Esse poema épico narra a história de um jovem tupi que cai prisioneiro dos Timbiras, os quais se preparam para devorá-lo num ritual canibalístico , mas no momento de ser morto , o prisioneiro chora. Então, os Timbiras recusam-se a comê-lo por considerá-lo um covarde. Desconhecem , no entanto, que o jovem tupi chora porque lembra que a sua morte deixará o seu velho pai desamparado. Libertado, o índio retorna ao pai , que, ao saber que seu filho não cumpriu o ritual da morte , leva-o de volta aos timbiras e exige que o filho seja morto como um valente ; entretanto, o Timbira recusa-se a fazê-lo , porque ele chorara na presença da morte . No fim do poema , o prisioneiro tupi demonstra sua valentia verdadeira , enfrentando, sozinho, toda a taba dos timbiras . I-Juca Pirama (que significa aquele que há de ser morto) alterna versos longos e curtos, ora para descrever (verso lento), ora para dar a impressão do rufar dos tambores no ritual indígena. O poema nos é apresentado em dez cantos, organizados em forma de composição épico – dramática. Todos sempre pautam pela apresentação de um índio cujo caráter e heroísmo são salientados a cada instante. O poema nos dá uma visão mais próxima do indianismo idealizado e moldado ao gosto romântico. O índio integrado no ambiente natural, e principalmente adequado a um sentimento de honra, reflete o pensamento ocidental de honra tão típico do herói medieval das novelas de cavalaria - caso do texto Rei Arthur e a Távola Redonda. Se os europeus podiam encontrar na Idade Média as origens da nacionalidade, o mesmo não aconteceu com os brasileiros. Provavelmente por essa razão, a volta ao passado , mesclada ao culto do bom selvagem , encontra na figura do indígena o símbolo exato e adequado ao nascente sentimento nacionalista brasileiro. I-Juca Pirama (Fragmento) " Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. " ( Gonçalves Dias) I-Juca Pirama (Fragmento) No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. São rudos , severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já cantam vitória, Já meigos atendem à voz do cantor: São todos Timbiras, guerreiros valentes! Seu nome lá voa na boca das gentes, Condão de prodígios, de glória e terror!