como produto final, uma farinha de estrutura semelhante ao “pó”, e, como
tal, de rápida digestão. Quando há refinação, como é frequente, a farinha obtida
é branca pela eliminação do tegumento (casca) e do gérmen, dois constituintes
estruturais e básicos em termos nutricionais (fibras, proteínas, vitaminas,
minerais, fitoquímicos). As farinhas brancas, com fins múltiplos na gastronomia,
ficam reduzidas praticamente ao “amido”, que, apesar de ser um hidrato de
carbono complexo do ponto de vista químico (múltiplas moléculas de glicose),
passa a comportar-se fisiologicamente como um hidrato de carbono simples,
(vulgar açúcar, glicose, frutose), sendo, como tal, rapidamente digerido e
absorvido, originando níveis elevados de açúcar no sangue (picos de glicemia).
Como é sabido, a utilização de alimentos transformados e industrializados
na alimentação é norma, nomeadamente aqueles que têm por base cereais
refinados. O seu elevado e frequente consumo origina picos de glicemia e
“descargas” respetivas de insulina (hormona pancreática de controlo da glicose),
com reflexos metabólicos enormes, predispondo ao desenvolvimento de doenças
inflamatórias crónicas do foro da medicina interna. É neste contexto que surge o
índice de glicemia (I.G), um índice técnico utilizado para averiguar a influência
do consumo de um alimento na taxa de açúcar no sangue (glicemia), cujo padrão
de referência é a glicose, e ao qual foi atribuído o índice 100. Variando de 0 a
100, considera-se que um índice superior a 70 é elevado, inferior a 50 é baixo, e
entre os dois é moderado. Um outro índice associado ao IG é a carga glicémica
(CG), que relaciona o IG com a quantidade de hidratos de carbono presentes
no alimento, sendo o preferido por certos nutricionistas e médicos, uma vez
que não é só o tipo do hidrato de carbono que é importante, mas também a sua
quantidade. A existência atual de largas centenas de alimentos industrializados,
em que a presença de hidratos de carbono é frequente, torna o conhecimento
do IG e da CG de um alimento quase uma “obrigação”, muito embora raramente
ou nunca esteja presente nos rótulos. Todavia é bom realçar que o índice de
glicemia dos alimentos não deve ser usado isoladamente, havendo vários fatores
que contribuem para o alterar, começando pelo consumo em que raramente os
alimentos são consumidos isoladamente (problema da interação dos alimentos e
tipos de nutrientes), e como tal, para certas situações clínicas, o aconselhamento