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pois a criança desenha por seu próprio prazer e para dar prazer a alguém” (ARFOUILLOUX,
1988, p. 129). Como bem esclarece o autor, a criança espera que o seu desenho seja
valorizado por quem o aprecia. Muitas vezes, ela dedica e compartilha o seu desenho para
quem está mais próximo dela, seja um ente querido, seu amigo preferido, alguém imaginário,
enfim, a sua representação gráfica é uma forma de comunicação entre a criança e as pessoas
que estão ao seu redor.
Sabemos que o ato de desenhar faz parte da vida de qualquer criança, pois o desenho
manifesta o desejo de representar, mas também, ele é, antes de qualquer coisa, “alegria, é
curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar, a criança passa por um longo processo
vivencial e existencial” (DERDYK, 1993, p.51). A partir dessa reflexão salientamos que o
desenho revela muito daquele que o produziu e que este se modifica a cada vontade de
representar da criança. Assim, ela desenha para falar de si, dos outros, das suas brincadeiras,
dos seus gostos, de seus medos, para contar e externalizar as suas descobertas e as suas
vivências.
No entanto, para a criança, não existe somente o desenho no papel. Também faz parte
do seu desenho “a maneira como organiza as pedras e as folhas ao redor do castelo de areia ou
como organiza as panelinhas, os pratos, as colheres na brincadeira da casinha” (MOREIRA,
2009, p.16). Entendemos por desenho “o traço no papel ou em qualquer superfície, mas
também a maneira como a criança concebe o seu espaço de jogo com os materiais de que
dispõe” (Ibidem). Notamos, a partir das palavras da autora, que conhecemos o desenho de
uma criança quando observamos como ela desenha e organiza o seu espaço ao brincar.
Assim, as crianças utilizam a sua imaginação para sempre inventar e modificar os
seus desenhos, criando suscintamente o inesperado, o novo, o diferente. Neste prazer de
inventar e de recriar, que toda atividade gráfica é movida essencialmente pela vontade e pelo
desejo da criança em se expressar. Pensando nesse prazeroso movimento gráfico de “ir, vir,
nomear, desenhar, olhar, rabiscar, narrar, colorir, cantar, mexer que faz com que o sujeito
recrie, a todo instante, o significado do mundo em que se insere” (LEITE, 2003, p.141).
Conforme descreve a autora, a criança revela o seu mundo para o desenho, e através desta
linguagem, ela tem a possibilidade de criar uma nova realidade a cada instante.
O desenho para nós pode até ser uma atividade indecifrável, mas “(...) provavelmente
para a criança, naquele instante, qualquer gesto, qualquer rabisco, além de ser uma conduta
sensório-motora, vem carregado de conteúdos e de significações simbólicas” (DERDYK,