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Com essa hipótese, Descartes levará a dúvida de maneira extrema, chegando assim a
uma dúvida hiperbólica, quando não consegue distinguir o que é a verdade, porém ele diz:
“Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento, e se, por esse meio, não está no
meu poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está no alcance suspender
o meu juízo (Ibidem, p. 89)”. Com essa atitude o filósofo se depara diante de uma existência
da dúvida hiperbólica, mas em um momento a dúvida se generaliza em todos os
conhecimentos, onde ele distorce totalmente os mesmos em que ele tinha dúvidas, até que
mostre que o conhecimento matemático é válido.
Descartes percebe que há uma coisa que não pode ser enganada por um gênio maligno
no primeiro momento, porque dada a pretensão de uma existência do gênio maligno que faz
alguém enganar por conhecer as coisas. De fato, soube que ele pode colocar tudo em falso, os
conhecimentos que eram dúbios, pois sabe da sua capacidade de poder suspender o seu juízo,
ao saber disso, chega a uma conclusão de que ele é uma coisa:
Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana: e, por mais que me
engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser
alguma coisa. De sorte após de ter pensado bastante nisso e de ter examinado
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta
proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a
enuncio ou a concebo em meu espírito (DESCARTES, 1983, p. 92).
Por meio dessa hipótese, percebe-se que pode julgar os conhecimentos como falsos ou
verdadeiros e que também pode até negar ou suspender o seu juízo. O filósofo diria que tudo
isso acontece porque ele é alguma coisa; “Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que
afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer
e não quer, que também imagina e sente” (Ibidem, p. 99). Descartes descobre que ele é capaz
de compreender o que pensa sem necessidade de alguém maior
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, diante disso, o filósofo busca
compreender a causa de seu existir por meio do raciocínio.
Na Terceira Meditação, trata-se da prova da existência de Deus, que irá substanciar
todo conhecimento de maneira clara e distinta, pois Deus é um acusador da ideia da perfeição
que colocou em nós, pois sua existência garante ao filósofo não se enganar, pois como ele é
um ser infinito, “Mas concebo Deus atualmente infinito em tão alto grau que nada se possa
acrescentar a soberana perfeição que ele possui” (Ibidem, p. 109). Segundo Leopoldo e Silva
(2005, p.60), o que levou a Descartes pensar de que poderia ser enganado é puramente a falta
e a negatividade do ser finito, isso acontece porque ainda não havia conhecido um Ser perfeito
e infinito: “Mas depois de conhecer de forma demonstrativa o real significado da onipotência
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Deus, gênio maligno, enganador.