Monografía de Dudas metódicas Filosofía René Decartes- Autor Faustino Colmán Rotela

colmanrotelafaustino 1 views 34 slides Oct 18, 2025
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About This Presentation

La duda como metodología para poder llegar al conocimiento verdadero, la razón, los sentidos, la verdad . René Descartes, Filosofía


Slide Content

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Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro






Faustino Daniel Colmán Rotela






A dúvida metódica de René Descartes

















RIO DE JANEIRO
2021

1


Faculdade de São Bento do Rio De Janeiro




A dúvida metódica de René Descartes




Faustino Daniel Colmán Rotela



Monografia apresentada à Faculdade de São
Bento do Rio de Janeiro (FSB/RJ) como um
dos requisitos para obtenção do grau de
Bacharel em Filosofia.

Orientador: Prof. Dr. Leandro Assis Santos











RIO DE JANEIRO
2021

2







COLMÁN ROTELA, Faustino Daniel. A Dúvida Metódica de René Descartes.
Rio de Janeiro: FSB/RJ, 2021.
33 p.
Monografia apresentado à Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro, como um
dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Filosofia.
Orientador: Prof. Dr. Leandro Assis Santos.
Palavras-chave: Dúvida, conhecimentos, razão, indubitável, ciências, métodos.

3


Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro



A Monografia “A dúvida metódica de René Descartes”, apresentada pelo aluno
Faustino Daniel Colmán Rotela à Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro (FSB/RJ) como
um dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Filosofia foi aprovada, obtendo o
grau______________________ (___).




__________________________________________
Prof. Dr. Leandro Assis Santos
Orientador





Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro










Rio de Janeiro, ___ de _____________de 202__

4


























À minha família, por incentivar meu
crescimento intelectual.

5


Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, que me proveu todas as condições necessárias para a
realização desta monografia, a minha família, em especial meus pais Juan Ramón e Mari
Elizabeth, pelo carinho, incentivo e colaboração, principalmente nos momentos das
dificuldades para não desanimar, aos meus irmãos que estiveram comigo neste processo de
formação. A Ordem dos Agostinianos Descalços por me proverem a graça de tal formação.
Ao meu orientador Professor Dr. Leandro Assis Santos por sua paciência com minhas
limitações, por sua ajuda na realização do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Agradeço
aos meus amigos por seu incentivo. E a todos os demais que de alguma maneira, ainda que
oculta, me auxiliaram ao longo dessa jornada da vida.

6































A dúvida é o princípio do conhecimento.
René Descartes

7


RESUMO
A utilização da dúvida é comum dentro da filosofia, especialmente com os céticos. Porém,
estudando a filosofia moderna, ela aparece novamente com René Descartes de maneira
diferente. A dúvida utilizada por ele visa por uma busca da verdade. Portanto, esta monografia
pretende demonstrar os caminhos percorridos pelo filósofo, desde a sua infância até
encontrar-se com o seu desejo de descobrir algo indubitável, através da utilização da dúvida
como método, concentrada principalmente na obra do Discurso do método e Meditações
metafísicas e outros comentadores que contribuíram para o entendimento. Para esse fim, o
presente estudo não busca entrar em discussão com outros autores ou outras ciências a
respeito do tema. O objetivo desse trabalho é mostrar os recursos e processos que o autor
estudou para chegar a demostrar que é possível o homem acessar a verdade, por meio da
dúvida até o método científico, tendo como principal fonte de conhecimento a razão e o
método.

Palavras Chaves: Dúvida, conhecimentos, razão, indubitável, ciências, métodos.

8


RESUMEN
El uso de la duda es común dentro de la filosofía, especialmente entre los escépticos, sin
embargo, al estudiar la filosofía moderna, vuelve a aparecer con René Descartes de una
manera diferente. La duda utilizada por él apunta a la búsqueda de la verdad. Por ello, esta
monografía pretende demostrar los caminos recorridos por el filósofo desde su infancia hasta
cumplir su deseo de encontrar algo indudable mediante el uso de la duda como método,
concentrado principalmente en su obra del Discurso del método y las Meditaciones
metafísicas y otros comentaristas que contribuyeron a la comprensión. Para ello, este estudio
no busca entrar en discusiones con otros autores u otras ciencias sobre el tema. El objetivo de
este trabajo es mostrar los recursos y procesos que el autor estudió para demostrar que es
posible que el hombre acceda a la verdad a través del método de la duda al método científico,
teniendo el uso de la razón y el método como principal fuente de conocimiento.
Palabras Claves: Duda, Conocimiento, Razón, Indudable, ciencias, método.

9


SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................................. 10
2 RENÉ DESCARTES ........................................................................................... 12
2.1 Contextos históricos ............................................................................................ 12
2.2 Inquietações sobre os conhecimentos adquiridos com os jesuítas ........................ 14
2.3 Princípios da dúvida dentro da filosofia Cartesiana ............................................. 16
3 ARGUMENTOS DOS SENTIDOS ..................................................................... 19
3.1 A dúvida cartesiana em relação aos sentidos ....................................................... 20
3.2 Matemática como conhecimento indubitável. ...................................................... 21
4 DISTINÇÃO DO MÉTODO DA DÚVIDA E MÉTODO CIENTÍFICO ......... 25
4.1 Método Cartesiano .............................................................................................. 25
4.2 As quatro regras: evidência, análise, ordem e enumeração. ................................. 27
4.3 O método da dúvida e o método Cientifico ......................................................... 30
5 Conclusão .............................................................................................................. 32
Referências ............................................................................................................... 33

10


1 Introdução
A dúvida metódica, idealizada por René Descartes é um caminho para chegar a um
conhecimento verdadeiro e justificado. O filósofo inicia este caminho a partir da própria
dúvida, afirmando que é preciso duvidar de quase tudo para chegar à certeza das coisas, até
porque a finalidade do método é encontrar algo seguro e indubitável como objetivo.
Encontramo-las expostas organizadamente nas suas grandes obras: “Discurso do método”, as
“Meditações Metafisicas” e “Objeções e respostas” presente no livro da coleção “Os
pensadores”.
Através da leitura e análise das obras de Descartes e dos seus respectivos
comentadores, procura-se esclarecer o que é a dúvida metódica no pensamento de René
Descartes. A partir disso, surgem questões secundárias, mas não menos importantes. São elas,
a saber: 1) Qual é a relação da dúvida sobre os sentidos?; 2) Sobre o que é possível o homem
conhecer?; 3) De que conhecimentos pode ter certeza?; 4) É possível chegar a uma verdade
absoluta por meio da dúvida? ; 5) Quais são os métodos propostos para obter o conhecimento
indubitável na ciência?
René Descartes apresenta a dúvida metódica como um mediador para chegar a um
conhecimento claro e distinto. O filósofo coloca em dúvida tudo aquilo que vêm das
experiências dos sentidos, e outras que podem ser duvidosas como: “a física”, “astronomia”,
“medicina”, exceto a “matemática” e “geometria”, pois isto é representado como
conhecimento claro e distinto. É possível chegar a conhecer aquilo que já não pode ser
duvidado, ou seja, o que já foi convencido como conhecimento indubitável. Descartes afirma
que a dúvida é usada para provar que existe uma verdade absoluta bem conhecida.
A nossa pesquisa, portanto, é mostrar o âmbito da dúvida como método para chegar a
um conhecimento claro e distinto, o que é indubitável para Descartes. Buscaremos apontar
para alguns caminhos percorridos pelo filósofo durante os seus estudos, a sua inquietação com
o conhecimento que foi aprendido pelos sentidos e do seu novo método, pelo qual refuta o
sentido de que os conhecimentos providos poderiam ser enganosos.
Também demostrar a distinção do método da dúvida e do método científico perfaz um
de nossos objetivos. Com esse intuito, busca-se compreender, de modo conveniente, conhecer
a importância deste método para mostrar que é possível chegar ao que o autor entende por
“conhecimento indubitável”, que contesta as opiniões e conhecimentos adquiridos pelos
sentidos e assim colabora com as ciências.
Para desenvolver este trabalho utilizamos o método dedutivo com pesquisas
bibliográficas, baseado na leitura dos livros do autor, bem como alguns comentadores.

11


Ademais, livros de filosofia que tratam respeito de algumas considerações cartesianas, como
assunto principal a dúvida metódica igualmente se faz salutar.
No primeiro capítulo abordaremos sobre a vida de René Descartes e o contexto
histórico. O segundo capítulo daremos continuidade, trazendo os argumentos dos sentidos que
o autor mostra os limites do conhecimento adquirido por esta via, a relação da dúvida
cartesiana com os sentidos e as verdades matemáticas que o autor apresentou, focando na
primeira, segunda e terceira Meditações Metafísicas. No terceiro capítulo desenvolver-se-á
sobre as quatro regras de caráter científico que são, a saber: análise, evidência, ordem e
enumerações, porém, de maneira resumida. Por meio dessas regras, o nosso autor expõe um
caminho para chegarmos ao conhecimento dominado pela razão e não pelos sentidos,
contribuído principalmente para o problema do conhecimento das ciências no século XVII e
assim chegaremos a distinguir o método da dúvida e o método da ciência.

12


2 RENÉ DESCARTES

Neste primeiro capítulo, dissertaremos a respeito da vida e obra de René Descartes.
Descreveremos sua trajetória destacando de sua infância, as principais influências até a sua
vida adulta, na qual foi apaixonado pela matemática, geometria e álgebra, em que
posteriormente escreveria uma obra a respeito do novo método da dúvida metódica, presente
em Discurso do método e em Meditações metafísicas, às quais serão as obras principais que
nos nortearemos para chegar ao nosso objetivo da pesquisa.
Conhecendo a vida do filósofo René Descartes, percebe-se que a mesma está repleta
de acontecimentos importantíssimos, desde o seu nascimento até tornar-se “pai” da filosofia
moderna, um filósofo, matemático e cientista. Destacamos então, apenas uma parte de sua
vida que nos é primordial dentro da pesquisa.

2.1 Contextos históricos

René Descartes, conhecido originalmente, em latim, como Cartesius, nasceu em 31 de
março de 1596 em La Haye, na França, na região de Touraine. Pertencente a uma família
nobre, foi criado por sua avó materna, pois sua mãe morreu logo após o seu nascimento.
Entrou no colégio La Flèche dos jesuítas aos dez anos, (1606 -1614) onde foi destacado como
excelente aluno durante o seu período de estudo: “Em La Flèche, estudou literatura clássica e
matérias tradicionais baseadas nos clássicos, tais como história e retórica” (COTTINGHAM,
1943, pág. 12). Compreendeu ainda no colégio sua paixão pelos conhecimentos matemáticos,
campo no qual viria a escrever diversos livros.
Após concluir os seus estudos, formou-se em Direito, área na qual não exerceu
nenhuma profissão. Logo conheceu o Padre Mersenne
1
(1588-1648), pertencente a Ordem
religiosa francesa dos Mínimos. Teólogo, matemático e teórico da música, era um bom amigo
de Descartes, um admirador de suas obras e um de seus correspondentes mais próximos,
diligente e responsável pela divulgação de seus trabalhos em diversos círculos intelectuais
importantes, com quem carregou grande tempo de amizade e aprendeu muito, sobretudo a
matemática: “Uma ciência em que ele discernia a precisão e a certeza do tipo que
verdadeiramente merecia o título de stiencia” (Ibidem). Ao mesmo tempo, viajava muito

1
“Marin Mersenne (1588-1648) ou Padre Mersenne, religioso francês pertencente à Ordem dos
Mínimos, foi teólogo, matemático e teórico da música. Grande amigo de Descartes e admirador de sua obra, foi
um de seus correspondentes mais assíduos e responsável pela divulgação de seus escritos em muitos círculos
intelectuais importantes da época”. (La Vie de Monsieur Descartes escrita por Adrien Baillet em 1691.)

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pelos vários países da Europa, até um dia mudar-se para a Holanda, onde continuaria a sua
vida como estudante. Além disso, também se alistou para os exércitos de Maurício de Nassau,
príncipe de Orange (1618), e conheceu a um sábio Holandês de nome Isaac Beeckman,
matemático, de quem se tornou amigo e colega de trabalho.
Outros acontecimentos ocorridos são que na época em que Descartes viajou para a
Holanda houve desentendimentos entre cristãos católicos e protestantes que geraria uma
guerra chamada Guerra dos Trinta anos, ocorrida entre (1618 a 1648), como afirma:

Descartes foi, ao mesmo tempo, viajante contumaz e homem retirado, soldado
engajado em exércitos em guerra e homem em busca de tranqüilidade, aliado de
católicos e de protestantes, homem da corte e habitante da província, pensador
isolado e correspondente da intelectualidade européia (Ibidem).

Tempo após de culminar os seus estudos no colégio La Flèche e ano mais tarde de
morar em Holanda, Descartes parte para a Dinamarca e a Alemanha, onde também se alistou
no exército católico do duque da Baviera e posteriormente teria condições necessárias para a
sua meditação sobre a filosofia, com os seus desejos de buscar conhecimento próprio, como
nos afirma:

Quando tinha vinte e dois anos, tendo se diplomado em Direito em Poitiers,
Descartes partiu para uma série de viagens pela Europa, “decidido”, como mais
tarde diria, “a buscar somente o conhecimento que pudesse ser encontrado em mim
mesmo ou no grande livro do mundo” (Ibidem).

Descartes, sendo um jovem interessado pelos estudos, buscando conhecimentos
através da experiência, em contato com os amigos conhecedores matemáticos, tanto Pe.
Mersenne quanto Isaac Beeckman, os quais conversaram e intercambiam palavras sábias que
contribuíram muito ao filósofo a desenvolver-se na sua formação, aprendeu bastante com o
decorrer dos tempos procurando outro tipos de conhecimentos através do “grande livro do
mundo”
2
, que logo depois iria despertando cada vez mais os seus desejos.
Cabe destacar que, durante a trajetória da sua viagem pela Europa, escreveu várias
obras, matemáticas, álgebras, geometria e também livros filosóficos, e posteriormente
publicaria as suas obras filosóficas em diversos temas. Uma das dificuldades que enfrentou a
princípio foi publicar uma obra metafísica, intitulado Tratado do mundo, a qual publicaria no
período em que Galileu foi condenado, tendo em semelhança com a obra o que o autor
italiano escreveu e que foi condenada pela igreja, desistiu da publicação, contudo como diz:

2
“Por isso Descartes resolveu, por volta de 1618, procurar um outro tipo de saber, cujos fundamentos e
forma de aquisição pudessem ser examinados de maneira mais imediata. Vai, então, estudar em si mesmo e no
“livro do mundo”, ou seja, inteirar-se do que são as coisas e os costumes observando-os por si mesmo ao Iongo
das oportunidades que a vida oferece”( (SILVA, 2005, p. 18).

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Dedica seus primeiros anos de retiro a compor um pequeno tratado de metafísica e o
Tratado do mundo, que deveria ser uma exposição de sua física dentro da concepção
mecanicista da época. Ao tomar conhecimento da condenação de Galileu, entretanto,
Descartes recua, desistindo de publicar a obra (MARCONDES, 2004, p. 161).

Logo, Descartes logrou sucesso e suporte entre vários autores sábios que ele conheceu
e assim pôde publicar as outras obras como: “Regras para direção do espírito”, “Discurso do
método”, “Meditações Metafísicas", “Princípios de filosofia” e “Tratado das Paixões da
Alma” que foi a última obra publicada pelo filósofo antes da sua morte. Descartes mudou
completamente a filosofia moderna. Sua contribuição deu origem à tradição racionalista, que
se baseia na compreensão inata do ser humano a partir do conhecimento racional. Tempo
depois Descartes conheceu a rainha Elizabeth na Suécia, de quem recebeu o convite para seu
país. De acordo com Leopoldo e Silva (2005, p. 23), é o lugar donde se produz a morte do
filósofo no dia 11 de fevereiro de 1950, por uma doença que foi diagnosticada por pneumonia,
tendo já ganhado a admiração das pessoas pelas suas ideias e que também já foi ensinado por
várias instituições.

2.2 Inquietações sobre os conhecimentos adquiridos com os jesuítas

Ao falar de um filósofo importante na filosofia moderna, é imprescindível mencionar
os caminhos percorridos para obter uma realização de seus desejos de conhecer a verdade.
Como já se apresentou no parágrafo anterior, conhecemos de maneira geral as primeiras
etapas de sua vida. Portanto, apresentaremos nesta parte o que Descartes pensou dos estudos
feitos no colégio denominado La Fleche, baseando-nos nos comentadores e principalmente na
sua obra o Discurso do Método, parte fundamental em que o filósofo confessa os seus
sentimentos direcionados principalmente aos conhecimentos adquiridos no colégio no qual
frequentou.
Conforme Leopoldo e Silva (Ibidem, p. 18), o filósofo, após estudar no colégio La
Flèche, que era conhecido como umas das melhores escolas de seu país, René não se sentiu
tão satisfeito pela educação recebida. Segundo o que é dito no Discurso do método
3
, nosso
filósofo abandona La Flèche desapontado, mas não desesperado, isto é, motivado a buscar

3
“‘Discurso do Método’. A primeira obra publicada de Descartes apareceu anonimamente em Leiden
em 1637. Seu título completo é Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la vérité dans
les sciences (“Discurso sobre o método de bem conduzir a razão e buscar a verdade nas ciências”). O volume
incluía três outras obras, publicadas sob o título “Ensaios deste método”, a saber, a Ótica, a Meteorologia e a
Geometria. Em 1644, publicou-se em Amsterdam uma tradução latina do Discurso e dos Ensaios (omitindo-se a
Geometria)” (COTTINGHAM, 1943, p. 52).

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preencher os vazios que ele sentia que haviam sido deixados depois de ficar por oito anos
recebendo a educação transmitida pelos professores jesuítas.
O colégio ensinava literatura, retórica, poesia, latim, grego, lógica, matemática e
física. Portanto, dentre essas matérias estudadas na França, para Descartes somente a
matemática e a física possuíam uma alta veracidade. Os demais conhecimentos ensinados
pelos jesuítas nesta instituição eram informações irrelevantes e de menos importância
4
.
Dessa maneira, para Descartes, o conhecimento deve ser guiado pela razão, para assim
fiar de algo problemático. Portanto, os ensinamentos dos jesuítas, por serem baseados nas
culturas tradicionais, desviam-se da razão, e isto constitui motivo suficiente para o filósofo
apartar-se desses ensinamentos como mera verdade, em palavra nos diz: “A extrema
valorização da cultura antiga e certo dogmatismo, que faziam o saber depender da autoridade
mais que do exercício independente da razão, levavam-no a desconfiar de quase tudo o que
havia aprendido ao longo de seus anos de estudos” (Ibidem, p.18).
Na obra do Discurso do método, Descartes escreveu os seus próprios métodos para
servir como um guia do seu pensamento, tratando de se conduzir para o caminho do
conhecimento certeiro que o filósofo almejava encontrar: a verdade. A partir da construção de
um novo método, traça uma linha precisa e livre de erros para o pensamento filosófico que o
conduziria ao seu objetivo. Descartes nos confessa na segunda parte do Discurso do Método
que, principalmente na Holanda, conseguiu ficar sozinho, “e não tendo, aliás, felizmente,
nenhuma preocupação nem paixão que me perturbasse, ficava o dia inteiro sozinho fechado
num quarto aquecido, onde tinha bastante tempo disponível para entreter-me com meus
pensamentos” (DESCARTES, 2001, p, 15).
Portanto, Descartes demonstra na primeira parte do Discurso, que esse método seria
para conduzir bem a razão, dando-lhe credibilidade e confiança, porque isto o levará a busca
de um conhecimento certeiro, como diz: “O bom senso é a coisa mais bem distribuída do
mundo: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo aqueles mais difíceis de
se satisfazerem com qualquer outra coisa não costumam desejar mais bom senso do que têm”.
(Ibidem, p. 5).
Levando em consideração o bom senso, o autor pretende mostrar que a razão possui
uma inteligência para conduzir o pensamento, de tal modo que logre “distinguir o verdadeiro
do falso” (Ibidem, p. 15). Em razão disto, o nosso pensador consegue identificar que o colégio

4
Descartes destaca apenas conhecimentos matemáticos como mera importância, pois os outros
conhecimentos são apenas conhecimentos que provém da cultura e tradição dos próprios jesuítas, no entanto,
esses ensinamentos para o filósofo era desinteressante por não formar parte do seu objetivo de encontrar o
conhecimento indubitável.

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La Flèche não fornecia o conhecimento necessário que ele desejava, mas apenas
ensinamentos fundamentados unicamente na tradição, e não na razão.

O balanço desses estudos, que pode também ser entendido como um balanço da
cultura transmitida, revela que a razão, mesmo cultivada pelos espíritos mais aptos
de todas as épocas, não produz resultados satisfatórios quando não é conduzida por
um método previamente concebido. O que se vê, em geral, é um mero exercício de
opinião que, quando muito, desemboca na verossimilhança, isto é, em algo que,
embora tenha a aparência de verdade, não pode ser demonstrado como tal. A partir
daí se impõe àquele que busca a verdade na figura da evidência absoluta um certo
desprezo das letras e das ciências tais como foram cultivadas na tradição, e procura
da verdade por meio de outro procedimento (SILVA, 2005, p.28).

Ao examinarmos o que levou o nosso autor a desconsideração de tais ensinamentos
principalmente as Letras e outras matérias que não são as matemáticas, podemos concluir que
aquela formação não possuía uma base na rigorosidade do pensamento. Descartes chega a
essa conclusão depois de ter consciência de que a verdade deveria possuir como base o bom
uso da razão.

2.3 Princípios da dúvida dentro da filosofia Cartesiana

Segundo a nossa hipótese, o surgimento da dúvida cartesiana se deu a partir de uma
reflexão através dos estudos, conforme tratamos nos itens anteriores, de que Descartes obteve
oportunidades de ser autodidata. Com o passar dos tempos e por meio dos encontros com os
doutos de vários países, sentiu a necessidade de criar um novo método, isto é, um método da
dúvida que conduzirá a uma verdade. O plano da busca da verdade consiste naquilo que é
indubitável. Portanto, ele diz:

Fui alimentado com as letras desde minha infância, e, por me terem persuadido de
que por meio delas podia-se adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que
é útil à vida, tinha um imenso desejo de aprendê-las. Mas, assim que terminei todo
esse ciclo de estudos, no termo do qual se costuma ser acolhido nas fileiras dos
doutos, mudei inteiramente de opinião (DESCARTES, 2001, p.8).

Apesar da constante insatisfação do conhecimento adquirido no começo dos estudos,
um ensinamento baseado fortemente em tradições e culturas, Descartes deu início ao seu
pensamento crítico sobre o qual fundamentaria os princípios da dúvida, que consistiram na
ideia de que todos os ensinamentos adquiridos seriam inseguros.

Mas não recearei dizer que penso ter tido muita sorte por me ter encontrado, desde a
juventude, em certos caminhos que me conduziram a considerações e máximas com
as quais formei um método que me parece fornecer um meio de aumentar
gradualmente meu conhecimento e de elevá-lo pouco a pouco ao ponto mais alto que

17


a mediocridade de meu espírito e a curta duração de minha vida lhe permitirão
alcançar (Ibidem, p. 6).

De acordo com Marcondes (2000, p. 160), o principal de toda ideia filosófica que
antecede e explica tudo isso é a ruptura com a tradição, as oposições da fé, a credibilidade da
razão individual, a paralisação sobre as antigas tradições praticadas. Portanto, isso dará força
ao filósofo na busca de um conhecimento baseado na razão e seguido a partir de um método.
Em que consiste o método da dúvida? Ao fazermos essa pergunta, é fundamental
conhecermos o que o autor pretendia com essa ideia. Parece-nos que esse método é como um
guia de que todos deveriam fazer uso, portanto, na segunda parte do Discurso do método,
Descartes aclara como atuaria esse método: a procura do esclarecimento é feita a partir de
uma analogia aplicando assim uma comparação, de como seria uma construção de um
arquiteto que faz uso de um método desse modo. O arquiteto que segue um método consegue
construir de modo certo e organizada o seu trabalho, como nos afirma: “Assim, vê-se que os
edilícios iniciados e terminados por um único arquiteto costumam ser mais belos e mais bem
ordenados de que aqueles que muitos procuraram reformar, servindo-se de velhas muralhas
que haviam sido construídas para outros fins” (DESCARTES, 2001, p. 15). Se o arquiteto não
segue um método não consegue fazer uma obra harmoniosa com justas medidas, como
salienta:

Embora considerando seus edifícios separadamente, neles encontremos amiúde tanta
ou mais arte do que naqueles das outras; entretanto, ao vermos como estão dispostos,
um grande aqui, um pequeno ali, e como tornam as ruas curvas e desiguais, diríamos
que é mais o acaso do que a vontade de alguns homens, usando da razão, que assim
os dispôs (Ibidem, p. 16).

Partindo de uma dedução através dos exemplos dados pelo filósofo, um arquiteto logra
fazer um trabalho harmonioso e eficaz dentro dos seus afazeres, isto é, através do uso de tal
método gera uma ordem superior que indica os passos que devem ser usadas. Por meio desta
indução, chega-se à conclusão de que o método cartesiano é crucial para percorrer um
caminho da perfeição, um caminho ideal dominado pela razão, assim rompendo totalmente
com a tradição escolástica e essencialmente aristotélica, demonstrando a validade do uso da
razão para chegarmos a um conhecimento verdadeiro, ou seja, o indubitável.
Descartes não foi o primeiro a falar sobre as dúvidas, também os céticos tiveram tais
pensamentos, embora de maneira diferente. É importante demonstrar e distinguir estas ideias
para assim evitar uma confusão no entendimento. Nessa lógica, as dúvidas céticas partem da
suspensão do juízo, acreditando nas impossibilidades de conhecer as verdades absolutas,
enquanto Descartes faz uso do método das dúvidas, isto é, a partir do método procura-se a

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verdade, ou seja, para Descartes há uma possibilidade do conhecimento verdadeiro
diferenciados da dúvida cética.

Ora, se os céticos sustentavam que não podemos ter certeza acerca de nada, uma vez
que nossas faculdades de conhecimento são falhas e as teorias científicas que
formulamos incompletas e sujeitas ao erro, Descartes propõe-se a encontrar uma
certeza básica, imune às dúvidas céticas, que possa servir de base e fundamento para
a construção da nova teoria científica. É preciso, assim, encontrar um ponto de
apoio, o chamado “ponto arquimediano”, que possa servir de ponto de partida
seguro para o processo de conhecimento (MARCONDES, 2000, p. 163).

Tendo em vista a discussão sobre os céticos, abordaremos aqui o conceito da filosofia
cética. Segundo Leopoldo e Silva (2005, p. 38), um dos representantes céticos mais
importantes foi Pirro, que viveu entre 365 e 275 a.C. Dentro da sua filosofia se faz uso sobre a
suspensão do juízo (epoché), assim não ter uma preocupação se há ou não uma verdade, mas
apenas suspender o juízo ante todas as circunstâncias apresentadas como confusas, o cético
suspende o juízo e, ao fazê-lo, descobre-se livre das inquietações. Através da fala de
Marcondes o grande iniciador do ceticismo foi Pirro e é por meio de seu discípulo chamado
Tímon que conhecemos a sua filosofia, pois segundo esse discípulo, o fundador do ceticismo,
assim como Sócrates, não havia escrito nada. O principal objetivo do ceticismo criado por
Pirro é sua praticidade e atenção à ética da vida tranquila, algo que só pode ser alcançado por
meio de exercícios moderados.
Os fatos apresentados agora mostram para nós a evolução do pensamento cartesiano
dentro da dúvida metódica, e elucidam o porquê do filósofo ter sentido necessidade de criar
esse método como um meio para chegar ao conhecimento e para encontrar a verdade, uma
verdade indubitável. O objetivo do método de dúvida de Descartes é selecionar todos os seus
pensamentos, excluir aqueles que ele pensa serem errados e suspeitos e absorver apenas
aqueles pensamentos que não mostram qualquer dúvida.

19


3 ARGUMENTOS DOS SENTIDOS

Após apresentarmos a primeira parte sobre a evolução do pensamento Cartesiano para
chegar à dúvida, destacaremos aqui o seu principal objetivo. Essa evolução do pensamento do
filósofo foi para fundamentar seus conhecimentos verdadeiros para a ciência, a sua
preocupação sobre a busca de um conhecimento que possa servir à ciência como algo
verdadeiro.
René Descartes traz o argumento dos sentidos logo que propõe um novo método para a
ciência, à qual são necessárias para que o indubitável possa ser alcançado. A preocupação
sobre a veracidade do conhecimento o conduziu por um caminho a demonstrar o âmbito das
dúvidas, que para o filósofo é um método seguro. Portanto, neste capítulo apresentar-se-á os
estudos sobre os limites do conhecimento adquiridos através dos sentidos e os rigores da
matemática como indubitável, baseando-se principalmente na obra Meditações Metafísica.
Segundo Cottingham (1943, p. 111), a obra Meditações Metafísicas foi publicada em Paris em
1641 sob o título de Meditationes de prima philosophia, escrita em latim, que segundo
Descartes trata de todas as primeiras coisas a serem descobertas pela filosofia.
O projeto de Descartes é fundar um método da dúvida para oferecer suporte e
caminho ao problema do conhecimento, isto é, encontrar a clareza das coisas por meio das
faculdades do pensamento, que são atingíveis em todos nós seres humanos.

Resolvido por meio de um exame das condições de conhecimento. Essas condições
em princípio, são as faculdades da mente, entendidas como modos de pensar:
sensação, imaginação e intelecção. Uma das tarefas do método será a de descobrir
qual dessas faculdades pode clarificar a representação isto é, os dados de
conhecimento. Pois a clareza é ao mesmo tempo condição e resultado do
conhecimento (SILVA, 2005, p. 85).

Na primeira meditação, o pensador decide apartar-se de todos os conhecimentos
adquiridos pelos sentidos e de todos os ensinamentos que obteve na sua juventude,
considerando-os meras opiniões, para assim começar abrir prioridade ao seu novo método,
pois o pensador nos mostra sua desconfiança em relação aos sentidos. Segundo Emanuela
Scribano (2007, p. 29), Descartes, ao eliminar todas as opiniões que lhe são passíveis de
dúvidas, irá buscar um núcleo indubitável para poder investigar sobre a possibilidade de um
conhecimento certeiro e a partir disso, obter a possibilidade de construção de uma ciência.

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera
muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de aquilo que depois eu fundei em
princípios tão mal assegurados não podia ser senão muito duvidoso e incerto, de
modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida desfazer-me

20


de todas as opiniões que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os
fundamentos, se quisesse estabelecer algo firme e de constantes ciências
(DESCARTES, 1983, p. 85).

3.1 A dúvida cartesiana em relação aos sentidos

Ao apresentar a dúvida, pretendemos demonstrar que é fundamental para incorporar o
entendimento do projeto filosófico de Descartes, também ela é fundamental para compreender
o exemplo do próprio tipo de dúvida que o filósofo moderno se apoia e se utiliza para a
construção dos seus argumentos. O pensador enfatiza que é indispensável abandonar todo o
conhecimento intuído como não verdadeiro e dar a confiabilidade somente nas coisas
completamente conhecidas por fontes confiáveis, que não levantem dúvidas. Descartes nos
demonstra nas Meditações, “o menor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para
me levar a rejeitar todas” (Ibidem).
A dúvida, porém, parte de uma análise de todos os saberes recebidos pelos sentidos,
isto é, o pensador chegou a essa dimensão por meio de uma reflexão pessoal, como nos
afirma: “Agora, pois, que meu espírito está livre de todos os cuidados, e que consegui um
repouso assegurado numa pacífica solidão, aplicar-me-ei seriamente e com liberdade em
destruir em geral todas as minhas antigas opiniões” (Ibidem).
Descartes ao falar sobre a destruição dos conhecimentos adquiridos pelos sentidos
colocando-os como meras opiniões, nos leva a entender que tais afirmações vão se desligar de
todo conhecimento obtido até o momento. Resta-nos compreender que tal decisão tomada
pelo filósofo é que todo conhecimento nasce da percepção sensível, como nos afirma de
maneira clara: “Todo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro,
aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos
eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma
vez” (Ibidem, p. 86).
O que o pensador nos quer mostrar é que os nossos sentidos são fontes de enganos,
porque alguma vez os sentidos já nos enganaram. Emanuela Scribano (2007, p. 31) menciona
que a vontade está presente de maneira potente dentro do conhecer das coisas por meios dos
sentidos, isto é, a vontade se apodera do pensamento. Por este motivo, quando colocamos um
bastão na água aparece como que está quebrado, isso acontece porque a vontade dá força em
pronunciar os conhecimentos que vêm dos sentidos antes que a razão o julgasse como
verdadeiro ou falso. Ora, “Em todos os outros casos, a vontade tem o poder de afirmar, negar
ou suspender o juízo” (Ibidem, p. 31), logo, qualquer informação que provém do sentido, que

21


a razão não conhece como portador tais características, colocasse em dúvidas, como nos
afirma:

Ora, não será necessário, para alcançar esse desígnio, provar que todas elas são
falsas, o que talvez nunca levasse a cabo; mas, uma vez que razão já me persuade de
que não devo menos cuidadosamente impedir-me de dar crédito às coisas que não
são inteiramente certas e indubitáveis, do que nos parecem manifestamente ser
falsas, o menor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para me rejeitar
todas (DESCARTES, 1983, p. 84).

A dúvida, portanto, serve como uma mediadora do conhecimento, ou seja, ela nos
direciona ao alcance do conhecimento verdadeiro, por isso, no momento, será necessário
estudar os conhecimentos de maneira geral, o que nos vem através dela. Isto é, cada vez que
recebermos informações pelos sentidos, entraremos automaticamente na dúvida, mas não de
forma permanente, senão como temporária, até que a razão julgue como verdadeiro. Neste
caso, o filósofo chama a atenção de que seria difícil de estudar cada uma das informações,
como possível de enganos dos sentidos. Decide então, colocar tudo em dúvida de maneira
generalizada, pois como são tantas coisas que recebemos por meios dos sentidos, por este
motivo, para o pensador é melhor colocar todas em dúvidas: “E, para isso, não é necessário
que examine cada um em particular, o que seria um trabalho infinito” (Ibidem, p. 31).
Segundo Emanuela Scribano (2007, p. 32), através da negação de todos os conhecimentos que
se apresentam duvidosos, se cria um espaço temporariamente livre dos pré-juízos e de toda
crença precedente, na qual dará princípios a uma busca do indubitável.
Portanto, mostrando os argumentos do pensador, que nos fala a respeito do colocar em
dúvida aquilo que é recebido através dos sentidos, só fica o critério da verdade, isto é, “o que
não é passível de nenhum motivo pensável de dúvida é o verdadeiro” (Ibidem, p. 32). A
dúvida metódica visa, portanto, em alcançar ideias claras e distintas. E só duvidando dos
sentidos que encontraremos o que é o indubitável.

3.2 Matemática como conhecimento indubitável.

René Descartes a partir dos seus estudos na França, desde a sua juventude, foi
apaixonando-se pela matemática, pois, depois que ele fez esse rompimento com o
ensinamento sobre a tradição aristotélica, o filósofo encontrou um caminho em que ele
percebeu que dentro das matemáticas há coisas que possam ser compreendidas
intelectualmente e não por meio dos sentidos.
O conhecimento matemático é a única coisa que o pensador encontrou como um saber,
isto é, como Descartes é um filósofo racionalista defende que o conhecimento deve passar

22


pela razão para ter uma veracidade em si e a matemática possui um grau de indubitabilidade,
ele não vem dos sentidos, é estudado através da intuição
5
. Descartes nos menciona claramente
de que, a matemática não é um conhecimento de que se possa duvidar:

“A Aritmética e a Geometria e as outras ciências desta natureza, que não tratam de
coisas muitos simples e muitos gerais, sem cuidarem muito em se elas existem ou
não natureza contém alguma de certo e indubitável. Pois, quer eu esteja acordado,
quer esteja dormindo, dois mais três formarão sempre número cinco e o quadrado
nunca terá mais do que quatro lados; e não parece ser suspeitas de algumas
falsidades ou incerteza” (DESCARTES, 1983, p. 95).

A forma como nos representa o resultado nos é incapaz de duvidar deles. A
matemática não está sujeita a dúvidas porque ela pode ser pensada logicamente, pois segundo
Descartes, somente a razão pode atingir o conhecimento verdadeiro. Uma vez que a
matemática é considerada puramente racional e intelectual, sua ideia forma parte da razão e é
apresentada como conhecimento claro e distinto.
Dessa maneira, a reflexão do nosso pensador conclui que somente a aritmética e
geometria, que são modelos definitivos e indubitáveis, foi possível encontrar, sem nenhum
motivo de dúvida, pois como os números e as cifras matemáticas nos mostram que essas são
tais como nos apresentam. Como a dúvida é referente às coisas materiais, conhecemos a
matemática por meio da nossa intuição e não meramente pelos próprios sentidos, por isso
podemos afirmar a sua veracidade como conhecimento, mas não se descarta que também
possa ser enganado por alguém.
Por outro lado, para reforçar essa veracidade do conhecimento falaremos da hipótese
sobre a possibilidade de uma existência de um gênio maligno, como suposto engano de que a
matemática possui uma certeza, o que nos leva a duvidar da mesma como algo verdadeiro, e
traremos de maneira geral a ideia final sobre a demonstração da existência de Deus e sobre o
sujeito como pensante, para posteriormente chegarmos à conclusão sobre a possibilidade de
um conhecimento indubitável como a matemática. Ao respeito do argumento do gênio
maligno, o autor nos diz:

E mesmo, como julgo que algumas vezes os outros se enganam até nas coisas que
eles acreditam saber com maior certeza, que pode ocorrer que Deus tenha desejado
que eu me engane todas as vezes que faço a adição de dois mais três, ou em que
enumero os lados de um quadrado, ou em que julgo alguma coisa ainda mais fácil do
que isso (DESCARTES, 1983, p. 87).


5
“Por intuição entendo, não a convicção flutuante fornecida pelos sentidos ou o juízo enganador de
uma imaginação de composições inadequadas, mas o conceito da mente pura e atenta tão fácil e distinto que
nenhuma dúvida nos fica acerca do que compreendemos” (DESCARTES, [ entre 1923 e 1628 ])

23


Com essa hipótese, Descartes levará a dúvida de maneira extrema, chegando assim a
uma dúvida hiperbólica, quando não consegue distinguir o que é a verdade, porém ele diz:
“Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento, e se, por esse meio, não está no
meu poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está no alcance suspender
o meu juízo (Ibidem, p. 89)”. Com essa atitude o filósofo se depara diante de uma existência
da dúvida hiperbólica, mas em um momento a dúvida se generaliza em todos os
conhecimentos, onde ele distorce totalmente os mesmos em que ele tinha dúvidas, até que
mostre que o conhecimento matemático é válido.
Descartes percebe que há uma coisa que não pode ser enganada por um gênio maligno
no primeiro momento, porque dada a pretensão de uma existência do gênio maligno que faz
alguém enganar por conhecer as coisas. De fato, soube que ele pode colocar tudo em falso, os
conhecimentos que eram dúbios, pois sabe da sua capacidade de poder suspender o seu juízo,
ao saber disso, chega a uma conclusão de que ele é uma coisa:

Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana: e, por mais que me
engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser
alguma coisa. De sorte após de ter pensado bastante nisso e de ter examinado
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta
proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a
enuncio ou a concebo em meu espírito (DESCARTES, 1983, p. 92).

Por meio dessa hipótese, percebe-se que pode julgar os conhecimentos como falsos ou
verdadeiros e que também pode até negar ou suspender o seu juízo. O filósofo diria que tudo
isso acontece porque ele é alguma coisa; “Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que
afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer
e não quer, que também imagina e sente” (Ibidem, p. 99). Descartes descobre que ele é capaz
de compreender o que pensa sem necessidade de alguém maior
6
, diante disso, o filósofo busca
compreender a causa de seu existir por meio do raciocínio.
Na Terceira Meditação, trata-se da prova da existência de Deus, que irá substanciar
todo conhecimento de maneira clara e distinta, pois Deus é um acusador da ideia da perfeição
que colocou em nós, pois sua existência garante ao filósofo não se enganar, pois como ele é
um ser infinito, “Mas concebo Deus atualmente infinito em tão alto grau que nada se possa
acrescentar a soberana perfeição que ele possui” (Ibidem, p. 109). Segundo Leopoldo e Silva
(2005, p.60), o que levou a Descartes pensar de que poderia ser enganado é puramente a falta
e a negatividade do ser finito, isso acontece porque ainda não havia conhecido um Ser perfeito
e infinito: “Mas depois de conhecer de forma demonstrativa o real significado da onipotência

6
Deus, gênio maligno, enganador.

24


divina, vejo que aquela opinião não tinha sentido, pois um ser soberanamente perfeito não
pode promover a falsidade e, portanto, não pode me levar a ter como verdadeiro o que de fato
não o é” (Ibidem, p. 60).
De fato, com esses argumentos apresentados, Descartes fundamenta o conhecimento
verdadeiro em um Deus. Pois se ele existe, e é perfeito e infinito, não há como enganá-lo,
como nos diz Leopoldo e Silva, “Deus é o fundamento da verdade, ou seja, todas as
representações que se me apresentem metodicamente como claras e distintas, estão garantidas
por Deus, verdade suprema e razão de ser todas as demais” (Ibidem, p. 60). Visto que a nossa
intenção é demonstrar que o conhecimento matemático é de maneira clara e distinta para
Descartes. Como base, direcionarmo-nos ao que o autor usou para fundamentar o seu
conhecimento como verdadeiro:

Uma das consequências imediatas da prova da existência de Deus (e do fato de que
ele não é enganador) é a validação das representações matemáticas. Recorde-se que
o único obstáculo à certeza de tais representações era a hipótese do Deus Enganador.
Uma vez suprimida essa hipótese, todas as representações inteligíveis do universo
matemático tornam-se evidentes (Ibidem, p. 62).

Mostra-se então a veracidade da matemática como conhecimento indubitável, com
clareza e distinção, que o autor tinha percebido como um conhecimento inteligível, intuído
pela inteligência humana através do uso da razão e que não há nenhum gênio maligno que
queira enganá-lo sobre a matemática, uma verdade na qual o autor chamaria de verdades
científicas, que serviria como fundamento de todas as ciências. A verdade consiste quando
adequamos o nosso pensamento a uma coisa conhecida, como nos afirma;

A partir da teoria da matemática conclui-se que a teoria cartesiana da verdade se
define como a adequação do pensamento á coisa conhecida. É na adequação entre o
pensamento e a coisa conhecida que consiste a verdade, e agora, conhecendo a
natureza da matemática, sabemos que significa que as suas demonstrações sejam
verdadeiras ou falsas (ESCRIBANO, 2007, p. 128).

Possuindo essa verdade das matemáticas por meio do uso do raciocínio lógico, o autor
encontrou as bases para poder construir o método científico para a ciência.

25


4 DISTINÇÃO DO MÉTODO DA DÚVIDA E MÉTODO CIENTÍFICO

Tendo tratado nos capítulos anteriores sobre os processos da evolução do pensamento
do filósofo René Descartes com a dúvida metódica, demonstrando os caminhos que ele seguiu
em busca sobre a verdade do conhecimento, ou seja, a procura do que é indubitável dentro do
que podemos conhecer. Partindo do pensamento cartesiano em que, os conhecimentos
verdadeiros devem ser providos através do uso da razão, pois assim chegamos a demonstrar
qual foi o conhecimento em que se apresentou como indubitável, da qual estudada por meio
do uso da inteligência humana, a saber, a matemática; um verdadeiro conhecimento da qual
não pode colocar nele nenhum motivo de dúvida. Com essa perspectiva, encontrando o ideal
conhecimento dentro da matemática, na qual fundamentará as ciências: “A razão triunfa na
matemática porque faz uso, quase que espontaneamente, desses dois requisitos fundamentais
de todo pensamento” (LEOPOLDO E SILVA, 2005, p. 30).
Como o filósofo era apaixonado pela matemática, essa é, em sua perspectiva, a ciência
exata e precisa que nos demonstra, por meio dos resultados que são trabalhos do uso da razão.
Logo, isso basta ao filósofo para ser inspirado por esse conhecimento, querendo assim
alcançar essa verdade indubitável para a ciência que precisava.

Comprazia-me sobretudo com as matemáticas, por causa da certeza e da evidência
de suas razões; mas não percebia ainda seu verdadeiro uso e, pensando que só
serviam para as artes mecânicas, espontava-me de que, sendo tais firmes e sólidos os
seus fundamentos, nada de mais elevados se construísse sobre eles (DESCARTES,
2001, p. 11).

Portanto, neste último capítulo demonstraremos em que se distinguem os métodos das
dúvidas do método científico. Como já abordamos de maneira particular sobre o método da
dúvida, agora, vamos trazer as quatro regras fundamentais que o autor fez para o uso dentro
dos métodos científicos.

4.1 Método Cartesiano

René Descartes desde o princípio preocupava-se sobre as verdades nas ciências, pois
para ele uma ciência deve ser aquilo que se conhece racionalmente, diferenciados da filosofia
escolástica
7
e da teologia, pois isto não leva a um conhecimento exato, ele afirma que a

7 “Escolástica, filosofia Sob muitos aspectos. Descartes definia seu perfil filosófico como oposto ao da
filosofia “escolástica”, que ainda dominava as escolas e universidades no início e em meados do século XVII.
Descartes, por vezes, refere-se a esse sistema preponderante como a filosofia das “escolas” (AT VI 62: CSM
1142), outras vezes como “a filosofia tradicional”(AT VII 579: CSM 11 390), e ainda como “filosofia

26


ciência não é passível a uma verdade se for pelas opiniões de diversas pessoas, a ciências
somente pode atingir a veracidade do conhecimento desfazendo-se de opiniões e preconceitos
de maneira imprescindível. Porém, o método proposto pelo filósofo consiste num caminho
que leva a uma verdade indubitável para ciência; na obra do Discurso do Método ele enfatiza
sobre a criação do método que contesta a sua preocupação sobre a busca do conhecimento
produzida racionalmente.

Nem quis começar a rejeitar totalmente nenhuma das opiniões que outrora
conseguiram insinuar-se em minha crença sem terem sido nela introduzidas pela
razão, antes que tivesse empregado bastante tempo em projetar a obra que estava
empreendendo, e em buscar o verdadeiro método para chegar ao conhecimento de
todas as coisas de que meu espírito seria capaz. (DESCARTES, 2001, p. 21)

Segundo Cottingham (1943, p. 119), o método cartesiano consiste pela busca das
verdades nas ciências e assim bem conduzir a razão, estudada desde o princípio do século
XVI. Por meio do método, Descartes tenta organizar os seus pensamentos, ou seja, por essa
via do pensamento permite o conhecimento das coisas evidentes e distanciar-se mais
possivelmente do erro, isto é, ele escreve como o ser humano pode chegar a uma verdade, por
meio dos estudos e raciocínios lógicos, tendo como base principal a matemática “o
fundamento do sistema de conhecimentos é fornecido pela mathesis, fundamento da
matemática e do método” (LEOPOLDO E SILVA, 2005, p. 86). Descartes, na IV parte das
Regras para a direção do espírito nos diz respeito do uso do método:

Ora, vale mais nunca pensar em procurar a verdade de alguma coisa que fazê-lo sem
método: é certíssimo, pois, que os estudos feitos desordenadamente as meditações
confusas obscurecem a luz natural e cegam os espíritos. Quem se acostuma a andar
assim nas trevas enfraquece de tal modo a acuidade do olhar que, depois, não pode
suportar a luz do pleno dia (DESCARTES, [ entre 1923 e 1628 ]).

Nesta regra, o pensador chama atenção sobre a importância da criação do método
científico. Sem o método não haveria uniformidade das coisas, através do método um
arquiteto constrói um prédio bem formado, pois o método nos conduzirá por um caminho
certo ao encontro do nosso objetivo, por meio da intuição e dedução. A verdade da intuição
precede o método, é inata e lógica, pois a primeira coisa que é comprovada pelo filósofo é o
pensamento, pois se há uma certeza de que a intuição não falhará, garantirá a possibilidade do
método.

peripatética”(AT VII 580: CSM II 391). Este último termo é sinônimo de “aristotelismo”, sendo este o rótulo
aplicável na Antiguidade clássica aos seguidores de Aristóteles; na forma com que dominava o mundo
intelectual da Idade Média, o escolasticismo era, na verdade, uma fusão complexa, por um lado, das doutrinas
filosóficas de Aristóteles, e, por outro, das exigências da teologia cristã (sendo Santo Tomás de Aquino, com
suas grandes sínteses, a Summa theologiae e a Summa contra Gentiles, seu mais famoso e completo expoente)”
(COTTINGHAN, 1943, p. 59).

27



Entendo por método regras certas e fáceis, que permitem a quem exatamente as
observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso e, sem desperdiçar inutilmente
nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o
conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de saber (Ibidem).

Tendo entendido o método, como principal e necessário para nos direcionar a uma
ciência exata, o nosso pensador nos apresenta as quatro regras do método. Quais são esses
caminhos propostos pelo filósofo para chegarmos a uma ciência exata? Consiste por meio das
quatro regras, a saber, elas são: evidência, análise, ordem e enumerações. Apresentaremos, de
maneira geral os conceitos e a finalidade de cada um deles.

4.2 As quatro regras: evidência, análise, ordem e enumeração.

A regra da evidência é o primeiro método proposto pelo filósofo. Ela expressa-se
segundo Descartes, em não tomar conhecimentos que não se apresenta de maneira clara e
distinta, isto é, todas as coisas que se nos apresentam se não forem de maneira clara e distinta
devem ser descartadas. Essa primeira regra visa pela prevenção do erro nos conhecimentos,
evitar dar credibilidade a uma coisa sem passar primeiro pela reflexão para posterior
afirmação.

O primeiro era de nunca aceitar coisa alguma como verdadeira sem que a
conhecesse evidentemente como tal; ou seja, evitar cuidadosamente a precipitação e
a prevenção, e não incluir em meus juízos nada além daquilo que se apresentasse tão
clara e distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo
em dúvida (DESCARTES, 2001, p. 23)

Portanto, para o pensador tudo que é evidente é racional, tudo que recebemos passa
pela intuição para garantir se o conhecimento recebido é apresentado como verdadeiro. Será
necessário passar primeiro pelo entendimento, assim, pela sua autoridade e apenas ela pode
descobrir se o enunciado é verdadeiro. A evidência serve para detectar aquilo que é suspeita e
se desviar daquilo que pode ser falsa, pois a autonomia da razão tem o poder de julgar o modo
de apresentação.
A regra da evidência é o primeiro passo do método cartesiano, que nos ajuda a fugir de
ideias que não são inequívocas, ideias obscuras, por exemplo; o filósofo ao apresentar sobre o
cogito
8
, “eu penso, eu existo”, ele nos diz que mesmo dormindo ou acordado há um gênio

8 “Cogito ergo sum “Penso, logo existo.” A célebre frase, talvez a mais famosa da história da filosofia,
aparece primeiro em francês- je pense donc je suis — na Parte IV do Discurso (1637): “Notei que, enquanto
tentava pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, era algo. E observando que essa verdade — Penso,
logo existo — continha em si tamanha certeza e firmeza que resistia incólume às mais extravagantes suposições

28


maligno que queira enganá-lo, mesmo ele esteja enganado todo tempo, mesmo sendo tudo
falso, o seu pensar é uma verdade, nesta afirmação há certa evidência, é uma ideia clara e
evidente por si mesma, não há como negar, podemos colocar como a base principal do
método científico.
A segunda regra do método consiste em dividir, em partes, as grandes coisas que se
nos apresentam, ele nos diz: “O segundo, dividir cada uma das dificuldades que examinasse
em tantas parcelas quantas fosse possível e necessário para melhor resolvê-las” (Ibidem, p.
23). Quando nos deparamos diante de grandes problemas e ao querermos chegar a uma
conclusão de obter um resultado de maneira clara e distinta, devemos dividi-las em partes,
para facilitar os seus estudos em cada uma daquelas que compõe um todo. Descartes ao
decidir em distanciar-se das opiniões alheias, decidiu analisar todas as informações que ele
tinha recebido, com a finalidade de encontrar quais são as informações que lhe é passível a
verdade, ou seja, aquilo que é evidente,

Decorre disto que a característica principal do “método de análise” é partir do zero,
destruindo as opiniões preconcebidas do passado, para então seguir as reflexões de
um meditador individual, que luta por alcançar pontos de partida imediatamente
evidentes, visando construir, em seguida, um corpo de conhecimento confiável
(COTTINGHAN, 1943, p. 19).

Observando esse cenário, já é possível imaginarmos o quão importante são esses
passos para conduzir os nossos intelectos e chegarmos a um conhecimento limpo, desviando-
nos dos erros. A análise, portanto, compreende nas decomposições das afirmações complexas
até chegar aos últimos elementos a que as constituem. Com este método, conseguimos que as
proposições mais sombrias podem ser entendidas observando como elas dependem de outras
mais simples.
A terceira regra do método, indicado pelo o filósofo abrange em estudar pela ordem
das dificuldades, ou seja, após analisar, dividir em partes, elas correspondem em ordenar de
uma forma mais fácil de compreender, Descartes nos descreve assim;

O terceiro, conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais
simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até
o conhecimento dos mais compostos; e supondo certa ordem mesmo entre aqueles
que não se precedem naturalmente uns aos outros (DESCARTES, 2001, p. 23).


dos céticos, julguei que poderia aceitá-la, sem escrúpulos, como o primeiro princípio da filosofia que procurava”
(AT VI 32: CSM I 127). A formulação em latim aparece nos Princípios de Filosofia (1644), onde se descreve o
enunciado cogito ergo sum como “a primeira e mais segura descoberta que pode ocorrer àquele que filosofa de
modo ordenado” (Parte I, art. 7) (COTTINGHAN, 1943, p. 37).”

29


Com esse método, logramos ordenar os nossos pensamentos; ao passar pela evidência
a análise desses resultados necessita ter uma ordem, uma escala onde começa pelo mais fácil
de conhecer. Nessa regra de síntese, ou de ordem, abordam-se os problemas gradualmente de
acordo com a sua complexidade, pois ela nos ajudará a identificar em quais já adequamos os
nossos pensamentos, ou seja, aquilo que já temos como claro e distinto. Isso acontece com a
matemática, pois para poder resolver uma equação matemática é necessário passar pelas
sínteses, ordenar, substituir o valor (x)... Aquilo que são mais fáceis de substituir, assim para
poder lograr um resultado correto.
A quarta regra do método cartesiano consiste em uma revisão geral de todos os
processos que fizemos durante as três regras, a sua finalidade compreende em controlar se não
há umas lacunas ou partes em falta, que foram omitidas, que nos poderiam levar ao erro, a
respeito disso, o nosso pensador nos menciona, “E, o último, fazer em tudo enumerações tão
completas, e revisões tão gerais, que eu tivesse certeza de nada omitir” (Ibidem, p. 23). Essa
última regra é uma das partes mais importantes para poder chegar a uma verdade na ciência
dentro do procedimento na busca da verdade no método cartesiano, como no diz;
“Finalmente, o preceito da enumeração pode ser visto, em parte, como síntese, já que percorre
em sentido inverso o caminho feito pela análise, numa recuperação da visão da totalidade do
conjunto” (LEOPOLDO E SILVA, 2005, p. 31).
Após termos apresentado, de maneira geral estas quatro regras do método que o
filósofo propôs para a ciência como caminho principal que conduz o nosso pensamento para
chegarmos ao que chamamos de verdades indubitáveis, percebemos que esta unidade de
regras emite juízos do próprio pensamento, na qual todas elas passam pelo nosso intelecto
para poder garantir que os conhecimentos que se nos apresentam sejam evidentes como a
própria matemática.
Observando essas regras, podemos afirmar que a maneira, como nos apresenta
Descartes é puramente racional sem levar em conta as opiniões e os sentidos, que são
marcados pelo filósofo como fonte de erro. Portanto, através dessa demonstração da
possibilidade de que a ciências atinjam uma verdade indubitável, resolve-se o problema sobre
o conhecimento das ciências surgido no século XVII. O filósofo mostra, a partir do uso da
própria razão que todo homem possui, “o bom senso ou razão, é por natureza em todos os
homens” (DESCARTES, 2001, p. 5) por meio dela podemos alcançar o conhecimento na
ciência e através disso, percebe-se que os escolásticos não tiveram esses pensamentos, que
tais conhecimentos que eles possuíam não passavam pelo crivo da razão, “Ora, o exame a
que, como vimos, foram submetidos os conteúdos culturais transmitidos pela tradição mostrou

30


que tais conhecimentos não passaram pelo crivo racional da clareza e distinção”
(LEOPOLDO E SILVA, 2005, p. 34).

4.3 O método da dúvida e o método Cientifico

Depois do esboço geral sobre o método da dúvida e o método científico, neste tópico
queremos distinguir os dois passos que o filósofo usou para poder lidar com o conhecimento
indubitável. René Descartes, como filósofo racionalista desde o princípio dos seus estudos e
contatos com os jesuítas sentiu a necessidade de chegar a conhecer por meio do uso da razão,
um conhecimento na qual seria irrefutável. Com esse objetivo propostos por ele mesmo,
começou a indagar sobre a possibilidade de um conhecimento além das coisas recebidas pelas
experiências: o primeiro passo que ele utilizou foi o método da dúvida, ele consiste em
combater os conhecimentos sensíveis, ou seja, conhecimento adquiridos pelos sentidos, pois
segundo ele os sentidos não são fontes seguras para conhecermos as coisas tais como são, pois
através dele somos sujeitos à probabilidade do erro. Portanto, o método da dúvida serve como
um intermediário para chegarmos ao objetivo da busca da certeza.
Segundo o nosso pensador, por meio do método da dúvida acompanhado pela reflexão
pessoal, consegue-se chegar a uma primeira certeza, ela consiste, na qual já havíamos
mencionado acima, “penso, logo existo”. Essa é a primeira verdade absoluta que Descartes
havia concluído a partir da dúvida. Entendemos, pelo seu argumento dessa maneira: se
duvidamos de tudo, pelo menos sabemos que estamos duvidando, ou seja, somos quem pensa,
e se pensarmos, significa que existimos. A dúvida em certo sentido pode alcançar o
pensamento, mas não o pensamento que ele tem em si mesmo, quando nos diz que se pode
duvidar da imaginação, do sentido; mas a dúvida não atinge o seu pensamento puro, ou seja,
quando ele está pensando significa que há existência do sujeito que pensa.
Portanto, o objetivo da dúvida metódica é provar que existe algo indubitável,
referindo-se principalmente ao sujeito, que é o principal ponto de partida para estudar o
objeto, porque segundo ele, conhecemos a verdade através da adequação do pensamento ao
objeto existente, isto é, a razão ou o pensamento é necessário para conhecermos as coisas de
maneira indubitável, o que podemos entender a partir desse conteúdo é que, o método da
dúvida, foi o primeiro passo para Descartes a estudar-se a si mesmo.
Fazendo um estudo sobre o método científico, percebe-se por meio dessas quatro
regras fundamentais apresentadas acima, representadas como segundo passo, ao que o autor
chama de métodos ou caminhos para conhecer o indubitável na ciência, que, a partir das

31


perspectivas já conhecida pelo sujeito pensante, faz-se o uso de maneira direta da razão como
juiz de todo o conhecimento.
O método científico é apresentado a partir de um fundamento matemático, isto é, esse
método já parte de princípios verdadeiros como base, como vimos no esboço anterior, sobre
as quatros regras que devem ser utilizadas por todos para garantir que os conhecimentos
sejam claros e distintos. Portanto, este método proposto pelo filósofo parte de uma intuição e
dedução, a partir das verdades matemáticas; elas não indagam sobre o sujeito em si mesmo,
mas utilizam o sujeito para intermediar o conhecimento para a ciência.
Finalmente, o método da dúvida e o método científico estão relacionados entre si, e é
preciso primeiro passar pela dúvida para chegar ao método científico que visa por
conhecimentos indubitáveis, de clareza e distinção, com a finalidade de construir um saber
específico para todos.

32


5 Conclusão

Em vista dos argumentos apresentados durante o desenvolvimento da pesquisa,
pudemos observar que o principal desejo de René Descartes foi encontrar algo indubitável.
Verificamos isso analisando suas diferentes etapas de filosofia, desde o começo do seu estudo
até tornar-se filósofo, através da leitura de seu livro autobiográfico em especial Discurso do
Método e Meditações Metafísicas. Desde o início da nossa pesquisa, tratando sobre os passos
que ele seguiu para poder chegar ao seu objetivo, percebeu-se que essa tarefa não foi de
maneira tão fácil como imaginamos.
Desde o princípio da sua filosofia, percorreu por vários países, para encontrar
referências que possa contestar o seu desejo, umas das suas inquietações sobre os
conhecimentos aprendidos com os jesuítas, na qual consistiam os ensinamentos escolásticos
baseados em tradições e culturas da era aristotélicas, que como ensinamentos não são os
caminhos certos para que se possa chegar à verdade.
Logo, com o decorrer da sua filosofia, adotou um método das dúvidas, fazendo uso do
ceticismo, como recurso metodológico, quando pretende rejeitar todos os ensinamentos como
falsos, principalmente as doutrinas opostas a razão e à verdade, através do uso das dúvidas
como intermediário para chegar à indubitabilidade, distinguindo-se assim dos céticos, aos
quais suas dúvidas consistiam apenas em suspender o juízo e não como procura da verdade.
Em último lugar, utiliza a matemática como base para a ciência moderna, de um
método firme e seguro. Deste modo, se deixa influenciar pela nova ciência de forma prática e
progressista da tarefa do cientifico. Assim, Descartes construiu um sistema filosófico cujas
bases ao redor dos conceitos básicos (a razão e o método matemático) são para ele como
únicos meios das quais o homem se dispõe para que possa alcançar o indubitável, a verdade.
Portanto usar a razão de maneira metódica é a principal chave da filosofia cartesiana.

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Referências

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