Aliás, se nos dissesses, nós não te acreditaríamos.
Elementos fundamentais do poema:
• Mais uma vez, o poeta se aproxima de Drummond lembrando o livro A Rosa do
povo marcado pela esperança num mundo melhor.
• Ocorre aqui, também, a defesa da existência por pior que seja.
• Note que o texto está classificado como prosa, mas tem alguns elementos
próprios da poesia como o ritmo.
• Isso nos faz lembrar autores como Cruz e Souza que produziu também prosa
poética.
COMENTÁRIOS
• A CASA
Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.
Na livraria, há um avô que faz cartões de boas festas com corações de purpurina.
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.
No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias de outro mundo.
No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.
E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo:
Trouxe até ali o pássaro dos sonhos.
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.
Antes que ele acorde e se descubra também morto.
Elementos fundamentais do poema:
• Recuperação do passado por meio da memória afetiva lembrando Manoel
Bandeira.
• Presença de personagens da vida familiar que povoaram a infância do poeta.
• Versos curtos, concisos sugerindo intensidade de significado.
• Assim como em Bandeira, a presença da morte em muitas expressões como
‘avisos fúnebres’, ‘caixão’, ‘mortalhas’ e ‘morreu’.
• A consciência da transitoriedade da vida ao olhar para o passado; a certeza da
vida como viagem; a precariedade da existência.
• O texto insiste na idéia de dormir e acordar; do sonho. O sonho como
instrumento de resgate do passado.
• Há elementos próprios do Romantismo: o sonho, a fantasia, a emotividade.
Podemos perceber, também, traços do Simbolismo (o universo místico) e do
Surrealismo (o devaneio onírico).