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About This Presentation

UNICAMP 2025


Slide Content

PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS 
 
AUTOR 
• José Paulo Paes é poeta, tradutor, ensaísta e editor. Nasceu em 
Taquaritinga (SP) em 1926. 
• Estudou  química  industrial  em  Curitiba,  onde  iniciou  sua 
atividade literária colaborando na revista Joaquim, dirigida por 
Dalton Trevisan. 
• De  volta  a  São  Paulo  trabalhou  em  um  laboratório 
farmacêutico  e  numa  editora.  Desde  1948  escreve  com 
regularidade para jornais e periódicos literários. 
• Toda sua obra poética foi reunida, em 1986, sob o título Um 
por todos. No terreno da tradução verteu do inglês, do francês, 
do italiano, do espanhol, do alemão e do grego moderno mais de uma centena de 
livros. 
• Em 1987 dirigiu uma oficina de tradução de poesia na UNICAMP. Faleceu no 
dia 09.10.1998. 
 
CARACTERÍSTICAS DO AUTOR 
 
• O  autor  pertence,  cronologicamente,  à  terceira  geração  do  Modernismo 
brasileiro ( 1945 – 1964 ). 
• Nos seus poemas, percebemos conceitos que o aproximam de Oswald Andrade: 
a  poesia  sintética,  o  espírito  satírico,  o  humor,  a  brevidade,  o  trocadilho  e  a 
paródia, o poema-piada. 
• Poucos adjetivos e recusa do sentimentalismo. 
• Inspira-se  no  Concretismo:  valorização  do  aspecto  visual  do  poema, 
remontagem vocabular. 
• Uso do epigrama: poema breve marcado por tom satírico. Serviu aos romanos 
como instrumento na Antiguidade Clássica para comentar os assuntos da cidade. 
• Trabalha a memória, aspectos existenciais e sociais. 
• Presença constante da esposa Dora. 
 
PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS 
 
• Contém vinte textos em prosa poética e treze poemas. 
• Obra do gênero lírico. 
• O livro começa falando da morte e termina com reflexões sobre o nascimento. 
• ‘Expõe-nos o que parece ser, antes de mais nada, uma experiência de separação. 
As pessoas e as coisas que um dia existiram nos deixaram, e o que resta somos 
nós mesmos’. (Marcelo Coelho). 
 
COMENTÁRIOS  
 
• Em seguida, pequenos comentários sobre alguns poemas de José Paulo Paes. 
• CANÇÃO DO ADOLESCENTE 
 
 
Se mais bem olhardes 

Notareis que as rugas 
Umas são postiças 
Outras literárias. 
Notareis ainda 
O que mais escondo: 
A descontinuidade 
Do meu corpo híbrido. 
 
Quando corto a rua 
Para me ocultar 
As mulheres riem 
(sempre tão agudas!) 
Do meu corpo 
 
Que força macabra 
Misturou pedaços 
De criança e homem 
Para me criar? 
 
Se quereis salvar-me 
Desta anatomia, 
Batizai-me depressa 
Com as inefáveis (que não se pode exprimir por palavras) 
As assustadoras 
Águas do mundo. 
 
 
Elementos fundamentais do poema: 
 
• Mistura desajeitada entre o adolescente e o homem amadurecido. 
• Híbrido que inspira dó ou riso. 
• O poema lembra Drummond pelo cansaço com que enxerga a geração humana. 
• Niilismo temático – Presença do ‘gauche’, o desajeitado, o diferente, o esquerdo. 
 
COMENTÁRIOS  
 
• MUNDO NOVO  
 
Como estás vendo, não valeu a pena tanto esforço: 
A urgência na construção da Arca 
O rigor na escolha dos sobreviventes 
A monotonia da vida a bordo desde os primeiros dias 
A carestia aceita com resmungos nos últimos dias 
Os olhos cansados de buscar um sol continuamente adiado. 
 
E no entanto sabias de antemão que seria assim. Sabias que a pomba iria 
Trazer não um ramo de oliva mas espinheiro. 
 
Sabias e não disseste nada a nós, teus tripulantes, que ora vês lavrando com 
As mesmas enxadas de Caim e Abel a terra mal enxuta do dilúvio. 

 
Aliás, se nos dissesses, nós não te acreditaríamos. 
 
Elementos fundamentais do poema: 
 
• Mais uma vez, o poeta se aproxima de Drummond lembrando o livro A Rosa do 
povo marcado pela esperança num mundo melhor. 
• Ocorre aqui, também, a defesa da existência por pior que seja. 
• Note  que  o  texto  está  classificado  como  prosa,  mas tem  alguns  elementos 
próprios da poesia como o ritmo. 
• Isso  nos  faz  lembrar  autores  como  Cruz  e  Souza  que produziu  também prosa 
poética. 
 
COMENTÁRIOS  
 
• A CASA 
 
Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas. 
 
Na livraria, há um avô que faz cartões de boas festas com corações de purpurina. 
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo. 
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos. 
No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha. 
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão. 
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família. 
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias de outro mundo. 
No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha. 
E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo:  
Trouxe até ali o pássaro dos sonhos. 
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa. 
Antes que ele acorde e se descubra também morto. 
 
Elementos fundamentais do poema: 
 
• Recuperação  do  passado  por  meio  da  memória  afetiva lembrando  Manoel 
Bandeira. 
• Presença de personagens da vida familiar que povoaram a infância do poeta. 
• Versos curtos, concisos sugerindo intensidade de significado. 
• Assim  como  em  Bandeira,  a  presença  da  morte  em  muitas  expressões  como 
‘avisos fúnebres’, ‘caixão’, ‘mortalhas’ e ‘morreu’. 
• A consciência da transitoriedade da vida ao olhar para o passado; a certeza da 
vida como viagem; a precariedade da existência. 
• O  texto  insiste  na  idéia  de  dormir  e  acordar;  do  sonho.  O  sonho  como 
instrumento de resgate do passado. 
• Há  elementos  próprios  do  Romantismo:  o  sonho,  a  fantasia,  a  emotividade. 
Podemos  perceber,  também,  traços  do  Simbolismo  (o  universo  místico)  e  do 
Surrealismo (o devaneio onírico). 
 
 

 
COMENTÁRIOS  
 
• AOS ÓCULOS 
só fingem que põem 
o mundo ao alcance 
dos meus olhos míopes. 
 
já não vejo as coisas 
como são: vejo-as como querem 
que eu as veja. 
 
logo, são eles que vêem, 
não eu que, cônscio 
do logro, lhes sou grato 
 
por anteciparem em mim 
o Édipo curioso 
de suas próprias trevas. 
 
 
Elementos fundamentais do poema: 
 
• A visão distorcida, imposta pelo capitalismo, na metáfora dos óculos. 
• O poeta trabalha o conceito de ‘ideologia’ no sentido marxista do termo: falsa 
consciência que temos da realidade. 
• O sistema, o poder capitalista através da palavra e da imagem, finge que põe o 
mundo ao alcance do eu – lírico.  
• O poder tem a possibilidade de criar uma realidade paralela afastada das coisas 
como elas são. 
• Os óculos funcionam como filtro da realidade impedindo a perfeita consciência 
do mundo. 
• O sistema, o outro é quem vê; portanto, anula-se a identidade pessoal criando-se 
a identidade coletiva,  a sociedade de massas: todos pensam, desejam e  olham 
apenas uma falsa realidade. 
• O eu – lírico ainda agradece ao sistema por antecipar sua condição de Édipo: o 
que fura os próprios olhos. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Texto para as questões 01 e 02: 
 

À televisão”. 
 
Teu boletim meteorológico 
 
me diz aqui e agora 
 

se chove ou se faz sol. 
 
Para que ir lá fora? 
 
 
A comida suculenta 
 
que pões à minha frente 
 
como-a toda com os olhos. 
 
Aposentei os dentes. 
 
 
Nos dramalhões que encenas 
 
há tamanho poder 
 
de vida que eu próprio 
 
nem me canso em viver. 
 
Guerra, sexo, esporte 
 
— me dás tudo, tudo. 
 
 
Vou pregar minha porta: 
 
já não preciso do mundo. 
 
 
PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 
 
 
 
 
 
 
01.( UERJ) No poema, a televisão é humanizada, assumindo o papel de interlocutor do 
eu poético. Identifique o elemento lingüístico que melhor caracteriza essa humanização 
e transcreva um verso em que ele apareça. 
 
02. (UERJ) Indique o tema geral do poema e explique como ele é abordado criticamente 
por José Paulo Paes. 
 
RESPOSTA 
 
1 - O uso da segunda pessoa gramatical. Um dentre os versos: 
 

• Teu boletim meteorológico 
 
• que pões à minha frente 
 
• nos dramalhões que encenas  
 
•me dás tudo, tudo. 
 
2 - O tema geral é a sociedade do espetáculo ou a presença da tecnologia na vida do 
homem.  No  texto,  a  televisão  representa  esse  tema  geral,  simbolizando  a  solidão 
humana. 
 
 
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