Lo vers es fis e naturaus e bos celui qui be l´enten ; e melher es, qui.l joi aten . A canção é autêntica e sincera, capaz de honrar àquele que a compreenda bem; Mas melhor é para aquele que aguarda as alegrias do amor . Bernart de Ventadorn ( 1150-1180 )
Chantars no pot gaire valer, Si d' ins dal cor no mou lo chans ! Ni chans no pot dal cor mover, Si no i es fin ' amors coraus . Per so es mos chantars cabaus Qu'en joi d'amor ai et enten La boch ' e.ls olhs e.l cor e.l sen . Ja Deus no.m don aquel poder Que d'amor no.m prenda talans . Si ja re no.n sabi ' aver , Mas chascun jorn m' en vengues maus, Totz tems n' aurai bo cor sivaus ! E n'ai mout mais de jauzimen , Car n'ai bo cor, e m'i aten . BERNART DE VENTADORN (1150 - 1180) [Escola “simples”, Trobar leu ] Cantar de nada vai valer se da alma não vier o canto; e o canto à alma vai mover se houver amor no coração. Meu cantar chega à perfeição pois que com amor e alegria emprego olhar, boca e poesia. Deus nunca me deu o poder de me opor ao amor. Conquanto soubesse o quanto iria ter (nada), os males diários dão à minh'alma nobre feição! E se um prazer me prestigia, é que a alma é digna e porfia.
O QUE É? O Trovadorismo foi um movimento literário que surgiu na Idade Média no século XI, na região da Provença (sul da França). Ele se espalhou por toda a Europa e teve seu declínio no século XIV, quando começou o humanismo.
TROVAR - CONCEITO “O poema recebia o nome de “cantiga” (ou ainda de “canção” e de “cantar”) pelo fato de o lirismo medieval associar-se intimamente com a música: a poesia era cantada, ou entoada, e instrumentada. Letra e pauta musical andavam juntas...” MOISÉS, Massaud . A literatura portuguesa através dos textos, p.15
Origens do trovadorismo Não é possível precisar exatamente como apareceu essa expressão cultural. Entretanto, existem 4 teses que sustentam o surgimento do Trovadorismo : tese Arábica: afirma que foi a forte influência da cultura e poesia árabe que culminou no surgimento do Trovadorismo; tese folclórica: sustentada pelo próprio povo, que afirmou ter sido a cultura popular criadora dessa manifestação; tese médio-latinista: defende que o Trovadorismo sofreu influência da literatura latina, espalhada por toda a Europa durante a Idade Média; tese litúrgica: baseada em outra manifestação contemporânea do Trovadorismo, a poesia litúrgico-cristã .
CONTEXTO HISTÓRICO O contexto histórico do Trovadorismo se inicia por volta do século XI, com a queda do império romano , quando a Europa foi assolada pelas invasões bárbaras. Isso fez com que as pessoas se refugiassem nos campos, onde encontraram abrigo e segurança em troca do pagamento de imposto e até mesmo da própria liberdade. A Idade Média foi um longo período da história que esteve marcado por uma sociedade religiosa. Nele, a Igreja Católica dominava inteiramente a Europa. Nesse contexto, o teocentrismo (Deus no centro do mundo) foi sua principal característica. Sendo assim, o homem ocupava um lugar secundário e estava à mercê dos valores cristãos.
Dessa maneira, a igreja medieval era a instituição social mais importante e a maior representante da fé cristã. Ela que ditava os valores e assim, agia diretamente no comportamento e no pensamento do homem. Esse sistema, chamado de feudal, estava baseado numa sociedade rural e autossuficiente. Nele, o camponês vivia miseravelmente e a propriedade de terra dava liberdade e poder. Naquele momento, somente as pessoas da Igreja sabiam ler e tinham acesso à educação.
PRODUÇÃO LITERÁRIA PORTUGUESA PRIMEIRA ÉPOCA (1198-1418) O ano de 1189 (ou 1198) é considerado o marco inicial da literatura portuguesa. Essa é a data provável da primeira composição literária conhecida “Cantiga da Ribeirinha” ou “Cantiga de Guarvaia ”. Ela foi escrita pelo trovador Paio Soares da Taveirós e dedicada a dona Maria Pais Ribeiro. Em 1418, Fernão Lopes é nomeado chefe dos arquivos do Estado (guarda-mor da Torre do Tombo) e suas crônicas históricas tornaram-se marcos do Humanismo em Portugal SEGUNDA ÉPOCA (1418-1527) Em 1527, o escritor Sá de Miranda introduz as ideias do Classicismo em Portugal, inaugurando um novo estilo literário.
No mundo non me sei parelha, mentre me for como me vai, ca já moiro por vós ─ e ai! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi en saia! Mau dia me levantei, que vos enton non vi fea ! E, mia senhor, dês aquel di ’, ai! me foi a mi mui mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e ben vos semelha d’ aver eu por vós guarvaia , pois eu, mia senhor, d’alfaia nunca de vós houve nem hei valía d’ ua correa . CANTIGA DA RIBEIRINHA
No mundo ninguém se assemelha a mim enquanto a minha continuar como vai, porque morro por vós, e ai! minha senhora de pele alva e faces rosadas, quereis que vos retrate quando vos vi sem manto! Maldito dia! me levantei que não vos vi feia! E, minha senhora, desde aquele dia, ai! Tudo me foi muito mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e bem vos parece de ter eu por vós guarvaia , pois eu, minha senhora, como mimo de vós nunca recebi algo, mesmo sem valor. CANTIGA DA RIBEIRINHA - TRADUÇÃO [Paio Soares de Taveirós, sex XIII ]
CANCIONEIROS Os Cancioneiros são os únicos documentos que restam para o conhecimento do Trovadorismo. Trata-se de coletâneas de cantigas com características variadas e escritas por diversos autores. Eles são divididos em: Cancioneiro da Ajuda: Constituído de 310 cantigas, esse cancioneiro se encontra na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa, originado provavelmente no século XIII. Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa : conhecido também pelo nome dos italianos que os possuíam, “ Cancioneiro Colocci-Brancuti ”, esse cancioneiro composto de 1.647 cantigas, foi compilado provavelmente no século XV. Cancioneiro da Vaticana: originado provavelmente no século XV, esse cancioneiro está na Biblioteca do Vaticano composto de 1.205 cantigas.
CANTIGAS LÍRICAS
CANTIGA DE AMOR As cantigas de amor surgiram na região da Provença, França, entre os séculos XI e XVIII, onde os trovadores desenvolveram a arte do "amor cortês". Na Península ibérica merece destaque os trovadores de Portugal e da Galiza.
CARACTERÍSTICAS Escritas em primeira pessoa O eu-poético declara o amor à dama O cenário é a rotina palaciana A amada é reverenciada Demonstração da servidão amorosa (Vassalagem amorosa) A mulher é um ser inatingível, idealizada O amor é idealizado Sofrimento amoroso (Coita d’amor) Aflição e desgosto AMOR CORTÊS – “ FIN AMORS” ( séc.XI-XIII ) MULHER como supremo Bem. “ mulher é sinônimo de virtude excelente” SERVIÇO : conjunto de deveres do vassalo para com o suserano Sinônimo de amor: o amador consagra sua vida à Mulher Fidelidade, constância, paciência, esperança, alegria, desprendimento, honra.
SEÑAL : pseudônimo poético da Dama. Preserva a pretz (reputação) e não provoca a sua sanha (indignação). MESURA : virtude suprema do amador: fundamento de toda a educação cortês : moderação, respeito constante, equilíbrio das paixões e das atitudes ▼ CORTESIA forma de vida social, sentimento moral de base aristocrática.
" A dona que eu amo e tenho por Senhor amostra-me-a Deus, se vos en prazer for, se non dade-me-a morte. A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus e porque choran sempr (e) amostrade-me-a Deus, se non dade-me-a morte. Essa que Vós fezestes melhor parecer de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer , se non dade-me-a morte. A Deus, que me-a fizestes mais amar, mostrade-me-a algo possa con ela falar, se non dade-me-a morte ." Bernal de Bonaval
Cantigas de amigo As cantigas de amigo surgiram de um sentimento popular na Península Ibérica. Eram escritas em primeira pessoa sendo que o eu-poético era sempre feminino, mas os autores eram homens.
CARACTERÍSTICAS Sofrimento da mulher separada do amante ou amigo Angústia Cenário é o campo Desejo de relacionamento entre nobres e plebeias Reflexo da sociedade patriarcal
Cantigas de Amigo D. Dinis "Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo! ai Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo! ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi há jurado! ai Deus, e u é?"
Cantiga de amor Cantiga de amigo - Sujeito lírico masculino; - Sujeito lírico feminino; - Origem provençal e nobre; - Origem ibérica e popular; - Linguagem mais erudita; - Linguagem mais simples; - Coyta d’amor : sofrimento pela impossibilidade de realização amorosa; - Estrutura paralelística, com repetições; - Vassalagem amorosa: amada colocada como Senhor Feudal e o poeta enquanto seu vassalo; - Tom confessional: a mulher dirige-se a Deus, à mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um elemento da natureza; - Ausência de paralelismo ou refrão. - Presença de refrão; - Lamento pela ausência do amado, que partiu para a guerra ou desapareceu. RESUMÃO
CANTIGAS SATÍRICAS A crítica ao contexto político e social é a marca das cantigas de satíricas, que são divididas entre cantigas de escárnio e cantigas de maldizer. As sátiras refletem a sociedade medieval e os costumes.
CANTIGAS DE ESCÁRNIO As cantigas de escárnio constituíam-se de uma crítica indireta, sutil, retratadas por uma linguagem mais velada, revestidas por um toque de conotação. Neste caso, não era revelado o nome da pessoa criticada.
"Ai dona fea ! Foste-vos queixar Que vos nunca louv'en meu trobar Mais ora quero fazer un cantar En que vos loarei toda via; E vedes como vos quero loar : Dona fea , velha e sandia! Ai dona fea ! Se Deus mi pardon ! E pois havedes tan gran coraçon João Garcia de Guilhade Que vos eu loe en esta razon , Vos quero já loar toda via; E vedes qual será a loaçon : Dona fea , velha e sandia! Dona fea , nunca vos eu loei En meu trobar , pero muito trobei ; Mais ora já en bom cantar farei En que vos loarei toda via; E direi-vos como vos loarei : Dona fea , velha e sandia!"
CANTIGAS DE MALDIZER As cantigas de maldizer eram aquelas em que a crítica se dava de forma direta, mencionando o nome da pessoa; eram compostas por uma linguagem mesquinha, repleta de palavrões que se tendiam para a obscenidade.
Maria Pérez se maenfestou noutro dia, ca por [mui] pecador se sentiu, e log'a Nostro Senhor pormeteu , polo mal em que andou, que tevess'um clérig'a seu poder, polos pecados que lhi faz fazer o Demo, com que x'ela sempr'andou . Maenfestou-se ca diz que s'achou pecador muit ', e por en rogador foi log'a Deus, ca teve por melhor de guardar a El ca o que a guardou; e mentre viva, diz que quer teer um clérigo com que se defender possa do Demo, que sempre guardou. E pois que bem seus pecados catou, de sa mort'houv'ela gram pavor e d' esmolnar houv'ela gram sabor; e log'entom um clérigo filhou e deu- lh'a cama em que sol jazer, e diz que o terrá , mentre viver; e est'afã todo por Deus filhou. E pois que s'este preito começou antr'eles ambos houve grand'amor antr'ela sempr '[e] o Demo maior, atá que se Balteira confessou; mais, pois que vio o clérigo caer antr'eles ambos, houv'i a perder o Demo, des que s'ela confessou. (Fernão Velho)
PRINCIPAIS AUTORES Conde Vimioso ; D. Dinis; D. Afonso X; D. Duarte; Fernão da Silveira; Fernão Lopes; Martim Codax ; Nuno Pereira; Frei João Álvares; Garcia de Resende; Gil Vicente; Gomes Eanes de Zurara ; João Ruiz de Castelo Branco; Paio Soares Taveirós.
D. DINIS Sexto rei de Portugal (1279-1325), nascido em Lisboa, conhecido como o Rei Trovador ou o Rei Lavrador. Foi essencialmente um rei administrador e não guerreiro, pois embora tenha se envolvido na guerra com Castela (1295), desistiu dela em troca das vilas de Serpa e Moura. Adotou o vernáculo nos documentos oficiais e fundou a primeira universidade do país, que funcionou entre Lisboa e Coimbra, até se fixar nesta última cidade. Poeta e protetor de trovadores e jograis, também foi apelidado de O Rei-Poeta ou O Rei-Trovador pelas cantigas que compôs e pelo desenvolvimento da poesia trovadoresca a que se assistiu no seu reinado. Compôs também cerca de 140 cantigas líricas e satíricas, e permaneceu no poder até sua morte, em Santarém.
referências https://www.todamateria.com.br/trovadorismo/ https://www.todamateria.com.br/caracteristicas-do-trovadorismo/ https://www.stoodi.com.br/blog/2018/09/04/trovadorismo/ https://www.portugues.com.br/literatura/trovadorismo.html Segismundo SPINA. A lírica trovadoresca . 4ª ed. São Paulo: Edusp, 1996, p. 17-85